LUIZ CARLOS TOMEDI JUNIOR A DESCRIÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA REGIÃO DA INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DE PINTO BANDEIRA, BENTO GONÇALVES RS.



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Transcrição:

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLÓGIA DO RIO GRANDE DO SUL CAMPUS DE BENTO GONÇALVES LUIZ CARLOS TOMEDI JUNIOR A DESCRIÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA REGIÃO DA INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DE PINTO BANDEIRA, BENTO GONÇALVES RS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus Bento Gonçalves como parte dos requisitos para a conclusão do curso. Professor Orientador: Dr. Eduardo Giovannini Bento Gonçalves 2009

Agradecimentos Em primeiro lugar a minha família, pela estrutura concedida durante toda a vida, sem a qual seria impossível a vivência de momentos como esse; À Embrapa Uva e Vinho, por ter me concedido a oportunidade de desenvolver este trabalho em suas dependências, e por ter me acolhido como estagiário durante boa parte do decorrer do Curso, que com este estou a concluir; À Dra. Rosemary Hoff, muito mais do que uma orientadora neste período em que permaneci na Embrapa, uma verdadeira motivadora na busca pelo aperfeiçoamento tanto das capacidades profissionais quanto pessoais; Aos colegas Guilherme Menezes, Rafael Munari Torri, Vinicius Bacca, André Coutinho, Raquel Pöerschke e Cláudia, pelos desafios enfrentados em parceria e amizade durante o período no qual estive estagiando na Embrapa; Aos colegas de curso, em especial a Guilherme Menezes, Valmor Guadagnin, André Luís Perez Jr., Leonardo Benvenutti, Carolina Pozzebon, Silvana Dall Agnol, Sandro Marcelo Saul, Vinicius Cainelli, Arley Pereira, pela amizade e companheirismo durante todo o curso; À minha namorada Gabriela Kleinowski, que esteve sempre presente em todos estes momentos citados anteriormente, sempre compreendendo os momentos difíceis, estimulando, e compartilhando as imensas felicidades que tive no decorrer deste percurso; A todo corpo docente do antigo CEFET-BG, por ter me transmitido todo este conhecimento singular, que é a elaboração de vinhos, e mais do que isso, momentos também de amizade e companheirismo; Em especial ao grande mestre Dr. Eduardo Giovannini, pelas melhores e mais sinceras aulas que tive no curso, pela sua humildade apesar do todo seu enorme conhecimentos, e por ser um grande amigo, na viticultura, no Rock n Roll, e na vida; A todos, que mesmo por um segundo, tenham participado desta caminhada exitosa e não podem ser representados em uma única folha de agradecimentos. 2

RESUMO Este trabalho teve o objetivo descrever a caracterização geográfica da delimitação da Indicação de Procedência de Pinto Bandeira, Bento Gonçalves RS, em aspectos que possam subsidiar a implantação da viticultura mais favorável, como a declividade e exposição solar, que, conforme a bibliografia posteriormente apresentada são fundamentais para que se obtenham uvas de qualidade. Utilizou-se imagens aerofotogramétricas, proporcionadas pela Embrapa Uva e Vinho, das quais foi possível obter os mapas dos aspectos mencionados, bem como o cálculo de áreas relativas às classes predeterminadas. Ao final, o trabalho expõe os resultados relativos a cada aspecto estudado, concluindo ser a região abordada, em sua maioria, interessante para a viticultura. Palavras-Chave: Sensoriamento Remoto, MNT, Declividade, Exposição Solar, Uso e Cobertura do Solo, Indicações Geográficas, Pinto Bandeira Bento Gonçalves RS. 3

SUMÁRIO Introdução...6 1 Localização e Caracterização da Área em Estudo...8 1.1 A Região de Pinto Bandeira...8 2 Revisão Bibliográfica...10 2.1 As Indicações Geográficas no Brasil...10 2.2 Sensoriamento Remoto...12 2.3 Aerofotogrametria...12 2.4 Aplicação à Viticultura...13 2.5 MNT (Modelagem Numérica do Terreno)...14 2.6 Declividade e Exposição Solar para Viticultura...14 2.6.1 Declividade...17 2.6.2 Exposição Solar...17 3 Materiais e Métodos...19 3.1 Corte da Imagem...20 3.2 Mapa de Uso e Cobertura do Solo...20 3.3 Mapa de Declividade e Exposição Solar...21 4 Resultados e Discussões...23 4.1 Mapa de Uso e cobertura do Solo...24 4.1.1 Resultados e Análise de Áreas com Base no Mapa de Uso e Cobertura do Solo...25 4.2 Mapa de Declividade...26 4.2.1 Resultados e Análise de Áreas com Base no Mapa de Declividade...27 4.3 Mapa de Exposição Solar...28 4

