Dos feminismos ao feminismo dialógico. Módulo II Sujeitos da EJA CEEJA

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Transcrição:

Dos feminismos ao feminismo dialógico Módulo II Sujeitos da EJA CEEJA

Movimento feminista Surge na primeira metade do século XIX, na Inglaterra e nos EUA, com o objetivo principal de conquistar direitos civis (voto e acesso ao ensino superior); Ressurge na década de 60, nos EUA, com reivindicações mais amplas, como o direito à sexualidade e à igualdade com os homens no mercado de trabalho; Críticas: Está pregando o ódio contra os homens; destruição dos valores da família nuclear; movimento das sociedades ocidentais (mulheres brancas, de classe média, da Europa ocidental e da América do Norte)

Feminismo da igualdade Discussão feminista do século XX; Baseia-se principalmente em tudo o que a igualdade com respeito ao homem se refere, partindo de interesses individuais, coletivos, sociais e políticos das mulheres; Conquistas: rompe com a modernidade tradicional, direito da mulher à educação, direito ao voto, ao trabalho fora de casa na luta por salários justos, creches, etc; Críticas: levou um grupo reduzido a pensar por todas, ou seja, foi responsável pela homogeneização das mulheres.

Feminismo da diferença Outra vertente do século XX, influenciada pelas correntes pós-modernas; Defende uma mulher mais autônoma, centrando-se nas diferenças entre os homens e elas mesmas; Surgem os debates da sexualidade, ligadas ao corpo e a saúde, críticas ao padrão de beleza da mídia, discussão da estética. Críticas: Ao lutar pelas formas individuais desconsideram a luta igualitária e possibilidade de todas as mulheres conseguirem transformações, sendo privilégio de pequenos grupos.

Feminismo Dialógico Principais preocupações: desigualdades históricas entre homens e mulheres e entre as mulheres ( outras mulheres - se organizam em diferentes lutas, associações e que diariamente buscam soluções) Transformação das categorias identitárias de forma dialógica e reflexiva Igualdade de diferenças - Todas as pessoas têm o direito de viver e pensar de maneira diferente e ser respeitadas/os por isso. - Não homogeneizar o movimento como se todas as mulheres fossem iguais e não relativizar desigualdades, atribuindo a responsabilidade total aos sujeitos.

Feminismo dialógico na prática: os grupos de mulheres Espaço de reflexão e prevenção à violência. O objetivo é reunir as mulheres para que possam falar de coisas que nunca falaram e pensam ; Possibilidade de articulação e possíveis ações junto à movimentos, governos, etc. A autoconfiança se gera a partir da interação com outras companheiras, falando sobre como resolvem os conflitos em casa, como aconselham suas amigas, refletindo sobre os avanços da mulher na sociedade e sobre as condições melhores que podem ter suas filhas e filhos, bem como compartilhando as estratégias que criam para diversas atividades.

Tertúlias Dialógicas Tertúlia Literária Dialógica com livros que tratem a temática de gênero e/ou de autoras; Tertúlia Musical Dialógica; Tertúlia de artes.

Vídeo Fórum Roda de conversa a partir de um vídeo; As pessoas assistem um vídeo e em seguida conversam relacionando o assistido e o mundo da vida; Não existe certo ou errado, cada pessoa diz o que mais chamou atenção e quais foram as relações feitas; Utilizado para discussões de diferentes temas: questões de gênero, questões raciais, infância, juventude, envelhecimento, etc; Podem ser realizados ao final de uma Tertúlia.

Novas Masculinidades Grupos de homens que questionam a masculinidade tradicional; Oposição a dominação e a violência; Discussões sobre como podem repensar a sua educação e deixar a posição de poder que ocupam; Dificuldade: os homens igualitários não são bem vistos pela maior parte das mulheres; Discussão sobre modelos atrativos: quais são os modelos de pessoas pelas quais nos apaixonamos? Possibilidade de relações igualitárias; Trabalhar em centros educativos para discutir a questão.

Concluindo... O grande desafio é conseguir assumir essa pluralidade nos movimentos, entender e compreender as diferenças do feminismo em distintas culturas [...] buscando o igual direito de ser escutadas e consideradas (PUIGVERT, 2001, p. 58) Para que mais mulheres se identifiquem com os movimentos feministas e reivindiquem seus direitos é necessário incorporar suas vozes, suas necessidades e seus pontos de vista em um plano de igualdade.

Obrigada pela atenção, aprendizado e paciência! "A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbio, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros nas esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas, as coisas que não têm voz" (Ferreira Goulart)

Referências BECK-GERNSHEIM, Elisabeth; BUTLER, Judith; PUIGVERT, Lídia. Mujeres y transformaciones sociales. Barcelona: El Roure, 2001. CAMISÓN, Miren Goienetxea. Feminismo Dialógico. In Recrearte: Revista Internacional de Creatividad Aplicada Total, Ano 2008, Barcelona: Grupo IACAT. www.iacat.com FARIA, Nalu. Exclusão e Mulheres na América Latina. In TERRIBILLI, Alessandra, FARIA, Nalu, COELHO, Sônia (orgs.). Feminismo e Luta das Mulheres: Análises e Debates. São Paulo: SOF Semprevida Organização Feminista, 2005. Marcos históricos do Feminismo: http://www.angelfire.com/tv/seleto/mulher/genero.htm RAGO, M. Os feminismos no Brasil: dos anos de chumbo à era global. Disponível em http://e-groups.unb.br/ih/his/gefem/labrys3/web/bras/marga1.htm PUIGVERT, Lídia. Las otras mujeres. Barcelona: El Roure editorial, 2001 (a).. Igualdade de Diferenças. In BECK-GERNSHEIM, Elisabeth; BUTLER, Judith; PUIGVERT, Lídia. Mujeres y transformaciones sociales. Barcelona: El Roure, 2001 (b). p. 93-107. RÍOS, O. El cuestionamiento de la masculinidad tradicional: cambios desde el diálogo.sd. SOARES, V. Muitas Faces do Feminismo no Brasil. In Cadernos Pagu: Campinas, 1994. SOF. Feminismo e Luta das Mulheres: Análises e Debates. Sempreviva Organização Feminista: São Paulo, 2005. O anti-feminismo na história. Disponível em http://blog.compromitto.com.br/2007/03/08/o-anti-feminismo-na-historia/ OTTO, C. O feminismo no Brasil: suas múltiplas faces. Estududos feministas, Florianópolis, 2004. vol.12, n.2.