O LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO MÉDIO: UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA COM O POEMA: O RETRATO DOS AVÓS DE SÉRGIO DE CASTRO PINTO

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Transcrição:

O LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO MÉDIO: UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA COM O POEMA: O RETRATO DOS AVÓS DE SÉRGIO DE CASTRO PINTO OLIVEIRA, Gabriela Santana de gabrielasantana_118@yahoo.com (Universidade Federal de Campina Grande) 1.Introdução: Em: Letramento literário: teoria e prática Cosson (2006, p. 20) deixa claro que a relação entre literatura e educação está longe de ser pacífica, pois ambas estão em crise, de forma que a variedade de manifestações culturais decorrentes da sociedade contemporânea tem contribuído para que a literatura seja deixada de lado. No âmbito do Ensino Médio essa importante parte da Língua Portuguesa tem se limitado a História da Literatura Brasileira. Tanto o currículo, o livro didático e a formação deficitária do professor reproduzem o estudo de dados biográficos dos autores, características e formas fixas dos diferentes estilos de época ou escolas literária como são mais conhecidas. Nos raros momentos em que o texto literário aparece, estão fragmentados e servem prioritariamente para comprovar as características dos períodos literários antes. Além desse aspecto, a presença da literatura no Ensino Médio ainda é pequena para um aluno que está saindo da escola e talvez nunca mais tenha outra chance de conhecê-la melhor (SILVA, 2014). Ainda tratada como disciplina à parte da Língua Portuguesa, reserva-se uma aula na semana ou as últimas do semestre depois que os conteúdos de português terminam no livro didático, de modo que são raras as oportunidades de se abordar a leitura de poemas, crônicas, contos ou até mesmo o romance. Nesse sentido, Cosson (2006, p. 23) ao afirmar que estamos diante da falência do ensino da literatura defende a perspectiva pautada no letramento literário. É preciso deixar de lado a noção conteudista do estudo da literatura a partir de um contexto histórico sem vinculo nenhum com a experiência de leitura. A partir do momento em que o letramento literário passa a ser visto pela

escola como prática social, podemos amenizar essa triste situação em que ela se encontra. No intuito de se repensar possibilidades de se trabalhar a literatura através da leitura integral dos textos, escolhemos o gênero poesia, visto que ele ainda é muito marginalizado na escola. Além disso, priorizamos um poeta local não contemplado no livro didático e no currículo oficial para conhecermos sua obra por meio de uma experiência de leitura. A pertinência de uma proposta como essa justifica-se pela abertura que ela permite ao professor em buscar na realidade do aluno poetas contemporâneos de qualidade estéticoliterária e que possuem várias antologias publicadas no país e internacionalmente como é o caso de Sérgio de Castro Pinto. Portanto, objetivamos com essa experiência incentivar os docentes a mudarem suas abordagens metodológicas relacionadas ao trabalho com a literatura e especificadamente a poesia. Almejamos também incentivar a formação de alunos-leitores mediante uma prática que prime pelo letramento literário. 2.Metodologia Trata-se de pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, posto que norteamos nossas discussões sobre o letramento literário, o ensino de literatura e a poesia na sala de aula a partir de contribuições teóricas. Em um segundo momento do presente trabalho, relatamos uma experiência de leitura resultante do estudo da obra: O Cristal dos Verões (2007) do poeta paraibano Sérgio de Castro Pinto. Para tanto, escolhemos apenas a vivência com o poema: O retrato dos avós para discutirmos de que maneira se deu a recepção dos alunos e quais estratégias utilizamos para discuti-lo em sala de aula. 3. Resultados e discussão A experiência realizada ocorreu entre Abril e Maio de 2014 em uma turma do 1 ano do Ensino Médio noturno de uma escola pública estadual da cidade de Massaranduba (PB). Decorrente de uma pesquisa de mestrado sobre a recepção da poesia de Sérgio de Castro Pinto na sala de aula,

