Relação entre nível de disclosure ambiental e os indicadores econômico-financeiros de empresas listadas no ISE da BM&FBOVESPA

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Transcrição:

Relação entre nível de disclosure ambiental e os indicadores econômico-financeiros de empresas listadas no ISE da BM&FBOVESPA Kelli Regiane Andrade dos Santos (UNICENTRO) kelliregiane2012@gmail.com Flávio Ribeiro (UNICENTRO) flavioribeiro@irati.unicentro.br Resumo: A presente pesquisa objetivou identificar a relação entre o nível de disclosure ambiental e os indicadores econômico-financeiros de empresas listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBOVESPA. Para tanto realizou-se uma pesquisa descritiva, documental bibliográfica e com abordagem quali-quantitativa em relação ao problema. A amostra foi constituída por 40 empresas que fizeram parte da carteira do ISE entre os anos de 2010 e 2015. Os indicadores econômico-financeiros foram calculados a partir das Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) disponibilizadas no site da BM&FBOVESPA. Para a mensuração do nível de disclosure optou-se pela análise de conteúdo em relatórios da administração, relatórios anuais, relatórios de sustentabilidade e notas explicativas, tendo como parâmetro uma adaptação do instrumento de pesquisa do estudo de Rover et al. (2012), o qual conta com oito categorias e 33 subcategorias ambientais. Os resultados demonstraram haver relação positiva e significativa com a rentabilidade, sugerindo que as empresa com melhor desempenho tendem a maximizar a divulgação sustentável. Palavras chave: Contabilidade Ambiental; Sustentabilidade; Desempenho empresarial. Abstract Relationship between the level of environmental disclosure and financial-economic indicators of companies listed on the ISE BM&FBovespa This research had as objective to identify the relationship between the level of environmental disclosure and the economic and financial indicators of companies listed on the Business Sustainability Index (ISE)of BM &FBOVESPA.Therefore, it was made a descriptive research, bibliographic documentary and with a qualitative-quantitative approach about the problem. The sample was constituted for 40 companies that made part of ISE between the years of 2010 and 2015.The financial-economic indicators were calculated by the Standardized Financial Statements available on BM&FBovespa website. For the mensuration of disclosure s level, it was decided for content analysis in administration s report, annual reports, sustainability reports and explanatory notes, having as parameters the research instrument from study Rover et al. (2012), which has eight categories and 33 environmental subcategories. The results showed a positive and significant

relationship with profitability, suggesting that companies with better performance tend to maximize sustainable disclosure. Key-words: Environmental Accounting; Sustainability; Business performance. 1 Introdução Nas últimas décadas o consumo em massa e a produção em larga escala, proporcionaram às empresas um ambiente de extrema competitividade. A busca desenfreada pelo aumento da produção com os menores custos possíveis trouxe retornos financeiros, todavia, com impactos ambientais (BRITO, 2005). Em meio a essa relação desvantajosa presente entre empresas e natureza, o surgimento de críticas é rotineiro, o que faz com que essas organizações adotem medidas ambientais, para assim alcançar o desenvolvimento de suas atividades por um caminho sustentável (GOMES, 2005). A exigibilidade de práticas ambientais pelas organizações surge dos mais diversos grupos sociais, não sendo somente de investidores; mas também de fornecedores, dos clientes e sociedade de um modo geral que se mostram interessados nas medidas sustentáveis adotadas pelas empresas (ROVER et al., 2012). Os investimentos ambientais e a sua devida divulgação passaram a fazer parte do plano estratégico da empresa, isto é, entidades que apresentam medidas ambientais personificam uma boa imagem frente aos stakeholders (CORRÊA, 2009). Alguns países já possuem padrões estabelecidos por lei para a divulgação de informações ambientais, conforme Kolk (2003 apud CORRÊA, 2009) países como Dinamarca, Nova Zelândia, Holanda e Japão são precursores em divulgação de medidas