INTELECTUS
SEMANA DE ARTE MODERNA CONTEXTO HISTÓRICO A Semana de 1922 é uma consequência do nacionalismo emergente da 1ª GM e do entusiasmo dos jovens intelectuais brasileiros pelas comemorações do Centenário da Independência do Brasil. Neste começo de século, o país ainda se adaptava politicamente à República, proclamada em 1889. (33 anos)
Ocorre em São Paulo, uma cidade enriquecida pelo café e pela gradativa industrialização do Estado. À época, a vida artística do Rio de Janeiro, capital federal, girava em torno das tradicionais Academias de Arte. O fato de São Paulo não possuir escolas oficiais de arte proporcionou um ambiente propício para tornar a capital paulista um centro de renovação cultural.
Cem anos se passaram do Grito do Ipiranga, portanto, já era tempo de questionarmos se o país estava mesmo livre e se toda a população participava de uma sociedade realmente democrática. Da Semana de 1922, uma iniciativa dos artistas e intelectuais participantes, nasceu a consciência de uma arte Nacional.
Os jovens modernistas da Semana negavam, antes de mais nada, o academicismo nas artes. A essa altura, estavam já influenciados esteticamente por tendências e movimentos como o Cubismo, o Expressionismo Fauvismo e diversas ramificações pósimpressionistas.
Cubismo e Expressionismo As senhoritas de Avignon 1907 Pablo Picasso O grito - Edvard Munch
Os participantes da Semana foram: Pintura: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignac, Yan Almeida Prado e Antônio Paim Vieira, Jhon Graz, Alberto Martins Ribeiro, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita. Escultura: Victor Brecheret, Wilhelm Haarberg e Hildegardo Velloso. Música: Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novais, Hernani Braga. Arquitetura: Antônio Moya e Georg Przyrembel. Literatura: Menotti Del Picchia, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manoel Bandeira e Cassiano Ricardo.
A Semana não foi um fato isolado e sem origens. As discussões em torno da necessidade de renovação das artes surgem em meados da década de 1910 em textos de revistas e em exposições, como a de Anita Malfatti em 1917. Em 1921 já existe, por parte de intelectuais como Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, a intenção de transformar as comemorações do centenário em momento de emancipação artística.
Ao final de 1921, a ideia de um festival com duração de uma semana, trazendo manifestações artísticas diversas, toma forma inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville, cidade francesa, com apoio fundamental do mecenas Paulo Prado, homem influente e de prestígio na sociedade paulistana, consegue que outros barões do café e nomes de peso patrocinem, mediante doações, o aluguel do teatro para a realização do evento. Também é fundamental seu papel na adesão de Graça Aranha à causa dos artistas "revolucionários". Recém-chegado da Europa como romancista aclamado, a presença de Aranha serve estrategicamente para legitimar a seriedade das reivindicações do jovem e ainda desconhecido grupo modernista.
Os primórdios da arte moderna no Brasil Em 1913, estivera no Brasil, vindo da Alemanha, o pintor Lasar Segall. Realizou uma exposição em São Paulo e outra em Campinas, ambas recebidas com uma fria polidez. Desanimado, Segall seguiu de volta à Alemanha, só retornando ao Brasil dez anos depois, quando os ventos sopravam mais a favor.
ANITA MALFATTI Anita Catarina Malfatti, filha de um italiano e uma norte-americana (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 São Paulo, 6 de novembro de 1964) foi uma pintora, desenhista, gravadora e professora brasileira. Um dos períodos de maior produção foi nos Estados Unidos. realizou a primeira exposição modernista brasileira em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Monteiro Lobato não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna.
Monteiro Lobato por sua vez critica a exposição de Malfatti no artigo Paranoia ou Mistificação? publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 20 de dezembro de 1917. Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas(..) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Embora eles se deem como novos, precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação.(...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora. Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.
Rochedos (Monhegan Island). 1915. oléo s/tela (60x74).Col. Guilherme Malfatti, SP
Em A Ventania, a paisagem local é representada como uma força selvagem, agressiva e dinâmica, e o uso da deformação expressa certa inquietação do olhar humano diante da natureza. A Ventania. 1915-17. óleo s/ tela (51x61). Col. Palácio dos Bandeirantes, SP.
Uma das obras mais conhecidas desse período é O Farol. Nessa pintura, a paisagem está mais harmonizada com a presença humana, através das edificações que compõem o cenário. O uso da deformação é sensivelmente menor, em contrapartida Anita utiliza exemplarmente a principal característica do seu expressionismo: as cores abundantes e vivas, a chamada Festa da Cor.
O Farol. 1915. óleo s/ tela (46,5x61). Col. Chateaubriand Bandeira de Mello, RJ.
Entre 1915 e 1917, temos a produção de retratos, entre eles a tão polêmica A Boba, produção vítima das críticas negativas de Monteiro Lobato. Ficha Técnica - A Boba Autor: Anita Malfatti Museu de Arte Contemporânea, USP, São Paulo, 1915-1916. Técnica: Óleo sobre tela
A estudante russa. 1915. óleo s/ tela (76x61). Col. Mário de Andrade, Instituto de Estudos Brasileiros da USP, SP
Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o principal instrumento da jovem Anita Malfatti. A obra O homem de sete cores revela essa preocupação intensa. O homem de sete cores. 1915-16. Carvão e pastel s/ papel (60,7x45). Col. Roberto Pinto de Souza, SP.
Anita utilizava modelos que posavam na Escola Independente de Arte (EUA) em troca de alguns dólares. Essas pessoas, sem nenhuma ligação com o mundo artístico, serviriam como modelos para obras como A mulher de cabelos verdes e O homem amarelo, obra que fascinou Mario de Andrade, quando este sequer conhecia Anita.
A exposição de Anita Malfatti, entretanto, marcou o início de uma luta, reunindo ao redor dela jovens despertos para uma necessidade de renovação da arte brasileira. Além disso, traços dos ideais que a Semana propunha já podiam ser notados em trabalhos de artistas que dela participaram (além de outros que foram excluídos do evento). Desde a exposição de Malfatti, havia dado tempo para que os artistas de pensamentos semelhantes se agrupassem. Em 1920, por exemplo, Oswald de Andrade já falava de amplas manifestações de ruptura, com debates abertos.
Entretanto, parece ter cabido a Di Cavalcanti a sugestão de "uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana." Artistas e intelectuais de São Paulo, com Di Cavalcanti, e do Rio de Janeiro, tendo Graça Aranha à frente, organizavam a Semana, prevista para se realizar em fevereiro de 1922. Uma exposição de artes plásticas - organizada por Di Cavalcanti e Rubens Borba de Morais, com a colaboração de Ronald de Carvalho, no Rio - acompanharia as demais atividades previstas.
Logo após a realização da Semana, alguns artistas fundamentais que dela participaram acabam voltando para a Europa (ou indo lá pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do processo que se iniciara. Por outro lado, outros artistas igualmente importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos grandes pilares do Modernismo Brasileiro. Não resta dúvida, porem, que a Semana integrou grandes personalidades da cultura na época e pode ser considerada importante marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente anti-acadêmica e introdução do país nas questões do século.
Logo após a realização da Semana, alguns artistas fundamentais que dela participaram acabam voltando para a Europa (ou indo lá pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do processo que se iniciara. Por outro lado, outros artistas igualmente importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos grandes pilares do Modernismo Brasileiro. Não resta dúvida, porem, que a Semana integrou grandes personalidades da cultura na época e pode ser considerada importante marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente anti-acadêmica e introdução do país nas questões do século.