SEMANA DE ARTE MODERNA CONTEXTO HISTÓRICO A Semana de 1922 é uma consequência do nacionalismo emergente da 1ª GM e do entusiasmo dos jovens

Documentos relacionados
Vanguarda europeia Modernismo português

Como você leu vários artistas participaram da Semana de Arte Moderna de 1922.

A Semana de Arte Moderna, também conhecida como Semana de 1922, aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, de 11 a 18 de fevereiro de 1922.

LUZ, Angela Ancora da. O século XX. In: OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. (org). História da Arte no Brasil: Textos de síntese.

Conferências e palestras sobre diferentes escultura, literatura, poesia e música.

*Elza Ajzenberg A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922 THE MODERN ART WEEK OF 1922 RESUMO

EMILIANO DI CAVALCANTI

ARTE DOS SÉCULOS XIX E XX

LANDESKUNDE 32 TÓPICOS 1/2004. Flávio de Carvalho Portrait of composer Camargo Guarnieri, 1953 Oil on canvas, 100 x 70 cm

Semana de Arte Moderna

Técnico Design Interior

Semana de Arte Moderna SÃO PAULO, 1922.

A SEMANA DE ARTE MODERNA FEVEREIRO DE 1922

Movimento Modernista no Brasil

Unidade I Tecnologia Corpo, movimento e linguagem na era da informação.

Modernismo Brasileiro Palavras em liberdade

LISTA DE EXERCÍCIOS ARTE

Expressionismo EDUARDO CARLETTO JUNIOR EDUARDO FALCHETTI SOVRANI GIAN CARLOS MENCATTO PAULO ROBERTO MASCARELLO VILMAR IBANOR BERTOTTI JUNIOR

Modernismo no Brasil Primeira geração: ousadia e inovação. Literatura Brasileira 3ª série EM Prof.: Flávia Guerra

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO INFANTIL E JUVENIL INVERNO, LONDRINA, DE. NOME: 8ºANO TEMPO INÍCIO: TÉRMINO: TOTAL:

O Brasil moderno - Semana de Arte Moderna

Modernismo Brasileiro

BRASIL REPÚBLICA (1889 )

Índice. 1. Conceitos Gerais...3. Grupo Módulo 6

MODERNISMO. Profa Giovana Uggioni Silveira

Primeira Geração ( )

Nome: Nº: Turma: Português 3º ano Vanguardas Européias Wilton Mai/09

Bárbara da Silva. Literatura. Modernismo I

Matéria: literatura Assunto: pintura - tarsila do amaral Prof. IBIRÁ

Artes Plásticas/ Sharlene CONTEÚDO DO BIMESTRE CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO TÓPICOS DO CONTEÚDO

MODERNISMO NO BRASIL. O modernismo no Brasil teve início com

Obra e Pablo Picasso Título da obra: Guernica

Português 3º ano Wilton. Vanguardas na Europa e no Brasil

Artes visuais AULA 5 Vanguardas Europeias; Elementos da Arte Contemporânea

Professor(a): Luciana Daudt dos Santos Aluno (a): Série: 3ª Data: / / 2019.

Valter Cesar Pinheiro. René Thiollier. Obra e Vida do Grão-Senhor da Villa Fortunata e da Academia Paulista de Letras

Revisando o Pré-Modernismo ( )

ARTES 7 ANO PROF.ª ARLENE AZULAY PROF. LÚCIA REGINA ENSINO FUNDAMENTAL

7. CULTURA E ARTE NO BRASIL REPUBLICANO

CUBISMO ANALÍTICO E SINTÉTICO

Da década de 30 em diante, além da atividade docente, a artista estaria engajada nos movimentos de classe dos artistas plásticos, ajudando a fundar a

Artes visuais AULA 5 Vanguardas Europeias; Elementos da Arte Contemporânea

MODERNISMO. História da Arte Profº Geder 1ª Série Ensino Médio (2012)

O Brasil começa a viver o século XX: Movimento Modernista

O grupo pretendia fortalecer a sociedade italiana através de uma pregação patriótica que incluía a aceitação e exaltação da tecnologia.

EXPRESSIONISMO FAUVISMO CUBISMO SÉC. XX

ARTES 7 ANO PROF.ª ARLENE AZULAY PROF. LÚCIA REGINA ENSINO FUNDAMENTAL

Arte e Cultura rompendo as estruturas: Cracolândia o gritos dos sem voz.