ambientais. No entanto, no Brasil a divulgação (ou disclosure) de informações ambientais não é compulsória, evidenciando-se somente de forma voluntária. Destaca-se como suporte as recomendações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) para a divulgação ambiental, por meio da Norma Brasileira Técnica de número 15 (NBC T 15) (ROVER et al., 2012). Calixto, Barbosa e Lima (2007) afirmam que a divulgação ou disclosure de informações ambientais está crescendo, uma vez que as empresas buscam ganhar a confiança de clientes e investidores. Por sua vez Lima (2007) argumenta que disclosure deve conter as informações positivas e negativas, o que na prática não acontece. A este respeito, Nossa (2002) já havia mencionado que a padronização do disclosure de informações ambientais levaria as empresas a publicar relatórios úteis que poderiam ser utilizados pela administração e principalmente para comparativos com a concorrência. Nesta direção, pode-se observar que há diferentes níveis de disclosure ambiental, o que permite a realização de vários estudos a fim de responder quais variáveis são determinantes para a minuciosidade do disclosure (Di DOMENICO et al., 2016; MARQUEZAN et al., 2015; SILVA et al., 2015). Alguns estudos trabalharam com hipóteses como tamanho da empresa, nível potencial de impacto ambiental, participação em algumas carteiras, rentabilidade, endividamento, etc. (Di DOMENICO et al., 2016; MARQUEZAN et al., 2015; SILVA et al., 2015). Assim, a questão norteadora do presente estudo é: qual a relação entre o nível de disclosure ambiental e os indicadores econômico-financeiros das empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)? Como objetivo propõe-se investigar qual a relação entre o nível de disclosure ambiental e os indicadores econômico-financeiros das empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) no período de 2010 a 2015 listadas na BM&FBovespa.

2 Referencial Teórico 2.1 Contabilidade Ambiental A trajetória evolutiva da contabilidade assim como ocorre na história da humanidade tem sido descrita em fases, normalmente associadas a acontecimentos de determinada época (CONCEIÇÃO, 2012). Do mesmo modo que a contabilidade, o seu conceito também tem evoluído, acompanhando as tendências das transformações decorrentes do desenvolvimento dos negócios, das entidades e da globalização da economia que são historicizadas no decorrer do tempo. Atualmente, o enfoque no meio ambiente vem se intensificando, uma vez que, impactos ambientais são observados com maior freqüência. Estudos apontam resultados preocupantes acerca de problemas como poluição e esgotamento de recursos naturais, devido principalmente ao desenvolvimento econômico sem critérios sustentáveis (CALIXTO, 2007). Para Tannuari (2013, p. 39) pensar numa contabilidade que consiga mensurar e, consequentemente prestar contas do consumo e da degradação do meio ambiente resulta um tanto complexo e faz supor uma redefinição das funções da contabilidade tradicional. Freitas e Oleiro (2011) afirmam que a contabilidade é uma só, que os métodos contábeis são os mesmos adotados há séculos, todavia dependendo do objeto central estabelecido, torna-se possível segregar essa ciência de acordo com a necessidade do destaque que se deseja alcançar. Nessa linha de pensamento é válido ressaltar que, a Contabilidade Ambiental não é uma nova técnica, mas uma segmentação da contabilidade tradicional com ênfase nos fatos específicos da área (RIBEIRO, 2005; FREITAS; OLEIRO, 2011). 2.2 Disclosure Ambiental O disclosure ou evidenciação das informações contábeis é a ferramenta pela qual os diversos tipos de usuários têm acesso a informações diferenciadas, estando portanto relacionado aos objetivos da contabilidade (IUDÍCIBUS, 2010). Dessa forma, o disclosure, a fim de fornecer informações úteis e promover transparência às empresas devem conter tanto as informações quantitativas quanto as qualitativas, possibilitando aos usuários conhecimento sobre as atividades desenvolvidas e principalmente seus riscos (DANTAS et al., 2005). Com o crescimento da importância da contabilidade ambiental, a evidenciação de informações ambientais tornou-se de grande valia, todavia ainda há uma grande disparidade de informações, visto que tais divulgações podem ser obrigatórias quando