RESIDÊNCIA ZM Local: Itacaré - BA Ano: 2005 Escritório Bernardes Jacobsen Arquitetura Autores: Rafael Susin Baumann, Cristina Piccoli e Ana Elísia da Costa. Implantação e Partido Formal A Casa ZM está localizada em Itacaré, zona litorânea ao sul de Salvador, num terreno de encosta de 889,16m2 e geometria irregular. Dois são os fatores que parecem ter sido determinantes na implantação da residência: a topografia, com mais de 20 metros de diferença entre a cota mais alta a noroeste e a mais baixa a sudeste e a visual da praia. Nesta topografia íngreme, a casa foi colocada em um platô criado em cota intermediária, paralelamente à divisa noroeste, colocando-se como uma sentinela para o mar e como um suporte da encosta. (Figura 1) A composição volumétrica é formada por três blocos lineares que se interceptam. O Bloco 1 é um volume puro semienterrado, cujo fechamento em painéis de madeira denuncia seu caráter privativo. O Bloco 2 é posicionado na parte posterior do Bloco 1, configurando-se um segundo pavimento para ele. Como um mirante, desvela a paisagem litorânea, para a qual se abre através dos seus grandes planos envidraçados e cobertura inclinada. Já o Bloco 3, com menores dimensões, tangencia o Bloco 2. Estando semienterrado, este bloco toma forma pela maciça fachada-muro em pedra que também exerce papel de contenção do terreno. (Figura 1 e 2) Figura 1: (a) Implantação; (b) Arranjo volumétrico. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Apesar dos volumes puros, é notável a intenção de romper limites entre interior-exterior através da linguagem planar, como se observa na cobertura do Bloco 2 e na fachada-muro que rompe os limites do Bloco 3 ao acompanhar o pátio de acesso e ao penetrar no corpo principal da casa. (Figura 2) Figura 2: (a) Composição volumétrica e planar; (b) Muro que marca o eixo de acesso e penetra no corpo principal da casa. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura Fonte: (a) http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos/?codprojeto=59; (b) BAUMANN, Rafael, 2015. O conjunto é regido por modulações longitudinais. No Bloco 1, observa-se quatro módulos longitudinais que organizam as suítes. Apenas na terminação sudoeste da ala, no espaço correspondente ao banheiro da suíte do casal, a regularidade da modulação é rompida. (Figura 3a) O Bloco 2, por sua vez, é regido por três módulos longitudinais, sofrendo uma subtração também a sudoeste, onde a piscina penetra no espaço edificado. (Figura 3b) Figura 3: Modulação (a) pavimento inferior e (b) pavimento superior. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Configuração funcional O acesso à residência se dá pelo Bloco 1, que abriga o setor íntimo. No segundo pavimento, o Bloco 2 abriga o setor social e o serviço que lhe atende. Um hall com pé direito duplo organiza os fluxos: conduz à ala íntima, no mesmo nível de ingresso, ou à escadaria de lance único que conecta ao setor social. A posição deste ambiente no conjunto é estratégica e confere autonomia de uso aos Blocos 1 e 2. O Bloco 3, de acesso autônomo e sem interligação com o restante da casa, abriga a lavanderia e um banheiro de serviço. O Bloco 1 (íntimo) e inferior é organizado em duas faixas atendidas por uma circulação espacializada e centralizada. A primeira, que corresponde a projeção do Bloco 2, abriga, além do hall uma sala de TV sob a escadaria e um depósito. Na segunda faixa, estão os quartos com os banheiros privativos. Estes elementos irregulares de composição estão interpostos àqueles regulares e são agrupados quando possível, denotando preocupação em concentrar os núcleos hidráulicos. A suíte do casal, situada na extremidade da ala, incorpora a circulação que é convertida em escada, uma vez que este cômodo está posicionado em um nível mais baixo. O grande banheiro disposto na periferia do bloco tem o mesmo comprimento do quarto e se abre para o spa sobre deck externo. (Figura 4) Figura 4: (a) Setorização pavimento inferior; (b) Circulações e elementos irregulares pavimento inferior. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