4.3.1 Resultados e Análise de Áreas com Base no Mapa de Exposição Solar...29 5 Conclusões...30 Bibliografia...31 5

Introdução Este projeto apresenta a elaboração de um trabalho para a descrição da caracterização geográfica através de imagens aerofotogramétricas da área pertinente à Indicação de Procedência dos Vinhos de Montanha, localizada junto ao distrito de Pinto Bandeira, no município de Bento Gonçalves RS, no que tange os aspectos geográficos de declividade, exposição solar e uso e cobertura do solo, através de softwares de geoprocessamento e sensoriamento remoto, com recursos para extrair dados de imagens oriundas de sensores, que poderão contribuir para qualificar a viticultura na região abordada. Os aspectos geográficos mencionados são importantes para a implantação de vinhedos uma vez que poderão fornecer dados que poderão contribuem para que a viticultura da região estudada se desenvolva, obtendo uvas de melhor qualidade, o que acarretará na valorização do produto. A escolha da região se deu em função de sua importância no panorama vitivinícola nacional, uma vez que esta, conforme Tonietto (2007), produz variedades viníferas em 450 hectares, que estão sendo trabalhados para receberem o selo de indicação de procedência do Instituto Nacional de Propriedade Industrial INPI. Segundo Flores et al (2005), foi constituída uma Comissão Técnica com representantes dos Associados da ASPROVINHO, pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho e da Universidade de Caxias do Sul, com o objetivo de elaborar o projeto de uma Indicação de Procedência (IP) para vinhos da região de Pinto Bandeira, conforme já documenta também o site da ASPROVINHO (Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira) (2008), reconhecimento que no âmbito vitivinícola ainda é exclusividade da Região do Vale dos Vinhedos. Flores et al (2005) comentam sobre os elementos da primeira versão normativa para a qualificação da indicação de procedência, tais como a delimitação da área geográfica, sistema de produção vitícola, área de produção autorizada, cultivares autorizadas, critérios de qualificação dos vinhos, área geográfica de elaboração, envelhecimento e engarrafamento, padrões de identidade e qualidade química e sensorial dos produtos. 6

A delimitação geográfica da normativa estabelecida, bem como a disponibilidade das imagens, e a estrutura para o seu tratamento se desenvolveram no Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da EMBRAPA Uva e Vinho, em Bento Gonçalves. Os objetivos específicos deste trabalho são extrair dados de declividade, exposição solar e uso e cobertura do solo de imagens aerofotogramétricas para caracterização da Região, no que cerne a viticultura, visando contribuir com estes dados para Indicação de Procedência, projeto que foi lançado em 2006 pela ASPROVINHO (Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira), e que, conforme mencionado, está em tramitação junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), para adquirir o selo de Vinho de Montanha, visando ainda contribuir procurando a produção com excelência na qualidade. 7

1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO 1.1 A Região de Pinto Bandeira A região de Pinto Bandeira é atual distrito de Bento Gonçalves RS, localizada nas coordenadas 29º 00 35 S, 51º 38 08 W; 29º 11 17 S, 51º 25 02 W, e conforme Flores et al (2005) passou a receber imigrantes italianos a partir de 1876, vindos especialmente da região do Vêneto, se instalando em pequenas propriedades chamadas colônias, de 24 hectares, agrupadas em Linhas, tais como a Linha Jacinto, Jansen, Pinheiro, entre outras. Nos primórdios, as atividades desenvolvidas pelos imigrantes eram exclusivamente familiares e agrárias, dedicados a diversos tipos de culturas. Segundo a ASPROVINHO (2008), o plantio de videiras se iniciou por volta de 1878, sendo que em 1880 já havia uma pequena produção de vinhos de variedades americanas (vinho de mesa) elaborados de forma artesanal nos porões das casas. O fator cultural certamente incidiu, sendo que a partir do início do século XX, a policultura foi deixada de lado em detrimento da viticultura, que veio a se solidificar na região. Flores et al (2005) explicou que:...o verdadeiro impulso da vitivinicultura em Pinto Bandeira foi dado em 1930, com o estabelecimento de um posto de vinificação da Companhia Vinícola Riograndense S.A. com sede na cidade de Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Por muitos anos ela centralizou a produção e a comercialização de vinhos e derivados da uva, colaborando na disseminação de algumas variedades Vitis vinífera. Completa dizendo que com o advento do cooperativismo surgem novas associações de viticultores, como a Cooperativa Vinícola São João Ltda. com 84 associados, e a Cooperativa Vinícola Linha Jacinto Ltda., com 45 associados. 8

