As Cinco Ondas da Informática Educacional 1



Documentos relacionados
Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

Pedagogia. Comunicação matemática e resolução de problemas. PCNs, RCNEI e a resolução de problemas. Comunicação matemática

O futuro da educação já começou

1. Quem somos nós? A AGI Soluções nasceu em Belo Horizonte (BH), com a simples missão de entregar serviços de TI de forma rápida e com alta qualidade.

Distribuidor de Mobilidade GUIA OUTSOURCING

COMO INVESTIR PARA GANHAR DINHEIRO

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.


APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

Soluções em. Cloud Computing. Midia Indoor. para

Os desafios do Bradesco nas redes sociais

Gestão da Informação e do Conhecimento

GESTÃO DO CONHECIMENTO NA INDÚSTRIA QUÍMICA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO CURSO ESPECIALIZAÇÃO DE MÍDIAS NA EDUCAÇÃO VÂNIA RABELO DELGADO ORIENTADOR: PAULO GUILHERMETI

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

TEMA: O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA

Vendas - Cursos. Curso Completo de Treinamento em Vendas com Eduardo Botelho - 15 DVDs

Cultura Inglesa São Paulo automatiza backup diário em 18 unidades com arcserve

TECNOLOGIA NA ESCOLA. Palavras-chave: Educação; Rede Social; Software Livre; Ferramentas On-Line;

Formação: o Bacharel em Sistemas de Informações (SI); o MBA em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

O estudante de Pedagogia deve gostar muito de ler e possuir boa capacidade de concentração porque receberá muitos textos teóricos para estudar.

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

Sistemas de Produtividade

O papel educativo do gestor de comunicação no ambiente das organizações

Projeto recuperação paralela Escola Otávio

Quality se destaca no mercado de sistemas de gestão para escolas

Orientações para informação das turmas do Programa Mais Educação/Ensino Médio Inovador

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA PROGRAMA SÍNTESE: NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

Novas Tecnologias no Ensino de Física: discutindo o processo de elaboração de um blog para divulgação científica

FACULDADE PITÁGORAS DISCIPLINA: SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

ACOMPANHAMENTO GERENCIAL SANKHYA

2. METODOLOGIA DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA PASTORAL DO MENOR E DO ADOLESCENTE

Aprimoramento através da integração

Entendendo como funciona o NAT

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 1 Ser Voluntário

CONSIDERAÇÕES SOBRE USO DO SOFTWARE EDUCACIONAL FALANDO SOBRE... HISTÓRIA DO BRASIL EM AULA MINISTRADA EM LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

difusão de idéias AS ESCOLAS TÉCNICAS SE SALVARAM

TECNOLOGIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Educação a distância: desafios e descobertas

Cinco principais qualidades dos melhores professores de Escolas de Negócios

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Introdução Ciclo de vida tradicional de desenvolvimento Prototipagem Pacotes de software Desenvolvimento de 4ª geração Terceirização

NOÇÕES DE VELOCIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Palavras Chave: Conhecimentos físicos. Noções iniciais de velocidade. Matemática na Educação Infantil.

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA - NOR 350

10 DICAS DE TECNOLOGIA PARA AUMENTAR SUA PRODUTIVIDADE NO TRABALHO

Projeto Você pede, eu registro.

Problemas em vender? Veja algumas dicas rápidas e práticas para aumentar suas vendas usando marketing

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

O CIBERESPAÇO NO ENSINO E GEOGRAFIA: A PROBLEMÁTICA DO USO/DESUSO DO GOOGLE EARTH EM ESCOLAS PÚBLICAS DE DIAMANTINA

W W W. G U I A I N V E S T. C O M. B R

EDITORES DE TEXTO Capítulo 1: Avaliação técnica e econômica dos principais editores de texto do mercado.

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

4 passos para uma Gestão Financeira Eficiente

18/06/2009. Quando cuidar do meio-ambiente é um bom negócio. Blog:

Implantação de ERP com sucesso

4UNIVERSIDADE DO CORRETOR

DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO SISTEMA INTEGRADO DE FORMAÇÃO DA MAGISTRATURA DO TRABALHO - SIFMT

ISO 9001:2008. Alterações e Adições da nova versão

Índice. Introdução 2. Quais funcionalidades uma boa plataforma de EAD deve ter? 4. Quais são as vantagens de ter uma plataforma EAD?

