Questão de gênero: inclusão/exclusão da mulher no complexo midiático



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Transcrição:

Questão de gênero: inclusão/exclusão da mulher no complexo midiático Introdução Helena Corazza 1 O tema é instigante, atual e complexo, tanto pela abrangência, quanto pela problemática que traz consigo. A atualidade do tema, mulher no contexto midiático, é indiscutível e demonstrada pelos freqüentes seminários, conferências e simpósios 2 que continuam sendo programados, tanto em nível internacional quanto nacional e latinoamericano, além dos estudos acadêmicos que demonstram constante preocupação na análise em diferentes perspectivas. As mulheres, de fato, estão em evidência, sobretudo em algumas mídias como revistas, televisão e internet. Não obstante estes e outros avanços e conquistas na cidadania, vencendo a exclusão e marcando presença nas diferentes mídias, elas ainda percebem e enfrentam discriminação. Pode-se dizer que a cidadania ainda é uma conquista, que precisa acontecer, passo a passo, nos diferentes campos: social, econômico cultural e até mesmo religioso. Importa recordar que nos 10 anos da Conferência internacional de Beijing, 1995, as mulheres fazem balanço, constatando que a presença brasileira e latino-americana foi significativa. Para Sílvia Maria Sampaio Camurça, a Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, na avaliação das feministas, é talvez o documento mais completo produzido no âmbito da ONU com relação aos direitos da mulher, uma vez que incorpora o que se conquistou em outras conferências e tratados anteriores. Entretanto, as contradições e, sobretudo, a desigualdade social continua. (CAMURÇA, 2005, p. 66). Na amplidão do tema, o recorte dessa pesquisa é a mulher cidadã, na mídia. Muitas são as formas de presença da mulher na imprensa, cinema, rádio, televisão, internet, música, publicidade, e na arte tem crescido nos últimos anos. Apenas para ilustrar, a Bienal de Veneza, iniciada em 1895 com a participação de 2,4% de mulheres, cem anos depois conta com a participação de 38% de mulheres, destacando o olhar feminino (FSP, 12/6/2005:E6). É uma transformação lenta que passa pela Cultura, tanto na produção midiática, quanto no mundo vivido por mulheres e homens. A presente pesquisa retoma os conceitos em relação a gênero e faz uma revisão bibliográfica, com muitos limites, apenas como amostragem da discussão temática. Levanta dados possíveis sobre a mulher no contexto midiático e confronta-o com a realidade de algumas mulheres que são atuantes hoje. Gênero como categoria de análise Conforme demonstram as pesquisas, a temática das Relações de Gênero, como categoria de análise, é relativamente recente. Há um percurso histórico do movimento 1 Jornalista, mestra em Ciências da Comunicação pela ECA-USP com a dissertação Comunicação e Relações de Gênero em práticas radiofônicas da Igreja católica no Brasil. Publicação Paulinas, 2000. Professora de Comunicação, presidente da RCR (Rede Católica de Rádio). 2 I Simpósio Brasileiro Gênero & Mídia acontece em Curitiba, PR, de 14 a 17 de agosto de 2005, reunindo especialistas de diversas universidades do país.

