Inovação tecnológica no Estado do Amazonas: um estudo baseado na Artigo Moisés Israel Belchior de Andrade Coelho Resumo Este trabalho possui como objetivo caracterizar a inovação tecnológica nas indústrias do Estado do Amazonas por intermédio dos resultados obtidos na Pesquisa de Inovação Industrial (). Em termos metodológicos esta pesquisa caracteriza-se como quantitativa-descritiva com universo composto pelas empresas participantes da no estado do Amazonas. As métricas utilizadas na pesquisa objetivaram identificar o comportamento das empresas industriais amazonenses em relação à inovação tecnológica. Nos resultados são apresentadas as tabelas relacionadas às métricas utilizadas para a avaliação da inovação no estado do Amazonas. Nas considerações são apresentadas a síntese das características relacionadas ao comportamento das indústrias amazonenses segundo a. Introdução Atualmente, os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentam políticas públicas crescentemente focadas em P&D em áreas estratégicas inovadoras, dando ênfase ao desenvolvimento, difusão e utilização eficiente de novas tecnologias na economia baseada no conhecimento, com foco principal em informação e conhecimento (CASSIOLATO & LASTRES, 2000). O governo brasileiro vem implantado políticas voltadas para inovação cada vez mais complexas com o intuito de estimular os setores privados a aumentar seu nível e qualidade de investimentos em inovação (CASSIOLATO, 2010). No caso do Amazonas em 2006 foi sancionada a Lei de Inovação do Amazonas (Lei n 3.095 de 17 de novembro de 2006) com o intuito de estabelecer medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho será de caracterizar a inovação tecnológica nas indústrias do estado do Amazonas tendo como base os indicadores da Pesquisa de Inovação Tecnológica (-IBGE). Serão avaliados os resultados do período de 1998-2008. O artigo está estruturado em três partes: a primeira trata de uma breve revisão da literatura relacionada à inovação (seção 1); na segunda parte ocorre a descrição da metodologia (seção 2); e por fim, na terceira parte apresentam-se os resultados da pesquisa (seção 3), as considerações finais e as referências. Inovação e Competitividade O processo de inovação é fundamental para o aumento de produtividade e da competitividade organizacional, o sucesso das empresas está ligado às maneiras de desenvolver o produto e de gerenciá-lo por meio das informações relacionadas ao ciclo de desenvolvimento do produto. A inovação pode melhorar as condições da empresa e favorecer o seu crescimento tornando-se a base da competitividade nas economias mais avançadas em conjunto com as vantagens tecnológicas (FERREIRA, et al. 2010). 57
Inovação tecnológica no Estado do Amazonas: um estudo baseado na No caso das economias em desenvolvimento, onde a inovação se restringe a absorção e ao aperfeiçoamento de produtos já existentes, ocorre o condicionamento de suas posições estratégicas devido, principalmente, aos seus mercados já estarem ocupados por concorrentes, resultando assim, em taxas de crescimento dos mercados inferiores às do início do lançamento dos produtos e, também, observa-se uma redução das margens de lucros ocasionados pelo aumento da produção e pela entrada de imitadores (REZENDE & TAFNER, 2005). Assim, os imitadores não obtêm as margens de lucro extraordinárias dos inovadores, logo não conseguem financiar a continuidade da inovação e do esforço tecnológico. Seus lucros são reduzidos devido à produtividade ser mais baixa, ocorre a predominância de produtos maduros e menos dinâmicos em sua pauta de produção reduzindo suas potencialidades de crescimento e desenvolvimento econômico e social. (REZENDE & TAFNER, 2005). um catalisador para uma posição competitiva superior em longo prazo (FERREIRA, GUIMARÃES & CONTADOR, 2009). Metodologia Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa e descritiva (MARCONI, 1991; GIL, 2002; SILVA & MENEZES, 2005) por buscar analisar setorialmente a inovação tecnológica no estado do Amazonas. Para isto, utiliza-se de dados secundários quantitativos baseados na Pesquisa de Inovação Tecnológica () avaliando os resultados no período de 1998-2008. O universo deste estudo foi composto por todas as empresas participantes da no estado do Amazonas. A delimitação do universo englobou as empresas consideradas inovadoras no estudo do IBGE ao longo do período mencionado. No tratamento estatístico dos dados optou-se por uma análise que