Desafios para o sistema financeiro e competitividade da economia Carlos da Silva Costa Governador Lisboa, 6 de janeiro 2016 RENOVAR O MODELO COMPETITIVO EM PORTUGAL Conferência ISEG
1. De onde viemos? A situação do sistema bancário em 2010 refletia o prosseguimento ao longo de mais de uma década de uma política em que o sistema bancário acumulou risco subprovisionado e imparidades insuficientes. Baixo nível de capitalização dos bancos: rácio Core Tier 1 de 7,4% em 2010 Baixo nível de provisões: cobertura de 3,2% da carteira de crédito bruta por imparidades para crédito em 2010 Elevado nível de crédito bancário (crédito/depósitos): máximo de 167% em junho 2010 Concentração setorial do crédito: hipotecário, imobiliário e construção Grande exposição a futura constituição de imparidades numa situação de stress: imparidade média 1741 milhões no período 2000 2010 (compara com 4321 milhões em 2011 2014) Elevado endividamento dos particulares: 93% do PIB em 2010 Elevado endividamento das empresas: 118% do PIB em 2010 2
Na discussão do MoU do PAEF em maio de 2011 Dilema Abordagem defendida pela Troika Frontloading da capitalização dos bancos, determinada segundo uma avaliação dos ativos numa lógica "gone concern Elevadas necessidades de capitalização 1. De onde viemos? Abordagem defendida pelo BdP Reconhecimento gradual das necessidade de capital dos bancos em função das imparidades registadas numa lógica de "going concern" e da desalavancagem (com consequente redução das necessidades de capital) Custos de ajustamento muito mais elevados Pacote financeiro do PAEF insuficiente Necessidade de consolidação orçamental mais acelerada Riscos para a trajetória de sustentabilidade da dívida pública (riscos de PSI) Programa de auditorias externas transversais ao sistema bancário A título ilustrativo, uma simulação realizada pelo Banco de Portugal, sugere os seguintes resultados: A aplicação, em dezembro de 2011, de haircuts médios no intervalo de 17% a 20% à carteira de crédito e de títulos dos 8 maiores bancos do sistema bancário português aponta necessidades de recapitalização entre 48 mil milhões e 56 mil milhões, com impacto estimado no PIB de 2011 entre 28% e 33%. 7
1. De onde viemos? Ações de Inspeção Transversais SIP (2011) OIP (2012) ETRICC (2013) ETRICC2 (2013 14) SAP (2013) Âmbito Data de referência Totalidade da carteira de crédito Junho 2011 Carteira de construção e imobiliário Junho 2012 Carteira de crédito (excl. habitação, consumo e adm. pública) Abril 2013 12 grupos económicos Setembro 2013 Avaliação dos procedimentos de Identificação e gestão de créditos problemáticos Setembro 2013 Universo de ativos considerado 281 mil milhões 69 mil milhões 93 mil milhões 9,4 mil milhões n.a. Amostra considerada 70 mil milhões 39 mil milhões 53 mil milhões 8,4 mil milhões n.a. # entidades analisadas 5.516 2.856 2.206 227 n.a. Montante imparidades apuradas 838 milhões 861 milhões 1.127 milhões 1.003 milhões n.a. 8
2. O que aconteceu nos últimos anos (2011 2014)? No contexto da crise, o sistema bancário foi forçado a reconhecer um nível elevado de imparidades, com impacto negativo nos resultados e necessidade de reforço do capital. Comparando com situações semelhantes de outros países, a gestão destes equilíbrios foi feita com a garantia da estabilidade financeira e proteção do Erário Público. 9
2. O que aconteceu nos últimos anos (2011 2014)? e foi salvaguardada a confiança no sistema financeiro A evolução favorável dos depósitos espelha a manutenção da confiança dos clientes bancários O financiamento obtido junto do Eurosistema reduziu se a partir de 2012 com a redução do rácio de transformação 300 Depósitos junto do sistema bancário Em mil milhões de Euros 100 Financiamento obtido junto do Eurosistema Em mil milhões de Euros 250 90 80 200 70 60 150 50 100 40 30 50 20 10 0 Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. 0 Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 15 Fonte:Banco de Portugal
3. Onde estamos? Nos últimos anos foram feitos progressos significativos na correção destes desequilíbrios mas a tarefa está ainda inacabada. 16
3. Onde estamos? Os bancos reduziram significativamente a sua alavancagem. Rácio de transformação Em percentagem 180 160 140 120 115 123 131 135 136 144 152 160 160 162 158 140 128 117 107 100 80 60 40 20 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 17 Fonte: Banco de Portugal
3. Onde estamos? o endividamento do setor privado permanece elevado As famílias têm ainda níveis de endividamento elevados, tornando as vulneráveis a quebras de rendimento e a ajustamentos no nível das taxas de juro 140 Endividamento dos Particulares 14 20 Estimativa do serviço da dívida dos particulares em % do rendimento disponível 120 100 Dívida em % rendimento disponível 12 10 18 16 14 80 8 12 60 40 Capacidade de financiamento em % rendimento disponível (esc.dir) 6 4 10 8 6 20 2 4 2 0 0 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 23 Fonte: Banco de Portugal
4. Para onde queremos ir? Tendo em conta a experiência e as lições do passado e o novo enquadramento que resulta da União Bancária Europeia em consolidação o sistema financeiro português e a supervisão enfrentam uma séries de desafios. 26
4. Para onde queremos ir? 1 Assegurar a sustentabilidade dos modelos de negócio dos bancos e uma rendibilidade sustentável Implementação de uma estrutura de custos adequada à capacidade de gerar receita Tendo em conta as novas formas de interação entre os bancos e os clientes (desafio tecnológico) No quadro de um modelo de supervisão e regulação único 2 3 Reforçar a capitalização dos bancos Para garantir adequada cobertura dos riscos a que estão ou poderão vir a estar expostos, nomeadamente em cenários económicos adversos Para ter em consideração a especificidade de cada instituição em termos de balanço, risco, modelo de negócio e a capacidade dos acionistas para responder a um aumento de capital se necessário Antecipar movimentos de racionalização e consolidação do sistema bancário à escala europeia, consequência da criação de uma união bancária 27
4. Para onde queremos ir? 4 Garantir a continuação da desalavancagem controlada do sector empresarial não financeiro, assente num aumento dos capitais próprios das empresas e num adequado tratamento dos NPL, nomeadamente através de um gestão ativa dos NPL por parte dos bancos 5 Adotar mecanismos que previnam fenómenos de endividamento insustentável dos particulares e empresas 6 Assegurar uma reafetação de recursos que promova o crescimento sustentável do produto potencial e a geração de emprego, nomeadamente através do investimento viável no setor transacionável. Para o efeito, é necessário que os bancos adotem um novo modelo de gestão de risco 28
4. Para onde queremos ir? 7 Adotar uma atitude proativa de salvaguarda da estabilidade financeira através do recurso a medidas macroprudenciais e de adaptações dos quadros legais, nomeadamente do regime fiscal 8 Reforçar o modelo de governo das instituições tomando como referência as melhores práticas, com particular incidência sobre: A competência, capacidade e autonomia das funções de avaliação e gestão do risco, controlo e compliance e auditoria interna A transparência das decisões estratégicas e da situação extrapatrimonial, de forma a proteger os interesses não representados Reforçar significativamente as sanções aplicáveis às fraudes e às falhas nestas áreas 29
Carlos da Silva Costa Governador