feminista e dos estudos sobre a mulher que se refletem em tendência teóricas nos estudos acadêmicos. Estas consideram a dimensão relacional e do poder, uma busca que deveria ser conjunta de mulheres e homens (BANDEIRA/OLIVEIRA, 1991, pp. 52-69). Importa considerar também que, historicamente, vive-se numa sociedade pautada a partir dos parâmetros masculinos, o que torna mais árduo qualquer trabalho ou estudo em relação a essa temática. Entre as muitas considerações existentes, adotamos que gênero é um conceito relacional que vê o homem ou a mulher em relação e não isoladamente. Uma definição clássica de Scott, destaca que gênero é um elemento constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder (SCOTT, 1990, p. 14). O conceito de gênero relacional é abrangente para dar conta da complexidade e da singularidade da relação entre homens e mulheres, pois, na relação entre os gêneros, os atores homens e mulheres são dicotomicamente separados, apesar de manterem suas próprias diferenças (QUINTEIRO, 1996, p. 25). Resgate histórico da militância feminina e estudos sobre gênero A história da entrada da mulher na esfera pública da sociedade foi um processo gradativo. Pode-se dizer que data do Século XVIII com Revolução Francesa, a busca dos direitos sociais, entre eles, os direitos da mulher. Ela amplia-se no início do século XIX na Europa e, por decorrência, no Brasil, com mulheres que refletem e buscam um lugar ao sol. Em nosso país, a história registra a presença significativa de mulheres, desde o tempo do Brasil colônia, depois as famílias burguesas, as mulheres em diferentes regiões e suas lutas, incluindo diferentes categorias, entre elas, educadoras, trabalhadoras e também pobres (PRIORE, 1997). Muitos são os estudos acadêmicos que versam sobre a mulher no contexto da comunicação. Antes mesmo de existirem as Escolas de Comunicação, já houve mulheres em redações de Jornais, mulheres escritoras como Nisia Floresta, considerada pioneira no cenário nacional. Ela escreveu já em 1832, considerando que a imprensa chegou ao país apenas em 1816. Dois trabalhos acadêmicos foram encontrados sobre esta mulher brasileira, talvez pouco conhecida, mas conforme a pesquisadora Constância Lima Duarte, protagonista e pioneira do feminismo brasileiro, no século XIX. O primeiro livro escrito por Nísia Floresta, com 22 anos de idade, é também o primeiro de que se tem notícia no Brasil, que trata dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho, e que exige que elas sejam consideradas como seres inteligentes e merecedoras de respeito pela sociedade. Publicado em 1832 em Recife (PE), tem o sugestivo título Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens. Nessa época, a grande maioria das mulheres brasileiras vivia enclausurada em preconceitos, sem qualquer direito que não fosse o de ceder e submeter-se à vontade masculina (DUARTE, 1989). Nísia Floresta deve ter sido uma das primeiras mulheres, no Brasil, a romper os limites do espaço privado e a publicar textos em jornais da chamada grande imprensa. E foram muitas as colaborações na forma de crônicas, contos, poesias e ensaios. Conforme Duarte, esse é um traço da modernidade de Nísia Floresta: sua constante presença na imprensa nacional, desde 1830, sempre comentando as questões mais polêmicas da época.

Os estudos no âmbito acadêmico brasileiro ocuparam grande espaço da década de 1970, tiveram seu apogeu na década de 1980, quando o tema alcançou maior evidência. Num primeiro momento (1980/85), os estudos estiveram mais voltados à mulher e sua participação e representação política nas esferas macro do poder. Nos anos seguintes (1985/87), a pesquisa voltou-se mais para a mulher enquanto sujeito e sua identidade no cotidiano. No final da década de 1980 (1987/89) a incorporação do feminino e masculino e o início da incorporação da categoria de gênero (BANDEIRA/OLIVEIRA, 1991, p. 55). Observa-se também que a continuidade dos estudos de 1990 a 2004, ainda que nos limites desta pesquisa, continuam atuais. A academia entra no Terceiro Milênio querendo ainda compreender, mais e melhor, as questões sobre a mulher na mídia em diferentes âmbitos. A partir da legitimação do tema, núcleos de estudo foram organizados nas Universidades sobre Relações Sociais de Gênero, como o NEMGE na USP, Pagu na Unicamp (Campinas, SP), entre