ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DO SERVIDOR PENITENCIÁRIO



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Transcrição:

Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DO SERVIDOR PENITENCIÁRIO Fernanda Bárbara Bastos Gleice Soares da Silva Paixão Maria Betânia Silva Baul Walter Amaro de Salles

2 Painel 45/168 Políticas inovadoras na gestão da saúde do servidor ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DO SERVIDOR PENITENCIÁRIO Fernanda Bárbara Bastos Gleice Soares da Silva Paixão Maria Betânia Silva Baul Walter Amaro de Salles RESUMO O Programa de Atenção Psicossocial do Servidor Penitenciário foi instituído com intuito de criar condições favoráveis para a promoção da saúde, melhoria das condições e relações de trabalho, proteção da saúde física e psíquica no local de trabalho, garantindo a atenção psicossocial aos servidores da SEJUS. Priorizou-se a implantação de uma Unidade com objetivo de: oferecer um atendimento multidisciplinar, promovendo o intercâmbio de projetos, programas e ações nas áreas de promoção, prevenção e assistência, atendimentos individuais e em grupo, palestras e debates na Escola Penitenciária, inspeções das condições de trabalho nas penitenciárias, além de outras atividades e oficinas de caráter educativo, artístico e cultural. As atividades da UCAP permitiram a redução do risco de adoecimento pelo servidor, à redução do número de ocorrências envolvendo agentes penitenciários, redução do absenteísmo e do turnover, além de melhorar a imagem da SEJUS perante seus servidores.

3 INTRODUÇÃO A década passada foi marcada pela situação de calamidade das prisões capixabas. A imprensa incansavelmente divulgava a fragilidade da estrutura física das mesmas e sua dificuldade em conceder condições dignas de salubridade, seja aos presos, seja ao servidor penitenciário. Em oposição a esta situação, a iniciativa do governo passado de promover a inovação da gestão pública estadual culminou na modernização da administração penitenciária. Esta nova administração atuou no sentido de consolidar um sistema prisional com estruturas físicas modernas e com um tratamento ao apenado mais focado na humanização das relações e na potencialização de sua capacidade de ressocialização. Esta nova estrutura contou com a construção de 26 penitenciárias no Estado. Atender a esta estrutura e às possibilidades de trabalho, exigiu da SEJUS um alto investimento na captação de recursos humanos. Se em 2003 a Secretaria contava com apenas 192 agentes penitenciários, hoje ela passa a agregar aproximadamente 4.000 servidores. Este número agravou a preocupação dos gestores quanto aos funcionários que atuam diretamente nas prisões, submetidos a uma alta carga de trabalho psicológica. Estudos comprovam que a sobrecarga emocional, quando aplicada ao ambiente de trabalho prisional culmina em quadros de distúrbio, como a Síndrome de Burnout, Absenteísmo, Prisionização, Estocolmo, Estresse e Depressão. Isto pode ser verificado diretamente no discurso dos agentes e indiretamente nos dados referentes ao absenteísmo. Ciente destes riscos, a SEJUS encomendou à Escola Penitenciária uma pesquisa para levantamento das condições de saúde dos trabalhadores penitenciários no ano de 2010. A EPEN elaborou questionário com caráter misto, ou seja, tanto questões abertas quanto fechadas (múltipla escolha) e de resposta individual. As perguntas tratavam sobre a percepção individual acerca da carga de trabalho psicológica, bem como alterações psicofisiológicas que o indivíduo acredita estar associadas ao seu trabalho.