Profª. Maria Ivone Grilo

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio Subseqüente ao Ensino Médio, na modalidade a distância, para:

Formação e Capacitação de Agentes de Inclusão Digital

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações para a elaboração do projeto escolar

UTILIZANDO BLOG PARA DIVULGAÇÃO DO PROJETO MAPEAMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS RESUMO

2. O que informatizar?

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO RADIAL DE SÃO PAULO SÍNTESE DO PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO 1

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

Nome e contato do responsável pelo preenchimento deste formulário: Allyson Pacelli (83) e Mariana Oliveira.

AS SALAS DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A PRATICA DOCENTE.

As Tecnologias de Informação e Comunicação para Ensinar na Era do Conhecimento

TIPOS DE BRINCADEIRAS E COMO AJUDAR A CRIANÇA BRINCAR

3 Qualidade de Software

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

PHC XL CS. Reporting Financeiro em Microsoft Excel. O que ganha com este software:

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

Módulo I - Aula 3 Tipos de Sistemas

A Tecnologia e Seus Benefícios Para a Educação Infantil

Núcleo de Informática Aplicada à Educação Universidade Estadual de Campinas

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

PROGRAMA DE INFORMÁTICA

Conhecendo o Método C3

RELATÓRIO DA PESQUISA ONLINE: Avaliação dos educadores Multiplicadores

Windows Partners Day Principais razões para migrar para o Windows Vista

MARKETING DE RELACIONAMENTO UMA FERRAMENTA PARA AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: ESTUDO SOBRE PORTAL INSTITUCIONAL

Algoritmos. Objetivo principal: explicar que a mesma ação pode ser realizada de várias maneiras, e que às vezes umas são melhores que outras.

Selecionando e Desenvolvendo Líderes

Estudo de Caso. Cliente: Rafael Marques. Coach: Rodrigo Santiago. Duração do processo: 12 meses

CLUBE DE PROGRAMAÇÃO NAS ESCOLAS: NOVAS ERSPECTIVAS PARA O ENSINO DA COMPUTAÇÃO. IF Farroupilha Campus Santo Augusto; joaowinck@hotmail.

O curso de italiano on-line: apresentação

> Folha Dirigida, 18/08/2011 Rio de Janeiro RJ Enem começa a mudar as escolas Thiago Lopes

TAM: o espírito de servir no SAC 2.0

Transcrição:

Introdução As Cinco Ondas da Informática Educacional 1 Antonio Simão Neto PUC PR A informática tem chegado ao campo educacional por diversos caminhos, alguns mais espinhosos do que outros. Correndo o risco de uma simplificação excessiva como toda classificação podemos identificar 5 momentos ou ondas deste relacionamento de amor e ódio entre a escola e os computadores. Estas ondas não chegam à praia escolar necessariamente nessa ordem. Muitas instituições iniciaram seus projetos de informática queimando algumas etapas. Em outras, várias ondas convivem sob o mesmo rótulo de informática educativa. Esta classificação tem o simples propósito de fazer um balanço crítico das principais propostas para que possamos olhar o futuro e traçar nossa trajetória com mais confiança. A primeira onda: Administrativo Mesmo não se caracterizando propriamente como um momento da informática educativa, a informatização na e secretaria, tesouraria e áreas administrativas da escola constitui o primeiro contato do universo escolar com o mundo dos computadores. Objeto misterioso, fascinante, inacessível, instalado naquele local da escola no qual os alunos nunca pisam, o computador da secretaria muitas vezes é o primeiro computador que muitos alunos vêem. Alguns professores, em escolas menos privilegiadas, chegam a organizar verdadeiras excursões de alunos para ver o computador e, quem sabe, até tocá-lo... Os sistemas administrativos que acompanhavam as máquinas evoluíram bastante. Genéricos no início, passaram a ser feitos especificamente para ambientes educacionais, com a integração de notas, freqüência e outros dados da vida escolar dos alunos. Com muita utilidade para as finalidades para as quais foram implantados, no entanto esta onda deixou os computadores muito longe dos professores e de seu dia a dia. Os professores com muito mais trânsito na secretaria acabam dando um jeitinho de usar aquele computador para preparar, provar e reproduzir textos, mas raras vezes esta franquia é estendida para todo o corpo docente e para os alunos. 1 Curso de Especialização Metodologias Inovadoras na Ação Docente. Módulo Tecnologias Educacionais na Ação Educativa (mimeo)