outros. O conceito de gênero foi sendo incorporados pelas Ciências Sociais e, gradativamente, incluído também nos estudos da comunicação, conforme estudos na área (CORAZZA, 2000). Mulheres e Imprensa Sendo a Imprensa, uma das expressões mais tradicionais na comunicação, é quase uma conseqüência natural que os estudos acadêmicos de comunicação, no final dos anos 1960 e 1970, estejam mais voltados ao conteúdo e à análise dos meios impressos, como revistas femininas, fotonovelas, tendo em conta a ideologia e a cultura. O primeiro estudo conhecido sobre a opressão feminina é o de Michèle Mattelart, produzido num contexto de denúncia do imperialismo transnacional (MATTELART, 1977). Destaca-se, nessa fase, a subordinação da mulher ao masculino, procurando identificar os valores dominantes e o reforço dos estereótipos femininos em relação à mulher. Entre as pesquisas existentes no Brasil, as primeiras trabalham a representação da mulher na imprensa feminina. A preocupação é identificar a representação da mulher pela análise dos conteúdos veiculados, sobretudo em revistas femininas, lidas por mulheres como A cigana, O Cruzeiro, Revista Ilustrada, A Senhorita, entre outras (BUITONI, 1981). Aqui são trazidos os mitos e símbolos que fazem parte do universo feminino e suas reproduções que alimentam o imaginário da mulher. Outra análise da imprensa feminina é feita por Sônia Mascaro. Uma análise da Revista Feminina, iniciada em 1914 e dirigida por Virgínia de Souza Salles da sociedade paulistana. Uma revista que traz cultura para as mulheres que fazem parte de círculos literários da época. Trabalho que estuda a representação da mulher (MASCARO, 1982). Trabalho clássico a ser lembrado, na linha dos estudos da mulher na cultura de massa é o de Ecléa Bosi. Aborda o universo das operárias numa fábrica de São Paulo, e da leitura que elas faziam dos produtos culturais. A preocupação da autora girou em torno da comunicação de massa, sua incidência na vida das operárias, já na perspectiva da recepção, a partir da cultura das classes pobres (BOSI, 1974). Análise também foi feita de publicações exclusivas da mulher como A Página feminina, uma publicação semanal vespertina da década de 1940, um projeto empresarial jornalístico de Cásper Líbero, diretor proprietário do jornal, com o intuito de entrar na modernidade. Em pauta nessa publicação colunas de beleza, moda, culinária, trabalhos manuais, crônicas e contos, resenhas literárias, decoração, comportamento, etiqueta, poesia entre outros assuntos de interesse para a mulher (HIME, 2003, p. 160).

A imprensa continua sendo fonte de análise sobre a representação da mulher, ainda nos dias atuais como mostra a pesquisa A máscara da modernidade: a mulher na revista O Cruzeiro (Serpa, 2003). Um estudo que analisa as mudanças trazidas pela modernidade e pelo Estado Novo, nas representações simbólicas sobre a mulher. O objeto da análise são as reportagens, notícias, fotografias, colunas, publicidade e propagandas veiculadas na revista O Cruzeiro, no período de 1928-1945. A pesquisa indaga o que levou Assis Chateaubriand a criar esse periódico, representativo das mulheres e mais lido no país, em tempos de urbanização, em que o Brasil cultivava ares de modernidade. A pesquisa considera que essa foi uma história cheia de signos, de um imaginário que polemizou e emocionou o leitor brasileiro, mas que, sobretudo, ditou modas, normas e até conceitos, numa intencional propagação da modernidade inspirada nos ditames Hollywoodianos. Daí a compreensão de que a revista apregoava uma modernidade mascarada, que substituía a submissão feminina social e doméstica pela doutrina da beleza e do consumo. Mulheres e Rádio Alguns estudos resgatam a presença da mulher no Rádio, tanto em relação à influência do veículo, quanto a um resgate histórico e de gênero. Favorito estuda a influência que programas de Rádio exercem sobre mulheres da área rural de Pintanga, PR. A análise é feita com 40 trabalhadoras rurais de dois clubes de mães que se identificam com a programação e as temáticas e consideram o Rádio, Deus no céu e o Rádio na terra, título da pesquisa (FAVORITO, 1989). Outros resgatam a história de mulheres que trabalharam no Rádio, ao longo da história, e forma esquecidas ou pouco citadas. Tesser faz uma pesquisa histórica sobre a presença