permitisse uma visualização mais rica por meio das tabelas, esta abordagem se assemelha à realizada por Pavitt (1984). No tocante às patentes, estrategicamente elas surgem como uma vantagem competitiva às organizações que as adotam geradas pelo desenvolvimento tecnológico, eliminação da concorrência em suas áreas de atuação e aumento do poder de barganha de seu detentor em relação aos consumidores, assim, a patente torna-se As métricas estudadas nesta pesquisa relacionam-se com o estudo apresentado em Cunha (2009) que avaliou as características de inovação nas pequenas empresas. As métricas avaliadas encontram-se na Tabela 01: Tabela 01 - Métricas utilizadas no estudo CONSTRUCTO Comportamento das empresas industriais brasileiras em relação à inovação tecnológica Fonte: Adaptado de Cunha (2009). MÉTRICA Empresas que implementaram inovação Tipo de inovação implementada pelas empresas que inovaram Novidade da inovação implementada Participação dos produtos novos, ou substancialmente aprimorados no total das vendas Empresas que não implementaram inovação e sem projetos e seus motivos Utilização da patente como método de proteção das inovações TABELAS DA 2000 2003 2005 2008 CONSOLIDAÇÃO DO AUTOR Tabela 1 Tabela 2.2 Tabela 2.2 Tabela 2.2 Tabela 1 Tabela 1 Tabela 2.2 Tabela 2.2 Tabela 2.2 Tabela 2 Tabela 1 Tabela 2.2 Tabela 2.2 Tabela 2.2 Tabela 3 Tabela 16 Tabela 2.21 Tabela 2.21 Tabela 2.21 Tabela 4 Tabela 11 Tabela 2.14 Tabela 2.14 Tabela 2.14 Tabela 5 Tabela 3 Tabela 2.6 Tabela 2.6 Tabela 2.6 Tabela 6 58
Inovação tecnológica no Estado do Amazonas: um estudo baseado na Resultados De acordo com a na sua primeira edição (2000) 53% do total de empresas amazonenses implementaram inovações, este percentual aumentou em quase 70% na última edição (2006-2008). A porcentagem de empresas inovadoras chegou a 90% do total do Estado (Tabela 02). A inovação em processo é uma predominância nas quatro edições da referente ao estado do Amazonas, isso pode ser um reflexo da aquisição de máquinas e equipamentos como principal atividade inovativa da indústria local (Tabela 03). Em relação ao grau da inovação implementada (Tabela 04) observa-se que a inovação ocorre com predominância para a própria empresa, tanto em relação a produtos, quanto em relação a processos. O desenvolvimento de produtos e processos novos para o mercado acaba ocupando uma porcentagem muito baixa na indústria amazonense. É interessante salientar que a inovação em processo novo para o mercado ocupa uma porcentagem ainda menor. Das empresas amazonenses que inovam em produtos, o impacto nas vendas desses produtos lançados nas edições de 2003 e 2008, representaram mais de 40% sobre o total das vendas, em detrimento das edições de 2000 e 2005 onde o impacto sobre as vendas ficou entre 10% e 40% das vendas totais (Tabela 05). No que tange às empresas que não implementaram nenhum tipo de inovação, a revelou que na primeira edição (2000) 46% das empresas amazonenses não inovavam, estes percentuais caíram para 38% de empresas que não inovaram no estado na edição de 2008. O principal motivo apontado por estas empresas para não se inovarem foram as condições de mercado seguido por inovações prévias, conforme a Tabela 06. Quanto aos métodos de proteção (Tabela 07) utilizados pelas empresas amazonenses a porcentagem de empresas que utilizam patente nos últimos dez anos não cresceu significativamente, esta situação é um reflexo das inovações no estado do Amazonas se concentrarem em processos. Outro aspecto que pode ser considerado a respeito das patentes diz respeito ao seu processo ser complexo e dispendioso em relação a tempo e custos. Tabela 02 - Empresas que implementaram inovações AMAZONAS Total Inovadoras 2000 428 225 53% 2003 530 322 61% 2005 530 349 66% 2008 737 662 90% Tabela 03 - Tipo de inovação implementada pelas empresas que inovaram produto processo produto 2000 160 149 84 2003 144 175 115 2005 191 275 170 2008 280 414 246 Tabela 04 - Novidade da inovação implementada produto processo Novo para a empresa Novo para o mercado nacional Novo para a empresa Novo para o mercado nacional 2000 134 35 109 47 2003 121 34 152 32 2005 150 47 248 32 2008 252 36 404 19 59
