PERCEPÇÃO DE ATLETAS PARALÍMPICOS COM RELAÇÃO À INCLUSÃO SOCIAL E VALORIZAÇÃO SOCIAL DO ESPORTE PRATICADO POR PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA



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Transcrição:

PERCEPÇÃO DE ATLETAS PARALÍMPICOS COM RELAÇÃO À INCLUSÃO SOCIAL E VALORIZAÇÃO SOCIAL DO ESPORTE PRATICADO POR PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA AMÁLIA REBOUÇAS DE PAIVA E OLIVEIRA 1 ; PEDRO FERREIRA FAUSTINO 2 ; MANOEL OSMAR SEABRA JUNIOR 3. FCT- Unesp- Presidente Prudente RESUMO Pessoas com deficiência física (DF), muitas vezes, não gozam de independência. A vida social se torna limitada e consequentemente a baixa estima faz com que o indivíduo não tenha forças para superar as limitações sociais, físicas e de acessibilidade. As barreiras edificadas pela sociedade fazem com que a limitação física seja um mero detalhe. No que se refere ao processo de inclusão, muitas restrições são encontradas pelo caminho, em muitas situações o DF fica impossibilitado de usufruir do seu direito a igualdade em ir e vir. O esporte pode ser uma ferramenta auxiliadora que estimula a independência, auxilia na vida social, possibilita oportunidades de emprego e estudo e, ainda, eleva a autoestima deste público, pois a prática esportiva faz com que o indivíduo supere seus próprios limites dando-lhe à confiança e a certeza de ser capaz. Esta pesquisa tem como objetivo identificar a percepção de atletas paralímpicos no que se refere à inclusão social de pessoas com deficiência física e quais as contribuições do esporte em sua vida pessoal. Para tanto, realizou-se uma entrevista semiestruturada, com quatro atletas paralímpicos que possuem deficiência física e que treinam na AMEI (Associação Mariliense Esportes Inclusivos) localizada na cidade de Marília SP. Observou-se que o esporte ocupa uma posição muito importante e relevante quanto à inclusão social, estendendo seus benefícios à vida pessoal destes sujeitos. Os elementos mencionados pelos atletas que pautaram os resultados dessa pesquisa são: a possibilidade de uma vida social mais favorável, a conquista da independência pessoal e financeira, a realização pessoal e familiar, o aumento do condicionamento físico e a melhora na autoestima. Entendemos que se faz necessária uma maior valorização desses atletas, principalmente no que tange a estabilidade financeira e superação de seus limites físicos e sociais, de modo, que sirvam de modelo para uma juventude pouco comprometida com o bem social de todos. Palavras chave: Esporte Adaptado; Atletas Paralímpicos; Inclusão. 1 Graduanda Licenciatura em Educação Educação Física, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista UNESP Campus de Presidente Prudente/SP. E-mail: amaliareboucas@gmail.com 2 Graduando em Licenciatura em Educação Física, Plínio Silveira, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista UNESP- Campus Presidente Prudente. E-mail: pedrofaustino@live.com 3 Doutor em Educação - Departamento de Educação Física, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista UNESP- Campus Presidente Prudente. E-mail: seabrajr.unesp@gmail.com 1562