e ausência da mulher na história do Rádio no Brasil, sobretudo nas grandes emissoras do Rio e São Paulo, nos anos de 1924 a 1943, sua pouca visibilidade, pelo fato de não serem citadas. No contexto histórico da época, também aborda o trabalho das pioneiras em diversas manifestações culturais e profissionais. O objetivo é o de resgatar os nomes e a atuação dessas mulheres que, embora tenham sido muito importantes para o rádio, não receberam da história o destaque merecido, numa época em que o trabalho feminino ficava restrito à unidade familiar. A pesquisa apresenta as artistas que atuaram como cantoras, atrizes e locutoras; mulheres que enfrentaram preconceitos e participaram efetivamente dos anos de implantação de uma programação radiofônica. Segundo a autora, esse registro oferece uma contribuição documental que poderá auxiliar estudantes e profissionais de comunicação e, também, uma forma de homenagear aquelas que colocaram as suas vozes a serviço do rádio (TESSER, 1994). Entre as emissoras de Rádio, há um número significativo de concessões à Igreja católica, no Brasil, também objeto de estudo. Dissertação de mestrado sobre o assunto, mostra que 28% das funcionárias são mulheres e 72% são homens. A pesquisa Comunicação e Relações de gênero em práticas radiofônicas, mostra que as mulheres que estão em evidência, com cargos de diretoria e também apresentadoras não chegam a 10%. Além do mapeamento com dados quantitativos, a pesquisa de campo trabalhou a percepção do receptor a partir de gênero com referenciais teóricos dos Estudos Culturais. A pesquisa de campo com os(as) ouvintes foi feita em duas emissoras, uma com tradição mais pautada por padrões masculinos, sobretudo nos apresentadores, no modo de

fazer Rádio, e outra cuja diretora era mulher e o programa de maior audiência, também apresentado por uma mulher (CORAZZA, 1999). A partir das(os) ouvintes, aplicando diferentes técnicas, a pesquisa observa a percepção das(os) ouvintes a respeito das questões de gênero, presença, ausência, visibilidade, e como reelaboram as mensagens recebidas, no que diz respeito a gênero. Em relação às mulheres profissionais, o que se observou na pesquisa, é que elas não dão muito peso à discriminação e ressaltam que ali estão e são bem sucedidas não tanto por serem mulheres, mas por demonstrarem competência. Mulheres na televisão, cinema e propaganda Algumas pesquisas também trazem a contribuição sobre a representação do feminino no televisão e no cinema, bem como na propaganda. A preocupação é mapear a presença da mulher em produções veiculadas pela mídia, como a de Gisele Paulucci A representação do feminino no seriado mulher: análise do discurso (PAULUCI, 2001). Esta pesquisa parte de um produto ficcional televisivo, Mulher, um seriado produzido pela Rede Globo e exibido semanalmente durante dos anos de 1998 e 1999. A trama central do programa, a atuação de duas médicas numa clínica especializada na saúde da mulher, levou à análise da representação do feminino no discurso, com o objetivo de avaliar as características associadas pela enunciação à mulher, bem como os modelos propostos pela atuação feminina na sociedade brasileira no final da década de 1990. O estudo teve em conta as características inerentes ao discurso televisivo: a serialidade, a fragmentação, a auto-referência. A partir da análise realizada e de sua comparação com o contexto formado por outras produções do mesmo enunciador, encontrou-se um modelo de figura feminina veiculado ao seriado, meio de sobrevivência, mas principalmente como fonte de prazer e elemento definidor da identidade da mulher. Esse modelo feminino, independente no plano econômico, não é associado aos papéis tradicionais reservados às mulheres, como o da dona de casa e da esposa submissa, e sua criação leva ao questionamento dos valores patriarcais que ainda estão presentes na sociedade brasileira. Para essa mulher, a realização amorosa é tão importante quanto a profissional, a criação de uma família e sua conciliação com a carreira é um de seus conflitos mais prementes, cuja resolução se dá através do aprendizado e da proposição e negociação de novos papéis a desempenhar por ambos os parceiros de uma relação amorosa. Ainda nas pesquisas de televisão, mas com o olhar a partir do receptor, esta o estudo de Ronsini, que tem por