A partir dos anos 1970, ainda conforme Flores et al (2005), houve tendência a monocultura da videira, onde atualmente, se produz cerca de 1200 hectares de videiras, sendo 450 destes são de variedades da espécie Vitis vinífera, destacando-se, para elaboração de vinhos finos brancos e/ou espumantes as cultivares Chardonnay, Riesling Itálico e Moscatel Branco, e os vinhos finos tintos são elaborados com as cultivares Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Pinot Noir e Tannat, localizados em cotas altimétricas superiores a 500 m, nos topos dos morros e nas meias encostas, com predominância naquelas com melhor exposição solar. 9

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 As Indicações Geográficas no Brasil Tonietto (2003) dividiu a evolução da vitivinicultura em 4 períodos evolutivos. O primeiro, denominado de Vinhos de Americanas, se deu a partir de 1875 com a colonização italiana na região atualmente conhecida como Serra Gaúcha, implantando vinhedos inicialmente para consumo familiar. Com o passar do tempo, estes vinhedos geraram excedentes, que passaram a ser comercializados no Rio Grande do Sul e outros estados. A partir dos anos de 1929 e 1930, conforme Tonietto (2003), iniciou-se o chamado segundo período evolutivo, quando se implementaram as primeiras cooperativas vinícolas, que foram se consolidando à medida que tiveram que aumentar a produção para atender um mercado crescente no país. Conforme o autor, neste período, que durou até o final dos anos 60, observouse também uma diversificação de produtos, a partir da elaboração de vinhos de híbridos e de viníferas, que eram comercializados em pipas de 100 litros ou em garrafões, e da consolidação da elaboração de espumantes pelo método tradicional. O terceiro período evolutivo, conforme Tonietto (2003), foi denominado de período de Vinhos Varietais, que se caracterizou pelo aumento significativo da produção e a substituição das variedades viníferas de origem italiana, tais como Barbera, Bonarda e Sangiovese, por variedades viníferas de origem francesa, como Cabernet Franc, Merlot e Chardonnay. Além disso, as indústrias vinícolas realizaram modernizações e investimentos impulsionadas pela chegada de indústrias estrangeiras. Neste período, que teve início nos anos 70, o vinho brasileiro conquistou um bom conceito junto ao consumidor brasileiro. Atualmente, conforme Tonietto (2003), a vitivinicultura nacional está vivenciando o seu quarto período evolutivo, denominado pelo autor como Vinhos de Qualidade Produzidos em Regiões Determinadas. Este período começou a ser fundamentado nos primórdios dos anos 90, onde conforme Tonietto (2003): 10

o consumidor brasileiro passou a ser estimulado com a presença de vinhos importados no mercado nacional...neste novo cenário, surgiu um consumidor mais exigente, que quer conhecer mais sobre o vinho, suas qualidades, sua procedência, a diversidade quanto as variedades, safras, etc., como mostram as pesquisas realizadas junto ao mercado consumidor brasileiro (Ibravin/Ufrgs, 2001). Essa mudança no mercado tem estimulado os vitivinicultores brasileiros a agregarem novos elementos de qualidade aos vinhos nacionais. A principal iniciativa visa a implementação de indicações geográficas, com a produção de vinhos de qualidade produzidos em regiões determinadas, como uma alternativa para o aumento da competitividade do vinho brasileiro... A possibilidade de implementar indicações geográficas no Brasil se deu, ainda conforme Tonietto (2003), em função do advento da Lei n.º 9.279 Lei da Propriedade Industrial, de 14 de maio de 1996 (BRASIL, 1996). Conforme o autor, com ela, pela primeira vez o Brasil veio a contemplar a possibilidade da proteção legal das indicações geográficas para seus produtos vitivinícolas e, igualmente, para outros produtos da agropecuária e da agroindústria nacional. Com base na legislação, conforme Tonietto (2003), em 22 de novembro de 2002 o Instituto Nacional da Propriedade Industrial INPI, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, assinou o Registro de Indicação Geográfica n.º IG200002, reconhecendo a denominação Vale dos Vinhedos como Indicação Geográfica (espécie da Indicação Geográfica: Indicação de Procedência) para vinhos tintos, brancos e espumantes. Tonietto (2003), ainda completa, mencionando que: observa-se direcionamento para potenciais futuras indicações geográficas, incluindo, dentre outras: - Serra Gaúcha, com sub-regiões como Vale dos Vinhedos (já implantada), Pinto Bandeira, Flores da Cunha Nova Pádua, dentre outras; - Campanha; 11