exigidas por leis ou regulamentos ou voluntária, quando as empresas, espontaneamente tomando como base algumas diretrizes e orientações evidenciam informações ambientais (NOSSA, 2002). Nesta linha, Di Domenico et al. (2015) assinala que a evidenciação das informações de uma empresa não deve somente estar ligada a legalidade, isto é, ao cumprimento de normas e regulamentos, é necessário um compromisso com os princípios éticos de transparência e também com os parceiros da empresa que precisam de uma variabilidade de informações. No cenário brasileiro o disclosure verde ainda está em desenvolvimento. O que se percebe ainda é que uma parcela considerável das empresas divulga apenas as informações que lhes convém, ressaltam nos relatórios ambientais ou nas demonstrações financeiras somente as ações positivas omitindo pontos negativos que a atividade empresarial oferece, fato que impede o processo de transparência e retarda o desenvolvimento da construção do disclosure ambiental uniforme (FERREIRA, 2003; CALIXTO; BARBOSA; LIMA, 2007). 2.3 Teoria dos Stakeholders A discussão acerca dos stakeholders ganhou extrema relevância com a publicação do livro Strategic Management: A Stakeholder Approach de Freeman (1984) (MITCHEL; AGLE;

WOOD, 1997). Todavia o termo stakeholder data de anos anteriores. Conforme Freeman (1984 apud MITCHEL; AGLE;WOOD, 1997) stakeholder compreende todo e qualquer indivíduo ou grupo que é afetado pelo alcance dos objetivos da empresa. A Teoria dos Stakeholders por sua vez, procura descrever quem são as parte interessadas nas informações da empresa além de afirmar que as decisões do gestor devem levar em conta os interesses dos stakeholders (JENSEN, 2001). Conforme Rezende, Nunes e Portela (2008) a Teoria dos Stakeholders exprime que as organizações mesmo contando com fins lucrativos, devem assumir demais objetivos, deixando de atentar-se exclusivamente com a maximização da riqueza do acionista. Em face a essa definição, acentua-se a importância do disclosure ambiental nas entidades. Evidenciar informações de cunho ambiental proporcionam a elas elevada transparência, permitindo a seus investidores maior confiabilidade. 2.4 Indicadores econômico-financeiros Face às inúmeras informações que as demonstrações contábeis podem fornecer, torna-se essencial ao administrador, analista e os demais interessados realizar interpretações. Entre as técnicas utilizadas destacam-se os indicadores que segundo Marion (2005) estabelecem relação entre duas grandezas, facilitando de forma considerável o trabalho do analista, dado que a interpretação de relações ou percentuais é mais pertinente que a observação de várias informações dispostas nas demonstrações. Outro ponto importante a ser destacado é que a análise dos indicadores para ser relevante, não pode acontecer individualmente, uma vez que sozinhos, classificar os resultados obtidos torna-se inviável; é necessário relativizá-los através de comparações entre períodos diferentes da empresa ou com indicadores de empresas que desempenham atividade semelhante (SCHMIDT; SANTOS; KLOECKNER, 2006; BRUNI, 2011). Os indicadores frequentemente utilizados nas análises de informações contábeis podem ser apresentados em alguns grupos principais. Assim para atender ao objetivo do estudo, será abordado Rentabilidade, Liquidez e Endividamento. Os indicadores de rentabilidade têm como objetivo analisar os lucros obtidos pela empresa de forma relativa, normalmente analisada em relação aos investimentos realizados pelo grupo de fornecedores de capital, isto é, sócios e terceiros ou em outras situações apenas pelos sócios (BRUNI, 2011). Matarazzo (2010) complementa afirmando que os indicadores de rentabilidade evidenciam o grau de êxito econômico da empresa. Os indicadores de liquidez ou solvência são utilizados com o objetivo de avaliar a capacidade de pagamento da empresa, ou seja, irão analisar se a empresa possui recursos suficientes para saldar seus compromissos. A partir dos índices de liquidez a capacidade de pagamento pode ser avaliada considerando três níveis: prazo imediato, curto prazo ou longo prazo (MARION, 2005). Ferrari (2006) aponta os credores como parte do grupo de principais interessados nos indicadores de liquidez, uma vez que, esses têm grande interesse em saber se conceder