INICIATIVAS PARA A REDUÇÃO E REUSO DE RESÍDUOS TÊXTEIS. Estudante; Universidade de São Paulo; São Paulo, SP;

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Transcrição:

INICIATIVAS PARA A REDUÇÃO E REUSO DE RESÍDUOS TÊXTEIS Mariana Correa do Amaral (1) ; Karine Liotino da Silva (2) ; Welton Fernando Zonatti (3) ; Júlia Baruque-Ramos (4) (1) Pesquisadora; Universidade de São Paulo; São Paulo, SP; mariana@etiquetacerta.com; (2) Estudante; Universidade de São Paulo; São Paulo, SP; karine@etiquetacerta.com; (3) Professor; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro; Rio de Janeiro, RJ; welton.zonatti@ifrj.edu.br; (4) Professora; Universidade de São Paulo; São Paulo, SP; jbaruque@usp.br Resumo Os produtos têxteis e confeccionados estão presentes em todos os aspectos de nossas vidas, em diferentes formatos e características, movimentando uma parte significativa da economia mundial. Atualmente, a competição por novos mercados está cada vez mais acirrada, e a percepção dos consumidores por produtos sustentáveis e acessíveis está aumentando rapidamente. O presente trabalho visou apresentar as principais iniciativas para a redução e reaproveitamento de resíduos têxteis no Brasil e no mundo. Transformar resíduos em novos produtos e materiais com o máximo de eficiência e o mínimo de desperdício é o caminho adotado por diversos setores da indústria, forçada pelo aumento crescente na demanda de recursos naturais finitos. É nesse contexto que a recuperação e reciclagem de materiais têxteis se torna cada vez mais necessária, não só em termos ambientais, mas principalmente em termos econômicos, com a possibilidade de reduzir custos e gerar novas oportunidades de negócios. Palavras-chave: Resíduo. Indústria Têxtil. Reuso. INITIATIVES FOR REDUCTION AND REUSE OF TEXTILE WASTE Abstract Textiles and clothing products are present in every aspect of our lives, in different formats and features, stirring a substantial portion of the worldwide economy. Today, the conditions of competition for new markets are increasingly demanding, and consumer perception of sustainable and accessible products is rapidly rising. This paper aimed to present the main initiatives for the reduction and reutilization of textile waste in Brazil and in the world. Transforming waste into new products and materials with maximum efficiency and minimum waste is the path taken by many industries forced by the increasing demand for finite natural resources. It is in this context that recovery and recycling of textile materials became ever more necessary, not only on environmental grounds, but mainly in

economic terms, with the possibility to reduce costs and generate new business opportunities. Key words: Waste. Textile Industry. Reuse 1. Introdução O Brasil ocupa a quarta posição entre os produtores mundiais de confeccionados têxteis e a quinta posição na produção de têxteis, é autossuficiente na produção de algodão e referência mundial em moda praia, jeans e linha lar, produzindo 9,8 bilhões de peças confeccionadas por ano, dessas, cerca de 5,5 bilhões em peças de vestuário (ABIT; IEMI, 2015). Os produtos têxteis estão presentes em nossas casas, hospitais, locais de trabalho e veículos em diferentes formatos e características, e, juntamente com a indústria do vestuário, movimentam uma parte significativa das economias no mundo inteiro, determinando hábitos e comportamentos de consumo da sociedade (CALDAS, 2014), em um modelo econômico linear de extrair, transformar, descartar que depende de grandes quantidades de materiais de baixo custo, fácil acesso, água e energia em abundância (GHISELLINI et al, 2015). A diminuição dos recursos naturais levou muitos países a procurar maneiras de aumentar a sua capacidade de resistência a um déficit no fornecimento de matérias-primas industriais (LOVINS, 2008). Assim, reciclar os resíduos e sobras do processo de industrialização para fazer novos produtos é uma solução barata e eficaz (STAHEL, 2010; ZONATTI et al., 2015). Recentemente, o movimento batizado de Economia Circular, popularizado pela Fundação Ellen McArthur (2010), apresenta um modelo capaz de desacoplar o crescimento econômico da geração de resíduos. O termo ganhou popularidade mundial entre as empresas nos últimos anos graças aos seus benefícios ambientais onde os resíduos se transformam em recursos úteis para a fabricação de novos produtos e pela possibilidade de aumentar os lucros e a competitividade econômica das empresas, sendo uma definição

