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Transcrição:

Registro: 2012.0000597661 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é apelante ANDREIA PAULA CARNEIRO, são apelados FUAD ARB FILHO e FIGUEIREDO E SCARPELLI INTERMEDIADORA LTDA. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente) e LUIZ ANTONIO COSTA. São Paulo, 7 de novembro de 2012 RAMON MATEO JÚNIOR RELATOR Assinatura Eletrônica

Voto nº 01131 Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 Apelante: Andréia Paula Carneiro Apelado: Fuad Arb Filho e Figueiredo & Scarpelli Intermediadora Ltda Comarca: São Paulo Responsabilidade Civil Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais Erro Médico Autora que se submeteu à cirurgia plástica abdominal, puramente estética, e ficou com cicatriz muito aparente, resíduo de flacidez e estrias Dever de prestar as informações sobre os riscos do procedimento cumprido pelo médico Laudo pericial que concluiu pela inexistência de nexo causal entre as deformidades e a conduta do profissional Organismo da paciente que não reagiu bem quando da cicatrização Paciente que, após a cirurgia, aumentou de peso, o que não era aconselhável Dever de indenizar não caracterizado Precedentes desta Câmara Sentença mantida Apelo improvido. Trata-se de apelação interposta contra a sentença de fls. 279/282, que julgou improcedente a Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais proposta por Andréia Paula Carneiro em face de Fuad Arb Filho e Figueiredo & Scarpelli Intermediadora Ltda. Inconformada, a autora apelou, requerendo a reforma do julgado (fls. 284/312). Alega, preliminarmente, cerceamento de defesa, pois a sentença foi proferida de forma apressada, baseandose apenas no laudo pericial, retirando das partes a oportunidade de produção de outras provas. Afirma que a cirurgia plástica consiste em uma obrigação de resultado. Assim, o fato de se informar ao Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 2

paciente as possíveis consequências da operação não isenta o médico da obrigação de indenizar, caso o procedimento seja mal sucedido. Afirma que o médico deveria ter analisado as condições de seu organismo antes da cirurgia e só realizar o procedimento se elas fossem favoráveis e propiciassem o resultado esperado. A autora, no entanto, ficou com aparência pior do que a de antes. Devidamente preparado (fls. 326/327 e 354), o recurso foi processado e contra-arrazoado (fls. 329/344 e 345/351). É o relatório. Preliminarmente, deve-se enfrentar a alegação de cerceamento de defesa. Importante destacar que a fase de instrução não é obrigatória para a solução dos processos, dispondo, inclusive, o Código de Processo Civil, em seu artigo 330, duas hipóteses em que o julgamento da lide pode ser antecipado: I quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência; II quando ocorrer a revelia. Cabe ao magistrado, única e exclusivamente, dizer se entende ser caso de julgamento antecipado ou não. Caso ele esteja convicto da desnecessidade de produção de provas, poderá, desde logo, sentenciar o feito. Caso entenda ser necessária a abertura da fase de instrução, tem a liberdade de avaliar que provas são suficientes para a formação de seu convencimento. Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 3

No presente caso, que trata de responsabilidade civil por erro médico, a realização de perícia médica é, de fato, suficiente para o esclarecimento dos fatos. Somente uma pessoa com conhecimentos técnicos pode analisar a conduta dos médicos e dizer se ela causou danos ao paciente, ou se fatores externos é que foram os verdadeiros causadores das lesões. do mérito. Assim, superada a preliminar, passa-se à análise O recurso não comporta provimento. A apelante alega ter sofrido dano estético e moral diretamente ligados ao erro médico. Ela afirma que realizou cirurgia plástica para modelar e melhorar o aspecto de seu abdômen, que teria ficado flácido e com diversas estrias após as duas gestações. É certo que a responsabilidade civil, nesses casos, exige não só a comprovação de um resultado lesivo, mas também e principalmente, o nexo de causalidade entre a conduta do médico e o dano experimentado pelo paciente. Embora o entendimento majoritário seja de que a obrigação do cirurgião plástico é de resultado, o certo é que não se podem desconsiderar outros fatores externos que influenciam o resultado do procedimento. A única responsabilidade da qual não pode se eximir de forma alguma o cirurgião plástico é de prestar todas as informações ao paciente, inclusive a respeito dos riscos e das cautelas necessárias para uma boa recuperação. Além disso, em que pese seja de resultado a Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 4

obrigação, o certo é que tratando de profissional liberal a responsabilidade é subjetiva, impondo-se a verificação da culpa em sentido lato, para que se possa falar em dever de indenizar. Ensina o Ministro Rui Rosado de Aguiar: "O acerto está, no entanto, com os que atribuem ao cirurgião estético uma obrigação de meios, embora se diga que os cirurgiões plásticos prometam corrigir, sem o que ninguém se submeteria, sendo são, a uma intervenção cirúrgica, pelo que assumiriam eles a obrigação de alcançar o resultado prometido, a verdade é que a álea está presente em toda intervenção cirurgia, e imprevisíveis as reações de cada organismo à agressão de ato cirúrgico. Pode acontecer que algum cirurgião plástico, ou muitos deles assegurem a obtenção de um certo resultado, mas isso não define a natureza da obrigação, não altera a sua categoria jurídica, que continua sendo sempre a obrigação de prestar um serviço que traz consigo o risco. É bem verdade que se pode examinar com maior rigor o elemento culpa, pois mais facilmente se constata a imprudência na conduta do cirurgião que se aventura à prática da cirurgia estética, que tinha chances reais, tanto que ocorrente de fracasso. A falta de uma informação precisa sobre o risco e a nãoobtenção de consentimento plenamente Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 5

