Certificado digitalmente por: CLAUDIO DE ANDRADE AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1460661-0 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Agravante: SANTA SOFIA PARTICIPAÇÕES E INVESTIMENTOS LTDA Agravado: MUNICÍPIO DE CURITIBA Relator: DESEMBARGADOR CLAUDIO DE ANDRADE AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPOSTO SOBRE A TRANSMISSÃO INTER VIVOS DE BENS IMÓVEIS ITBI TRANSFERÊNCIA DE IMÓVEIS PARA O PATRIMÔNIO DE PESSOA JURÍDICA, EM REALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL AUSÊNCIA DE BENEFÍCIO, COM OS IMÓVEIS, EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA IMUNIDADE AFASTADA - INTERPRETAÇÃO DO ART. 156, 2º, I, COM O ART. 170, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DECISÃO ATACADA MANTIDA AGRAVO DESPROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento nº. 1460661-0, em que é agravante SANTA SOFIA PARTICIPAÇÕES E INVESTIMENTOS LTDA e é agravado MUNICÍPIO DE CURITIBA. I RELATÓRIO Página 1 de 9
Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de antecipação de tutela recursal, interposto por SANTA SOFIA PARTICIPAÇÕES E INVESTIMENTOS LTDA em face da decisão de fls. 23/25-TJ, proferida pelo MM. Juiz de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, nos autos de ação anulatória sob n. 0005378-79.2015.8.16.0004, na qual Sua Excelência indeferiu a liminar pleiteada de suspensão da exigibilidade do débito de ITBI questionado na ação. Em suas razões recursais a agravante sustenta que: a) o seu pedido goza de verossimilhança, pois está de acordo com a legislação vigente e remansoso entendimento doutrinário e jurisprudencial; b) tanto a CF como o CTN possuem redação clara e objetiva em relação à imunidade do ITBI sobre a transmissão de bens imóveis quando a sua incorporação ao patrimônio da pessoa jurídica ocorra em decorrência de integralização de capital social; c) o seu objeto social é claro ao prever que suas atividades não se enquadram na objeção imposta pela Constituição Federal ao reconhecimento da imunidade do ITBI pretendida. Pugna pela atribuição de efeito ativo ao presente e, ao final, pelo provimento do recurso. Às fls. 262/263-TJ este Relator indeferiu a tutela antecipada recursal pretendida, até final julgamento do recurso pela Câmara. O agravado apresentou suas contrarrazões (fls. 270/280-TJ). Às fls. 282-TJ o MM. Juiz da causa informou que manteve a decisão agravada e que a agravante cumpriu com o disposto no art. 526 do CPC. Vieram os autos conclusos. É o relatório. II VOTO Página 2 de 9
Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal extrínsecos e intrínsecos, conheço do recurso e nego-lhe provimento. Trata-se de decisão que indeferiu a liminar pleiteada de suspensão da exigibilidade do débito de ITBI questionado na ação, com base no art. 156, 2º, I, do CTN. Ponderou a referida decisão que, no caso, a atividade desempenhada pela pessoa jurídica é unicamente de planejamento tributário familiar, não tendo os imóveis sido incorporados para sua utilização na empresa, de modo que não faz jus à imunidade destacada. Em suas razões recursais a agravante sustenta que: a) o seu pedido goza de verossimilhança, pois está de acordo com a legislação vigente e remansoso entendimento doutrinário e jurisprudencial; b) tanto a CF como o CTN possuem redação clara e objetiva em relação à imunidade do ITBI sobre a transmissão de bens imóveis quando a sua incorporação ao patrimônio da pessoa jurídica ocorra em decorrência de integralização de capital social; c) o seu objeto social é claro ao prever que suas atividades não se enquadram na objeção imposta pela Constituição Federal ao reconhecimento da imunidade do ITBI pretendida. Pois bem. A imunidade pretendida pela empresa agravante está prevista no artigo 156, 2º, inciso I, da Constituição Federal, in verbis: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...) II - transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; (...) Página 3 de 9
2º O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; Nesse mesmo sentido, o Código Tributário Municipal (Lei Complementar nº 677/2007) também dispõe em seu artigo 36, inciso I que: Art. 36. Ressalvado o disposto no artigo seguinte, o imposto não incide sobre a transmissão dos bens ou direitos referidos no artigo anterior: I - quando efetuada para sua incorporação ao patrimônio de pessoa jurídica em pagamento de capital nela subscrito; (...) Analisando os autos, em que pese a ocorrência da transferência de bens imóveis ao patrimônio da pessoa jurídica em realização de capital social (alteração contratual de fl. 59-TJ), ainda assim não se caracteriza a hipótese de imunidade tributária no caso em análise. Primeiramente, vale destacar que o Supremo Tribunal Federal entende que a normas de imunidade são uma exceção constitucional para a capacidade ativa tributária, de maneira que a interpretação de tais normas deve ocorrer de forma restritiva: Constitucional. Imunidade tributária. Art. 149, 2º, I, da Constituição Federal. Extensão da imunidade à CPMF incidente sobre movimentações financeiras relativas a receitas decorrentes de exportação. Impossibilidade. Interpretação Página 4 de 9