4 Ao todo, 833 servidores penitenciários responderam o questionário. Dos resultados obtidos, vale a pena destacar aqui que: 72,75% dos entrevistados declararam que seu trabalho era estressante; em pergunta na qual o servidor poderia apontar mais de um sintoma que tem apresentado nos últimos meses acreditando ele estarem estes sintomas associados ao seu trabalho, 310 disseram se sentir ansiosos, 272 têm alteração de sono, 263 sentem dor muscular, 243 têm alteração de humor, 228 sentem-se agitados e 126 irritam-se constantemente, entre outros sintomas listados. Além desta pesquisa, foi utilizado também como dado de base para se planejar uma intervenção o absenteísmo registrado pelo Setor de Recursos Humanos da SEJUS a partir da ferramenta SIARHES Sistema Integrado de Recursos Humanos do Estado do Espírito Santo. Ao todo, foram 1601 afastamentos em todo o ano de 2011. Em 2012, o nível de afastamentos é ainda mais preocupante: apenas nos quatro primeiros meses de 2012, foram registrados 1088 afastamentos. Em análise proporcional, podemos perceber que enquanto em 2011 a SEJUS teve uma média de aproximadamente 133,42 afastamentos por mês, este número foi nos quatro primeiros meses de 2012 para 272 afastamentos por mês. Nos dois períodos, a maior parte dos afastamentos se deu por motivos de saúde. Seja diretamente a partir de informações provenientes do próprio indivíduo, como ocorreu na pesquisa de 2010, seja indiretamente a partir do número de afastamentos nos anos de 2011 e início de 2012, o que se evidencia é o alto índice de adoecimento entre os servidores penitenciários, o que justificaria a necessidade de um atendimento social e psicológico à disposição destes funcionários tanto para tratar dos transtornos que já se desenvolveram quanto para oferecer atendimentos, projetos, programas e ações que visem à prevenção destes transtornos. OBJETIVO GERAL Partindo do diagnóstico apontado pela situação, estruturou-se a Unidade Central de Atenção Psicossocial do Servidor Penitenciário (UCAP), um espaço reservado para o atendimento a esta categoria do serviço público, ofertando assistência terapêutica com foco no atendimento às necessidades e expectativas de

5 saúde dos servidores, a partir de diferentes modalidades de atenção direta, realizada por equipe multiprofissional que assegurem o fortalecimento da estratégia de atenção à saúde e a valorização do trabalhador penitenciário. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Ofertar assistência terapêutica com foco no atendimento às necessidades e expectativas de saúde dos servidores, a partir de diferentes modalidades de atenção direta, realizada por equipe multiprofissional que assegurem o fortalecimento da estratégia de atenção à saúde e valorização do trabalhador penitenciário; b) Realizar Exame Psicológico anual pelos agentes penitenciários; c) Promover o atendimento e acompanhamento biopsicossocial ao profissional envolvido em evento crítico ou ocorrência de risco; d) Definir critérios para suspensão temporária de porte de arma; e) Estabelecer indicadores de avaliação dos resultados e do impacto dos projetos de qualidade de vida; f) Garantir a intersetorialidade dos órgãos e serviços, promovendo o intercâmbio de projetos e ações nas áreas de promoção, prevenção, assistência e reabilitação profissional; g) Promover ações que mantenham e fortaleçam os vínculos entre os servidores em sofrimento psíquico, seus familiares, seus representantes, na sua comunidade e no trabalho; h) Priorizar ações que resultem na segurança no trabalho; i) Estabelecer parcerias com Instituições de Ensino Superior visando à ampliação das ações propostas; j) Implementar programas de preparação dos profissionais para aposentadoria; k) Identificar nos locais de trabalho os fatores que contribuem para adoecimento psíquico propondo medidas de intervenção no ambiente e na organização de trabalho no intuito de valorizar o servidor e diminuir o sofrimento psíquico;

6 l) Realizar visita domiciliar possibilitando maior entendimento pessoal e social; m) Realizar visita hospitalar, nos casos em que o servidor for internado para tratamento de saúde; n) Prestar assistência, no âmbito social e psicológico aos alunos da Escola Penitenciária do Estado do Espirito Santo, identificando suas necessidades, efetuando estudos de casos, preparando-os e encaminhando-os às atividades competentes para o atendimento com excelência; o) Acompanhar os trabalhos da Comissão de Estágio Probatório, monitorando e auxiliando na avaliação de desempenho dos profissionais que atuam nas prisões e se encontram em período de estágio probatório; p) Acompanhar os trabalhos da Corregedoria da SEJUS, oferecendo suporte técnico, com foco na escuta qualificada, nos processos que envolver ocorrência de natureza grave envolvendo servidor no âmbito do trabalho ou em razão dele e que possa implicar em danos ao seu estado de saúde emocional comprometendo o desempenho de suas atividades e a manutenção da ordem e segurança no local de trabalho. q) Incentivar a realização e divulgação de pesquisas, estudos e levantamentos de dados que contribuam para análise e avaliação da realidade dos profissionais que trabalham na área penitenciária. METODOLOGIA Após ciência de toda a equipe dos objetivos a serem alcançados com a proposta, buscou-se estruturar a UCAP. O espaço selecionado para a Unidade fica fora das dependências da SEJUS e das Unidades Prisionais. A escolha de um local externo foi feita considerando a necessidade de preservar o servidor nos atendimentos, proporcionando maior conforto, segurança e liberdade para externar suas angústias, medos e necessidade apoio técnico.