créditos à empresa pode ser algo ariscado, ou também avaliar se os créditos já concedidos podem não ser honrados. Aponta ainda como regra geral que, a capacidade de pagamento das dívidas da empresa será maior, quanto maiores forem seus indicadores de liquidez, o que conseguintemente caracteriza para a empresa uma boa situação financeira, todavia, afirma como exceção a regra que em alguns casos, valores altos de liquidez podem não ser sinônimo de bom desempenho financeiro, uma vez que tais valores podem resultar de por exemplo excesso de créditos com prazo alongado para recebimento. Os indicadores de endividamento, também conhecidos como indicadores de estrutura de capitais, são responsáveis por evidenciar se os recursos da empresa partem principalmente dos

sócios ou de terceiros; além disso, também demonstraram se os recursos provenientes de terceiros são exigíveis em maior parte em curto prazo (circulante) ou em longo prazo (exigível a longo prazo) (MARION, 2005). Ferrari (2006, p.82) acrescenta que os indicadores de endividamento têm como objetivo principal [...] avaliar o grau de dependência da empresa em relação aos capitais de terceiros, através da medição da relação entre capitais próprios (patrimônio líquido), capitais de terceiros (passivo exigível) e capitais aplicados (ativos). 2.5 Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) Empresas socialmente responsáveis, estão sendo gradativamente mais requisitadas, uma vez que essas se tornam mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. O Investimento Sustentável e Responsável (ISR) definido pelo European Sustainability Forum (Eurosif) como um sistema de investimento que associa os objetivos financeiros do investidor com suas preocupações a cerca da preservação do meio ambiente, da sociedade e de questões de governança (Environmental, Social and Governance ESG) vem se tornando a cada dia algo mais requisitado. Em 2005 a fim de atender às novas exigências de mercado, a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). O Índice é um ambiente que reúne investimento juntamente ao desenvolvimento sustentável, o que conseguintemente estimula a responsabilidade ética das empresas que fazem parte (BOVESPA, 2016). A seleção das empresas para compor o ISE é realizada pela Bovespa juntamente ao Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). A carteira ISE poderá ser composta por até 40 empresas dentre as 200 ações mais líquidas. A metodologia de seleção GVCes se baseia em questionário com 7 dimensões: ambiental, social, econômico-financeira, geral, natureza do produto, Governança Corporativa e mudanças climáticas. A participação é voluntária. O questionário é composto por questões objetivas, sendo assim após o envio desse, as empresas deveram apresentar documentos corporativos que comprovem a resposta assinalada. Feito isso a Bovespa e o GVCes realizaram duas análises, uma quantitativa com base nas respostas objetivas, e uma qualitativa com base nas evidencias enviadas pelas empresas, feito isso o Conselho Deliberativo do ISE (CISE) irá realizar uma avaliação de todas as informações disponíveis, e consequentemente, tomar uma decisão sobre o grupo de empresas que irão compor a carteira (BOVESPA, 2015). 3 Método e procedimentos da pesquisa 3.1 Delineamento da pesquisa A presente pesquisa caracteriza-se como descritiva, documental e bibliográfica. Quanto à abordagem do problema a pesquisa caracteriza-se como quali-quantitativa, visto que verificou-se o nível de disclosure ambiental além traçar a relação entre variáveis a partir de técnicas estatísticas. Oliveira (1997) afirma que a pesquisa quantitativa como o próprio nome indica procura quantificar informações, buscando estabelecer relações entre as variáveis. 3.2 População e Amostra A população da pesquisa foi composta pelas empresas que possuíam ações listadas na BM&FBovespa durante os anos de 2010 a 2015. A amostra, por sua vez, restringiu-se a 40 empresas que integraram a carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial de 2010 a 2015. Ressalta-se que foram selecionadas estas 40 empresas devido ao fato de constituírem um índice ambiental, deduzindo-se que tais apresentam um nível de divulgação ambiental mais elevado que as demais, o que para a pesquisa será uma característica relevante.

