AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO TOPOGRÁFICA DOS VINHEDOS NO VALE DOS VINHEDOS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
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- Domingos Gama Morais
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1 AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO TOPOGRÁFICA DOS VINHEDOS NO VALE DOS VINHEDOS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL ELISEU WEBER, ELIANA CASCO SARMENTO, HEINRICH HASENACK Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RESUMO RESUMEN A produção vitivinícola mundial tem apresentado significativas mudanças nos últimos anos com a consolidação de novas áreas produtoras em diversos países. No Brasil houve nas últimas décadas significativo aumento da quantidade e da qualidade da produção interna. Atualmente cerca de 40% dos vinhos finos consumidos no país são nacionais. A principal região produtora é a Serra Gaúcha, onde as condições naturais são heterogêneas e a viticultura constitui atividade de pequenas propriedades familiares. Com a forte competição nos mercados interno e externo, tornou-se necessário buscar produtos distintos em características e tipicidade. A primeira iniciativa neste sentido foi a implementação de uma Indicação Geográfica, a Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos. Tratando-se de uma região de relevo acidentado, a elaboração de políticas para orientar a produção vitícola exige informações detalhadas sobre os fatores topográficos, visto que eles influem na interação com os elementos climáticos. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a situação topográfica dos vinhedos no Vale dos Vinhedos, região da Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul, Brasil, utilizando Sistemas de Informação Geográfica (SIG). O estudo baseou-se na análise de um Modelo Numérico do Terreno (MNT) derivado de 21 cartas topográficas em escala 1: As variáveis topográficas analisadas foram altitude, declividade e orientação. Cada variável foi valorada em uma hierarquia de aptidão e posteriormente as três foram integradas para gerar um mapa de aptidão topográfica. Por último, o mapa de aptidão topográfica foi cruzado com um mapa contendo os limites das áreas de vinhedos. Os resultados mostraram que 67,1% da superfície de vinhedos encontrase sobre áreas de alta aptidão e 29,9% sobre áreas de média aptidão topográfica para o cultivo de videiras. Essas informações mostram que há potencial para a qualificação e tipificação dos vinhos ali produzidos, constituindo importante subsídio para a construção de uma política de valorização da vitivinicultura local. Palavras chave: geoprocessamento, Sistemas de Informação Geográfica, terroir
2 Introdução A produção vitivinícola mundial tem apresentado significativas mudanças nos últimos anos com a consolidação de novas áreas produtoras em diversos países. No Brasil houve nas últimas décadas significativo aumento da quantidade e da qualidade da produção interna, sendo que atualmente cerca de 40% dos vinhos finos consumidos no país são nacionais. O estado do Rio Grande do Sul responde por 95% da produção, com uma área de cerca de hectares plantados com uvas viníferas. A principal região produtora é a Serra Gaúcha, onde as condições naturais são heterogêneas e a viticultura constitui atividade de pequenas propriedades, com média de 15 ha de área total e 2.5 ha de vinhedos, topografia acidentada, pouca mecanização e mão-de-obra familiar (PROTAS et al., 2004). Com o incremento da competição nos mercados interno e externo, tornou-se necessário orientar a atividade para a busca de produtos distintos em características e tipicidade. A primeira iniciativa neste sentido foi a implementação de uma Indicação Geográfica, a Indicação de Procedência (IP) Vale dos Vinhedos (TONIETTO and MANDELLI, 2005). Sabe-se que a qualidade da uva é o resultado da interação de vários fatores, como o clima, o sítio ou topografia local, o solo e a geologia, a cultivar escolhida e as práticas de manejo adotadas na produção (VAUDOUR, 2002). O clima exerce efeito determinante sobre a possibilidade de se produzir uvas de qualidade em uma determinada região, mas na escala local os fatores topográficos assumem grande importância, pois influem na interação com os elementos climáticos, afetando a interceptação da luz solar, a drenagem de ar, a variação da temperatura, entre outros. Tratando-se de uma região de relevo acidentado, a elaboração de políticas para orientar a produção vitícola na IP Vale dos Vinhedos necessita de informações detalhadas sobre os fatores topográficos, visto que eles influem na interação com os elementos climáticos. O presente trabalho tem como objetivo avaliar as características topográficas no Vale dos Vinhedos, região da Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul, Brasil, e a distribuição dos vinhedos com relação à aptidão topográfica ao cultivo de videiras, utilizando Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Material e métodos A área de estudo compreende os limites da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos, localizada na região da Serra Gaúcha, nordeste do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 1). As coordenadas aproximadas variam de ,8 S a ,9 S e de ,7 W a ,1 W. O material utilizado para o desenvolvimento do trabalho consistiu em um