7 Estruturado o espaço, houve a parametrização em equipe da dinâmica de atendimento. Foi definido como seria o processo de acolhimento do servidor, os casos para os quais seria realizado atendimento multidisciplinar e quais os casos que se adequariam à categoria atendimento de urgência. No caso do processo de acolhimento, que recebera a nomeação de acolhida psicossocial, o servidor receberia um atendimento inicial para levantamento da queixa e posterior encaminhamento ao serviço profissional para resolução da questão anunciada. Ficou definido que em alguns casos, em vez de um único profissional ser indicado para o tratamento da queixa, seria feita uma proposta de intervenção multidisciplinar. Alguns destes casos seriam: Dependência química; Baixo desempenho no local de trabalho; Irritabilidade no local de trabalho, perda de paciência, explosividade, inquietação e agressividade; Queixa de inadequação do indivíduo ao perfil profissional; Ansiedade; Problemas de saúde que comprometam o desenvolvimento das atividades; Conflitos familiares; Dificuldade de relacionamento interpessoal; Depressão; Distúrbio Comportamental; Quadro frequente de estresse no trabalho; Absenteísmo Destacando-se os seguintes casos para atendimento de emergência: Falecimento de servidor ou membro da composição familiar do servidor; Acidente crítico envolvendo servidor dentro e fora do trabalho; Suspeita de uso de drogas psicotrópicas por parte do servidor dentro e fora do local de trabalho; Afastamento sem causa ou motivo justificado superior a 10 (dez) dias;

8 Ocorrência de natureza grave envolvendo servidor no âmbito do trabalho ou em razão dele e que possa implicar em danos ao seu estado emocional comprometendo o desempenho de suas atividades e a manutenção da ordem e segurança no local de trabalho; CONCLUSÃO A Criação de um Programa de Atenção Psicossocial dos Servidores Penitenciários vai de encontro às diretrizes de PRONASCI Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, que em 2010 estabeleceu a necessidade de promover ações que garantam qualidade de vida dos profissionais de segurança pública e agentes penitenciários (Instrução Normativa 01/2010); os princípios e metas do Sistema Único de Segurança Pública SUSP no que tange à redução dos riscos de morte e adoecimento no desempenho de suas funções; os elevados índices estatísticos de doenças ocupacionais, licenças para tratamento de saúde e afastamentos precoces da atividade penitenciária e a necessidade de fomentar ações de caráter psicossocial na área penitenciária. Tal proposta pode ser definida como importante estratégia para reduzir os impactos causados na saúde física e psíquica do indivíduo que atua nas prisões, considerando o grande volume de problemas que afetam a vida (pessoal e profissional) do servidor e pela complexidade das questões que tem despertado a atenção dos órgãos de controle, fiscalização e apuração, tais como Ministério Público, Poder Judiciário, Ordem dos Advogados do Brasil, Direitos Humanos e outros. Uma iniciativa que submeterá o trabalhador penitenciário a uma nova dinâmica de trabalho, onde o capital humano é valorizado, respeitado e preservado. Um programa que provocará a quebra de paradigmas no Sistema Penitenciário, provando que é possível atuar nas prisões construindo uma carreira profissional em que se estabeleçam padrões de preservação e promoção da qualidade de vida, do bem estar, da saúde física e mental, rompendo o estigma que caracteriza a prisão como espaço de segregação, vingança, ordem, desordem, poder estatal, fraqueza estatal, ressocialização, justiça, perigo.