objetivo compreender os mecanismos de apropriação e/ou resistência da mulher rural frente às mensagens televisivas. A investigação está na relação do melodrama com as práticas produtivas e culturais de uma comunidade rural, porque se acredita que são estas práticas que fundamentaram um sistema de reconhecimento e diferenciação simbólica nos grupos sociais. O modelo teórico metodológico adotado é o das mediações, desenvolvido na América Latina por pesquisadores como Jesus Martin-Barbero, Guilhermo Orozco. Por mediações se entende os lugares a partir dos quais se configuram os significados atribuídos aos conteúdos massivos (RONSINI, 1993). O uso do vídeo pelos grupos feministas, também é investigado enquanto um meio de apoio às suas ações na realidade social. Um dos interesses da pesquisa foi sistematizar uma série de dados e informações que estavam completamente dispersos, acerca dos vídeos

produzidos sobre a temática da mulher e a formação de videotecas especializadas. Outra perspectiva desta pesquisa foi avaliar a atuação de alguns grupos e instituições no âmbito da produção e difusão, buscando observar o uso do vídeo a partir da descrição do funcionamento interno dos grupos e instituições. Este estudo abrange a década de 1980, mais precisamente as produções realizadas entre 1981 e 1992, período de emergência e crescimento do uso do vídeo pelos diversos movimentos sociais no país. A pesquisa foi realizada em São Paulo, onde se concentrava a maior parte da produção, cerca de 50 vídeos (MARQUES DE MELO, 1993). A busca da compreensão da representação da mulher no cinema como é o caso da pesquisa A virtualização da mulher nos meios de comunicação (SOARES, 2003). Um estudo que estuda a representação simbólica da imagem da mulher na propaganda e no cinema, abordando os seus diversificados papéis no decorrer de três momentos históricos: o papel da mulher na época da Revolução Industrial e na Indústria Cultural com a análise do filme Metrópolis (1926), de Fritz Lang, onde surgem novos paradigmas sobre a mulhermáquina. Outro aspecto é a mulher na sociedade de massa, que se inicia na década de 1960, onde acontecem diversas revoluções, entre elas, a revolução feminina, pós-industrial, onde os valores sociais no cinema abordam os valores sociais do feminino. Aqui a análise do filme Barbarella de Roger Vadim. E, num terceiro olhar, a sociedade pós-industrial, que apresenta o início da robotização feminina, representada pela revolução tecnológica. O autor faz análise crítica sobre essa trajetória, passando pela propaganda, exemplificando através do cinema com o filme Blade Runner, de Ridley Scott. A presença da mulher na propaganda também é objeto de estudo, tendo em conta a evolução da imagem feminina na publicidade automobilística, que atingiu o Brasil, desde o surgimento do automóvel como mercadoria, no final do século XIX (PERRACi, 2004). O estudo examinou cerca de mil peças publicitárias impressas (anúncios, cartazes, displays, folhetos e outros), brasileiras e estrangeiras, selecionando os que continham a presença feminina de forma velada ou explícita, em texto ou ilustração, antes do surgimento do cinema, Rádio e Televisão. Na análise da trajetória da imagem feminina na publicidade do automóvel, o estudo encontrou seis formas diferentes de sua utilização, desde o aspecto decorativo passando pela representação reveladora da maior ou menor participação feminina na vida socioeconômica até, ser ela mesma, consumidora final do produto, atingindo essa condição. O estudo conclui dizendo que a evolução da imagem feminina na publicidade do automóvel, ao longo do século vinte, corresponde à trajetória ascensional da mulher brasileira, no rumo de sua emancipação. A militância em trabalhos alternativos e ONGs Inúmeras são as associações que, ainda hoje, reúnem mulheres para pensar os caminhos possíveis, objetivando uma ajuda mútua e solidária. Esmeralda Uribe, em seu artigo De mujeres y comunicación... EVAS COMUNICADORAS, reflete sobre a idéia de mulheres que tecem a comunicação, as Penélopes, muitas vezes anônimas, mas atuantes nas rádios populares, comunitárias, livres, em todos os continentes. Recorda Redes internacionais de mulheres, entre elas, AMARC (Dublin,1990) também presente no Brasil; Programa da Rádio Internacional Feminista, Costa Rica) (URIBE, 1996).