3 levantamento aerofotogramétrico na escala 1:10.000, incluindo a restituição das principais informações planialtimétricas e mosaico digital de fotografias ortorretificadas, software de edição vetorial Cartalinx (Clarklabs ) e software de SIG Idrisi (Clarklabs ). Figura 1. Localização da área de estudo. O primeiro passo foi estruturar uma base cartográfica digital em ambiente SIG, de forma a possibilitar a realização das análises necessárias e a geração das informações de interesse. A base foi estruturada a partir da seleção e extração das camadas úteis das 21 folhas do aerolevantamento, que estavam em formato de CAD (Computer Aided Design), a concatenação das folhas e a edição das bordas para a união dos elementos entre folhas adjacentes. O resultado foi um conjunto de planos de informação contínuos contendo as curvas de nível da topografia, a hidrografia e o sistema viário. A partir das curvas de nível, com eqüidistância vertical de 5 metros, foi gerado um Modelo Numérico do Terreno (MNT). O MNT foi elaborado através de interpolação linear baseada em uma rede triangular irregular (TIN - Triangular Irregular Network), empregando-se uma função parabólica para ajustar as quebras de relevo e eliminar os efeitos de ponte e de túnel (estimar a altitude do fundo dos vales e do topo de elevações). Como resultado obteve-se um arquivo raster com resolução espacial de 5 metros, cujas células contêm o valor da altitude do terreno de cada local. A partir do MNT foram analisadas três variáveis topográficas: a altitude, constituída no próprio MNT, e a declividade e a orientação, calculadas a partir daquele. Em seguida, os
4 mapas de altitudes, de declividades e de orientação foram fatiados e reclassificados para uma escala de aptidão à viticultura, gerando-se três novos mapas raster. Os intervalos aplicados no fatiamento de cada variável foram os mesmos empregados por SARMENTO et al. (2006) para a Serra Gaúcha. As classes de aptidão foram associadas a um valor de ranking, da seguinte forma: Inapta = 1; Baixa = 2; Média = 3; Alta = 4. Após a aplicação dos valores de ranking os três mapas foram cruzados para o cálculo de um valor de aptidão topográfica composto. O método utilizado foi uma combinação linear ponderada, onde o ranking final de aptidão topográfica em cada pixel é uma média dos valores de ordenamento de altitude, declividade e orientação. Áreas inaptas em qualquer uma das três variáveis foram empregadas como restrições absolutas, eliminando a superfície correspondente em todas as demais. Por último, o mapa de aptidão topográfica foi cruzado com o mapa dos vinhedos para uma avaliação da sua situação topográfica, quantificando-se a superfície de vinhedos em cada classe de aptidão. Resultados e discussão A figura 2 ilustra o mapa de aptidão topográfica final, resultado da integração das três variáveis topográficas, evidenciando de forma integrada o potencial e limitações das características topográficas locais para a viticultura. As tabelas 1 e 2 mostram, respectivamente, a área absoluta e proporcional das classes de aptidão de cada variável para a viticultura e do resultado da integração das mesmas no Vale dos Vinhedos. Analisando-se a figura 2, constata-se que a distribuição espacial dos vinhedos coincide predominantemente com áreas de média e alta aptidão topográfica e que as áreas inaptas têm sido evitadas. A pequena ocorrência de vinhedos na porção leste da IP deve-se à proximidade com áreas urbanizadas. Analisando-se os valores das tabelas 1 e 2 constata-se que os vinhedos estão situados em áreas de média e alta aptidão quanto à altitude. Com relação à declividade, a maior proporção dos vinhedos encontra-se sobre áreas de média e alta aptidão, mas 3% dos vinhedos situa-se em áreas consideradas inaptas e 16,8% em áreas de baixa aptidão. Em termos de orientação dos declives, predominam as classes de média e alta aptidão, mas 26,9% dos vinhedos localizam-se em áreas de baixa aptidão. Para o resultado da integração dessas três variáveis, os dados da figura 1 e das tabela 1 e 2 mostram que, com base nos critérios utilizados neste estudo, a maior parte dos vinhedos do Vale dos Vinhedos, cerca de 97% da área, situa-se em locais com média ou alta aptidão com relação à topografia. Apenas uma pequena parte, 3% da área cultivada com videiras, encontra-se em áreas inaptas.
5 29 09'S 51 37'W 51 30'W 29 09'S Inapta Baixa Média Alta N m 29 14'S 51 30'W Figura 2. Localização dos vinhedos e classes de aptidão topográfica no Vale dos Vinhedos. Tabela 1. Área (ha) ocupada por vinhedos nas classes de aptidão de cada variável e da aptidão topográfica final. Classe de aptidão Variável topográfica Altitude Declividade Orientação Aptidão topográfica Inapta Baixa Média Alta Total
6 Tabela 2. Área proporcional (%) ocupada por vinhedos nas classes de aptidão de cada variável e da aptidão topográfica final. Classe de aptidão Variável topográfica Altitude Declividade Orientação Aptidão topográfica Inapta Baixa Média Alta Total O resultado final obtido pelo cruzamento dos mapas individuais de aptidão possibilita a identificação de locais adequados para a viticultura, do ponto de vista topográfico, e a comparação entre diferentes sítios com base nos mesmos critérios. O método utilizado permite que locais menos favoráveis em uma variável possam ser compensados por um ordenamento mais elevado em outra variável, avaliando o efeito da topografia de forma integrada. Conclusões Os resultados mostram que há potencial para a qualificação e tipificação dos vinhos produzidos no Vale dos Vinhedos quanto à situação topográfica dos vinhedos. O uso de SIG facilitou a integração das variáveis, a visualização e a interpretação dos resultados. Referências bibliográficas PROTAS, J. S; CAMARGO, U.A.; MELLO, L.M.R A vitivinicultura brasileira: realidade e perspectivas. Embrapa. ( SARMENTO, E. C.; WEBER, E.; HASENACK, H.; TONIETTO, J.; MANDELLI, F "Topographic modeling with GIS at Serra Gaúcha, Brazil: elements to study viticultural terroir. In: International Terroir Congress 2006, 6. Enita, França. p TONIETTO, J.; MANDELLI, F. (2005). Como organizar, promover y reconocer regiones de excelencia de producción de vinos: Una experiencia de Brasil en Indicadores Geográficos. In: Seminario Internacional de Vitivinicultura, 2. Inifap, Mexico, p VAUDOUR, E., The quality of grapes and wine in relation to geography: Notions of terroir at various scales: Journal of Wine Research, v. 13, no. 2, p
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