9 O projeto constitui-se como uma prática inovadora dentro do serviço público já que se focou no que era relevante a partir dos dados de adoecimento do servidor. Ao consultar a literatura sobre o tema saúde do trabalhador, será fácil encontrar referência a trabalhos efetuados nesta área que concentraram esforços no viés biológico da saúde do indivíduo. Esta realidade vai de encontro aos preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), defensora de um pensamento que não limite a saúde do indivíduo apenas ao ponto de vista biológico, mas sim da integração das áreas biológica, psíquica e social. Este projeto contém em seu escopo ações de intervenção para estes três componentes da saúde do indivíduo. Porém, por questões de limitação de recursos e desenvolvimento de estratégia de adesão, no planejamento deste projeto foram elencadas prioridades de entrega. Partindo dos dados da pesquisa da Secretaria de Estado da Justiça de 2010 e da natureza do serviço penitenciário, evidenciou-se que as áreas psicológica e social deveriam ser priorizadas. Isso foi fundamental para se argumentar a construção, de início, de um serviço de atenção psicossocial. A partir da efetivação deste serviço, a legitimidade e popularidade alcançadas facilitarão a adesão dos servidores aos serviços de atenção médico-hospitalar. Além do apontado acima, o Projeto também pode ser identificado como inovador pelo fato de não se limitar apenas à correção de problemas atuais. É também vislumbrado por este projeto que se instaure na SEJUS uma nova cultura organizacional. Almeja-se um futuro para a SEJUS em que o servidor sente-se valorizado. Com o tempo, será eliminada uma percepção atualmente presente nesta cultura de que os trabalhos da SEJUS são unicamente focados no preso. Com a eliminação gradual desta percepção, aliado à devida valorização do servidor, bem como à melhoria da imagem da SEJUS pelo servidor. O projeto apresenta como objetivos a serem alcançados e trabalhados a garantia da intersetorialidade com os órgãos e serviços, promovendo o intercâmbio de projetos e ações nas áreas de promoção, prevenção, assistência e reabilitação profissional. Além disso, a prestação de assistência, no âmbito social e psicológico aos alunos da Escola Penitenciária do Estado do Espírito Santo, juntamente com o estabelecimento de parcerias com Instituições de Ensino Superior visando à ampliação das ações propostas.

10 Ressalto ainda o acompanhamento à Comissão de Estágio Probatório e a oferta de suporte aos trabalhos da Corregedoria envolvendo ocorrência de natureza grave. Atendendo aos objetivos supracitados, atualmente o projeto estabelece parcerias com as seguintes pessoas jurídicas do setor público: 1. Secretária de Justiça: Elaboração, implantação e gerenciamento do Projeto de Atenção Biopsicossocial dos Servidores Penitenciários. 2. Subsecretaria Para Assuntos Administrativos: Disponibilização de recursos materiais e humanos necessários à execução do Projeto de Atenção Biopsicossocial dos Servidores Penitenciários. 3. EPEN Escola Penitenciária do Estado do Espírito Santo: A Escola tem como missão atuar com excelência e responsabilidade na formação, capacitação, aperfeiçoamento, desenvolvimento e melhoria contínua nos processos e resultados de todos os servidores da Secretaria de Estado da Justiça SEJUS, a fim de proporcionar melhorias expressivas na prestação de serviços do Sistema Prisional Capixaba. 4. Corregedoria da SEJUS: Têm por finalidade desempenhar as atividades relativas à apuração das responsabilidades do servidor público pela infração praticada no exercício de suas atribuições ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investida, devendo solicitar a participação da equipe multidisciplinar do Programa de Atenção Biopsicossocial da SEJUS, nos casos que resultarem em sofrimento psíquico para o servidor. 5. Diretoria de Saúde Prisional da SEJUS: planejar, organizar, coordenar, supervisionar, controlar e avaliar as ações de promoção, prevenção e assistência à saúde das pessoas presas, bem como dos servidores, definindo prioridades concernentes ao atendimento médico, odontológico, ambulatorial, psicológico, psiquiátrico e social, além das atividades inerentes às divisões ambulatoriais, que compõe a sua estrutura; outras atividades correlatas.

11 6. Direção de Unidade Prisional: Estabelecimento subordinado a Subsecretaria de Assuntos Penitenciários SASP, destinado à custódia de preso, condenados ou provisórios ou indivíduos submetidos à medida de segurança, responsável pela execução dos procedimentos relativos ao tratamento penal. Tem papel primordial na identificação e encaminhamento dos servidores penitenciários para a Atenção Biopsicossocial da SEJUS. 7. SUS Estadual: Garantir saúde à população em todos os níveis, de modo que as pessoas vivam mais e com qualidade, por meio da gestão moderna e eficiente dos recursos públicos destinados à saúde. 8. Departamento Penitenciário Nacional: Responsável pelo planejamento e coordenação da política penitenciária da Federação, garantindo apoio técnico metodológico e financiamento aos projetos que atendem as diretrizes do PRONASCI. A reflexão sobre o trabalho dos profissionais do Sistema Prisional, dadas as suas peculiaridades, desvela as consequências que o mesmo acarreta nesta categoria, que se manifesta por comportamentos agressivos, baixo rendimento nas atividades, perda de autoestima, insatisfação, absenteísmo, uso e abuso de substâncias psicoativas e consequentemente adoecimento funcional seguido de licença médica, afastamento precoce das atividades, dentre outros. O adoecimento do servidor penitenciário ocasiona uma grande perda para ele, sua família, seus colegas de trabalho, a população carcerária e aos cofres públicos. Conforme dados da SEGER, no exercício de 01/01/2012 a 15/04/2012, 1.601 (mil seiscentos e um) servidores solicitaram licença/afastamento das atividades, esses atestados somados totalizaram aproximadamente 20 (vinte) mil dias de faltas ao serviço. Esses dados são preocupantes e demonstra, para administração, a necessidade de adotar estratégias e construir ferramentas que auxiliem no combate ao absenteísmo ocasionado pelo adoecimento físico e psíquico. Neste sentido o Programa em questão almeja, através das suas ações, a formação de uma nova cultura organizacional, preventiva e curativa, em saúde do servidor, fator que desencadeará a amenização dos diversos danos à saúde do servidor bem como colaborará, através de ações eficazes, com a desoneração dos cofres públicos, no que tange os gastos com os afastamentos dos servidores.