INTRODUÇÃO A inclusão tem sido o assunto do momento. Diversas medidas por parte do governo estão sendo tomadas, novas leis criadas, ampliação das políticas públicas, novos projetos, para garantir a inclusão do deficiente na sociedade (OLIVEIRA, FAUSTINO, SEABRA JUNIOR, 2012). Porém, no que se refere ao desporto adaptado às pessoas com deficiência física, são encontradas muitas dificuldades no ingresso e na permanência dos atletas, pela falta de investimentos e valorização social. A deficiência física é muito abrangente no que se refere a tipos, com características e sequelas peculiares, causadas por fatores como lesões medulares, paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, amputação, poliomielite, entre outras que são incorporados e organizados no esporte para deficientes. Mimoso (2002) afirma que: As pessoas com deficiência são membros da sociedade por direito, o que lhes confere a equidade de permanecerem nas suas comunidades de origem. Para tal, devem receber o apoio necessário no âmbito das estruturas regulares de ensino, de saúde, de emprego e dos serviços sociais, imputando aos Estados a obrigação de criar bases legais para a adoção de medidas destinadas a atingir a plena participação de igualdade. (MIMOSO, 2002, p.42). Ao perceber as dificuldades e barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência notamos que, suas maiores limitações são as impostas pela sociedade, nisso encontra-se um grave problema, pois a rejeição/descriminação por parte da sociedade afeta diretamente a sua autoestima e fere principalmente o seu direito de igualdade de ir e vir. Os Deficientes por si mesmos possuem uma série de limitações sejam elas físicas, motoras, intelectuais, etc., para que as barreiras (adquiridas e ou impostas) sejam superadas o indivíduo necessita que sua autoestima esteja elevada, pois somente assim terá forças para lutar. Os maiores comprometimentos que a deficiência física acarreta no sujeito estão relacionados à sua independência, autonomia, vida social, profissional e acadêmica. Esses três últimos relacionados diretamente a sua autoestima. O Esporte vem de encontro a essas necessidades, pois ele é um processo social que proporciona um meio de relações sociais, sendo assim o esporte enquanto prática social proporciona oportunidades de informação e visualização de possibilidades que estimulam indivíduos a compor grupos (FREITAS, 2000, p.6). O esporte para pessoas com deficiência física surgiu no Rio de Janeiro no ano de 1958, trazido pelo atleta paraplégico Robson de Almeida. Robson fez tratamento nos Estados Unidos onde experienciou o esporte paralímpico sobre rodas, em seu retorno para o Brasil ele funda o primeiro clube, para estes fins, o Clube do Otimismo. Muitos atletas que estão hoje no Esporte Adaptado foram atraídos por dois mecanismos principais, a reabilitação e o engajamento social (BRAZUNA, MAUERBERG-DECASTRO, 2001 ;TSUTSUMI, 2004). O esporte traz consigo benefícios fisiológicos, motores, físicos, e intelectuais. A maior oxigenação do cérebro durante a prática esportiva pode nos levar a uma melhora de habilidades cognitivas, e mais além, durante o exercício são liberadas no nosso organismo substâncias prazerosas que agem diretamente no bem estar da pessoa praticante de atividade física. (OLIVEIRA, FAUSTINO, SEABRA JUNIOR, 2012, p.252) 1563

De acordo com Brazuna e Mauerberg-deCastro (2001, p.117) O esporte adaptado tem o significado de competição do atleta contra si, contra sua deficiência, contra a vida e contra os outros, essa capacidade do esporte que coloca o praticante diante de suas próprias limitações, faz com que através dos treinamentos, o praticante perceba seu desenvolvimento e evolução. Se espera que sua autoestima seja elevada e a sua autoconfiança restabelecida, sentimentos estes de suma importância para a vida pessoal do deficiente físico. O contato com pessoas que possuem a mesma deficiência e os técnicos no ambiente de treinamento potencializam o processo de inclusão social e auto aceitação da deficiência. O presente trabalho pretende também trazer uma breve discussão a cerca da realidade do paradesporto, sobretudo no que se refere à valorização, incentivo financeiro e melhorias nas condições de treinamento. OBJETIVO Identificar a percepção de atletas paralímpicos no que se refere à inclusão social de pessoas com deficiência física e quais as contribuições do esporte em sua vida pessoal. METODOLOGIA 1. Local da pesquisa A pesquisa foi realizada em uma parceria com a AMEI (Associação Mariliense Esportes Inclusos) na cidade de Marília - SP 2. Procedimentos éticos O projeto "tecnologia assistiva" do qual a pesquisa faz parte foi aprovado pelo comitê de ética com o seguinte protocolo: CE109/2010. 3. População de estudo Foram entrevistados quatro atletas seguindo estes critérios de inclusão: Ter deficiência física Praticar um dos esportes oferecidos pela AMEI: Atletismo e/ou Natação 4. Procedimento para coleta de dados Foi utilizada a entrevista semi estruturada aplicada individualmente em cada participante. O roteiro de entrevista foi validado por juízes da área. Para Manzini (1990/1991) esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas. A entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. (MANZINI, 1990/1991, p. 154). 5. Análise dos dados As entrevistas foram gravadas utilizando-se de um gravador profissional, após isso foi feita a transcrição da mesma zelando pela fidelidade da fala de cada atleta, e por fim a tabulação dos dados originando o presente trabalho. 1564