- Serra do Sudeste; - Vale do Submédio São Francisco. Tal direcionamento virá a colocar o Brasil como produtor de vinhos de qualidade em distintas regiões determinadas, a exemplo do que ocorre na prestigiada viticultura Européia. 2.2 Sensoriamento Remoto Segundo Novo (1989) nós podemos definir Sensoriamento Remoto como sendo a tecnologia que permite a aquisição de informações sobre objetos sem contato físico com eles. Mais adiante, ainda menciona que o termo é associado à aquisição de medidas nas quais o ser humano não é parte essencial do processo de detecção e registro dos dados. Tendo estas definições, o autor conceitua o Sensoriamento Remoto como...a utilização de sensores para a aquisição de informações sobre objetos ou fenômenos sem que haja contato direto entre eles. Os sensores seriam os equipamentos capazes de coletar energia proveniente do objeto, convertê-la em sinal passível de ser registrado, e apresentá-lo em forma adequada à extração de informações. 2.3 Aerofotogrametria Fontes (2005) diz que a aerofotogrametria refere-se às operações realizadas com fotografias da superfície terrestre, obtidas por uma câmara de precisão, com o eixo ótico do sistema de lentes mais próximo do vertical e montada em uma aeronave preparada especialmente. Câmara et Al. (1996) informa que as fotografias aéreas possuem duas funções principais: como componente gráfico, servindo como fundo sobre o qual outras informações são apresentadas, e como fonte de dados. Ou seja, é possível utilizar a aerofotogrametria na obtenção de dados relevantes acerca de uma determinada região. 12

2.4 Aplicação à Viticultura Muito já tem sido feito para desenvolver a produção vitivinícola, sendo aplicadas as mais diversas tecnologias. No caso do sensoriamento remoto não é diferente. Falcade e Mandelli (1999) na caracterização geográfica do Vale dos Vinhedos, utilizaram imagens de satélites Landsat TM e o software de geoprocessamento IDRISI, para extraírem dados da mais alta relevância para o cultivo da videira, tais como a declividade, uso e cobertura do solo e exposição solar da região estudada. Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos no Laboratório de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto da Embrapa Uva e Vinho visando caracterizar as regiões vitivinícolas brasileiras, como foi o caso do Vale dos Vinhedos, e a própria região de Monte Belo. Hoff et al (2007) apresentaram o uso de imagens ASTER e SPOT para o estudo geomorfológico e de uso e cobertura do solo na Serra Gaúcha, assim como tem sido feito com outros sensores e áreas. Flores et al (2005) já descreveram as características históricas, de clima e de solo da região de Pinto Bandeira, bem como elementos dos vinhos de montanha (perfil em que se enquadra a região), o perfil das vinícolas, a composição das uvas e a tipicidade dos vinhos, o projeto da Indicação Geográfica e o enoturismo. Esta caracterização se deu com o auxílio de cartas geográficas, levantamentos de reconhecimento de solos, bem como o estudo da geologia, geomorfologia, dados de produção entre outros aspectos que possibilitaram embasar o projeto de indicação geográfica. Trabalhos de graduação e dissertações de mestrado têm sido realizados também se utilizando destes conceitos. Torri (2009) realizou pesquisa na localidade de Silveira Martins, no interior de Santa Maria RS, sobre a influência dos fatores geográficos na qualidade da uva produzida por lá. Coutinho (2008) utilizou sensoriamento remoto e análise radiométrica na definição do terroir da região de Pinto Bandeira. A solicitação da Indicação de Procedência dos Vinhos de Montanha de Pinto Bandeira se deu em 1º de outubro de 2008, conforme Jornal Gazeta da mesma data. Na data em questão, um dossiê com mais de quinze documentos caracterizando a região em aspectos como clima, solo, métodos de produção, produtos característicos, e outros, foi entregue ao INPI (Instituto Nacional 13

de Propriedade Industrial). Assim, especula-se aproximadamente um ano de tramitação, para que os vinhos e espumantes da região de Pinto Bandeira recebam o selo de Indicação de Procedência. 2.5 MNT (Modelagem Numérica do Terreno) Conforme Felgueiras (1998) um Modelo Numérico do Terreno é a representação matemática computacional da distribuição de um fenômeno espacial que ocorre dentro de uma região da superfície terrestre. O autor aponta alguns fenômenos que podem ser representados por MNT, tais como os Dados de Relevo, ou mesmo Geofísicos e Geoquímicos. Burrough (1986) APUD Felgueiras (1998) cita alguns usos do MNT, dentre os quais está a elaboração de mapas de declividade e exposição para apoio a análise de geomorfologia e erodibilidade, os quais são resultados pertinentes ao estudo em abordagem. Ainda segundo Felgueiras (1998): Para a representação de uma superfície real no computador é indispensável a elaboração e criação de um modelo digital, que pode estar representado por equações analíticas ou um rede (grade) de pontos, de modo a transmitir ao usuário as características espaciais do terreno. Através desta grade, é possível gerar os mapas já citados, podendo-se atribuir classes para a característica do terreno estudada, possibilitando o fatiamento nos intervalos desejados, bem como o cálculo das áreas destas classes e/ou intervalos. 2.6 Declividade e Exposição Solar para Viticultura Conforme Falcade e Mandelli (1999), a incidência de radiação solar ou insolação atinge diferentemente a superfície dependendo da inclinação (declividade) e da orientação (exposição) das vertentes. 14