A Semana de Arte Moderna de 1922

MODERNISMO. Propostas e Movimentos

PANORAMA DO MOBILIÁRIO NO BRASIL. ARTE MODERNA BRASILEIRA Séc. XX

Arte no Brasil/ Arte do Brasil. Identidades, modernização e a busca de uma arte brasileira desde o século XIX. Por Daniela Labra

O que é arte para você?

COLÉGIO MONJOLO QUIZ N / 1 BIMESTRE

Semana de Arte Moderna. 1ª dia ( ) pintura e escultura 2ª dia ( ) poesia e literatura 3ª dia ( ) Músicas.

Arte abstrata ou abstracionismo é um estilo artístico moderno em que os objetos ou pessoas são representados, em de pinturas ou esculturas, através

APOSTILA DE ARTES 3ºS ANOS PROFESSORA: MEIRE DE FALCO 1º BIMESTRE

Arte do Brasil aplicada a Museologia II (MUL 193)

Expressionismo abstrato. Clique para adicionar texto

Miceli, Sergio. Nacional estrangeiro: história social e cultural do modernismo artístico em São Paulo, São Paulo, Companhia das Letras, 2003, 304 pp.

Jimboê. História. Avaliação. Projeto. 5 o ano. 2 o bimestre

História das artes e estética. UNIARAXÁ - ARQUITETURA E URBANISMO 2015/2!!! Prof. M.Sc. KAREN KELES!

Vanguardas Históricas I

1 o ano Ensino Fundamental Data: / / NOME:

ANITA MALFATTI: O INÍCIO DE UMA RUPTURA DAS MAIS RADICAIS NA PINTURA BRASILEIRA DO SÉCULO XX

ARTES 9 ANO PROF.ª GABRIELA DACIO PROF.ª ARLENE CALIRI ENSINO FUNDAMENTAL

Expressão Artística e Motora III Expressão Plástica

Vanguardas Europeias

FORTALECENDO SABERES DESAFIO DO DIA DINÂMICA LOCAL I CONTEÚDO E HABILIDADES ARTES. Conteúdo: - Cubismo e Abstracionismo

SÉCULO XIX NO BRASIL: A MODERNIZAÇÃO DA ARTE

Série. MAT Disciplina: Arte Professor: FERNANDA CARDOSO ATIVIDADE DE RECUPERAÇÃO

06. Explique o método de pintura impressionista. Neste texto, correlacione a escolha da cor com o formato da pincelada?

LITERATURA ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO

MODERNISMO NO BRASIL

Representação cultural e artística

Após a Semana de Arte Moderna e a agitação que ela provocou nos meios artísticos, aos poucos foi surgindo um novo grupo de artistas plásticos, que se

ARTE AULA 5 EAD ENSINO MÉDIO 2 ANO ARTE MODERNA NO BRASIL

ARTE MODERNA BRASILEIRA NO ACERVO DO MAC USP: O CASO DE A BOBA, DE ANITA MALFATTI

P L A N I F I C A Ç Ã O A N U A L

Centro Educacional Brasil Central. Nível: Educação Básica. Modalidade: Educação de Jovens e Adultos a Distância

Unidade III Trabalho- A trajetória humana, suas produções e manifestações

VANGUARDAS EUROPÉIAS

BRASIL. ARTE INDÍGENA 1500 Arte integrada a cultura : Arte plumária, cerâmica, tecelagem,máscaras, pintura corporal

Arte e Design Linha do Tempo

REVISÃO 4º BIM. 6ºs anos. Professora Cristina

Modernismo. Semana de Arte Moderna

CARTA DO SETOR EDUCATIVO MAB/FAAP ÀS ESCOLAS. Exposição: ETERNA TRILOGIA. Ação Educativa entre 15 de fevereiro a 10 de dezembro de 2017

COLÉGIO ESTADUAL DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS HUGO DE CARVALHO RAMOS ATIVIDADE COMPLEMENTAR. Escola de Civismo e Cidadania

