AS POSSIBILIDADES E OS LIMITES NA (RE)FORMULAÇÃO DO PLANO DE ESTUDOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE UMA ESCOLA PÚBLICA DO NOROESTE GAÚCHO 1

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Transcrição:

AS POSSIBILIDADES E OS LIMITES NA (RE)FORMULAÇÃO DO PLANO DE ESTUDOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE UMA ESCOLA PÚBLICA DO NOROESTE GAÚCHO 1 Andressa Marques Da Silva 2, Affonso Manoel Righi Lang 3, Fernando Jaime González 4. 1 Projeto de pesquisa, pertencente ao Grupo de Pesquisa Paidotribas vinculado ao Curso de Educação Física da Unijuí 2 Estudante do Curso de Educação Física do Departamento de Humanidades e Educação da Unijuí; Bolsista PIBIC/CNPq e participante do Grupo de Pesquisa Paidotribas; E-mail:dessa_mks@hotmail.com 3 Mestrando em Desenvolvimento Humano e Tecnologia da UNESP. E-mail: affonsollang@hotmail.com 4 Professor do Departamento de Humanidade e Educação da Unijuí, participante do Grupo de Pesquisa Paidotribas; E- mail: fjg@unijui.edu.br Introdução Desde a metade do século XX, a Educação Física Escolar (EF) brasileira foi pautada, basicamente, pelo propósito de ensinar um conjunto específico de modalidades esportivas (majoritariamente, atletismo, basquete, handebol, futsal/futebol e vôlei). Normalmente as aulas eram centradas no desenvolvimento de habilidades técnicas e no estudo das regras dos esportes selecionados pela escola em função dos jogos estudantis que participavam. Esse modelo de aula ganhou força, principalmente nas décadas de 70 e 80, entre outros motivos, pela indução do governo Federal que enxergava na EF a base da pirâmide esportiva nacional (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2009; SILVA; BRACHT, 2012). Logo no início da década de 80, surgiu o chamado movimento renovador de EF que teve como objetivo ressignificar e superar uma série de proposições da EF hegemônica nas décadas anteriores, denominada, a partir desse momento, de EF tradicional. Nesse sentido, o movimento buscava superar a tradição através de diferentes propostas, destacando aquelas que balizaram o ensino da EF na dimensão cultural das práticas corporais e/ou de movimento (BETTI, 1992; COLETIVO DE AUTORES, 1992; KUNZ, 1994). Esta perspectiva ganhou força principalmente no meio acadêmico e inspirou muitos referenciais curriculares surgidos a partir dessa época. No entanto, este movimento renovador tão presente no meio acadêmico tem encontrado grandes dificuldades em se consolidar nas escolas. Infelizmente, ainda é possível encontrar com muita frequência aulas pautadas numa perspectiva da tradicional (HINO; REIS; ANEZ, 2007; FORTES et al., 2012). Além disso, tão, ou mais comum, que as aulas tradicionais, são aulas em que os

professores assumem atuações caracterizadas pelo abandono do trabalho docente (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2006) ou desinvestimento pedagógico (MACHADO et a., 2010). Aulas em que os professores não procuram ensinar nenhum tipo de conteúdo, restringindo sua participação à administração do material esportivo, o qual é entregue aos alunos para que estes se ocupem no tempo previsto para a disciplina. Neste contexto, o Grupo de Pesquisas Paidotribas da Unijuí, juntamente com a Rede Internacional de Investigações Pedagógicas em Educação Física (REIIPEFE) (FARIA et al., 2010; GONZÁLEZ et. al., 2011; SILVA; BRACHT, 2012) apontam fatores que, potencialmente, influenciam na configuração deste fenômeno. Entretanto são limitadas as pesquisas que procuram compreender como as configurações que pautam as atuações docentes dificultam e/ou favorecem a transformação da Educação Física escolar. Dessa forma, durante o período de Maio de 2013 até Junho de 2014 procuramos investigar como a dinâmica escolar, profissional e pessoal interagem com um movimento de mudança na disciplina. Para isso, se trabalhou num projeto de pesquisa-ação em que professoras de uma escola pública se desafiaram a reformular em conjunto com os pesquisadores, um plano de estudo para EF sustentado nos princípios do movimento renovador, enquanto se observou a dinâmica pessoal e institucional dos implicados frente à mudança. Sendo assim, o objetivo deste estudo em particular, a partir da proposta de pesquisa, centrou-se em conhecer as possibilidades e os limites na (re)formulação do plano de estudos de EF de uma escola pública do noroeste gaúcho. Metodologia A pesquisa foi realizada em uma escola de pública de ensino integral do noroeste do estado do Rio Grande do Sul com duas docentes de EF: Jordana e Rafaela, sendo ambos os nomes fictícios. O objetivo desse estudo, anteriormente citado, foi desenvolvido a partir de um contexto de formação continuada colaborativa. Para tanto, utilizamos duas aproximações metodológicas. A primeira consistiu em uma pesquisa-ação, que conforme Gil (2010) é uma metodologia que vem emergindo para a intervenção, desenvolvimento e mudança no âmbito de grupos. Assim, foram realizados Grupos de Estudos (GE) com as duas professoras, com vistas a colaborar/auxiliar as docentes a realizar a organização curricular da EF. A segunda metodologia possui um caráter etnográfico, que de acordo com Watson-Gegeo apud Wielewicki (2001), é a forma de pesquisa que propõe-se a descrever e a interpretar o que as pessoas fazem em um determinado ambiente, os resultados de suas interações, e o seu entendimento do que estão fazendo. Por isso, foram realizadas 4 horas de observações semanais das aulas das docentes, não havendo intervenção por parte dos pesquisadores. O foco central das observações foi identificar o tipo de prática pedagógico desenvolvida pelas professoras, bem como conhecer os diferentes

