Nota Trimestral de Conjuntura SEGUNDO TRIMESTRE 2017 Observatório de Políticas Econômicas 2017
FUNDAÇÃO DOM CABRAL NÚCLEO DE ESTRATÉGIA E NEGÓCIOS INTERNACIONAIS OBSERVATÓRIO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS Nota Trimestral de Conjuntura Segundo Trimestre 2017 EQUIPE TÉCINICA Paulo Paiva Professor Associado da Fundação Dom Cabral Foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento Cássio Daldegan Assistente de Pesquisa no Núcleo de Estratégia e Negócios Internacionais da FDC Bolsista de Apoio Técnico FAPEMIG 2
NOTA TRIMESTRAL DE CONJUNTURA SEGUNDO TRIMESTRE 2017 Observatório de políticas Econômicas 1 PRODUÇÃO E DEMANDA AGREGADA No segundo trimestre de 2017, a agropecuária ficou com seu nível de produção estável em relação aos três primeiros meses do ano. A produção da indústria apresentou redução de 0,5% e dos serviços crescimento de 0,6%. O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o período com crescimento de 0,2%. Em relação ao mesmo período de 2016, a variação do PIB foi de 0,3%, encerrando um período de doze trimestres de quedas consecutivas. PRODUTO INTERNO BRUTO* DISCRIMINAÇÃO 2016 2017 II TRI III TRI IV TRI I TRI II TRI PIB a preços de mercado -0,4-0,6-0,5 1,0 0,2 Agropecuária -0,2 0,7 2,1 11,5 0,0 Indústria 0,5-1,4-0,9 0,7-0,5 Serviços -0,7-0,5-0,7 0,2 0,6 Consumo das famílias -1,3-0,3-0,3 0,0 1,4 Consumo do governo -0,2-0,6-0,2-0,7-0,9 Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) 0,4-2,8-1,3-0,9-0,7 Exportação -0,5-2,3-1,0 5,2 0,5 Importação ( - ) 8,3-3,6 3,3 0,6-3,5 * Trimestre/Trimestre imediatamente anterior. Dados dessazonalizados. Tabela 1. Produto Interno Bruto. Fonte: Elaboração Própria a partir de dados disponíveis do IBGE e Banco Central do Brasil. Analisando o PIB pela ótica das despesas, observa-se que o consumo das famílias apresentou crescimento de 1,4% em relação ao primeiro trimestre de 2017. Foi o primeiro resultado positivo após nove trimestres de queda. Em relação ao mesmo período de 2016 houve crescimento de 0,7%. Contribuíram para este resultado a desaceleração da inflação assim como a redução da taxa básica de juros e o crescimento real da massa salarial. Continuaram em trajetória de queda neste segundo trimestre o o consumo do governo (-0,9%) e a Formação Bruta de Capital Fixo (-0,7%), assim como na comparação com o mesmo período do ano anterior (-2,4% e -6,5%, respectivamente). Os resultados da balança comercial mostram crescimento nas exportações (0,5%) e uma redução nas importações (-3,5), comportamento também observado na comparação com o segundo trimestre de 2016 (2,5% e -3,3%). A taxa de investimento terminou o segundo trimestre de 2017 em 15,5% do PIB e a
taxa de popança em 15,8%, apresentando variação de -1,2 e 0,2 p.p. em relação ao resultado para o mesmo período do ano anterior. 2 PREÇOS No segundo trimestre de 2017 a inflação acumulada dos últimos 12 meses continuou a tendência de queda identificada nos resultados para o ano corrente. Contribuíram para este resultado o aumento na oferta de alimentos e a ausência de uma retomada consistente da atividade econômica. Os preços administrados apresentaram instabilidade durante o período em comparação à queda contínua dos preços livres. A volatilidade se deve principalmente às mudanças no preço da energia elétrica que sofreu desconto em abril (compensação pela cobrança indevida do Encargo de Energia de Reserva, EER) e em junho (substituição em 1º de junho da bandeira vermelha pela verde, levando à redução de R$ 3,00 a cada 100 kwh consumidos). A inflação acumulada de abril a junho foi de 0,22% contando com uma deflação de 0,23% em junho. No acumulado do primeiro semestre a variação foi de 1,17% (0,19% a.m.), contribuindo para a percepção de que este ano a inflação ficará abaixo do centro da meta estabelecida pelo Banco Central (4,5%). Inflação Acumulada em 12 meses * Bens duráveis, semiduráveis, não duráveis e serviços. ** Serviços públicos e residenciais, transporte público, combustíveis, plano de saúde, pedágio, licenciamento Gráfico 1: Evolução do IPCA versus inflação dos preços administrados acumulados em 12 meses. Julho de 2014 a junho de 2017. 3 JUROS A dinâmica favorável da inflação ao longo do trimestre e o elevado nível de ociosidade dos fatores de produção (baixos índices de utilização da capacidade da indústria e elevado desemprego) levaram a uma redução na projeção de inflação do Comitê de Política Monetária (Copom) para 2017. 4