genérica para os modelos de negócios e processos industriais que não geram resíduos, mas sim, reutilizam os recursos naturais repetidamente. Conforme concebida por seus criadores, a economia circular consiste em um ciclo de desenvolvimento positivo contínuo, que preserva e aprimora o capital natural, otimizando a produção de recursos e minimizando riscos, por meio da administração de estoques finitos e fluxos renováveis, em qualquer escala industrial (STAHEL, 2010). 2. Problemática de pesquisa e objetivo No atual ambiente econômico, a competição por novos mercados está cada vez mais acirrada, e a percepção dos consumidores por produtos sustentáveis e acessíveis está aumentando rapidamente, fazendo com que os produtores invistam na qualidade de seus produtos e na gestão dos seus resíduos de forma responsável, não só para os objetivos de sustentabilidade das empresas, mas também visando uma infinidade de oportunidades de negócios, da produção ao final do ciclo de vida de cada produto. Por esse motivo, o presente trabalho visou apresentar os principais movimentos e iniciativas que tem por objetivo a redução da geração e reaproveitamento dos resíduos têxteis no Brasil e no mundo. 3. Revisão Bibliográfica Como em qualquer atividade industrial, a cadeia produtiva têxtil e de confecção gera resíduos sólidos, como retalhos e aparas têxteis. Para o desenvolvimento do produto têxtil, são desenhados os moldes das partes que irão compor a peça de vestuário. Tais partes formarão o encaixe sobre várias camadas de tecido, o qual é a distribuição racional destes moldes de modo ao melhor aproveitamento desse tecido. O encaixe pode ser feito manualmente ou com o auxílio de software, o qual auxilia a minimizar o desperdício de tecido, sendo que este em alguns casos pode chegar a 20% (AUDACES, 2013). De acordo com estimativas do SEBRAE (2014) o Brasil produz 170 mil toneladas de retalhos têxteis por ano, sendo grande parte gerada no estado de São Paulo. O SEBRAE

estima que 80% do material têm como destino os lixões e aterros sanitários, um desperdício que poderia gerar renda e promover o estabelecimento de negócios sustentáveis. 4. Metodologia Como metodologia foram analisados e comparados três iniciativas e movimentos da sociedade civil (Economia circular; Zero resíduo e Upcycling) que tem por objetivo minimizar ou eliminar completamente a redução de resíduos industriais. 5. Análise de resultados 5.1. Economia circular aplicada a indústria têxtil e de vestuário De acordo com a Fundação Ellen McArthur (2013), a economia circular tem a ambição de manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo, não apenas reciclando, mas revalorizando ao longo dos processos produtivos sejam os ciclos biológicos ou técnicos. O desenvolvimento e implantação de uma estratégia que fomente a transição de uma economia linear para uma economia circular, baseada em um modelo de desenvolvimento sustentável, podem representar desta forma uma oportunidade com vários benefícios associados, nomeadamente de impacto ambiental, através da diminuição do recurso às matérias-primas e impacto social, com a geração de empregos, fomentando o crescimento econômico do setor em que for empregado (STAHEL, 2010). A gestão dos resíduos de forma responsável cria uma infinidade de oportunidades econômicas e de competitividade, por meio de processos produtivos que minimizam o desperdício e na recuperação de recursos (STAHEL, 2010). Particularmente no setor têxtil, a grande maioria dos resíduos têxteis (retalhos) são passíveis de serem recicladas de forma mecânica ou química. A Figura 1 exemplifica um modelo relacionado à economia circular, constituindo