A importância da radiação solar não se refere apenas a necessidade da videira enquanto vegetal clorofiliano que transforma a energia absorvida em açúcar, mas à temperatura do ar em torno da planta e às possibilidades que diferentes temperaturas têm de provocar diferenças de pressão entre o fundo dos vales, ao longo das encostas e topo dos patamares e, assim, provocar uma circulação do ar mais intensa e, consequentemente, a retirada da umidade presente no ar e na planta, tão prejudiciais à qualidade de produção vitícola. O estudo destas variáveis, conforme Falcade e Mandelli (1999), possibilita a identificação dos critérios de melhor exposição e melhor declividade, considerando as áreas com melhores condições de insolação potencial. Comentam ainda que o ângulo de insolação varia, diariamente, em função da latitude, da declinação solar, do horário e, em áreas acidentadas, da declividade da vertente e do seu azimute Falcade e Mandelli (1999) APUD (Strahler, 1977; Heidrich, 1980). Falcade e Mandelli (1999) ainda descreveram as características geográficas de declividade e exposição do Vale dos Vinhedos, conforme a latitude, para apresentar as áreas em que potencialmente as videiras receberiam maior insolação solar. Levando-se em consideração que a latitude da região de Pinto Bandeira é praticamente a mesma do Vale dos Vinhedos, sendo aquele localizado entre as latitudes de 29º 00 Sul e 29º 11 Sul, e a do Vale dos Vinhedos, conforme Falcade e Mandelli (1999), se apresenta em torno dos 29º 10 Sul, podemos concluir que as mesmas características de declividade e exposição solar que apresentarão maior insolação potencialmente no Vale dos Vinhedos, deverão ser as mesmas características na Região de Pinto Bandeira. Assim sendo, segundo Falcade e Mandelli (1999), pode-se dizer que as áreas com melhor potencialidade para receber a maior incidência da radiação solar são aquelas que apresentam orientação norte, nordeste e noroeste, com relevo suave ondulado a ondulado, onde os ângulos de insolação serão mais elevados e a quantidade de energia maior. APUD (Falcade, 1981, 1985). As informações podem ser comprovadas através do experimento realizado por Falcade (1985) que realizou pesquisa, com o auxílio de técnicos da EMBRAPA, no Vale da Leopoldina, localizada em latitude 29º 11 30, onde foram selecionadas 6 propriedades, sendo que 3 delas situadas na vertente voltada para o Norte, e as demais com a vertente voltada para o Sul. Foram coletadas variedades tintas e brancas, viníferas, americanas, e híbridas, sendo realizadas análises 15

de grau Babo, teor de açúcar, acidez total e acidez real, sendo calculadas também a declividade das vertentes e o ângulo de insolação. A autora ponderou que nos resultados das análises feitas nas amostras de uva, temos que a média das variedades cultivadas nas vertentes voltadas para o Norte tem índices superiores à das variedades cultivadas na vertente voltada para o Sul. Falcade (1985) concluiu ainda, dizendo que: na área considerada, sobre a vertente voltada para o Norte, com direção azimutal 45º e declividade média de 7º 30, porque, no período em que a videira mais necessita de calor para a oxidação dos ácidos, isto é, no verão, nesta rampa a insolação é a maior possível, para a latitude considerada, levando-se em conta, ainda, que de manhã, a atmosfera possui maior transparência e que a insolação recebida pela videira é mais rica em radiações caloríficas e luminosas. Falcade (1985) menciona que a superfície que um mesmo feixe de raios solares paralelos cobre é menor na vertente voltada para o Norte, consequentemente, esta deverá ser mais aquecida (em função da maior densidade energética ). Ainda, informa que:...a análise da insolação sobre as formas do relevo permitiu evidenciar a influência desta sobre o teor de açúcar e da acidez na uva produzida, no Vale da Leopoldina. Assim, no plantio de novos parreirais, na região Nordeste do Estado, particularmente nos dias atuais, quando a tendência é cultivar espécies européias que produzem vinhos de qualidade superior, é conveniente que se considere a importância da declividade do terreno e da orientação azimutal da vertente, a fim de que estes sejam alocados em áreas de insolação mais propícia para a produção de melhor qualidade. Motivo maior, para levar em conta a importância da insolação sobre as formas do relevo, é quando se considera que o retorno do capital investido numa determinada atividade é dado em função da qualidade da produção. 16