trabalhamos com vários poemas do livro: O Cristal dos Verões (2007), entretanto, partilharemos a vivência com apenas um poema. Embora a turma fosse noturna, maioria era menor de idade e repetentes. Conhecidos na escola pelo desinteresse e dificuldades de aprendizagem, eles mostravam indiferença a quase todas as aulas dos docentes que ali ministravam suas disciplinas. Apesar de pouco conhecerem sobre poesia conforme disseram em um questionário de sondagem, partimos para o desafio e tivemos resultados promissores que nos convidam à reflexão e flexibilidade para adotar posturas metodológicas que incentivem a leitura de poesia na escola. Segue abaixo a integra do poema: O retrato dos avós as gravatas enforcam as palavras dos avós e se mais tento o diálogo mais se apertam os nós dos avós que se enforcam de cabeça para baixo presos aos seus silêncios cientes dos seus recatos de que não podem falar sobre o que foi viajado e da distância que há entre o neto e seus retratos. Durante esse encontro utilizamos como primeira estratégia de entrada no poema, a conversa inicial sobre a relação de convivência entre eles e os avós. Não queríamos jogar a leitura do poema sem antes conhecer um pouco quais eram suas percepções diante desse tema. Acreditamos que o uso dessa estratégia despertou mais a participação do aluno, o que em sala de aula, é ainda difícil, pois a escola não sabe como dar voz aos discentes e eles consequentemente, não percebem o quanto é importante que opinem em sala de aula. Em uma aula anterior pedimos que eles trouxessem fotografias com os seus avós, pois queríamos prepara-los para a leitura do poema através de uma discussão em torno da realidade deles. No entanto, ninguém levou as fotos solicitadas anteriormente. De certa forma ficamos frustrados, mas também entendemos que talvez eles não quisessem expor esse momento de sua vida.

Começamos então perguntando se alguém morava com os avós. Imediatamente, eles começaram a falar. Como ninguém tinha levado a foto, priorizamos as lembranças que eles tinham fotografadas na memória. Muito séria uma aluna disse que não falava há tempos com os seus avós, pois tinha se desentendido com eles. Outros afirmaram que os avós já tinham falecido e alguns citaram experiências engraçadas e divertidas que tiveram. Esse momento provocou uma maior atenção da turma, aos poucos eles iam lembrando de situações que os fizeram felizes, o que tornou a aula mais divertida e nos aproximou mais daquela turma problemática. Após a leitura silenciosa e a que fizemos oralmente, começamos a ouvir as impressões que eles tiveram nesse momento. Um aluno relatou que na sala de seus avós tinha muitos retratos dos netos quando eram crianças, pois era uma forma de matar a saudade, uma vez que residia distante. A partir disso, utilizamos como estratégia de discussão um questionamento sobre a relação de distância presente no poema. De forma surpreendente um aluno afirmou que se tratava de um choque de gerações, pois os idosos não conseguem acompanhar o mundo dos jovens e vice-versa. Logo depois da afirmação do educando a turma direcionou a discussão para as novas tecnologias e as dificuldades que a terceira idade tem em manusear esses aparatos. De acordo com outro aluno os avós ficam vendo os netos nos retratos porque não conseguem estabelecer outras formas de comunicação, como por exemplo, o uso das redes sociais. Outra aluna ratificou esse ponto de vista defendido por boa parte da turma, ao lembrar que no verso presos aos seus silêncios/ cientes de seus recatos remete para a situação de abandono e exclusão que o idoso sofre na sociedade. Quando perguntamos sobre o que o retrato representa para os avós no contexto do poema, os discentes afirmaram que ele era a única forma de aproximação com o neto, pois o retrato serve como mecanismo de aproximação, o que ajuda os avós a diminuírem essa distância. À medida que eles iam opinando, procurávamos observar juntamente com eles se as hipóteses levantadas se confirmavam no texto. Propor uma discussão de texto poético sem respeitar os limites do texto pode ser frágil demais para se incentivar a formação de leitores de poesia, bem como propiciar uma abordagem metodológica que prime pela leitura enquanto prática social

mediante a proposta do letramento literário enquanto nível desejado a formação leitora e literária do educando que está no Ensino Médio. Considerações Finais Através de uma proposta de leitura efetiva do texto conforme relatamos nesse trabalho, a turma pode se expressar mais, emitir sua opinião por meio dos aspectos linguísticos e estéticos do texto, pois não apenas discutimos a questão temática. Ao longo dessa experiência de leitura eles observaram o tamanho do poema, a linguagem, o jogo sonoro, as imagens utilizadas e a presença ou não de rimas. Sem trazer exaustivas informações históricas de períodos da literatura ou estilos de época, também trabalhamos com os aspectos temáticos do poema através do texto e seus direcionamentos. Sendo assim, acreditamos que uma experiência como essa pode ser um fator estimulante para instigar os alunos a lerem. Não podemos encarar uma atividade dessa dimensão como uma mera perda de tempo, mas como um caminho para começarmos a refletir sobre o lugar da leitura e do letramento literário na formação dos alunos. Portanto, os resultados alcançados nos comprovam que é possível despertar nos discentes o interesse pela leitura de poesia a partir do momento em que se dá vez e voz para os seus conhecimentos prévios. Referências COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. PINTO, Sérgio de Castro Pinto. O cristal dos verões, poemas escolhidos: 40 anos de poesia (1967-2007). São Paulo: Escrituras, 2007. SILVA, Vera Maria Tietzmann. Leitura literária & outras leituras: impasses e alternativas no trabalho do professor. Belo Horizonte: RHJ, 2009.