A transcrição das gravações foram realizadas na íntegra, na qual seguirá as normas com sinais e símbolos para a padronização das informações e compreensão. As gravações foram ouvidas repetidas vezes para adequar as informações e detalhes. Após a transcrição das entrevistas, foi realizada a leitura e releitura das falas, extraindo delas as impressões sobre o texto formando uma ordenação própria. Realizando posteriormete a organização para codificação pelo recorte ou escolha de unidades de significado devidamente enumeradas, organizandas em categorias quanto aos pontos mais relevantes do relato dos participantes, conforme o objetivo proposto pela pesquisa, de forma a dar representação simplificada aos dados brutos (BARDIN, 2011). RESULTADOS O primeiro aspecto abordado foi a importância do esporte bem como as conquistas na vida de cada atleta. Da população estudada, todos foram unânimes em dizer que o esporte contribui de forma positiva na sua vida pessoal, as conquistas servem como estímulo para a continuidade da prática esportiva, fazendo com que o esporte ocupe um grau de importância ainda mais elevado. Algumas características foram apontadas por eles em que o esporte influenciou diretamente: satisfação pessoal, pelas marcas alcançadas em competições, oportunidade de conhecer o Brasil por meio das competições, auxílio psicológico, para que as dificuldades fossem superadas, melhora do condicionamento físico e auxílio financeiro. Os atletas foram questionados com relação aos planos futuros no esporte. Quanto a isso, todos os atletas possuem planos e metas dentre eles destacamos: o desejo de alcançar índice para o Campeonato Pan-americano e melhorar as marcas já alcançadas. É interessante resaltar que um dos atletas pretende ter um filho, pois já está no fim de sua carreira então sua dedicação deixará de ser o esporte passando a ser sua família e um dos atletas destacou que pretende terminar a sua Graduação em Educação Física utilizando como tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) o esporte adaptado. Um dos temas abordados de maior importância para o deficiente é a inclusão. Buscamos saber dos atletas qual a contribuição do esporte nesse processo de inclusão social e, de acordo com as informações coletadas, percebemos que todos apontaram que o esporte foi determinante nesse processo, auxiliando de forma positiva. Destacamos que o esporte, de acordo com os atletas, mostrou o quanto eles são capazes de superar a suas limitações físicas e que não são coitadinhos (termo utilizado por um dos atletas). Contribuiu no seu processo de socialização, ajudou-os a tornarem-se mais independentes e um dos atletas apontou que o esporte agiu diretamente na sua melhora de rendimento escolar. De acordo com o exposto acima a autoestima é de extrema importância na vida da pessoa com deficiência física, pois é ela quem fará com que o indivíduo lute contra todas as suas limitações e as barreiras sociais. Foi feito a seguinte pergunta aos atletas: Você acha que existe alguma relação entre praticar um esporte e a autoestima? Como já se esperava eles apontaram que o esporte aumentou a sua autoestima, fazendo com que a vida tenha uma nova motivação e eles se sintam mais animados em realizar as suas tarefas cotidianas. Um dos atletas ressaltou a importância da prática esportiva, pois faz com que o organismo libere substâncias como endorfina e serotonina, responsáveis pela sensação de prazer. 1565