atores escolares (alunos, gestores, pais), bem como o papel destes frente ao movimento de mudança da disciplina. Resultados e discussão Para apresentar os resultados obtidos de maio de 2013 até Junho de 2014, dividiremos a apresentação em três tópicos: a) a escola observada; b) o perfil das professoras e; c) o envolvimento das professoras na (re)formulação do plano de estudos da disciplina. A escola A escola na qual realizamos observações é reconhecida pelos excelentes resultados obtidos em concursos vestibulares e provas de âmbito nacional. No Enem de 2012, figurou entre as melhores escolas públicas do estado do Rio Grande do Sul, além disso, em concursos de redação, seminários científicos, provas de vestibulares e eventos esportivos os alunos da escola geralmente são destaques. Os discentes do educandário tem aula em turno integral, iniciando o dia com o canto do hino rio-grandense e nacional, e terminando o dia com a faxina geral da escola, limpando salas, corredores e banheiros. A escola possui um vasto acervo de materiais para as aulas EF, contudo não há espaço para tal prática. Os materiais existentes na escola são: bolas de basquete, voleibol, futsal, futebol, handebol (mais de dez para cada modalidade), colchonetes, jumps, halteres, cones, pesos, tatame, aparelho de musculação multifuncional e redes. Quanto à estrutura da escola para a EF, evidencia-se que há apenas uma sala (local, onde são guardados os materiais da disciplina), não havendo quadra poliesportiva ou espaço adequado para aulas práticas. No entanto, existe uma parceria entre o liceu e um clube recreativo localizado nas proximidades, bem como com uma Escola vizinha. Essas instituições emprestam seus espaços nos horários vagos para que, as professoras do educandário, possam ministrar suas aulas. O perfil das professoras O colégio em questão possui duas professoras de Educação Física. Apresentaremos em sequência, o perfil de Jordana e Rafaela evidenciando suas características e particularidades. A professora Jordana terminou a graduação no ano de 1995, tendo feito também especialização em Educação, além de ser formada em Administração (ex-bancária). A docente já trabalhou em várias escolas públicas da cidade, sempre dividindo suas quarenta horas em dois educandários. Atualmente atua em duas instituições de Ensino Médio (EM) estaduais, sempre se faz presente nas reuniões pedagógicas e também é ativa em atividades extraclasse.

Já a docente Rafaela concluiu a graduação no primeiro semestre de 1997, momento em que iniciou sua carreira como docente da rede estadual. No ano de 2000 cursou uma especialização em Recreação e Lazer que foi concluída no ano de 2001. Atualmente, divide suas 40 horas de docência em dois educandários estaduais, atuando com Ensino Fundamental e Médio. Demonstra uma personalidade sensível a imposições de ideias pela direção escolar e colegas, abalando-se com determinadas ordens ou discussões. No entanto, não tem dificuldades na condução de suas aulas, tendo total domínio da turma através do pulso firme (expressões da professora). O envolvimento das professoras na (re)formulação do plano de estudos da EF Inicialmente, através das observações e GE buscamos caracterizar as práticas pedagógicas das docentes. Nos GE Jordana sempre demonstrou ter um posicionamento/discurso do movimento renovador referente à EF, contudo, quando observada na sua prática pedagógica, encontramos atuações caracterizadas pelo desinvestimento pedagógico (FARIA et al., 2010), isto é, aulas desconexas de uma intenção de ensino, sem sequência de conteúdo, onde a professora basicamente distribuía os materiais (bolas) e deixava que os alunos tivessem autonomia para decidir o que fazer. Por seu lado, a docente Rafaela sempre demonstrou ter domínio dos grupos e preocupação com o que os alunos estavam ou não fazendo nas suas aulas. Por diversas ocasiões, a professora demonstrou ter um objetivo para suas aulas, mesmo que ás vezes utilizasse de uma metodologia tradicional para ensinar. Todavia, em algumas aulas a professora simplesmente deixava os alunos livres para escolher ou praticar a modalidade que pretendiam. Nesse sentido, a docente parece transitar entre três tipos de atuação diferentes: Investimento Pedagógico, EF Tradicional e Desinvestimento Pedagógico. No início do ano letivo de 2014, dando continuidade ao processo da pesquisa, trabalhamos focados em auxiliar as professoras na construção do plano de estudos dos três anos do ensino médio. Para tanto, realizamos 13 GE com duração média de 3 horas cada, onde eram discutidos juntamente com as professoras, quais as expectativas de aprendizagem em cada série e, a partir disso elencamos quais os temas seriam trabalhados e convertidos em Unidades Didáticas. Na sequência, estando pronta a organização curricular da EF, Jordana se mostrou resistente as mudanças projetadas, enquanto Rafaela se revelou motivada e contente com o fato de ter uma organização em suas aulas. Especificamente, no que se refere ás mudanças na atuação pedagógica das docentes, pode-se vislumbrar dois cenários distintos. A professora Jordana, não esteve preocupada em seguir o que fora planejado, ainda ela tendo sendo coautora da proposição. Em suas aulas, não houve muita mudança, a professora continuou a trabalhar modalidades esportivas alternadamente, visando, basicamente, envolver aos alunos em alguma prática corporal.