12 O total de servidores beneficiados com o programa é de aproximadamente 3.700 (três mil e setecentos). Entre os resultados alcançados, podemos observar: a satisfação dos servidores com a implantação da Unidade de Atenção Psicossocial, o que ilustra a credibilidade do servidor em relação aos serviços disponibilizados; a redução dos transtornos psicossociais, considerando a implantação do núcleo de prevenção e gerenciamento de estresse; a promoção da saúde, que se deu através da adesão dos servidores nas ações preventivas realizadas na escola penitenciária; a promoção do bem estar com a implantação de oficinas motivacionais e das inspeções nas unidades prisionais para aplicação do mapa de checagem dos agentes de risco social e psicológico; e a redução dos confrontos no campo e nas relações de trabalho considerando a participação do servidor em atendimentos individuais e em grupo. Objetivando avaliar os resultados obtidos com implantação do programa, a equipe focou a atenção no nível de satisfação e na mudança de atitudes e comportamentos dos servidores, atribuindo isso a sua participação nos programas e palestras da Unidade e na aceitação do servidor no processo de intervenção da equipe multidisciplinar nas questões referentes aos seus problemas de saúde. Para isso, a equipe construiu ferramentas como: pesquisa direcionada aos servidores das Unidades Prisionais para avaliar sua percepção acerca da real necessidade de implantação de um serviço de atendimento social e psicológico; visitas às unidades prisionais objetivando a aplicação do formulário de checagem para identificar os fatores de riscos sociais e psicológicos; realização de cadastro dos servidores que recebem acompanhamento na Unidade; elaboração de relatórios a partir dos atendimentos realizados pela equipe. O serviço de atenção psicossocial dos servidores penitenciários constituise como estratégia a ser aplicada em outras categorias do quadro da administração pública que também são acometidas por doenças ocupacionais ocasionadas pelo desgaste psíquico e social que juntos resultam no afastamento precoce ou na redução do desempenho do servidor nas atividades que envolvem o seu cotidiano profissional. É possível que através da implantação desse programa e de seus resultados, que essa prática auxilie outros setores da SEJUS e de outras organizações, a despertar para importante tarefa que consiste em preservar o maior

13 patrimônio de uma instituição que é o capital humano, melhorando as relações de trabalho, mantendo frente às demandas apresentadas pela sociedade profissionais valorizados e comprometidos com o serviço público de qualidade. Desenvolver este projeto representou um desafio aos profissionais envolvidos, uma vez que nele foram enfrentadas as barreiras ainda presentes no serviço público, como também limitações em termos de produção teórica. Percebemos o quanto o serviço público ainda carece de recursos humanos com visão estratégica e postura dinâmica. Em toda a trajetória do planejamento e, principalmente, da etapa de aquisição de recursos, o processo estacionava nas mãos de servidores que não conseguiam discriminar prioridades no gerenciamento das requisições que se encontravam sob sua responsabilidade. Com isso, o tempo de execução das ações extrapolava o imaginado em caráter inicial. Também percebemos o quanto a produção acadêmica é escassa quando se trata do trabalho do agente penitenciário. Concordamos que as profissões mais estudadas, a saber o professor e o profissional da saúde, tenham uma alta dose de sofrimento relacionado ao trabalho. Porém, isto não justifica a falta de estudos para esta categoria que está a mercê do risco de morte todos os dias, seja em seu trabalho ou seja no dia-a-dia por conta justamente do contato com o egresso do sistema penal (inclusive do foragido). Hipotetizamos que isto é fruto da ignorância com a qual a sociedade lida com estes profissionais, rejeitando tudo o que venha das prisões. Observamos também o quanto o discurso humanista em alguns momentos é limitado e, em demasiado, romântico tratando qualquer preso como injustiçado pela Sociedade e, com uma postura dualista simplista, elege o agente penitenciário como empecilho ao trabalho ressocializador. Esta visão obtivemos a partir dos entraves criados, dentro da própria SEJUS, por alguns profissionais que não apoiavam a iniciativa do projeto, chegando a vê-lo como desnecessário. Talvez o maior aprendizado de todos seja o de que: ser inovador implica mudar o que está posto e aperfeiçoar uma estrutura que a muitos é perfeita e imutável. Inovar gera resistências humanas por conta disso. Ser empreendedor, então, implica resistir às resistências, acreditar na proposta que comprou para si em nome do propósito planejado, do bem maior para o contribuinte final.