O Bloco 2 (social), ingressado pela escadaria, se apresenta como uma grande planta livre. Pelo layout, se observa que há um hiperdimensionamento das áreas de circulação em detrimento das áreas de permanência, sendo a circulação principal sugerida na porção sudeste do ambiente, junto à grande abertura que dilata as dimensões da sala para o exterior. Este pavimento configura-se como mirante, parte contido numa caixa de vidro, parte aberto, sob o terraço configurado pela cobertura do Bloco 1. Ao final da ala, uma piscina se estende em direção ao mar. Lavabo, despensa e cozinha são agrupados e dispostos na extremidade noroeste da planta, num módulo semelhante ao da escada, (Figura 5) Figura 5: (a) Setorização pavimento superior; (b) Circulações e elementos irregulares pavimento superior. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura Espacialidade O muro de pedra que contém a encosta e veda o Bloco 3 demarca o encaminhamento de acesso à casa. Ao fundo, o revestimento com ripado de madeira do Bloco 1 se contrapõe ao grande plano envidraçado que atravessa os blocos 1 e 2 e que configura o hall de pé direito duplo onde ocorre o acesso à residência. A transparência desse hall não deixa muito espaço
para imaginação, antes mesmo de entrar, o espaço interno já está completamente revelado, mostrando a escadaria que leva ao pavimento superior. (Figura 6) Figura 6: (a) Planta guia; (b) O eixo que demarca o acesso; (c) O acessar. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura Fonte: (a) e (c) BAUMANN, Rafael, 2015; (b) http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos/?codprojeto=59 O hall de entrada é um espaço de estímulos multidirecionais horizontalmente, se antevê o corredor íntimo e a sala de TV vislumbrada entre os degraus da escala; verticalmente, o pé-direito duplo e a escada conduzem o olhar ao pavimento superior. Reafirmam os inúmeros estímulos visuais neste ambiente os diferentes graus de iluminação que incidem nos setores a escura circulação íntima, sem aberturas para o exterior, se opõe claramente à abundante entrada de luz natural no setor social, já vislumbrada desde o hall. (Figura 7) Figura 7: (a) Planta guia; (b) O hall de entrada. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
O pavimento superior, ou setor social, promove relações espaciais muito dinâmicas, condicionadas por vários agentes: a) os planos envidraçados que instigam a interação visual com a piscina a sudoeste, com a topografia ascendente a noroeste e com o litoral a sudeste; b) a cobertura ascendente que dilata verticalmente a visual em relação ao mar; c) o layout de mobiliário que funciona como uma barreira física na definição das circulações, mas que evita bloqueios visuais no ponto de vista do observador. Todos estes elementos provocam tensões multidirecionais e contribuem para a sensação de dilatação espacial horizontal (Figura 8) Figura 8: (a) Planta guia; (b) e (c) O setor social; (d) Corte transversal para compreensão da cobertura. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura Fonte: (a), (c) e (d) BAUMANN, Rafael, 2015; (b) http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos/?codprojeto=59 Para adentrar no setor íntimo, atravessa-se uma espécie de pórtico que faz a transição entre o pé direito duplo do hall e o pé direito simples da circulação íntima. Assim, se passa de um ambiente amplo para outro de estímulos mais limitados, onde a sensação de compressão vertical vem acompanhada de uma de compressão horizontal, condicionada pela geometria estreita e comprida do corredor. Na porção central deste percurso, ao tangenciar a sala de tv, a experiência espacial é levemente dilatada, seguida de nova compressão. (Figura 9)
Figura 9: (a) Planta guia; (b), (c) e (d) Circulação íntima. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura Fonte: (a), (c) e (d) BAUMANN, Rafael, 2015; (b) http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos/?codprojeto=59 Entre o corredor e os quartos, a passagem pelos pequenos halls dos banheiros privativos define nova compressão espacial. Com o ingresso nos quartos propriamente dito, revela-se uma ambiência potencialmente estática, derivada da sua geometria regular e da estreita porta-janela que se abre para o exterior. O caráter íntimo destes ambientes é reforçado pelos painéis em madeira que possibilitam o fechamento pleno em relação ao exterior. A suíte principal, ao final do corredor, está numa cota mais baixa que o resto do setor íntimo, o que provoca aumento do pé direito e uma dilatação visual vertical ao longo do percurso da escada de acesso. Ao ingressar no dormitório, a porta-janela, colocada na parede oposta do acesso, provoca uma tensão diagonal. (Figura 10) Figura 10: (a) Planta guia; (b) Os quartos; (c) Suíte do casal. Residência ZM, 2015. Bernardes e Jacobsen Arquitetura