Liquidez Endividamento Setores Amostra % 1 Bens Industriais 5 12,50% 2 Consumo Cíclico 4 10,00% 3 Consumo Não Cíclico 2 5,00% 4 Financeiro e Outros 1 2,50% 5 Materiais Básicos 9 22,50% 6 Petróleo, Gás e Biocombustíveis 1 2,50% 7 Saúde 2 5,00% 8 Telecomunicações 3 7,50% 9 Utilidade Pública 13 32,50% Total 40 100,00% FONTE: Dados da pesquisa Tabela 1: Representação setorial da amostra. Conforme pode ser observado na Tabela 1, o setor mais representativo da amostra é o de Utilidade Pública, contando com 13 empresas, por outro lado o menos representativo é o Financeiro e Outros, visto que se optou por excluir-se da amostra inicial as empresas desse setor, pelo fato dessas apresentarem itens das demonstrações contábeis de forma atípica aos demais setores, com exceção da Cielo S.A que continuou fazendo parte da amostra. 3.3 Variáveis da pesquisa No Quadro 1 são apresentadas as variáveis utilizadas na pesquisa. Fatores Variável Fórmula Descrição Índice de Disclosure Ambiental (IDA) IDA= DAi DA Onde DAi refere-se divulgação ambiental em analise, a partir de pontuação dicotômica, 1 quando havia a informação e 0 para a ausência dessa. O DA por sua vez refere-se ao número Maximo de informações ambientais (33) Grau de Endividamento (GE) Capital de Terceiros GE= Patrimônio Líquido Quanto a empresa tomou de capitais de terceiros para cada $ 100 de capital próprio investido Composição do Endividamento (CE) Passivo Circulante CE= Capital de Terceiros Qual o percentual de obrigações de curto prazo em relação às obrigações totais Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) Ativo não Circulante IPL= Patrimônio Líquido Quanto a empresa aplicou no Ativo Permanente para cada $ 100 de Patrimônio Líquido Imobilização dos Recursos não Correntes (IRC) Ativo não Circulante IRC= PL+Exigível a L.P Percentual de Recursos não Correntes a empresa aplicou no ativo permanente Liquidez Imediata (LI) Diponível LI= Passivo Circulante Capacidade que a empresa possui imediatamente para pagar as dividas de curto prazo Liquidez Seca (LS) AC-Estoques LS= Passivo Circulante Determina a capacidade de curto prazo de pagamento da empresa mediante a utilização das contas do disponível e valores a receber

Rentabilidade Liquidez Geral (LG) Liquidez Corrente (LC) Giro do Ativo (GA) AC+Realizável L.P LG= PC+Exigível L.P. Ativo Circulante LC= Pasivo Circulante Vendas Líquidas GA= Ativo Total Mede a capacidade de pagamento em longo prazo de todos seus compromissos Relaciona quantos reais dispomos, imediatamente disponíveis e conversíveis em curto prazo em dinheiro, com relação às dívidas de curto prazo Quanto a empresa vendeu para cada $ 1,00 de investimento total Lucro Bruto Margem Bruta (MB) MB= Vendas Líquidas Margem Operacional (MO) Margem Líquida (ML) LAJIR MO= Vendas Líquidas Lucro Líquido ML= Vendas Líquidas Evidencia quanto das vendas líquidas irão constituir o lucro bruto, isto é, o lucro após serem descontados os custos das mercadorias vendidas ou serviços prestados. A Margem operacional mostra, o percentual das vendas e líquidas que efetivamente constituíram o Lucro Antes do Pagamento dos Juros e do Imposto de Renda (LAJIR). A margem líquida mede a porcentagem de cada unidade monetária de venda que restou, depois da dedução de todas as despesas, inclusive o imposto de renda Retorno do Ativo (ROA) Lucro Líquido ROA= Ativo Total Quanto a empresa obtém de lucro para cada $100 de investimento total Retorno do Patrimônio Líquido Lucro Líquido (ROE) ROE= Patrimônio