esclarecido conduzirão eventualmente à responsabilidade do cirurgião, mas por descumprimento culposo da obrigação de meios (AGUIAR, Rui Rosado. Responsabilidade civil dos médicos. RT 718/33, pp. 39/40). Juntou-se aos autos, uma Declaração de Esclarecimentos Cirúrgicos e Terapêuticos e Termo de Responsabilidade (fls. 31). No documento ficou bem esclarecido que, como qualquer cirurgia, a estética também oferece riscos e que não existe a possibilidade de se prever as complicações que cada paciente pode apresentar. (...) Meu médico me explicou deixando claro que não existe um método de prever de maneira precisa o tempo e a capacidade de cicatrização dos ossos, gengiva, pele, músculos e outras regiões do corpo humano, em cada paciente após a cirurgia. Foi explicado que em algumas circunstâncias as cirurgias podem gerar fatos complicados. Fui informado e compreendi que a prática médica cirúrgica não é uma ciência exata; não podem ser dadas garantias nem certeza quanto ao tratamento ou cirurgia (...). O dever de prestar as informações, previsto no Código de Defesa do Consumidor, foi, portanto, devidamente cumprido. A apelante sabia que, mesmo se tratando de uma cirurgia plástica puramente estética, poderia haver complicações próprias de seu organismo. Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 6

Confira-se, por importante, o seguinte trecho da conclusão do laudo pericial: Diante da análise dos documentos juntados aos autos, bem como dos elementos obtidos quando da anamnese clínica e especialmente dos resultados obtidos no exame físico pericial realizado na pessoa da autora, concluímos que as complicações havidas no pós-operatório da cirurgia de Dermolipectomia Abdominal realizada, através da evolução do quadro de cicatrizes hipertróficas com desenvolvimento de fibrose cicatricial, e depressões junto ao flanco direito, foram decorrentes de fatores extrínsecos, advindos do quadro da formação de coleção serosa ou serossanguinolenta (complicação pósoperatória esperada para o tipo de cirurgia realizada), evidenciada durante a 2ª semana do pós-operatório, optando-se pelo tratamento conservador através de uma drenagem com retirada do líquido coletado, que influenciou sobremaneira na evolução da cicatriza (formação de cicatriza hipertrófica) (...) Observamos que referidas complicações são totalmente previsíveis e bastante comuns de acontecer, tanto que como esclarecido, os procedimentos cirúrgicos de retoques em abdominoplastias são muito comuns e constituem basicamente nas tentativas de melhoria de cicatrizes (...). Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 7

O perito concluiu, então, que a cicatriz que a apelante tem é comum nesse tipo de cirurgia plástica abdominal, não podendo o médico prever que pacientes apresentarão essas complicações. Ele ainda consigna no laudo que os outros problemas apresentados e demonstrados pelas fotos juntadas aos autos consistem em flacidez de parede abdominal e estrias abdominais residuais. Esclarece que, muito provavelmente, esses sinais são decorrentes do aumento de peso da apelante, que, na época da cirurgia, pesava 62 kg e, quando da perícia, pesava 66 kg. Não há, portanto, como estabelecer o nexo causal entre a conduta dos apelados e as sequelas apresentadas pela apelante. Segundo confirmado pelo perito, o procedimento cirúrgico foi bem indicado e realizado. A apelante foi vítima de intercorrências causadas por seu próprio organismo no momento da cicatrização e pelo ganho de peso. Ainda que esses fatores pudessem ser previstos, não se pode imputar ao esculápio o resultado reclamado pela apelante. Inexistindo o nexo causal entre a conduta e o dano, não resta caracterizada a responsabilidade de indenizar, ainda que, ao caso, seja aplicável o Código de Defesa do Consumidor. Em outras palavras, não se nega que quanto aos cirurgiões plásticos obrigação que assumem é de resultado. Os pacientes não se encontram doentes apenas pretendem corrigir um defeito, um problema estético. Se o cliente fica com aspecto pior após a cirurgia não se alcançando o resultado que constituía a própria razão de ser da Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 8

contratação do médico cirurgião plástico, cabe-lhe o direito de indenização, mas impõe-se demonstrar que a cirurgia foi malsucedida. Isso não ocorreu no caso vertente, na medida em que o apelado ilidiu a presunção de culpa, como se depreende do laudo pericial elaborado nos autos. Assim, a sentença de improcedência deve ser mantida tal como proferida. apelo. Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao Ramon Mateo Junior Relator Apelação nº 9100978-51.2008.8.26.0000 - São Paulo - Voto nº 1131 ca 9