A segunda onda: LOGO e programação A informática educativa começa seriamente com a introdução de computadores pequenos com os Hotbits e MSX, ligados a monitores de TV; máquinas baratas, posteriormente substituídas por PCs XT e AT quando estes equipamentos já estavam obsoletos na área corporativa. Rodando nestas máquinas víamos principalmente programas desenvolvidos com a linguagem LOGO e em alguns casos, BASIC. Partia-se do princípio que quem não quiser ser dominado pela máquina deverá saber dominá-la Numa perspectiva um tanto romântica, propunha-se dotar os alunos de conhecimentos de programação, para que eles pudessem fazer com o computador o que desejassem e não o que os outros desejassem que eles fizessem. Grandes centros universitários brasileiros (UFGRS, UNICAMP) se tornaram centros de referência para projetos de informática educacional baseados no ensino de LOGO. Alguns de seus professores ocuparam os espaços nos projetos e iniciativas governamentais, o que impediu que projetos baseados em pressupostos pudessem encontrar espaço nestes programas que se tornaram quase que integralmente projetos de base LOGO. LOGO tem fundamentos interessantes, como a incorporação do erro no processo de aprendizagem. O aluno evolui sua programação, experimentando, observando e superando os eventuais erros ou deficiências. O pensamento lógico processivo é mobilizado pelo aluno com intensidade, para realizar as tarefas exigidas pelo desenvolvimento de um programa. LOGO tem, porém, sérios limites como proposta de informática educativa. Para uma crítica mais detalhada desta proposta, veja o artigo Dez argumentos contra a utilização da linguagem LOGO em educação. Mesmo incorporando hoje recursos como multimídia e robótica, os projetos baseados em LOGO ainda não conseguiram vencer estas limitações pedagógicas. Isto provocou em muitas escolas uma sensação de desamparo: ainda que interessante em alguns momentos, para algumas séries, não é possível pensar em utilizar LOGO em todas as séries, durante todos os anos da vida escolar. O que fazer então? A resposta não veio da escola, mas do mercado. A terceira onda: Informática Básica Com o sucesso e a difusão das interfaces gráficas (primeiro o Macintosh, depois Windows) e a redução gradativa do custo de hardware, os computadores pessoais tornaram-se uma realidade em muitos ambientes, do escritório às residências.

Difunde-se junto à sociedade a idéia de que a informática compõe o rol das competências básicas que todo aluno deverá possuir para enfrentar o novo mundo e a economia de mercado globalizado. O analfabeto do futuro será aquele que não souber utilizar computadores uma frase de efeito que é repetida ao cansaço em todos os meios. O que exatamente significa alfabetizar para o computador é uma ainda em aberto. De qualquer maneira, ensinar a utilizar programas e equipamentos tornou-se necessário. Os pais esperam que a escola prepare seus filhos para o trabalho e acham que a informática (ou o que eles entendem por informática) será indispensável para isso. Os professores, sem conhecer a fundo as potencialidades e os limites destesos professores, sem conhecer a fundo as potencialidades e os limites destes recursos, defendem com mais ou menos vigor a introdução da informática no currículo e nas práticas escolares. Os alunos, é claro, querem ir para o laboratório, alternativa sempre preferida a ficar sentado em sala de aula... Surgem as escolinhas de informática para ensino do que se convencionou chamar de informática básica: Windows, Word, Excel, Power Point e alguns outros aplicativos largamente difundidos nos ambientes corporativo e caseiro são ensinados aos alunos, que passam a se considerar entendidos em informática. A escola incorpora e reproduz este modelo, instalando laboratórios e o Office (nem sempre legal). Laboratórios que são mostrados em folders e outdoors, destacando o quanto cada escola está modernizada e comprometida com uma educação para o futuro... É compreensível que as escolas vejam com bons olhos esta proposta. Aulas de informática básica são muito mais valorizadas do que LOGO. É uma proposta mais próxima do que os pais esperam que a escola ofereça (habilidades presumidas como necessárias para o aluno arranjar um posto no mercado de trabalho) e mais aceita pelos professores e pela direção. Além disso, esta abordagem permite a otimização dos laboratórios e do investimento feito, pois a escola passa a ofertar Cursos de Informática para alunos, pais, vizinhança, professores e toda a comunidade do entorno da unidade. Por algum tempo os laboratórios ficam ocupados, os professores de informática têm muito o que fazer (quando não terceirizados), os alunos aprender recursos que passam a usar imediatamente. Logo, porém, esta proposta encontra seus limites sérios limites que impedem seu crescimento e trazem dúvidas sobre os caminhos a seguir... Com relação aos cursos de Informática, a escola enfrenta uma competição acirrada no mercado. O fluxo de clientes provenientes da comunidade escolar logo se esgota. Os