No Relatório Trimestral da Inflação (RTI) do Banco Central do Brasil (BC) de junho, as projeções para 2017 recuaram 0,2 p.p. devido às inflações efetivas para março, abril e maio terem ficado abaixo do esperado. A SELIC sofreu sucessivos cortes ao longo do período, tendo iniciado abril em 12,25% e chegando a 10,25% em junho, corte de 1 p.p. em cada um dos dois encontros do trimestre. A redução levou a quedas consecutivas nos juros reais, caracterizando uma expansão monetária. Em julho a velocidade da expansão monetária se reduziu devido à queda nas expectativas de inflação. Evolução observada da Taxa de Juros Real* versus Juros Neutros** Gráfico 2: Evolução da Taxa de Juros Real e dos juros Neutros. Julho de 2014 a junho de 2017. * Taxa de Juros Real: Meta SELIC descontada a inflação esperada; ** Juros Neutros: Tendência SELIC deflacionada. Fonte: Elaboração Própria a partir de dados da Taxa de juros SELIC e da Expectativa de inflação em 12 meses disponíveis no Banco Central do Brasil. Faixas de Juro Neutro seguem dados do FMI. 4 ECONOMIA INTERNACIONAL Os indicadores internacionais para o segundo semestre de 2017 sinalizam uma continuidade da retomada da atividade econômica. Comércio e produção industrial estão em patamares superiores se comparados ao mesmo período de 2015 e 2016. A inflação apresentou redução, influenciada pelo enfraquecimento do aumento nos preços das commodities. O dólar americano apresentou depreciação de 3,5% desde março, enquanto o euro permaneceu em um mesmo nível. Entre os países emergentes a variação foi modesta. As estimativas de crescimento para 2017 do Fundo Monetário Internacional (FMI) são de 3,5% para todo o globo, 2% para economias avançadas e 4,6% para as emergentes. Incertezas quanto à China e aos EUA influenciaram as estimativas para 2018. As expectativas de mercado em relação ao estímulo fiscal americano indicam para uma política menos expansionista que o esperado inicialmente. A China mostrou um primeiro trimestre de mais crescimento que o esperado, resultado influenciado por reformas como o esforço para reduzir o excesso de capacidade na indústria. 5
Na Europa, as expectativas de crescimento foram revistas para cima em países como França, Alemanha, Itália e Espanha, havendo piora para o Reino Unido. Após uma contração em 2016, a atividade econômica na América Latina indica uma retomada em 2017-18. Além do Brasil, a Argentina apresenta sinais de estar deixando o quadro recessivo e o México mostrou resultados melhores que o esperado para o primeiro trimestre. A expectativa é de continuidade do quadro recessivo em relação à Venezuela. A incerteza política aumentou também no plano internacional. Estes quadros provem de fatores como a dificuldade de prever a dimensão da política fiscal efetivamente implementada nos EUA, a negociações das condições pós Brexit e a descontinuidade na contenção da expansão excessiva do crédito na China. 5 EMPREGO E RENDA Pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o segundo trimestre de 2017 apresentou saldo positivo na geração de empregos formais, contabilizando a criação de 59,8 mil vagas em abril, 34,2 mil em maio e 9,8 mil em junho. Os setores cujos saldos mais contribuíram para o resultado trimestral foram: agropecuária (97,5 mil), serviços (19,4 mil) e indústria de transformação (7,2 mil). O saldo semestral foi de 67,3 mil postos de trabalho formais, sendo o primeiro semestre com resultado positivo na geração de empregos em dois anos. A melhora comparativamente ao mesmo período de 2015 e 2016, está muito concentrada no setor de agropecuária. Comércio, construção civil e o setor extrativo mineral permanecem com resultados negativos e próximos de zero, ainda que com uma queda bem menor se comparado aos dois anos imediatamente anteriores. Comparativamente ao primeiro semestre dos anos anteriores, o salário real médio de admissão (salário médio descontada a inflação) apresentou crescimento após dois anos de quedas consecutivas, chegando a R$ 1.463,67. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego entre abril e junho de 2017 foi de 13%, redução de 0,7 p.p. em relação ao primeiro trimestre, primeira queda deste o último trimestre de 2014. Contribuíram para este resultado o aumento do número de empregados sem carteira (4,3%) e dos trabalhadores por conta própria (1,8%), configurando um crescimento da informalidade e estabilidade no número de trabalhadores formais 1. O rendimento médio de todos os trabalhos habitualmente recebido por mês foi de R$ 2.104 em julho. Houve uma pequena queda em relação ao trimestre anterior, quando foi R$ 2.125 e crescimento em relação ao mesmo período de 2016, quando chegou a R$ 2.043. 1 A diferença de foco das pesquisas leva aos resultados distintos. O CAGED deve ser declarado por todo estabelecimento que tenha admitido, desligado ou transferido empregado com contrato de trabalho regido pela CLT. A PNAD contínua, captada pelo IBGE, tem amostragem com rotação de domicílios restrita a 20 regiões metropolitanas, não havendo relação entre vínculo empregatício e a resposta ao questionário. 6