DISCUSSÃO No presente artigo observamos a relevância do esporte na vida de atletas com deficiência física, podemos destacar alguns aspectos como: Possibilidade de uma vida social mais favorável. Conquista da independência pessoal e financeira. Realização pessoal e familiar. Melhora do condicionamento físico. Aumento da autoestima. Não é possível mensurar o quão importante é o esporte na vida desses atletas, incontáveis são os seus benefícios, e mesmo diante de tantas contribuições a realidade do paradesporto nacional é preocupante, pois não se tem a valorização necessária e proporcional a contribuição desses atletas ao nosso país. As condições do local de treinamento desses atletas estão longe de serem ideais, um dos atletas nos relatou que já houve situações em que ele precisou treinar no canteiro central de uma das avenidas por falta de um local apropriado. Para Azevedo (2004, p. 82) o esporte se apresenta como um dos requisitos indispensáveis para que o indivíduo possa atingir a dimensão total da inclusão social. De acordo com o autor (2004) a prática esportiva envolve baixos custos principalmente nos níveis amadores e recreacionais, ou seja, por muito pouco se pode realizar muito na vida das pessoas com deficiência física. É impressionante a importância da prática esportiva e das conquistas na vida desses atletas, sua afeição muda para uma alegria radiante ao relatar essa importância. Ressaltamos dentre os relatos, a resposta de dois atletas que afirmaram que o esporte é a sua vida. A autoestima desses atletas potencializada pela prática esportiva contribui na participação do indivíduo no meio social (OLIVEIRA, FAUSTINO, SEABRA JUNIOR, 2012), dessa forma, o seu espaço de direito vai sendo ocupado e consequentemente as concepções negativas da sociedade a cerca do deficiente vão sendo transformadas. Ainda encontramos pessoas que subestimam e discriminam os deficientes físicos, pois é mais fácil prestar atenção aos impedimentos e às aparências do que aos potenciais e capacidades de tais pessoas (MACIEL, 2000, p. 51). Apesar dos esforços empenhados pelos governos estaduais e federais, estamos muito longe de proporcionar o mínimo a esses atletas, existem ainda muitas barreiras que impedem que esses indivíduos possam ter facilidades de acesso ao esporte adaptado, educação, saúde e que ocorra efetivamente a inclusão social dos mesmos, de acordo com Maciel (2000): Nos estados e municípios, não existe uma política efetiva de inclusão que viabilize planos integrados de urbanização, de acessibilidade, de saúde, educação, esporte, cultura, com metas e ações convergindo para a obtenção de um mesmo objetivo: resguardar o direito dos portadores de deficiência. (MACIEL, 2000, p.53). Os planos futuros apontados pelos atletas são ambiciosos, por exemplo, chegar ao Panamericano, superar as marcas conquistadas no Campeonato Brasileiro de Atletismo dentro outras, mas esses planos somente serão concretizados se houver comprometimento e trabalho conjunto dos órgãos federais, estaduais e municipais, pois a ambição desses atletas somente será transformada em resultados a partir do momento que eles possuírem locais de treino adequados, incentivo financeiro que possibilite uma dedicação exclusiva ao esporte e 1566

investimentos em profissionais que saibam extrair o máximo de cada atleta. Dessa forma, será possível que conquistemos um lugar de destaque no cenário paralímpico mundial. O presente trabalho reconfirma a importância da prática esportiva na vida de atletas com deficiência física e expõe a realidade precária do paradesporto nesta realidade. Por mais que as dificuldades tendem a fazer com que esses atletas desistam, eles nos dão um grande exemplo de superação pessoal e profissional no esporte. O motivo que leva um atleta a sair todos os dias de sua casa, se submeter a uma dura rotina de treinos, enfrentar viagens longas e cansativas para representar o seu estado e até mesmo sua nação é o prazer pela prática esportiva, e os inúmeros benefícios que o esporte lhe proporciona. Portanto, entendemos que se faz necessária uma maior valorização desses atletas, principalmente no que tange a estabilidade financeira e superação de seus limites físicos e sociais, de modo que sirvam de modelo para uma juventude pouco comprometida com o bem social de todos. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Paulo Henrique de; BARROS, Jonatas de França. O nível de participação do Estado na gestão do esporte brasileiro como fator de inclusão social de pessoas portadoras de deficiência. Revista Brasileira de Ciencia e Movimento, Brasilia, v. 12, n. 1, p.77-84, 18 dez. 2003. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Edição revista e ampliada, 2011. BARROS, J.M.C. (1993). Recursos humanos no esporte de alto nível. In: Anais: Simpósio esporte: dimensões sociológicas e políticas. (p. 143-5), E.F.E. USP, Departamento de Esportes. BRAZUMA, M. R; MAUERBERG-DECASTRO, E. A Trajetória do Atleta Portador de Deficiência Física no esporte Adaptado de Rendimento. Uma Revisão da Literatura. Motriz, Rio Claro, v. 7, n. 2, p. 115-123, 2001. Jul-dez. CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil : a história que não se conta. São Paulo. 1988 CAMPBEL,Selma Inês. Múltiplas face da inclusão. Rio de Janeiro. 2009 FEITAS, P.S. de. Deficiência, Esporte e Identidade. Uberlândia: Capes/CNPq, 2000. FREUDENHEIN, Amo. O nadar: uma habilidade motora revisitada. Sao Paulo. EDUSP, 1995. GALLAHUE, D. Educação física desenvolvimentista. Santa Cruz do Sul.2000 GALLAHUE, David L. & OZMUN, John, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo.2003. 1567

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