No Brasil, podem ser lembradas algumas Redes, como a Rede de Mulheres no Rádio, segundo Madalena Guillón, nasceu da necessidade que as mulheres, atuantes em rádio, seja como administradoras, produtoras, apresentadoras, repórteres ou colaboradoras tinham de definir e fortalecer o seu papel em relação à problemática de gênero no contexto da comunicação de massa via rádio. Trabalha em sintonia e colaboração com Cemina (Comunicação, Educação e Informação em Gênero), uma ONG do Rio de Janeiro, que tem por missão utilizar o potencial educador e multiplicador do rádio na defesa dos direitos das mulheres e da democratização da comunicação. Site: www.rits.org.br O Instituto Patrícia Galvão é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, sediada na cidade de São Paulo e que tem por objetivo desenvolver projetos sobre direitos da mulher e meios de comunicação de massa. Criado em 2000, o Instituto entende que trabalhar com comunicação é trabalhar com projetos de transformação social. Site www.patriciagalvao.org.br As conferências internacionais sobre a mulher, a última em setembro de 1995, em Pequim, foram um foro para debater a situação da mulher no mundo, e o reconhecimento diante da comunidade internacional. A partir dessas discussões, percebeu-se que os meios de comunicação são áreas emergentes, sobretudo em relação à mulher. Para Garzòn e Torres, um dos desafios está na inter-relação mulher-meio de comunicação a partir da incorporação da mulher no mercado de trabalho da comunicação e a aprendizagem na docência da comunicação (GARZÒN E TORRES, 1995). A Mulher no mercado de trabalho É difícil precisar o número de mulheres no mercado de trabalho, nas diferentes mídias. Fonte: Maxpress/Revista Imprensa Segundo o vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), Chico Sant Anna, estima-se que dos 600 mil Jornalistas, no mundo, 300 mil são mulheres. A divisão, contudo, não é tão equânime em todos os países. Na América Latina podem ser em torno de 50 mil as mulheres entre jornalistas, repórteres, editoras, pauteiras, colunistas, entre outros trabalhos na mídia (SANT ANNA, 2001).

Se a mulher vem ganhando espaço no mercado de trabalho, nas diferentes mídias, não é simplesmente por ser mulher. As que estão em evidência não nasceram no sucesso, mas o foram construindo, passo a passo, com dedicação e competência. Esse é o diferencial, unido ao talento de cada uma das mulheres conhecidas e das inúmeras que trabalham no anonimato. A revista Imprensa de março de 2005, em edição especial por ocasião do Dia Internacional da Mulher, traz uma pesquisa que é elucidativa sobre as mulheres na comunicação 3, da realidade brasileira, que aqui reproduzimos. Inicialmente, o gráfico com números percentuais e absolutos de Jornalistas, homens e mulheres, no Brasil. Fonte: Maxpress/Revista Imprensa A seguir, o gráfico de homens e mulheres em cargos de chefia. Observe-se a diferença em cada uma das mídias. Mulheres e homens em cargo de chefia é visivelmente díspar, acentuando-se essa diferença no Rádio, um meio mais tradicional, que ainda carrega o padrão da voz masculina, Roxane Re, da CBN, São Paulo: Como apresentadora, Roxane confirma a discriminação que existe, ainda hoje, em relação à voz: Rádio é emoção. Ainda hoje, na área comercial, a voz masculina tem prioridade. Você só usa a voz da mulher quando tem que falar de produtos femininos ou voltados para a área de educação, saúde. Por exemplo, as grande assinaturas de Bancos são ainda em vozes masculinas. O que é mais combativo parece ser só para os homens. 3 Imprensa, Jornalismo e comunicação, São Paulo, Ano 18 n. 199, março 2005, pp.29-42.