um ideal de aplicação na indústria e cadeia têxtil. Nota-se que o formato é resumido em dois círculos, quando passa da coleta para o reuso ou da coleta para o reparo, prolongando a vida útil dos materiais (WRAP, 2016). Figura 1. Economia Circular na indústria têxtil Fonte: Adaptado de WRAP, 2016. A etapa do corte é a fase da confecção de uma peça de vestuário, em que ocorre grande parte do desperdício de tecido, assim, levando-se em consideração o volume da produção nacional de peças confeccionadas em um ano, a situação dos resíduos têxteis se torna ainda mais preocupante. Somente em relação ao descarte de peças confeccionadas, estima-se que mais de 150 milhões não têm destinação definida e acabam estocadas, destruídas ou mofadas. Em média, as coleções têm vendas de 50% a 75%, quando expostas no varejo e as sobras vão para liquidação ou bazar. O que não é vendido pode ser doado, moído, depositado em aterros ou incinerado (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012; CASTRO; AMATO-NETO, 2012). Segundo a Fundação Ellen McArthur (2013), a empresa holandesa MUD Jeans é uma marca de moda que opera completamente de acordo com os princípios da economia circular, vendendo um serviço e não um produto. A empresa permite que os usuários finais

paguem pelo serviço para que os fabricantes mantenham o acesso às matérias-primas. Os clientes podem alugar calças jeans e devolvê-los para reparo ou para reciclagem. Outros serviços como reparos gratuitos estão incluídos na oferta para aqueles que decidiram manter o jeans, ou incentivos financeiros no caso de peças devolvidas, para incentivar a recuperação. Este modelo de negócio reduz a vulnerabilidade da cadeia de abastecimento às flutuações de preços, ao mesmo tempo que reduz os impactos ambientais associados às culturas tradicionais de algodão. A peça de jeans devolvida é avaliada e os materiais recuperados continuarão a fluir através de um dos três círculos de produção. O presidente da empresa acredita firmemente nos objetivos da economia circular e quer demonstrar aos grandes produtores de moda que a produção circular de vestuário é possível e rentável, ele entende a resistência que a circularidade poderia trazer para o seu negócio e como isso se tornará uma vantagem competitiva ainda maior no futuro (MUD JEANS, 2013). 5.2. Lixo zero (Zero waste) A Zero Waste International Alliance é um movimento internacional criado para promover alternativas positivas ao aterramento e incineração de matérias-primas recicláveis e reutilizáveis, e busca conscientizar a comunidade sobre os benefícios sociais e econômicos obtidos quando os resíduos passam a ser considerados como uma base de recursos sobre os quais podem ser construídas novas oportunidades de negócios (ZWIA, 2016). No Brasil, o Instituto Lixo Zero tem a missão de mobilizar, articular e provocar novas atitudes em todos os segmentos da sociedade, disseminando novas práticas através, desenvolvendo novas tecnologias, visando reduzir o lixo e direcionando a população para um caminho mais sustentável por meio da informação (INSTITUTO LIXO ZERO, 2016). Na indústria da moda, grande parte dos resíduos gerados provém do encaixe dos moldes que formam uma peça de vestuário. Para eliminar as sobras de tecido o conceito zero waste é empregado por meio de métodos de criação, modelagem e corte que utilizam integralmente o tecido (JACK, 2014). Enquanto na produção convencional o encaixe dos moldes é apenas uma etapa da

