FACULDADES INTEGRADAS CAMPOS SALLES CURSO DE GRADUAÇÃO DISCIPLINA: SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE SOCIAL E ÉTICA Professor: Paulo S. Ribeiro Aula 04 Leituras para a aula. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2008 - ler páginas 318 à 321 (não ler "A perspectiva de Bergson). ARANHA, M. L. A. e MARTINS, M. H. P. - Filosofando: introdução à Filosofia. S.Paulo. Moderna. 2003, - Nietzsche e a transvalorização dos valores, página 355. Ler também págnas 220-224; 228-229; COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: ser, saber e fazer. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 240-242; 286-287 MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia.. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed. 2007. p. 162-163. 1.5 - A moral no pensamento contemporâneo Hegel (filósofo alemão, 1770-1831) - A moral como uma construção históricocultural O que julgamos ser a forma e o conteúdo universais de nossa moral está, segundo Hegel, culturalmente determinado. Hegel critica Kant e Rousseau por terem dado mais atenção à relação entre sujeitos e natureza (no sentido das paixões) do que entre sujeito humano e cultura. Também os critica por terem admitido a relação entre a ética e a sociabilidade com base nas relações pessoais diretas entre as pessoas. Na verdade deveriam ter considerado as relações sociais. As relações pessoais são dadas pelas relações sociais. São estas últimas que determinam a ética. Segundo Hegel, somos seres históricos e culturais. Existe uma vontade objetiva construída pela história, a qual é impessoal, coletiva, pública e social. Assim, além de nossa vontade individual subjetiva há outra que determina essa nossa mesma vontade. Para Hegel, essa vontade objetiva é um conjunto de conteúdos determinados (fins, valores, normas, etc.). Esse querer (vontade) impessoal cria as instituições de seu tempo, sejam elas sociais, políticas, religiosas, enfim, assim como a moralidade. A moralidade é uma totalidade formada pelas instituições (família, religião,
artes, técnicas, ciências, relações de trabalho, organização política, etc.), que obedecem, todas aos mesmos valores e aos mesmos costumes, educando os indivíduos para interiorizarem a vontade subjetiva de sua sociedade e de sua cultura. (CHAUÍ, 2008, p. 318). Assim a vida ética, ainda segundo Chauí (2008), é o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural (construída pela história). A soma destas duas vontades é o que caracterizaria o sentimento de dever. Logo, não se teria um dever universal, mas sim construído pela história. Assim, o imperativo categórico de Kant seria universal apenas em determinada época. Não há imperativo categórico desprovido de influência histórica e cultural. O que é permitido ou proibido vai mudando. Logo, ser ético será estar de acordo com a moral vigente. As sociedades mudam quando os indivíduos contestam a moral em voga. O declínio de uma sociedade ou de uma cultura é o momento no qual o antigo acordo entre as vontades subjetivas individuais e a vontade objetiva institucional rompe-se inexoravelmente, anunciando um novo período histórico (CHAUÍ, 2008, p. 319). Na passagem da Idade Média para a Idade Moderna dois momentos são importantes: a reforma protestante e o estabelecimento do contrato social. No caso deste último, o contraponto entre a antiga ideia de comunidade e a nova ideia de indivíduo racional e livre leva à ideia de que a sociedade é instituída por um contrato... (ibidem, p. 320). Para Hegel, seria desse indivíduo moderno dotado de razão e liberdade que partiam Kant e Rousseau. Contudo, este não seria o homem como um ser universal e intemporal, mas sim aquele produzido por um contexto específico da história e da cultura européia. Friedrich Nietzsche (1844-1900) - A genealogia da moral Sua obra é feita no sentido de recuperar as forças inconscientes, vitais, instintivas, colocadas em segundo plano pela razão no pensamento grego. Faz uma crítica a Sócrates por ter colocado a reflexão moral para controlar racionalmente as paixões do homem. Essa domesticação dos sentidos iria desembocar na tradição judaica cristã. Ele fala da incompatibilidade da moral com a vida. Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche preconiza a transvalorização dos valores. Nietzsche vai querer tratar do valor dos valores: o bem e o mal foram criados pelo homem.