CONSTRUTIVISMO SANDRA MIKA MAGNA PATRÍCIA ALAN MOURA JACKSON HELBERT

ARTE BRASILEIRA DO SÉCULO XIX

2010 Tuneu-aquarelas. Casa de Cultura de Paraty, Paraty, Brasil Museu Universitário de Arte da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil

UFT/COPESE VESTIBULAR EDUCAÇÃO DO CAMPO 2018/1

NEJAD SUPLETIVO DO ENSINO MÉDIO DISCIPLINA DE ARTE PROFESSORA CLAUDETE

VANGUARDAS DO SÉCULO XX FUTURISMO

MODERNISMO BRASILEIRO SÉC. XX

Contexto artístico no início do século XX 2º. ano Prof. André Araújo

Mulher de chapéu, Matisse 1905, Óleo sobre tela

AGRUPAMENTO de ESCOLAS de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2018/2019 PLANIFICAÇÃO ANUAL

O SURGIMENTO DO MODERNISMO NAS ARTES. Professora Consuelo

Transcrição:

INTELECTUS

SEMANA DE ARTE MODERNA CONTEXTO HISTÓRICO A Semana de 1922 é uma consequência do nacionalismo emergente da 1ª GM e do entusiasmo dos jovens intelectuais brasileiros pelas comemorações do Centenário da Independência do Brasil. Neste começo de século, o país ainda se adaptava politicamente à República, proclamada em 1889. (33 anos)

Ocorre em São Paulo, uma cidade enriquecida pelo café e pela gradativa industrialização do Estado. À época, a vida artística do Rio de Janeiro, capital federal, girava em torno das tradicionais Academias de Arte. O fato de São Paulo não possuir escolas oficiais de arte proporcionou um ambiente propício para tornar a capital paulista um centro de renovação cultural.

Cem anos se passaram do Grito do Ipiranga, portanto, já era tempo de questionarmos se o país estava mesmo livre e se toda a população participava de uma sociedade realmente democrática. Da Semana de 1922, uma iniciativa dos artistas e intelectuais participantes, nasceu a consciência de uma arte Nacional.

Os jovens modernistas da Semana negavam, antes de mais nada, o academicismo nas artes. A essa altura, estavam já influenciados esteticamente por tendências e movimentos como o Cubismo, o Expressionismo Fauvismo e diversas ramificações pósimpressionistas.

Cubismo e Expressionismo As senhoritas de Avignon 1907 Pablo Picasso O grito - Edvard Munch

Os participantes da Semana foram: Pintura: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignac, Yan Almeida Prado e Antônio Paim Vieira, Jhon Graz, Alberto Martins Ribeiro, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita. Escultura: Victor Brecheret, Wilhelm Haarberg e Hildegardo Velloso. Música: Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novais, Hernani Braga. Arquitetura: Antônio Moya e Georg Przyrembel. Literatura: Menotti Del Picchia, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manoel Bandeira e Cassiano Ricardo.

A Semana não foi um fato isolado e sem origens. As discussões em torno da necessidade de renovação das artes surgem em meados da década de 1910 em textos de revistas e em exposições, como a de Anita Malfatti em 1917. Em 1921 já existe, por parte de intelectuais como Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, a intenção de transformar as comemorações do centenário em momento de emancipação artística.

Ao final de 1921, a ideia de um festival com duração de uma semana, trazendo manifestações artísticas diversas, toma forma inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville, cidade francesa, com apoio fundamental do mecenas Paulo Prado, homem influente e de prestígio na sociedade paulistana, consegue que outros barões do café e nomes de peso patrocinem, mediante doações, o aluguel do teatro para a realização do evento. Também é fundamental seu papel na adesão de Graça Aranha à causa dos artistas "revolucionários". Recém-chegado da Europa como romancista aclamado, a presença de Aranha serve estrategicamente para legitimar a seriedade das reivindicações do jovem e ainda desconhecido grupo modernista.

Os primórdios da arte moderna no Brasil Em 1913, estivera no Brasil, vindo da Alemanha, o pintor Lasar Segall. Realizou uma exposição em São Paulo e outra em Campinas, ambas recebidas com uma fria polidez. Desanimado, Segall seguiu de volta à Alemanha, só retornando ao Brasil dez anos depois, quando os ventos sopravam mais a favor.