laboratórios, lotados inicialmente, ficam sub-utilizados sem redução, no entanto, dos cursos de manutenção e operação. Do lado pedagógico, mais problemas. Os softwares enfocados demandam no máximo um ano para serem ensinados. Não dá para ficar ensinando softwares de produtividade pessoal o tempo todo para todas as séries (seria preciso arranjar programas para ensinar durante 11 anos da vida escolar) e mesmo que isso fosse possível, o investimento em programas e equipamentos seria muito alto. Além disso, a forma pela qual normalmente se ensinam estes aplicativos é meramente imitativa: o instrutor mostra e explica os comandos, os alunos repetem em seus micros, muitas vezes sem chance de aplicar em situações significativas para eles. Quando chega uma situação na qual precisam aplicar o que aprenderam, não conseguem, pois não se desenvolvem capacidades e habilidades, mas sim ações imitativas, pura rotina. Quando alunos precisam por si descobrir como funciona um novo software, não têm iniciativa e auto-confiança para isso. Reforçamos, assim, uma posição passiva e acrítica com relação à tecnologia e aos computadores, que sempre aparecerão aos alunos assim tratados como máquinas incompreensíveis, que alguém (que não eles próprios) precisa decodificar e explicar para eles, simples mortais. Outra crítica que se deve fazer a propostas como esta é a escolha acrítica dos softwares da Microsoft, como se fossem os únicos e melhores. Não se ensina como operar editores de texto ou como deve ser a editoração eletrônica ensina-se Word e seus comandos. Não se ensina como preparar apresentações, como comunicar com imagens, como preparar um roteiro que atinja resultados comunicativos: ensina Power Point. Assim, a ênfase recai nas ferramentas, não nas tarefas ou nas soluções. É como dar aulas de martelo, serrote, prego e parafuso, sem discutir que tipo de móvel se quer construir, para quê servirá, em que ambiente será usado, para quem deve ser pensado... A informática básica assim tratada não é básica, pois não estabelece bases sobre a qual is alunos possam desenvolver seus talentos e potenciais: tende a reproduzir o que há de pior e mais ultrapassado em termos didático-pedagógicos, o professor que tudo sabe, ensinando caminhos fixos e imutáveis a alunos passivos, cujo papel é decorar e devolver ao professor o que assimilou por exercícios e provas. Em algumas instituições, a informática educacional virou disciplina, com direito a lugar na grade e professor dedicado. Para os alunos, até prova...que melhor forma de engessar uma área tão promissora e dinâmica do que transformá-la em disciplina, justo na área da

transversalidade? A aula de informática passa a ser mais uma a qual os alunos vão porque são obrigados. Esta onda esgota-se em algum tempo. As escolas decepcionam-se, porque direção e professores apostaram muito nesta saída, que têm um começo promissor mas quando mostra sinais de esgotamento não aponta para novos caminhos ou formas de superação. A ilusão de que a habilidades básicas de informática garantiram postos de trabalho para os alunos também se revela em toda a sua extensão. Foram as empresas ligadas à educação que perceberam uma alternativa muito promissora para elas, ao menos. A quarta onda Software Educativo Percebendo a necessidade e o grande potencial de consumo das escolas que investiram em laboratórios e equipamentos agora sub-utilizados, grandes empresas educacionais passaram a ofertar juntamente com seus livros e apostilas ou de forma autônoma programas prontos para serem usados pelos professores, abrindo a era do software educativo. Esta proposta visa reduzir a distância entre a informática e as disciplinas curriculares, invertendo a relação anteriormente estabelecida. Não se trata mais de fazer o professor levar seus alunos para a aula de informática, mas de levar o professor para o laboratório onde ele próprio se encarregará da aula. Assim, a onda do software educativo chegou à escola com muita força, renovando o interesse dos professores e ampliando a duração dos investimentos feitos nos equipamentos nas fases anteriores. O número de programas criados com finalidades educativas aumenta todos os dias e ainda assim não satisfazem a demanda. Empresas dedicadas exclusivamente ao desenvolvimento de software educativo convivem com os departamentos especializados das grandes editoras e das grandes distribuidoras de materiais didáticos. Esta proposta, no entanto, também tem seus limites e não é a solução milagrosa que é apresentada nos materiais publicitários e seminários demonstrativos promovidos pelas empresas desenvolvedoras. Estes limites já estão sendo encontrados, levando mais uma vez as escolas a questionarem os resultados dos pesados investimentos realizados nos equipamentos e agora nos programas educativos. Para que este modelo funcione, é preciso que coincida uma série de fatores: uma empresa deve ter desenvolvido um bom software sobre o assunto que o professor deseja trabalhar em primeiro lugar é preciso que o software exista