2.6.1 Declividade Conforme Falcade (1985): no hemisfério meridional, em latitudes extra-tropicais, o Sol eleva-se sempre acima do horizonte norte, portanto, em superfícies inclinadas, como as pertencentes à escarpa do Planalto, serão as vertentes voltadas para o Norte, as que receberão maior insolação (intensidade e período), e as videiras cultivadas vertentes a ela estarão expostas. A medida em que a insolação aumenta, a quantidade de açucares contidos na uva, também aumenta, ao passo que a acidez real (ph) e a acidez total diminuem. São estes índices que nos permitem avaliar a qualidade da produção vitícola... Nas regiões onde a topografia não é plana, os terrenos de meia-encosta são os mais indicados, pois propiciam uma boa drenagem e estão menos sujeitos às geadas primaveris. Não se recomenda implantar vinhedos em áreas com declividade superior a 20% pelas dificuldades que estas apresentam quanto à conservação do solo e tratos culturais. (GIOVANNINI, 2005). Ainda nesta linha, Falcade e Mandelli (1999) observaram que nas áreas de declividade acima de 20%, o uso de mecanização não é recomendado, sendo aconselhável o desenvolvimento de atividades menos causadoras de impactos ao solo e ao trabalhador. 2.6.2 Exposição Solar Falcade e Mandelli (1999) informaram que:...a exposição das vertentes é uma das variáveis geográficas, além da declividade, que interfere na possibilidade que um dado lugar tem de receber radiação solar direta. No hemisfério sul, em latitudes extratropicais, o sol se eleva sobre o horizonte norte sem 17

nunca alcançar o zênite. Assim, em superfícies inclinadas, são as vertentes voltadas para o Norte ou suas mais próximas que potencialmente receberão maior radiação solar, enquanto que as vertentes Sul e suas vizinhas não receberão radiação direta e o menor ângulo de incidência dos raios solares acarretará um recebimento de energia menor. Em geral, os melhores vinhedos são aqueles instalados nas encostas voltadas para o norte, pois recebem maior insolação. Recomenda-se a orientação das fileiras no sentido Leste- Oeste.(GIOVANNINI, 2005). 18

3 MATERIAIS E MÉTODOS Os materiais utilizados para a realização do trabalho são provenientes do Laboratório de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto da Embrapa Uva e Vinho, onde a partir de 2006, através do projeto PROCOREDES / FAPERGS, iniciei estágio na área. Após seis meses, fui vinculado ao projeto APL VINHOS / FINEP, pelo qual tive a possibilidade de realizar treinamentos para obtenção de modelo numérico do terreno (declividade e exposição solar) bem como classificação de áreas através de digitalização de uso e cobertura do solo, alguns deles na própria unidade da EMBRAPA e outros junto ao Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para realizar o aerolevantamento que possibilitou a classificação, em agosto de 2006, a EMBRAPA UVA E VINHO contratou a empresa Multispectral. O aerolevantamento foi realizado na escala de 1:20000, na região de Pinto Bandeira. Tais imagens foram geradas em arquivos digitais, o que juntamente com o treinamento mencionado, possibilitou com que se processassem estas imagens digitalmente. A partir de agosto de 2008, iniciou-se a pesquisa bibliográfica e a confecção dos mapas com as informações desejadas. O procedimento se deu de tal maneira: - Corte da imagem na área que abrange somente o limite da Indicação de Procedência, que foi estabelecido e definido por especialistas, através de uma série de critérios, através do software de geoprocessamento IDRISI. - Elaboração de mapa de classificação supervisionada de uso e cobertura do solo, através de vetorização executada no software Carta Linx. - Geração de produtos do Modelo Numérico do Terreno, como mapas de declividade, exposição solar, entre outros, obtidos no software IDRISI. -Cruzamento de informações para obtenção dos dados, que será realizado no software IDRISI. 19