produção, na metodologia ela faz parte do processo criativo. Para tanto, as roupas já devem ser projetadas de modo a não gerar desperdício ou gerar muito pouco (RISSANEN, 2016). O pesquisador do tema, Timo Rissanen, desenvolveu diversos estudos e peças de acordo com a metodologia zero waste, de modo que os moldes se encaixem perfeitamente no plano de corte (Figura 2). Figura 2. Modelagem e peça confeccionada com metodologia zero waste Fonte: RISSANEN, 2016. Cabe frisar que na indústria da moda não existe apenas um método ou técnica para criação e modelagem de vestuário, cada designer utiliza técnicas distintas de acordo com suas habilidades, necessidades e métodos próprios. Por isso deve-se entender o design zero waste como um processo, e não uma técnica ou método de criação e modelagem (RISSANEN, 2016). 5.3 Upcycling Os termos upcycling e downcycling foram cunhados por McDonough e Braungart, fundadores do movimento Cradle to Cradle para distinguir entre a reciclagem que cria

materiais valiosos, upcycling, que significa subir (up) o ciclo (cycle), e a que gera uma perda de qualidade, downcycling, que significa descer (down) o ciclo (cycle) (SALCEDO, 2014). O upcycling consiste em valorizar o material, utilizando a maior parte possível do produto ou todo o material, diferente do processo de reciclagem, onde nem tudo é reaproveitado e o material precisa passar por processos químicos e físicos consumindo energia para transformá-lo em um novo material (BRAUNGART; MCDONOUGH, 2014). Existem inúmeras iniciativas, marcas e estilistas que trabalham com o upclycling na moda. Uma delas é a marca brasileira COMAS, idealizada pela estilista uruguaia Agustina Comas, que produz suas peças utilizando como principal matéria-prima camisas masculinas descartadas, Todos os dias as fábricas descartam produtos que não passam pelos controles de qualidade e muitas peças são deixadas de lado. Para nós, essa sobra é matéria-prima, camisas são peças ícones, de estilo permanente, durável, sem prazo de validade. O mix de produtos de Comas inclui diversos modelos de camisas femininas, saias, chemises e vestidos, todos feitos a partir das camisas masculinas (Figura 3) (COMAS, 2016). Figura 3. Desenho técnico da transformação de peças masculinas em vestido feminino Fonte: COMAS, 2016.

Ainda cabe enfatizar outros movimentos de reaproveitamento de resíduos ou produtos têxteis, tanto de forma filantrópica, por meio de doações, quanto de cunho econômico, como é o caso dos inúmeros casos de sucesso de sustentabilidade e economia compartilhada que conectam pessoas para trocar, alugar, doar, usar e reusar peças de vestuário e tecidos quantas vezes for possível e desejável (MENA, 2015). 6. Conclusão Como foi observado, as três iniciativas buscam transformar resíduos em novos produtos e materiais com o máximo de eficiência e o mínimo de desperdício, esse é considerado o caminho adotado por diversos setores da indústria, forçada pelo aumento crescente na demanda de recursos naturais finitos. A Economia Circular acena rumo ao desenvolvimento tecnológico e a inovação, por meio de um modelo econômico com zero resíduo, priorizando serviços ao invés de produtos. O movimento Zero Waste considera o resíduo um erro de design, por isso aplica um modelo de produção que abrange desde a concepção do design dos produtos, forma de utilização e a recuperação das matérias-primas após seu descarte. O Upcycling trabalha com a reformulação do design da peça, reaproveitando os insumos da melhor maneira possível, mesmo que resíduos continuem sendo gerados no processo. Os resíduos são a matéria-prima do século XXI e um dos protagonistas da economia circular. Para alcançar uma mudança sistêmica no modelo atual de produção têxtil, onde se conheça e se valore as iniciativas que minimizam os impactos ambientais de forma inteligente, através do reuso ou da reciclagem de resíduos têxteis, integrando de fato essa matéria-prima no processo produtivo, é necessário gerar conexões sólidas entre os principais atores envolvidos: consumidores, comerciantes, produtores e recicladores, para a construção de uma visão conjunta da economia sustentável, criativa e circular com finalidade econômica, social e ambiental que esses atores desejam, compartilhando os meios para alcançá-la, ações de gestão de mudança e um plano de comunicação eficiente, que é o motor da transformação para novas economias. 7. Referências

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