A virtude está na força e na potência, como na antiga Grécia quando as lutas não se davam entre o bem e o mal, mas entre forças. Lutava-se não contra um inimigo, mas com um oponente. O mais forte seria o mais virtuoso. Nietzsche será o teórico do niilismo (negação de qualquer crença); Ele faria críticas em relação à idéia de imperativo categórico vista em Kant. Para Nietzsche seu imperativo estaria para além deste sentimento de dever, de cumprimento de uma moral do dever. A moral não seria algo dado por si mesma, como naquele sentimento universal visto em Kant. Ela poderia variar de uma cultura para outra, logo não haveria uma moral universal. Assim, em cada cultura, eleva-se e exalta-se moralmente os instintos que favorecem sua potência (sua existência) e rebaixa-se os demais instintos. Tipos de moral: Moral falsa (de escravos): decadente, de rebanho, de escravos (com valores como humildade, piedade e amor ao próximo). Moral de senhores: baseada no sim a vida, e na promoção dos instintos fundamentais. Deve prevalecer a invenção e criação dos humanos, cujo resultado é a alegria. Assim o indivíduo que consegue se superar é o Super-homem, além do homem, sobre-humano (Übermensch). A moral de escravos enfraquece o homem porque nega os valores vitais. A moral dos senhores estaria à margem destes valores construídos pelo homem. O ressentimento nasce da fraqueza e é nocivo ao fraco. O indivíduo ressentido, incapaz de esquecer, é como o dispéptico: fica envenenado pela sua inveja e impotência de vingança. Ao contrário, o indivíduo nobre sabe digerir suas experiências, e esquecer é uma das condições de manter-se saudável. (ARANHA, 2003, pág. 355) Assim, para Nietzsche é preciso ir além do bem e do mal, além da conduta moral vigente. Mas isso não significa ir além do bom e mau. Trecho da página 356: A dimensão das forças dos instintos, da vontade de potencia, permanece fundamental. O que é bom? Tudo o que intensifica no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência. O que é mau? Aquilo que não dignifica o homem, mas o enfraquece. Trechos de Além do bem e do mal (1886). Existem alturas da alma, de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica". Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles a isso denominam educação -; nenhuma mãe duvida, no fundo do coração, que ao ter seu filho pariu uma propriedade; nenhum pai discute o direito de submeter o filho
aos seus conceitos e valorações". "E assim como o pai, também a classe, o padre, o professor, o príncipe continuam vendo, em toda a nova criatura, a cômoda oportunidade de uma nova posse". "O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal". "Creio que podem mesmo existir puritanos fanáticos da consciência que prefiram morrer com a fé num nada assegurado que com algo incerto". Aquele que por trás não ouve mais que uma vontade de verdade e mais nada, com certeza não é dotado de ouvidos muito apurados" Sartre A questão da liberdade Jean Paul Sartre (filósofo francês,viveu entre 1905-1980). É o autor mais conhecido da corrente existencialista, corrente filosófica preocupada com a questão da existência humana. A principal obra filosófica de Sartre se chama O ser e o nada, de 1939 (há autores que dizem 1943). Segundo consta, nesta obra ele trata do que considera como o ente em-si e o ente para-si (este sim especificamente humano). O ente em- si seria aquele concebido como compacto, rígido, imóvel; O ente para si seria o não estático, não cheio, acessível à possibilidades. Se o homem fosse um ser cheio, total, pleno, com uma essência definida, ele não poderia ter nem consciência, nem liberdade. Primeiro, por que a consciência é um espaço aberto a múltiplos conteúdos. Segundo, por que a liberdade representa a possibilidade de escolha. Por intermédio dela, o homem revela suas aspirações, por algo que ele ainda não é. (COTRIM, 1995, p. 287). A filosofia existencialista sartriana parte de uma concepção do homem como ser cuja existência precede a essência, isto é, o homem não tem uma essência predeterminada, mas ele se faz em sua existência. (MARCONDES, 2007, p. 162) Para Sartre, a existência humana é absurda e sem sentido. O homem tem a consciência de sua morte, e por isso, ao buscar essa identidade absoluta, está condenado ao fracasso (Ibidem, p. 162). Por ser ateu, Sartre sustenta que o homem teria inventado a idéia de Deus, mas este mesmo homem jamais chegaria à esta perfeição, jamais atingiria o absoluto. Assim, restaria ao homem apenas a liberdade, esta sim, fonte de toda angústia humana. Estaríamos condenados a ser livres segundo Sartre. Os homens alienados
recusam essa liberdade por que a temem, temem confrontar o vazio de sua própria existência porque não assumem os riscos e desafios que ela envolve. Porém, o homem autêntico realizará o seu próprio projeto, dando assim sentido à sua existência (Ibidem, p. 163). Retomando, não há uma natureza humana universal, mas uma condição humana, ou seja, o conjunto de limites a priori que esboçam a sua (do homem) situação fundamental no universo. As situações históricas variam: o homem pode nascer escravo numa sociedade pagã ou ser senhor feudal ou proletário. Mas o que não varia é a necessidade para ele de estar no mundo, de lutar, de viver com os outros e de ser mortal. (SARTRE apud COTRIM, 1995, p. 287). O exercício da liberdade impulsiona o homem à agir e gera incertezas, que leva-o á procurar sentidos para a vida, bem como produz a ultrapassagem de certos limites (Ibidem, p. 287).