3.1 Corte da Imagem Inicialmente, a imagem abrangia a região delimitada pela Indicação de Procedência bem como a região ao seu redor. A delimitação da região se deu conforme requisitos estabelecidos pela comissão responsável pelo projeto da IP, já mencionada, se fazendo necessário utilizar o limite estabelecido. Assim, através de um arquivo de imagem com a delimitação da região da IP, pudemos sobrepô-lo ao arquivo de imagem aerofotogramétrica, ambos georreferenciados, através do software IDRISI. Após a inserção do arquivo com o limite da IP, foi possível seccionar a imagem seguindo a linha limite do projeto, possibilitando a obtenção dos resultados dentro da área delimitada. 3.2 Mapa de Uso e Cobertura do Solo A partir do recorte da imagem aerofotogramétrica da região da Indicação de Procedência dos Vinhos de Montanha de Pinto Bandeira, passou-se ao tratamento e interpretação destas imagens. O primeiro passo foi a classificação supervisionada do Uso e Cobertura do Solo da região delimitada. Para tal, foram atribuídas as classes de uso de acordo com o que se conhece da região, e do que é possível se visualizar através das imagens. As classes de uso atribuídas foram: a) Parreirais b) Frutíferas Diversas c) Campos/Pastagens/Sem Cultivo d) Mata Nativa e) Reflorestamento/Floresta f) Concentração de Área Urbana g) Corpos D água 20

3.3 Mapas de Declividade e Exposição Solar Para a obtenção de mapas de declividade e exposição solar, o primeiro passo a ser realizado é a criação do MNT, que é feito através da interpolação das curvas de nível da região abordada. O arquivo digital com as curvas de nível foi obtido através do aerolevantamento realizado na região em setembro de 2006, que também proporcionou as fotografias aéreas. Através deste arquivo, utilizando o software SPRING 5.0, obteve-se a grade triangular (MNT), com resolução de 5 metros. Este dado foi exportado para o software IDRISI Kilimanjaro, onde foi possível o cálculo da declividade e exposição solar. Ainda no IDRISI, no intuito de gerar os mapas de declividade e exposição solar, foram atribuídas classes, seguindo o critério dos trabalhos de Indicações Geográficas desenvolvidos no Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da EMBRAPA UVA e VINHO. Sendo assim, a declividade foi atribuída em percentual, dividida em 5 classes, assim distribuídas: 1) 0-3% - Plano 2) 3-8% - Suave Ondulado 3) 8-30% - Ondulado 4) 30-45% - Forte Ondulado 5) >45% - Montanhoso/Escarpado A exposição solar foi calculada através do mesmo MNT, com resolução de 5 metros, também no software IDRISI Kilimanjaro, onde foram atribuídas 4 classes de exposição conforme os trabalhos de Indicações Geográficas que vem sendo desenvolvidos no Laboratório de 21

Geoprocessamento e Sensoriamento remoto da EMBRAPA UVA e VINHO, sendo distribuídas desta maneira: 1) 0-45º - Classe Norte 2) 45-135º - Classe Leste 3) 135-225º - Classe Sul 4) 225-315º - Classe Oeste 1) 315-360º - Classe Norte 22

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir do tratamento e da interpretação das imagens aerofotogramétricas, foram obtidos mapas de uso e cobertura do solo da região delimitada para a Indicação de Procedência dos Vinhos de Montanha de Pinto Bandeira, bem como o modelo de altimetria gerado pelo MNT, compreendendo os mapas de declividade, exposição solar e o cruzamento destes últimos para determinar a morfologia do terreno da região estudada, possibilitando uma descrição geral destas características, e analisando o potencial vitícola da região associado a estes fatores. Como o trabalho vem sendo realizado desde 2006, foram apresentados alguns resultados parciais apresentados em eventos como o Encontro de Iniciação Científica da Embrapa Uva e Vinho, com o trabalho Atualização de uso e cobertura do solo por meio de dados aerofotogramétricos utilizados na análise da área de Pinto Bandeira, Bento Gonçalves, RS, Brasil. Outras inúmeras contribuições a viticultura, não somente no que diz respeito a região de Pinto Bandeira, mas em todas as regiões de potencial vitícola reconhecido no Brasil, têm sido feitas pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Embrapa Uva e Vinho. Especificamente na Região Delimitada de Pinto Bandeira, obtiveram-se os seguintes resultados, nos seguintes aspectos: 23