Eu outros cargos, também é percebida a diferença, mas com outra configuração onde, em algumas mídias, a presença da mulher aumenta, sobretudo em jornais, televisão, revistas e internet. O Rádio continua com a diferença visível. Fonte: Maxpress/Revista Imprensa Pesquisas acadêmicas e mercado de trabalho Os estudos acadêmicos, em sua maioria, estão preocupados em analisar a presença da mulher a partir da representação, sobretudo nos impressos, na televisão e também na propaganda. Resgate histórico da presença/ausência nas emissoras de Rádio a partir da história, seu envolvimento com programação e como interpretam, reelaboram as mensagens que recebem. O estudo feito a respeito da mulher e até mesmo de gênero, é sempre a busca da compreensão de um objeto com o distanciamento previsto para a objetividade do pesquisador. Quando a mulher se encontra no mercado de trabalho, ela está em contato direto com a realidade, ou seja, com uma cultura que a discrimina, emergem outros dados como demonstra o relato de Jocelina Almeida que trabalha há 23 anos em gerenciamento de emissoras, no sul do país, Rádio Planalto de Passo Fundo, RS 4. Ela relata que desde o início de seu trabalho, buscou especializar-se na área, mesmo assim foi percebendo a surpresa de funcionários que diziam: mas essa guriazinha aí me dando ordens. Segundo sua experiência, ela foi conquistando o espaço pela competência e demonstrando, de forma racional, que estava lá para administrar, para buscar bons resultados para todos os envolvidos. Dessa forma, as pessoas iam sentindo segurança e credibilidade no trabalho. No âmbito do Rádio, a radialista da CBN São Paulo, Roxane Re, apresentadora do programa Noite total, confirma a discriminação pela voz: 4 As pesquisas com profissionais foram realizadas entre 11 e 14 de Julho de 2005.

A diferenciação existe em todas as profissões e também na comunicação. As mulheres vão entrando aos pouquinhos e no Rádio menos ainda, mas os espaços vão se abrindo. Então quando eu comecei o diretor queria mudar o padrão: queria fazer um rádio mais coloquial, colocar vozes mais doces e foi colocando vozes femininas. Dentro da Rádio tinha esse preconceito e com os ouvintes ela foi conquistando aos poucos. Esse foi o momento que eu senti que é difícil derrubar um padrão e mudar o estilo. Outro momento em que senti discriminação eu já estava há uns 5 anos na CNB. Então surgiu a discussão, porque não uma mulher? Eu imprimi outro estilo, outro ritmo. Senti o preconceito interno. A CBN tem muitas mulheres, na produção, na edição, mas poucas ao microfone. E dentro da própria emissora surgiu esse preconceito e vinda das próprias mulheres. Mas por que ela? Porque não se faz uma seleção e se escolhe uma entre as repórteres. Eu tinha conquistado um espaçozinho. Até o dia em que se fechou o homem para assumir o programa. Padrão de noite, voz mais adocicada e eu fiquei muito brava, intimamente chateada. Senti de novo o preconceito: a voz feminina serve para algumas coisas e não pra outras. Ali queriam imprimir um aspecto mais político, mais agressivo e a mulher não podia fazer isso. As mulheres entrevistadas são unânimes em dizer que elas vencem e se impõem hoje pela competência. Guadalupe Mota, jornalista responsável do Jornal Presença Diocesana e Assessora de Imprensa da Diocese de Santos, SP, mestranda na ECA/USP, desde o início de seu trabalho, procurou conhecer a estrutura da organização e agir com competência. Se impôs pela competência. Procurou profissionalizar e sentiu-se respeitada. Demonstrando conhecimento, as pessoas não podiam contrapor sem argumento. Tenho autonomia no trabalho e procuro manter uma postura de diálogo. Isso ajuda muito. As entrevistadas demonstram que a conquista do próprio espaço é feita pela competência. É o conhecimento, a competência, a forma legal e ética de ética de lidar com as situações, admitir quando se está certo, quando se está errado, trabalhar com transparência e mostrando que quando a pessoa está capacitada para a função, ela passa a ter credibilidade e respaldo em todas as áreas de atuação, independente da área. Considerações finais As pesquisas sobre a mulher e gênero