Líquido FONTE: Dados da pesquisa Mede o retorno obtido sobre o investimento (ações preferenciais e ordinárias) dos proprietários da empresa Quadro2: Adaptado de Gitman (2002), Iudícibus (2008), Assaf Neto (2010), Matarazzo (2010). Em virtude de características semelhantes identificadas nas variáveis de: i) Endividamento (GE, CE, IPL, e IRC); ii) Liquidez (LS, LG, LI, LC); e iii) Rentabilidade (GA, ML, MB, MO, ROA, ROE), optou-se por utilizar a Análise Fatorial para compor um Fator de Endividamento, Fator de Liquidez e Fator de Desempenho. Os testes KMO (Kaiser-Mayer- Olkin) e de Esfericidade de Bartlett foram empregados com o intuito de confirmar os resultados da matriz de correlação, conforme Tabela 2. Fator de Endividamento Fator de Liquidez Fator de Rentabilidade Testes KMO and Bartlett Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,514 Approx. Chi-Square 172,935 Teste de Esfericidade de Bartlett Df 10 Sig. 0,000 Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,738 Approx. Chi-Square 775,123 Teste de Esfericidade de Bartlett Df 6 Sig. 0,00 Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,711 Teste de Esfericidade de Bartlett Approx. Chi-Square 1124,429

FONTE: Dados da pesquisa Df 15 Sig. 0,00 Tabela 2: Testes de KMO e Bartlett O teste KMO compara a magnitude dos coeficientes de relação entre as variáveis com a magnitude dos coeficientes de correlação parcial, apresentaram um coeficiente acima de 0,514, o que torna possível a aplicação da Análise Fatorial. O teste de Bartlett apresentou um nível de significância de 0,00. Logo, rejeitou-se a hipótese nula de que a matriz de correlação é a matriz identidade. Assim, é possível evidenciar a existência de correlação entre as variáveis, justificando o emprego da análise fatorial. Na Tabela 3 apresenta-se a determinação dos fatores do modelo e a verificação da variância explicada pelo número de fatores e serem utilizados no modelo. Total Auto Valor Extração da Soma dos Quadrados Fator de Componente Total % da Variância Cumulativo % Total % da Variância Cumulativo % Endividamento 1 1,820 36,410 36,410 1,820 36,410 36,410 Total Auto Valor Extração da Soma dos Quadrados Fator de Componente Total % da Variância Cumulativo % Total % da Variância Cumulativo % Liquidez 1 2,962 74,061 74,061 2,962 74,061 74,061 Total Auto Valor Extração da Soma dos Quadrados Fator de Componente Total % da Variância Cumulativo % Total % da Variância Cumulativo % Rentabilidade 1 3,538 58,968 58,968 3,538 58,968 58,968 FONTE: Dados da pesquisa Tabela 3: Determinação dos fatores do modelo. A utilização dos fatores corresponde a uma variância explicada total de 100%. No entanto, nota-se que a utilização de apenas um fator, a variância cumulativa explicada é superior a 36% (Fator de Endividamento). Desse modo, a Análise Fatorial permitiu agrupar as variáveis, e constituir o Fator Endividamento, Fator Liquidez e Fator Rentabilidade. 4. Análise dos dados A Tabela 4 evidencia a correlação das variáveis estudadas na pesquisa em que o VIF (Variance Inflation Factor), apresenta-se, em todas as variáveis, com valores entre 1 e 10, possibilitando portanto, reconhecer a ausência de problema de colinearidade. Variáveis VIF IDA Fator de Rentabilidade IDA - 1 Fator de Rentabilidade 1,072-0,031 1 Fator de Liquidez Fator de Endividamento Fator de Liquidez 1,128-0,230*** -0,139** 1 Fator de Endividamento 1,072 0,702*** -0,171*** -0,278*** 1 FONTE: Dados da pesquisa Tabela 4: Análise de Correlação das variáveis. Observa-se, a