Diferentemente, foi a postura de Rafaela em relação ao novo plano de estudos. A docente, demonstrou ter planejado suas aulas, elencando objetivos e formulando uma sequência nos conteúdos propostos. A mudança da professora na forma de conduzir as aulas e sua motivação demonstram que ela está em processo de investimento pedagógico, rumando às práticas inovadoras na EF escolar. Conclusões A priori, podemos destacar que as mudanças ocorridas com a professora Rafaela, partiram de uma iniciativa pessoal, pois a configuração sociocultural da escola não colabora para que as aulas de EF acontecessem em uma perspectiva inovadora, ainda que não seja possível afirmar que as dificultam. A não cobrança de um planejamento por parte da coordenação pedagógica, o não interesse da comunidade escolar em saber o que é trabalhado nas aulas de EF, a não importância dada pelos alunos às aulas, entre outros fatores já citados, potencializaram o desinvestimento pedagógico das professoras. Assim, concluímos também que o fato de ter sido realizado a reformulação do plano de estudos, não garante que haja a implementação de práticas diferentes das tradicionais na EF escolar. Fato esse, elucidado pela condição da professora Jordana, que resiste em investir em suas aulas, pois enxerga o planejamento como algo difícil e trabalhoso. Por fim, é importante destacar que as melhores práticas da EF perpassam a ideia subjetiva de cada professor. Em outras palavras, a implantação de práticas inovadoras na EF escolar, está vinculada a compreensão do professor sobre o que representa a EF e, a decisão individual em construir uma disciplina com intencionalidade no ensinar. Palavras-Chave: atuações docentes; organização curricular; práticas inovadoras. Agradecimentos Ao CNPq, por ter possibilitado e financiado esta pesquisa. Referências Bibliográficas BRACHT, Valter; SILVA, Mauro Sérgio da. Na pista de práticas e professores inovadores na Educação Física escolar. Revista Kinesis, v. 30, n. 1, 2012. Disponível em <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/kinesis/issue/view/312> Acessado em maio de 2014.

FARIA, Bruno de Almeida et al. Inovação pedagógica na educação física: o que aprender com práticas bem sucedidas? In: Ágora para la Educación Física y el Deporte, v. 1, p. 11-28, 2010. FORTES, Milena de Oliveira; AZEVEDO, Mario Renato; KREMER, Marina Marques; HALLA, Pedro Curi. A educação física escolar na cidade de Pelotas-rs: contexto Das aulas e conteúdos. IN: Rev. Educ. Fís/UEM, v. 23, n. 1, 1. trim. 2012, p. 69-78. GONZÁLEZ, Fernando J.; FENSTERSEIFER; Paulo E. Educação Física e Cultura Escolar: critérios para identificação do abandono do trabalho docente. In: Anais do III Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte, Santa Maria, set. 2006. GONZÁLEZ, Fernando J.; FENSTERSEIFER; Paulo E. Entre o não mais e o ainda não : pensando saídas do não-lugar da EF Escolar I. In: Cadernos de Formação RBCE, Florianópolis, v. 1, p. 9-24, set. 2009. HINO, A. A. F.; REIS, R. S.; ANEZ, C. R. R. Observação dos níveis de atividade física, contexto das aulas e comportamento do professor em aulas de educação física do ensino médio da rede pública. Revista brasileira de atividade física & saúde, Londrina, v. 12, n. 3, p. 21-30, set./dez. 2007. GIL, A. C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 5ª Ed. São Paulo, Editora Atlas, 2010. WIELEWICKI, V. H G. A pesquisa etnográfica como construção discursiva. Revista Acta Scientiarum, Maringá, p.27-32, 2001.