4.1 Mapa de Uso e Cobertura do Solo 24

4.1.1 Resultados e Análise de Áreas com Base no Mapa de Uso e Cobertura do Solo A partir do mapa de uso e cobertura do solo, que é uma representação geográfica da disposição destes aspectos sobre o terreno estudado, foi possível a obtenção das áreas de cada classe obtida, em hectares: Classes de Uso e Cobertura do Solo Área em Hectares (ha) Parreirais 3707,95 Mata Nativa 2234,98 Campos/Pastagens/Sem Cultivo 1191,57 Reflorestamento/Outras Florestas 686,85 Concentração de Área Urbana 54,93 Outros Frutíferos 43,55 Águas 41,19 Tendo em vista a tabela acima, pode-se concluir que: O total, em ha, da área estudada é 7974,76. A classe predominante no mapa apresentado é a classe parreirais, que com 3707,95 ha, correspondente a 46,5% da área em estudo, o que indica que a região está fortemente voltada para atividades vitivinícolas; Percebe-se, também, que a área correspondente à classe Mata Nativa apresenta um percentual significativo de 28,02% da área total, o que denota que o percentual de preservação ambiental está sendo preservado; Através da classe Concentração de Área Urbana, que conta com 0,69% da área total, podemos notar que a região conta com baixa concentração urbana, sendo seu desenvolvimento amplamente rural; 25

É possível reparar ainda, que o percentual da classe Concentração de área Urbana é muito parecido com a classe Águas, que representa 0,52% da área total estudada. 4.2 Mapa de Declividade 26

4.2.1 Resultados e Análise de Áreas com Base no Mapa de Declividade A partir do mapa acima, que nos apresenta uma representação gráfica da declividade do terreno na região estudada, foi possível, ainda, a obtenção da tabela baixo, com o cálculo das áreas relativas a cada classe, em hectares: Classes de Declividade em % Área em Hectares 0 3% - Plano 704,28 ha. 3 8% - Suave Ondulado 688,04 ha. 8 30% Ondulado 4029,55 ha. 30 45% - Forte Ondulado 1513,34 ha. > 45% - Montanhoso/Escarpado 1038,76 ha. Conforme o cálculo de áreas obtido, e sua interpretação à luz do mapa gerado, pode-se observar alguns fenômenos acerca da região estudada: O total, em hectares, da área delimitada é 7973,97 ha. Da área total, cerca de 32% encontra-se em declividades superiores a 30%, consideradas como Forte Ondulado e Montanhoso e Escarpado. O restante, ou 68%, encontra-se em declividades ondulada, suave ondulada, e plana, o que se pode concluir que a área predominante encontra-se em classes favoráveis para o desenvolvimento da viticultura, conforme a bibliografia anteriormente apresentada. A classe predominante é Ondulado, com área correspondente a 50,53% da área total. Está presente em praticamente todas as partes da região abordada. A menor área entre as classes estudadas corresponde a classe Suave Ondulado, com 8,63% do total da área. À luz do mapa, percebe-se que as classes Forte Ondulado e Montanhoso/Escarpado, tem predominância extrema na região próxima ao limite da indicação geográfica, o que, 27

conforme a morfologia da região, aproxima-se as declividades maiores, que acabam culminando no rio que contorna o distrito. 4.3 Mapa de Exposição Solar 28

4.3.1 Resultados e Análise de Áreas com Base no Mapa de Exposição Solar O mapa anterior é a representação gráfica da exposição solar incidente na região delimitada. A partir deste, foi possível o cálculo das áreas com base nas classes atribuídas, obtendo-se o seguinte resultado: Classes de Exposição Solar Norte Leste Sul Oeste Área em Hectares 2769,60 ha. 1459,00 ha. 1782,10 ha. 1963.45 ha. Com base no cálculo de áreas, interpretado conforme o mapa de exposição solar é possível observar os seguintes resultados: O total, em hectares da área delimitada é 7974,15 ha. Deste total, a classe mais representativa é a exposição Norte, abrangendo cerca de 35% da área total delimitada, correspondente a 2769,60 ha, o que denota que a região é interessante para a viticultura neste aspecto. A exposição sul abrange cerca de 22% da área total da região delimitada. Com base na observação do mapa, percebe-se que as classes atribuídas estão distribuídas praticamente de maneira uniforme no território delimitado, ou seja, não existe concentração de uma única classe em uma área específica da região abordada. 29

5 CONCLUSÕES Tendo em vista os resultados e discussões apresentados no decorrer do texto, pode-se concluir que a Região da Indicação de Procedência de Pinto Bandeira, no município de Bento Gonçalves RS, é uma região historicamente voltada para o cultivo de videiras, onde esta característica permanece até os dias atuais. No mapa de uso e cobertura do solo apresentado no capítulo anterior, percebe-se que a área relativa à indicação de procedência é predominantemente cultivada com videiras, o que corrobora a conclusão de que esta atividade, historicamente comprovada através da bibliografia apresentada, permanece como a principal atividade da região. Nos mapas de declividade e exposição solar, também apresentados no capítulo anterior, comprovam que a região tem grande área potencial para o desenvolvimento da viticultura, no que tange a estes aspectos. 30

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