Inovação tecnológica no Estado do Amazonas: um estudo baseado na Tabela 05 - Participação dos produtos novos, ou substanciamente aprimorados no total das vendas Menos de 10% De 10 a 40% Mais de 40% 2000 6,25% 68,75% 25,00% 2003 14,48% 37,24% 48,28% 2005 19,90% 41,36% 38,74% 2008 15,71% 17,50% 66,79% Tabela 06 - Empresas que não implementaram inovação e sem projetos e seus motivos Principais motivos Total de empresas que não inovaram Inovações Condições de Outros fatores prévias mercado impeditivos 2000 196 8 162 26 2003 313 72 180 61 2005 275 28 142 104 2008 281 60 177 44 Tabela 07 - Utilização da patente como método de proteção das inovações Total de empresas que Que implantaram inovação inovaram com depósito de patente com patente em vigor 2000 225 12 5,33% 23 10,22% 2003 203 14 6,90% 16 7,88% 2005 296 16 5,41% 35 11,82% 2008 449 32 7,13% 0 0,00% Considerações Finais A indústria amazonense pode ser caracterizada como inovadora (90% das empresas implementaram inovações), com predominância das inovações em processo. O predomínio de inovações em processos pode ser um reflexo do crescimento econômico dos últimos anos que demandou uma quantidade considerável na aquisição de máquinas e equipamentos. Todavia, as inovações em processo possuem um menor valor agregado, sem mencionar que nem todas as aquisições de máquinas e equipamentos são consideradas inovações. A inovação em produtos ainda não faz parte da estratégia principal de inovação das empresas amazonenses, porém, o impacto nas vendas das empresas que inovaram em produtos somente vem a reforçar a importância na busca por estas inovações como forma de aumento de receita organizacional. Outra característica da indústria amazonense diz respeito às patentes, importante indicador de inovação, que apesar de sua evolução ao longo do período da pesquisa (1998-2008) continua não sendo uma prática das empresas amazonenses resultante, também, das baixas taxas de 60
Inovação tecnológica no Estado do Amazonas: um estudo baseado na inovações em produtos e de sua complexidade. É importante que as políticas públicas incentivem, crescentemente, a inovação em produto para que o Polo Industrial de Manaus não se torne mero imitador das economias mais desenvolvidas conforme apresentado na revisão bibliográfica. Em síntese o comportamento da indústria amazonense resultante da análise da e, principalmente, relacionadas às métricas adotadas nesta pesquisa assume o papel de uma indústria inovadora, com foco nas inovações em processo e na qual as patentes não são utilizadas pela maioria das empresas que inovam em produto. Bibliografia AMAZONAS. Lei n 3.095 de 17 de novembro de 2006. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo no âmbito do Estado do Amazonas, e dá outras providências. Disponível em: http://www.aleam.gov.br/ legislacao.asp. Acesso em: Mar. 2011. CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. Sistemas de inovação: políticas e perspectivas. Parcerias estratégicas, n. 8, p. 237-255, 2000.. Mecanismos de apoio à inovação no Brasil: uma breve nota crítica. In: Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia & Inovação, 4, 2010, Brasília. Disponível em: http://cncti4.cgee.org.br/index.php/ banco-de-documentos/cat_view/60-4o- conferencia-nacional-de-ctai-2010/137- notas-tecnicas-dos-palestrantes?start=60. Acesso em: Março de 2011. CUNHA, R. M. O comportamento das pequenas empresas industriais inovadoras: uma análise da pesquisa de inovação tecnológica brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. Dissertação (Mestrado em engenharia de produção) COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. FERREIRA, C. V.; ET. AL. Projeto do produto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. FERREIRA, A. A.; GUIMARÃES, E. R.; CONTADOR, J. C. Patente como instrumento competitivo e como fonte de informação tecnológica. Gestão & Produção, v. 16, n. 2, jun. 2009. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. Pesquisa de inovação tecnológica 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: http://www. pintec.ibge.gov.br/. Acesso em: abril de 2011. MARCONI, M. A. Técnicas de pesquisa: planejamento, e execução de pesquisas (...). 2.ed. São Paulo: Atlas, 1991. PAVITT, K. Padrões setoriais de mudança tecnológica: rumo a uma taxonomia e uma teoria. Research policy, v. 13, n. 6, p. 343-373, 1984. SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4. ed. rev. atual. Florianópolis: UFSC, 2005. REZENDE, F.; TAFNER, P. (eds.). Brasil: o estado de uma nação. Rio de Janeiro: Ipea, 2005. Moisés Israel Belchior de Andrade Coelho é bacharel em Administração pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrando em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua no SEBRAE Amazonas. 61