ANITA MALFATTI Anita Catarina Malfatti, filha de um italiano e uma norte-americana (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 São Paulo, 6 de novembro de 1964) foi uma pintora, desenhista, gravadora e professora brasileira. Um dos períodos de maior produção foi nos Estados Unidos. realizou a primeira exposição modernista brasileira em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Monteiro Lobato não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna.

Monteiro Lobato por sua vez critica a exposição de Malfatti no artigo Paranoia ou Mistificação? publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 20 de dezembro de 1917. Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas(..) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Embora eles se deem como novos, precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação.(...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora. Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.

Rochedos (Monhegan Island). 1915. oléo s/tela (60x74).Col. Guilherme Malfatti, SP

Em A Ventania, a paisagem local é representada como uma força selvagem, agressiva e dinâmica, e o uso da deformação expressa certa inquietação do olhar humano diante da natureza. A Ventania. 1915-17. óleo s/ tela (51x61). Col. Palácio dos Bandeirantes, SP.

Uma das obras mais conhecidas desse período é O Farol. Nessa pintura, a paisagem está mais harmonizada com a presença humana, através das edificações que compõem o cenário. O uso da deformação é sensivelmente menor, em contrapartida Anita utiliza exemplarmente a principal característica do seu expressionismo: as cores abundantes e vivas, a chamada Festa da Cor.

O Farol. 1915. óleo s/ tela (46,5x61). Col. Chateaubriand Bandeira de Mello, RJ.

Entre 1915 e 1917, temos a produção de retratos, entre eles a tão polêmica A Boba, produção vítima das críticas negativas de Monteiro Lobato. Ficha Técnica - A Boba Autor: Anita Malfatti Museu de Arte Contemporânea, USP, São Paulo, 1915-1916. Técnica: Óleo sobre tela

A estudante russa. 1915. óleo s/ tela (76x61). Col. Mário de Andrade, Instituto de Estudos Brasileiros da USP, SP

Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o principal instrumento da jovem Anita Malfatti. A obra O homem de sete cores revela essa preocupação intensa. O homem de sete cores. 1915-16. Carvão e pastel s/ papel (60,7x45). Col. Roberto Pinto de Souza, SP.

Anita utilizava modelos que posavam na Escola Independente de Arte (EUA) em troca de alguns dólares. Essas pessoas, sem nenhuma ligação com o mundo artístico, serviriam como modelos para obras como A mulher de cabelos verdes e O homem amarelo, obra que fascinou Mario de Andrade, quando este sequer conhecia Anita.

A exposição de Anita Malfatti, entretanto, marcou o início de uma luta, reunindo ao redor dela jovens despertos para uma necessidade de renovação da arte brasileira. Além disso, traços dos ideais que a Semana propunha já podiam ser notados em trabalhos de artistas que dela participaram (além de outros que foram excluídos do evento). Desde a exposição de Malfatti, havia dado tempo para que os artistas de pensamentos semelhantes se agrupassem. Em 1920, por exemplo, Oswald de Andrade já falava de amplas manifestações de ruptura, com debates abertos.

Entretanto, parece ter cabido a Di Cavalcanti a sugestão de "uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana." Artistas e intelectuais de São Paulo, com Di Cavalcanti, e do Rio de Janeiro, tendo Graça Aranha à frente, organizavam a Semana, prevista para se realizar em fevereiro de 1922. Uma exposição de artes plásticas - organizada por Di Cavalcanti e Rubens Borba de Morais, com a colaboração de Ronald de Carvalho, no Rio - acompanharia as demais atividades previstas.

Logo após a realização da Semana, alguns artistas fundamentais que dela participaram acabam voltando para a Europa (ou indo lá pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do processo que se iniciara. Por outro lado, outros artistas igualmente importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos grandes pilares do Modernismo Brasileiro. Não resta dúvida, porem, que a Semana integrou grandes personalidades da cultura na época e pode ser considerada importante marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente anti-acadêmica e introdução do país nas questões do século.

Logo após a realização da Semana, alguns artistas fundamentais que dela participaram acabam voltando para a Europa (ou indo lá pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do processo que se iniciara. Por outro lado, outros artistas igualmente importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos grandes pilares do Modernismo Brasileiro. Não resta dúvida, porem, que a Semana integrou grandes personalidades da cultura na época e pode ser considerada importante marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente anti-acadêmica e introdução do país nas questões do século.