Taxas trimestrais de desemprego e rendimento real trimestral médio dos trabalhadores no Brasil Gráfico 3: Taxa de Desocupação Rendimento Médio Real habitual recebido em todos os trabalhos, por trimestres móveis PNAD Contínua. Abril de 2014 a março de 2017. Fonte: Elaboração própria com dados da PNAD-Contínua Trimestral disponibilizada pelo IBGE. 6 CONFIANÇA O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) terminou o segundo trimestre de 2017 com um crescimento de 0,1 p.p. em relação a abril, ficando em 82,3 pontos. A melhora nas expectativas em maio, influenciadas pela queda da inflação e dos juros nominais, foi anulada em junho, pelos riscos de a incerteza no campo político impactar negativamente a economia. A expectativa mediana dos consumidores para a inflação nos próximos 12 meses apresentou queda no segundo trimestre de 2017. No período o índice sofreu redução de 0,6 p.p. chegando a 6,3%. O resultado reflete o quadro recessivo, desemprego elevado, surpresa quanto a inflação efetivamente realizada (menor que as projeções) e confiança na política monetária. Evolução Dessazonalizada dos índices de Confiança do Consumidor e de suas expectativas de inflação 7
Gráfico 4. Evolução Dessazonalizada do índice de Confiança dos Consumidores (ICC) e das Expectativas de inflação dos Consumidores. Julho de 2014 a junho de 2017. Fonte: Elaboração Própria a partir dos dados das Sondagens das Expectativas do Consumidor Elaboradas pelo IBRE-FGV. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) sofreu redução entre abril e maio, chegando a 85,7. O Índice de Confiança dos Serviços (ICS) recuou 2,3 p.p. entre abril a junho, interrompendo um crescimento contínuo em 2017. Influenciou o resultado o fraco desempenho do mercado de trabalho, dado que o setor depende fortemente de demanda doméstica. Ambos os índices indicaram queda do indicador do grau de satisfação com a situação atual e do Índice de Expectativas, resultados influenciados pelo aumento da incerteza no campo político e pela piora da percepção das empresas referente ao nível da demanda. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 1,7 p.p. no segundo trimestre de 2017. A piora das expectativas devido à incerteza gerada com a crise política, levaram à queda no indicador a partir de junho. Ainda assim houve sinalização de interrupção do processo de ajuste dos estoques industriais e contribuição favorável do mercado externo no setor. O Índice de Confiança da Construção (ICST) sofreu redução de 2,2 p.p. ao longo do segundo trimestre. A redução se concentrou em maio, com a percepção de que o quadro para o setor é melhor que no ano anterior, mas que ainda não indica uma possível recuperação. Evolução Dessazonalizada dos Índices de Confiança dos Produtores Gráfico 7. Evolução Dessazonalizada dos Índices de Confiança dos Produtores. Julho de 2014 a junho de 2017. Fonte: Elaboração Própria a partir dos dados das Sondagens das Expectativas do Comércio e das Sondagens das Expectativas dos Serviços elaboradas pelo IBRE-FGV. 7 EXPECTATIVAS As expectativas de inflação do IPCA acumulada em 12 meses para o segundo trimestre de 2017 continuaram trajetória de queda, levando o índice a seu menor nível do ano em junho, 3,46%. Para o próximo semestre, as perspectivas são de quedas contínuas como consequência 8
dos choques desinflacionários dos alimentos sofridos desde 2016, além da ausência de uma recuperação sustentada da economia. As expectativas para 2018 são de queda a partir do segundo trimestre, ficando abaixo do centro da meta do Banco Central (4,5%). Os possíveis efeitos inflacionários da trajetória mais baixa da SELIC foram mais que compensados pela queda nas expectativas inflacionárias. As expectativas de crescimento do PIB terminaram o segundo trimestre de 2017 em 0,39%, redução em relação aos 0,5% esperados nas projeções feitas no início do ano. Contribuiu para este resultado a instabilidade política no mês de junho, que provocou retração no ímpeto para compra de bens duráveis pelos consumidores assim como piora nas perspectivas por parte dos produtores. A troca no comando do BNDES ampliou o quadro de incerteza, gerando dúvidas quanto à continuidade da atual política de crédito, mais restritiva. Para 2018, houve uma redução acentuada nas expectativas de crescimento. Apesar do Indicador de Intenção de Investimentos da Indústria ter mostrado elevação constante desde o terceiro trimestre do ano passado, houve piora dos resultados fiscais do governo ao longo do ano e aumento da instabilidade no quadro político, com votação da impugnação da chapa Dilma/Temer. Neste quadro, o apoio ao governo no congresso tende a diminuir, dificultando a aprovação da reforma da previdência sem novas cessões. Nesse contexto, pode ser aprovada uma reforma superficial, dificultando o equilíbrio fiscal de médio e longo prazo. Evolução das expectativas Focus de mercado 2017 e 2018 Gráfico 6. Previsões de mercado para a inflação (IPCA) e crescimento do PIB acumulados em 2017 e 2018. Fonte: Elaboração Própria a partir dos dados das Sondagens das Expectativas de mercado dispostas nos Relatório Focus, do Banco Central do Brasil. 9