partir da Tabela 4, a existência de correlação estatisticamente significativa e positiva entre Fator de Endividamento e o Índice de Disclosure Ambiental (IDA) (r = 0,702, nível de significância de 1%). Esse resultado corrobora a premissa de que empresas com elevado nível de endividamento tendem a aumentar o nível de divulgação para diminuir a percepção de risco dos investidores ao reduzir a assimetria de informação. Já a correlação entre IDA e Fator de Liquidez, apresenta-se significativa, porém negativa. Por fim, não se observou relação estatisticamente significativa entre Fator de Rentabilidade e IDA.

Para a análise de regressão disposta na Tabela 5, foram realizados testes de diagnósticos de painel, a fim de conhecer qual o modelo de análise melhor se aplica para atender ao objetivo da pesquisa. Conforme Fávero et al. (2009, p. 382), a análise de dados em painel possui três abordagens mais comuns: pooled independente cross-sections (ou POLS pooled ordinary least squares), efeitos fixos e efeitos aleatórios. Variável dependente: IDA Período Considerado: 2010-2015 Total de Observações 240 Variáveis Modelo#1 Modelo#2 Modelo#3 Pooled Efeitos-Fixos Efeitos-Aleatórios Constante 0,4931*** 0,4931*** 0,4931*** 51,9 98,17 23,37 Variáveis Independentes Fator Endividamento 0,0184* 0,0001 0,0032 1,868 0,0156 0,383 Fator Liquidez -0,0038 0,0038 0,0021-0,379 0,387 0,231 Fator Rentabilidade 0,1468*** 0,1839*** 0,1740*** 14,45 11,9 13,25 R quadrado 0,492 0,858 - F de Fisher 78,38*** 35,44*** - Akaike (CIA) -234,59-505,86-224,75 Schwarz (CIS) -220,67-356,2-210,83 Teste F 16,59 [0,006] Teste Breusch-Pagan 297,69 [0,000] Teste Hausmann 3,78 [0,285] FONTE: Dados da pesquisa Tabela 5: Análise de Regressão. Segundo Fávero et al. (2009) os testes a serem aplicados são os seguintes: (i) teste F de Chow para observar se o intercepto é igual (pols) ou diferente (efeitos fixos) para todas as croossections; (ii) teste LM de Breusch-Pagan para verificar se a variância dos resíduos que refletem as diferenças individuais é igual (pols) ou diferente (efeitos aleatórios) de zero e; (iii) teste de Hausman para comparar os resultados do modelo de efeitos fixos com o de efeitos aleatórios. Assim, os testes aplicados evidenciaram que o modelo de Efeitos Aleatórios é o mais adequado à pesquisa. No geral, observa-se as únicas variáveis que apresentaram uma relação forte é o Fator de Rentabilidade com um coeficiente de 17,40% com a variável dependente IDA. A respeito deste achado pode-se observar conforme Akerlof (1970) que empresas com maior rentabilidade possuem tendência a publicar mais informações com intuito de se diferenciar de outras menos rentáveis. Ademais, com isso buscam reduzir o risco de seleção adversa, o que poderia gerar inúmeros benefícios, como redução do custo de captação e aumento da liquidez pela redução da assimetria informacional (ROVER et al., 2012). No que se refere aos fatores endividamento e liquidez não se observou relações estatisticamente significativas com o IDA. Isso permite inferir que essas variáveis não influenciam o disclosure ambiental. Em relação ao endividamento, o resultado vai ao encontro do estudo de Rover et al., (2012) em que refutaram a hipótese formulada com esta variável concluindo que tal característica não explicava a divulgação ambiental em empresas brasileiras com alto potencial de poluição. Ademais, este achado não corrobora o proposto por