estrita da norma. Recurso extraordinário desprovido. I - O art. 149, 2º, I, da Constituição Federal é claro ao limitar a imunidade apenas às contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico incidentes sobre as receitas decorrentes de exportação. II - Em se tratando de imunidade tributária a interpretação há de ser restritiva, atentando sempre para o escopo pretendido pelo legislador. III - A CPMF não foi contemplada pela referida imunidade, porquanto a sua hipótese de incidência - movimentações financeiras - não se confunde com as receitas. IV - Recurso extraordinário desprovido. (RE nº 566259 Rel. Min. Ricardo Lewandowski Tribunal Pleno DJe 24-09-2010) (Grifei). Imunidade Capacidade ativa tributária. A imunidade encerra exceção constitucional à capacidade ativa tributária, cabendo interpretar os preceitos regedores de forma estrita. Imunidade Exportação Receita Lucro. A imunidade prevista no inciso I do 2º do artigo 149 da Carta Federal não alcança o lucro das empresas exportadoras. Lucro Contribuição social sobre o lucro líquido Empresas exportadoras. Incide no lucro das empresas exportadoras a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. (RE nº 564413 Rel. Min. Marco Aurélio Tribunal Pleno DJe 3-11-2010) (Grifei). Indubitável que a intenção do constituinte na concessão da imunidade à operação de incorporação de bens imóveis em favor da pessoa jurídica deu-se com o objetivo de que os imóveis sejam utilizados na atividade desempenhada por ela. Ou seja, a imunidade do ITBI em caso de transmissão de bem imóvel para fins de incorporação ao patrimônio da pessoa jurídica em realização de capital tem por escopo facilitar a capitalização e fomentar o Página 5 de 9
crescimento da empresa, de forma a estimular a realização de investimentos em atividade econômica. Com base em tal premissa, tem-se que no caso dos autos, ao contrário, a incorporação dos imóveis não ocorreu para sua utilização na empresa. Como a incorporação de bens imóveis não resultou em benefício à pessoa jurídica, então não se fala em aplicação da regra de imunidade, uma vez que inexistiu o cumprimento do art. 156, 2º, I, cumulado com o art. 170, caput, ambos da Constituição Federal. Em casos semelhantes, neste sentido já decidiu esta E. Corte, veja-se: Tributário. Mandado de segurança. ITBI. Incorporação ao patrimônio da pessoa jurídica em realização de capital.imóvel com cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, incomunicabilidade e usufruto vitalício pleno. Ausência de benefícios em favor da pessoa jurídica e incentivo à livre iniciativa com a realização do imóvel ao capital social. Imunidade afastada. Exegese do art. 156, II, 2º, da Constituição Federal. Exceções. Interpretação restritiva. Manutenção da decisão agravada. Agravo de Instrumento não provido. (TJPR - 1ª C.Cível - AI - 1400408-5 - Curitiba - Rel.: Salvatore Antonio Astuti - Unânime - - J. 20.10.2015) (Grifei). TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. ITBI. TRANSFERÊNCIA DE IMÓVEIS PARA O PATRIMÔNIO DE PESSOA JURÍDICA. 1. CONTRATO SOCIAL QUE ESTABELECE CLÁUSULA DE INCORPORAÇÃO DE BENS IMÓVEIS. 2. PESSOA JURÍDICA QUE FIRMA CONTRATO DE COMODATO COM PESSOAS FÍSICAS (SÓCIOS) PARA Página 6 de 9
UTILIZAÇÃO DE BENS IMÓVEIS. AUSÊNCIA DE BENEFÍCIO, COM OS IMÓVEIS, EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA. EMPRESA INATIVA.DESCARACTERIZAÇÃO DO INSTITUTO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.INTERPRETAÇÃO DO ART. 156, II, 2º, I, COM O ART. 170, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 3. REGRA DA IMUNIDADE. CARÁTER RESTRITIVO E FINALÍSTICO.PRECEDENTES DO STF.4. INCIDÊNCIA DO ITBI. FATO GERADOR CARACTERIZADO. APLICAÇÃO DO ART. 156, II, DA CF E DO ART. 35, I, DO CTN. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL.5. RECURSO PROVIDO. REEXAME NECESSÁRIO PREJUDICADO. (a) Concede-se imunidade tributária para a operação de incorporação de bens imóveis em favor da pessoa jurídica, com o objetivo de que os imóveis sejam utilizados na atividade desempenhada pela mesma, ou seja, esta deve efetivamente beneficiar-se com a incorporação dos imóveis. Na verdade o que se depreende dos autos é que se cuida de empresa familiar, constituída pelos sócios para planejamento tributário do seu patrimônio, com redução da carga tributária e a preservação dos bens, o que é perfeitamente legal, mas não pode querer usufruir de imunidade tributária do ITBI que se instituiu com outro escopo, ou seja, de fortalecer as empresas, gerando mais empregos, circulação de riquezas e cumprindo com os objetivos fundamentais de nossa República Federativa, dentre os quais, o de garantir o desenvolvimento nacional (art. 3º, inciso II, da Constituição Federal). (b) "A imunidade encerra exceção constitucional à capacidade ativa tributária, cabendo interpretar os preceitos regedores de forma estrita." (RE nº 564413 - STF - Rel. Min. Marco Aurélio - Pleno - DJe 3-11-2010). (c) "Interpretação da norma imunizante.em outras palavras, a interpretação há que ser teleológica e sistemática - vale dizer, Página 7 de 9
consentânea com os princípios constitucionais envolvidos e o contexto a que se refere." (Regina Helena Costa, Imunidades Tributárias, 2ª edição, Malheiros, p. 115). (TJPR - 2ª C.Cível - ACR - 974297-8 - Curitiba - Rel.: Lauro Laertes de Oliveira - Unânime - - J. 29.01.2013) Desta feita, correta a decisão atacada, não merecendo qualquer reparo, pelo que nego provimento ao recurso, nos termos do voto. É como voto. III DECISÃO Ante o exposto, acordam os integrantes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do voto do Relator. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Claudio de Andrade e José Sebastião Fagundes Cunha, e o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Substituto em Segundo Grau Convocado Osvaldo Nallim Duarte. Curitiba, 08 de março de 2016. DES. CLAUDIO DE ANDRADE Relator Página 8 de 9
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