14 A implantação do programa de atenção psicossocial dos servidores penitenciários do ES traz uma nova concepção de estado. Um estado moderno preocupado com qualidade de vida e com a valorização profissional do seu colaborador. Uma ideia que dissemina na equipe do programa a construção de uma nova prática pautada pela busca incessante do conhecimento acerca da importância da valorização profissional no processo de trabalho. PERSPECTIVAS FUTURAS O Programa aspira pelo desenvolvimento de pesquisas, que irão desvelar para o Estado e sociedade o perfil dos agentes penitenciários, o que pode ser feito para transpormos a representação pejorativa que foi construída em torno deste profissional bem como contribuir efetivamente para a mudança das condições de saúde até então observadas, e criação de uma nova identidade funcional, conferindo uma valorização deste servidor. Almeja também a garantia da intersetorialidade no que tange aos serviços prestados ao cidadão, estabelecimento e fortalecimento de parceria nas áreas de promoção, prevenção, assistência e reabilitação profissional, potencializando assim a capacidade de eficiência, eficácia e efetividade estatal, aprimorando a política de valorização de servidor. Prevê também articulação com a rede de Ensino Superior visando o estudo e promoção da saúde pautada em conhecimentos de diversas áreas aprimorando assim os serviços prestados. COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA A respeito deste tópico achamos que servem como sugestões para a implantação e execução do projeto: 1. Conhecimento prévio a respeito do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania ( PRONASCI), Saúde do Trabalhador, Qualidade de Vida dos Servidores, tais conhecimentos podem ser obtidos através de capacitações, cursos e estudos de leis como a Instrução Normativa n º 01 de 26 de fevereiro, que institui o Projeto de Qualidade de Vida dos Profissionais de Segurança Pública e Agentes Penitenciários. 2. Priorizar sempre o planejamento e detalhamento das ações a serem adotadas, estabelecendo de forma continua objetivos, prazos,metas e avaliações tendo como base o Planejamento Estratégico.

15 3. Estabelecimento de parcerias com Organizações Não Governamentais (ONGS) com vistas ao trabalho desenvolvido junto ao servidor, que compreende a realização de campanhas e ações abrangendo atividades de conscientização, prevenção, educação e orientação.além disso tais instituições poderão embasar a valorização e a humanização dos servidores perante as comunidades. 4. Divulgação das ações, atividades desenvolvidas e atribuições do projeto perante as chefias através de reuniões, palestras, eventos. 5. Articulação e formação de Rede com outras políticas públicas como a Assistência, Educação, Trabalho e Saúde a níveis federal, estadual e municipal. Citando como exemplo articulação com a rede de Saúde Mental através de equipamentos como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e também com núcleos e organizações públicas ou privadas voltadas para a Saúde do Trabalho.

16 AUTORIA Fernanda Bárbara Bastos Secretaria de Estado da Justiça (SEJUS) / Subsecretaria de Estado da Justiça para Assuntos Administrativos (SAA). Endereço eletrônico: fernanda.bastos@sejus.es.gov.br / coordenação.ucap@sejus.es.gov.br Gleice Soares da Silva Paixão Secretaria de Estado da Justiça (SEJUS) / Subsecretaria de Estado da Justiça para Assuntos Administrativos (SAA). Endereço eletrônico: coordenação.ucap@sejus.es.gov.br Maria Betânia Silva Baul Secretaria de Estado da Justiça (SEJUS) / Subsecretaria de Estado da Justiça para Assuntos Administrativos (SAA). Endereço eletrônico: coordenação.ucap@sejus.es.gov.br Walter Amaro de Salles Secretaria de Estado da Justiça (SEJUS) / Subsecretaria de Estado da Justiça para Assuntos Administrativos (SAA). Endereço eletrônico: coordenação.ucap@sejus.es.gov.br