este software deve estar disponível na época em que o professor precisa trabalhar seu assunto não adianta encontrar um bom software meses depois da data prevista para trabalhar aquele conteúdo o custo do programa deve ser acessível para a escola contando as licenças para uso em todas as máquinas que a escola possui o software deve estar em sintonia com proposta pedagógica adotada pela escola conflitos sérios já aconteceram por falta deste cuidado o tratamento conceitual dado ao assunto deve seguir a abordagem teórica que a escola e o professor adotam para a disciplina se o ensino de história, por exemplo, é conduzido pela ótica da reflexão sobre os processos sociais, um software que somente apresenta fatos e pedem do aluno apenas uma boa memória (a velha decoreba ) não vai ser útil para o professor o software deve ser adequado à faixa etária dos alunos com os quais se pretende trabalhar de nada servem programas feitos para jovens de 15 ou 16 anos se o público-alvo é composto de alunos de 3ª ou 4ª séries o programa deve trazer elementos novos ou acrescentar algo ao processo educativo para fazer o que o professor já fazia com outros meios não é preciso gastar tanto dinheiro com equipamentos, programas, treinamento e manutenção o software deve rodar no equipamento da escola um problema sério, pois novos programas costumam exigir novas configurações de memória, disco, sistema operacional, periféricos etc, nem sempre disponíveis no laboratório da escola deve ser fácil de instalar e manter o que nem sempre ocorre, causando grande embaraço para o professor sem formação mais técnica deve ser fácil de utilizar pelos alunos aos quais se dirige interfaces lindas, efeitos especiais e softwares sofisticados vendem bem, mas nem sempre ajudam o professor a desenvolver seu trabalho. Se todos esses fatores puderem ser atendidos simultaneamente o que acontece em raras ocasiões teremos uma situação na qual o modelo de informática educativa baseada em softwares prontos (chamados de prateleira ) é conveniente e recomendado para a escola e para o professor. Em caso contrário, só traz frustrações e amplia a desconfiança de muitos educadores com relação às tecnologias. Algumas escolas têm partido para o desenvolvimento de seus próprios programas, o que pode ser uma boa decisão se os recursos financeiros e humanos forem adequados. O desenvolvimento de software, com a qualidade técnica esperada pelos alunos e a qualidade pedagógica esperada pelos professores é um processo trabalhoso, lento e caro

e isto as escolas que optam por este caminho descobrem rapidamente. A comercialização destes programas feitos em casa (ou por pessoas contratadas) passa a ser uma necessidade, para contrabalançar os custos de produção. Porém, para que possam atingir um volume de vendas satisfatório, precisam competir num mercado disputado. Assim, os programas não podem estar tão comprometidos com uma determinada proposta pedagógica o que eliminaria de início todas as escolas que não compartilham da mesma filosofia educacional e isto não faz sentido comercial. Tornam-se então indistinguíveis dos programas que foram rejeitados pela escola no início do processo justamente porque estavam muito distantes da proposta pedagógica da escola. Esta proposta não pode ser a única forma de uso dos computadores na escola, pelo simples fato de que não existem programas no mercado brasileiro em número suficiente para atender todos os requisitos citados acima. E mesmo que houvessem, quanto custaria para uma escola comprar todos os programas para apoiar o ensino de todas os conteúdos de todas as disciplinas de todas as séries? Com certeza chegaríamos a um valor fora do alcance da maioria das escolas. Sendo assim, uma proposta de informática educacional baseada em software educativo não dá conta das necessidades crescentes da escola e precisa ser complementada ou substituída por novos projetos, mais sincronizados com o desenvolvimento da tecnologia e o avanço das ações pedagógicas. O advento da internet fez com que as escolas voltassem a acreditar que a informática educativa pode trazer bons frutos sem matar a árvore no mesmo processo. A quinta onda: Internet, Informação e Comunicação A Internet abre uma fronteira imensa a ser explorada pelos educadores. Da ampliação do acesso à informação ao uso da rede como canal de comunicação e de aproximação de pessoas e povos, a Internet nos surpreende a cada dia com as iniciativas provenientes de diversos campos de saber e de atividade. Escolas do mundo inteiro estão descobrindo e explorando estas novas fronteiras, envolvendo não só aluno e professores, mas também pais, cientistas, especialistas, membros da comunidade e outros agentes que podem contribuir para o processo de aprendizagem. Existem escolas, porém, que entram na quinta onda sem ainda terem esclarecido para o corpo docente e para a comunidade escolar algumas questões básicas, como o papel de pesquisa em projetos pedagógicos que propõem construção do conhecimento. A aprendizagem pela pesquisa muitas vezes não passa de uma proposta vazia, pois o conceito de pesquisa adotado não passa de simples tarefas de levantamento de dados