Lanzana (2004) de que empresas com maior grau de endividamento tendem a apresentar maior nível de divulgação, visto que necessitam fornecer maiores informações a seus credores. Concernente a liquidez, é apregoado que uma maior divulgação dos aspectos ambientais contribui para a criação de uma imagem ambientalmente correta, redução do custo de capital e aumento da liquidez das ações e da organização como um todo, sendo assim um diferencial para as que adotam esta postura (Rover et al., 2008). Contudo, no presente estudo não foi possível comprovar de que a divulgação de informações ambientais favorece o desenvolvimento da imagem corporativa e colabora para a vantagem competitiva. Diferentemente dos achados esperados, o endividamento não se apresentou como fator influenciador no nível de divulgação de informações ambientais. A princípio, esperava-se que empresas com índices de endividamento mais elevado apresentassem maior disclosure ambiental, a fim de mitigar riscos em face de seus investidores e atrair novos. O fator rentabilidade, no entanto, mostrou-se como com correlação expressiva. 5. Considerações Finais A presente pesquisa teve por objetivo identificar se os indicadores econômico-financeiros possuem relação com nível de disclosure ambiental de 40 empresas com ações listadas na BM&FBovespa e pertencentes ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), no período de 2010 a 2015, totalizando, portanto, seis anos de análise. Ressalta-se que as preocupações com a evidenciação das informações relacionadas ao meio ambiente circunscrevem todos os segmentos econômicos, e por isso, esse estudo não segregou as empresas de um único setor, e sim de todas as listadas no ISE. Os dados do estudo evidenciaram a existência de significativa correlação entre as variáveis nível de divulgação ambiental e rentabilidade, diferentemente dos resultados obtidos por Pedron (2014), o qual investigou essa relação em empresas listadas na BM&FBovespa nos anos de 2006 a 2012, ressaltando-se, no entanto, que o fator rentabilidade de tal estudo foi construído a partir de dois indicadores econômicos o retorno sobre o patrimônio (ROE) e retorno sobre os ativos (ROA). Estas evidências confirmam a teoria dos stakeholders na medida em que provam que: quanto maior a rentabilidade da empresa maior o nível de divulgação desta. Isso pode possibilitar na política de melhor aproveitamento dos recursos nos imperativos sociais e econômicos sem comprometer o meio ambiente, aumentando o rendimento econômico e criando valor para a empresa. Hoje ainda, o disclosure ambiental não atingiu sua efetiva importância dentro das organizações, mas é evidente que tal cenário está passando por mudanças. Quando comparado há alguns anos, o nível de divulgações ambientais das empresas sofreram um significativo aumento. Preocupar-se com a função-obejetivo da organização (gerar lucros) deve com o decorrer do tempo ser uma característica inerente a outros objetivos, sejam eles sociais ou ambientais. Por fim, sugere-se para o desenvolvimento de novas pesquisas: (i) A análise de outras empresas listadas na BM&FBovespa, mesmo que não listadas no ISE, para assim se fazer um comparativo ou contraponto entre os achados; (ii) A análise de empresas de separadas por setores; (iii) alargar a proposta para outros indicadores econômico-financeiros. Referências AKERLOF, G. The market for lemons : quality, uncertainty and market mechanism. Quarterly Journal of Economic, Cambridge, v.84, n.3, p.488-500, aug.1970.

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