preocupam-se com os conteúdos das mídias, as representações que trabalham, a ideologia, os avanços ou retrocessos. E procuram trazer uma análise de forma lógica, estruturada. Grande parte dos estudos acadêmicos preocupa-se com as mudanças de mentalidade da mulher a partir dos produtos e da forma como apresentam as realidades. Análises sobre televisão e a propaganda dão indicativo de que existem avanços na própria representação da mulher e na mudança de mentalidade em relação a padrões culturais mais tradicionais. Poucas pesquisas trabalham a partir das pessoas que fazem ou recebem a comunicação, uma teoria mais apoiada nos Estudos Culturais, considerando os meios como mediações. Na pesquisa de campo, foi possível constatar que, ao falar com mulheres profissionais da comunicação, o que elas próprias destacam é que, mesmo num ambiente e numa cultura desfavorável, vencem pela competência, persistência e dedicação. Pode-se, portanto, dizer que o mercado de trabalho é um espaço onde a mulher tem oportunidade de mostrar o diferente, de mudar o paradigma de que a mulher seria para trabalhos mais internos e não para expor-se tanto, o que, segundo o padrão cultural vigente, este seria mais um trabalho para o homem. E conforme uma entrevistada, estar no rádio é

estar na vitrine todo o dia, acrescentando que hoje o homem está se dando conta que a mulher tem condições de dispor, de desenvolver relações públicas e também mostrar a imagem da sua empresa externamente. Um dos indicativos de conclusão é de que a mudança de paradigma vai acontecendo na visibilidade à medida que é mostrada uma nova forma de competência, sem deixar de ser quem se é. Pode-se dizer que o foco das mulheres vencedoras está no potencial que existe e não nas dificuldades e problemas. Por mais que possa parecer um paradoxal, é a prática qualificada dessa presença nas mídias, que vai mudando o olhar cultural, demonstrando pairo participação e tornando a mulher mais cidadã, diante de si mesma em relação ao olhar da sociedade. Referências Bibliográficas BANDEIRA, Lourdes Maria; OLIVEIRA, Eleonora M. Trajetória da produção acadêmica sobre as relações de gênero no grupo de trabalho Mulher e política. In: Ciências Sociais, hoje, São Paulo: ANPOCS/Vértice, 1991. BUITONI, Dulcília Helena Schroeder. Mulher de papel, a representação da mulher na imprensa feminina brasileira. São Paulo: Loyola, 1981. CAMURÇA, Sílvia Maria Sampaio. Articuação de Mulheres Brasileiras: balanço e perspectivas. In: Proposta, Revista Trimestral de Debate da Fase. Rio de Janeiro, Dez/Mar 2005, Ano 28/29 N. 103-104, p. 65-71. CREEL, Mercedes Charles. El espejo de Venus: una mirada a la investigación sobre mujeres y medios de comunicación. In: Signo y pensamiento, N.28(XV), Universidad Javeriana, Bogotá, 1996,pp. 37-50. CORAZZA, Helena. Comunicação e relações de gênero em práticas radiofônicas da Igreja Católica no Brasil. São Paulo, ECA/USP (Dissertação de Mestrado). Publicação por Paulinas, São Paulo, 2000. CORAZZA, Helena. Comunicação na ótica da mulher.in: BRUNELLI, Delir. O sonho de tantas Marias. Rio de Janeiro, Cadernos CRB 12, Publicações CRB/1992, p. 108-111. DUARTE, Constância Lima. Direitos das mulheres e injustiça dos homens, Tese de Doutorado, USP. São Paulo: Editora Cortez, 1989 e LOPES, João Aloisio. Nisia Floresta: vida e obra, Dissertação (Mestrado) ECA/USP, São Paulo, 1991. FAVORITO, Celsina Alves. Deus no céu e o rádio na terra: o papel do rádio junto a mulheres rurais de Pitanga, São Bernardo do Campo, SP, Metodista, 1989 (Dissertação de Mestrado). Folha de S. Paulo, Ilustrada, E6 Domingo, 12 de Junho de 2005. GARZÓN, Elvira Israel & TORRES, Elvira Garcia. Paradojos mediaticas: la mujer na comunicación de massas de los 90. In: Comunicación y estudios universitarios, Revista de Ciencias de la Información, N. 5/1995, pp. 225-243. HIME, Gisele Valentim Vaz Coelho. Mulheres-jornalistas das décadas de 1930 e 1940). In: MELO, José Marques; GOBBI, Maria Cristina e BARBOSA, Sérgio (Orgs). Comunicação Latinoamericana: o protagonismo feminino. São Bernardo do Campo, UNESCO: Metodista, FAI, 2003.

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