pelos alunos, que antes copiavam das enciclopédias e agora baixam os textos e imagens de algum site, sem que precisem pensar sobre o que pesquisaram ou aplicar o que descobriram na solução de um problema real ou hipotético. Isso leva muitos educadores a desconfiar de projetos de informática educativa que sugerem o uso intensivo da internet para a aprendizagem e muitas vezes com toda a razão. Pesquisar deve ser uma atividade muito mais séria e profunda que simplesmente encontrar um texto e imprimi-lo, o que se pode fazer com dois ou três comandos, como toda criança que tem acesso à internet em casa descobre rapidamente. Por outro lado, a internet pode se constituir numa fonte inestimável de informações para professores e alunos, desde que a ação pedagógica demande contextualização das informações coletadas e sua interpretação e aplicação. Face à pobreza crônica de recursos nas escolas, bibliotecas desatualizadas e pequenas, mapas amarelados e vídeos antigos, a internet traz para a escola um mundo de informações cuja riqueza dificilmente pode ser avaliada. É preciso, no entanto, ter um plano para trabalhar estas informações. Somente acessá-las não basta. Os alunos devem poder manipular (no sentido de colocar as mãos) as informações, criando novos conhecimentos a partir de seu estudo e análise, aplicando quando possível estes conhecimentos na solução de problemas e situações incorretas. Até mesmo o fator custo na decisão de superar as ondas anteriores e mergulhar na Internet que além de ser um repositório de informações em escala planetária é também um meio de comunicação eficiente, barato, aberto, e fácil de usar. Como canal de produção e distribuição de mídias é incomparável na agilidade e no custo (quanto custa produzir uma apostila de 100 páginas e fazê-la chegar a 100 escolas conveniadas?) compare estes custos com o de produção e distribuição via internet: em forma digital, os custos são reduzidos enormemente). Assim, alguns projetos de internet na educação vêm sendo criados e implementados já há alguns anos em todo o mundo. Muitos bons exemplos podem ser encontrados em nosso próprio país. Estes projetos, de natureza diversa, têm em comum a idéia central de que uma escola com acesso à internet é uma escola aberta para o mundo, uma escola sem paredes, cujo único limite é a imaginação dos professores e de seus alunos. Tendências em direção e formas de aprendizagem colaborativa, educação permanente, educação a distância, comunicação integrada e outras apontam para a necessidade de integrar as escolas na rede mundial de computadores. Esta talvez seja a atitude mais importante que se pode tomar hoje na área da informática educativa. Sem acesso à Internet a informática educativa não subsistirá.

A sexta onda: o que será? Nossa perplexidade frente à velocidade com que chegam até nós as novidades tecnológicas muitas vezes nos bloqueia e nos impede de olhar para a frente com a necessária consciência crítica. Precisamos aprender e separar novidade de inovação. Novidades como a moda do verão, vêm e vão rapidamente; surgem e desparecem sem que tenham provocado mudanças mais profundas e duradouras. Inovações trazem consigo transformações. Na informática em geral e na informática educativa em particular as novidades são e serão muitas, provocadas pela própria indústria e pelos mecanismos de obsolescência programada. Inovações, veremos algumas. É para elas que devemos direcionar o nosso olhar e a nossa atenção, para que possamos ver no horizonte as situações nas quais as inovações tecnológicas entram em sintonia com as inovações educacionais pelas quais temos lutado durante muito tempo como educadores, professores, pais. Nesta ocasião poderemos tirar os sapatos e molhar os pés na sexta onda. E se julgarmos que a maré está propícia e água boa, podemos até arriscar um mergulho...