HEPATITE B INTRODUÇÃO À PATOLOGIA

Documentos relacionados
Diagnóstico laboratorial das hepatites virais. Profa.Alessandra Barone Prof. Archangelo P. Fernandes

1º ENCONTRO DOS INTERLOCUTORES. Clínica, Epidemiologia e Transmissão Hepatite B e C. Celia Regina Cicolo da Silva 12 de maio de 2009

Quando parar o tratamento da hepatite B nos cirróticos e não-cirróticos? Deborah Crespo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS HEPATITES VIRAIS. Adriéli Wendlant

APLICAÇÕES DA BIOLOGIA MOLECULAR NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATITE B. Maio

O VHB e as suas particularidades Como se contrai e como se transmite

Hepatite A. Género Hepatovírus, Família dos Picornaviridae

INTERPRETAÇÃO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS DAS HEPATITES VIRAIS

Hepatite delta: Tratamento O grande desafio

MANEJO HEPATITES VIRAIS B/C

Hepatites. Introdução

Aplicação Diagnóstica. Método. Avaliação do Desempenho Não-Clínico. Inclusividade - Os isolados de HIV-1

Hepatites. Inflamação do fígado. Alteração em enzimas hepáticas (alaminotransferase aspartatoaminotransferase e gamaglutamiltransferase ALT AST e GGT

HEPATITES Testes Moleculares

Significado das sorologias atípicas na hepatite crônica : Papel das Mutações R. PARANA

Hepatites Virais. Prof. Claudia L. Vitral

ANEXO IV CONCLUSÕES CIENTÍFICAS

Vale a pena tratar o Imunotolerante na Hepatite Crônica B? Patrícia LofêgoGonçalves HUCAM-UFES

Normas de Orientação Clínica da EASL: Abordagem da infeção crónica pelo vírus da hepatite B

Coorte hipotética de pacientes com infecção crônica pelo

Aspectos bioquímicos da HBV. Edna Almeida 2º ano Bioquímica

Artigos Originais Original Articles

Carga Viral do HIV. Carga Viral. Falha terapêutica. Vírus suscetivel Vírus resistente

VI Simpósio Estadual de Hepatites Virais B e C

Diagnóstico laboratorial das infecções por HBV e HCV

HEPATITES VIRAIS. Prof. Orlando Antônio Pereira Pediatria e Puericultura FCM - UNIFENAS

DEFICIÊNCIA DE ALFA1 ANTITRIPSINA

EM AUDIÇÃO E TESTE DE APLICABILIDADE ATÉ 30 DE ABRIL DE 2012 ASSUNTO: PALAVRAS-CHAVE: PARA: CONTACTOS: NÚMERO: 059/2011 DATA: 28/12/2011

Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde

HÁBITOS DE VIDA: caminhoneiro, tabagista (um maço/dia), consumo moderado de álcool (1 drink 15 g / dia).

Curso Preparatório para Residência em Enfermagem Hepatites Virais. Prof. Fernando Ramos Gonçalves -Msc

DIAGNÓSTICO IMUNOLÓGICO DA HEPATITE C. PALAVRAS-CHAVE: Hepatite C, ELISA, Transmissão, Diagnóstico, Vírus.

Tratamento da hepatite B: Ainda existe espaço para os IFNs?

PROGRAMA DE PG EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL - PGBIOEXP

Relatório de Estágio Mestrado Integrado em Medicina. HEPATITE B CRÓNICA REVISADA ALGUNS ASPECTOS PRÁTICOS Luísa Maria Sousa Pacheco

Alexandre Naime Barbosa MD, PhD Professor Doutor - Infectologia

I CONSENSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA PARA O MANUSEIO E TERAPIA DA HEPATITE B

TRATAMENTO DA HEPATITE VIRAL B HBeAg (+) e HBeAg (-) CLÁUDIO G. DE FIGUEIREDO MENDES SERVIÇO DE HEPATOLOGIA SANTA CASA DO RIO DE JANEIRO

HBsAg Quantitativo Sistema ARCHITECT / Abbott (Clareamento do HBsAg)

TARV PEDIÁTRICO. Falência Terapêutica Critérios para uso da CV no País. Beatriz Simione Maputo, 14 de Setembro de 2017

Área de Intervenção: Detecção Precoce e Prevenção do VIH e SIDA e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

Faculdade de Medicina

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATITE C

Retrovírus Felinos. Fernando Finoketti

Diagnóstico Laboratorial de Infecções Virais. Profa. Claudia Vitral

Mário Guimarães Pessôa

Hepatites. Inflamação do fígado. Alteração em enzimas hepáticas (alaminotransferase aspartatoaminotransferase e gamaglutamiltransferase ALT AST e GGT

Diagnóstico Laboratorial de Infecções Virais. Profa. Claudia Vitral

GRAVIDEZ E INFECÇÃO VIH / SIDA

Informe Mensal sobre Agravos à Saúde Pública ISSN

UNIVERSIDADE DE LISBOA

Sessão conjunta dos Serviços de Gastrohepatologia e Transplante Hepático do Hospital Universitário Walter Cantídio UFC

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

HEPATITE C & INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA. Maio Curitiba

Exercício de Fixação: Características Gerais dos Vírus

HÁBITOS DE VIDA: caminhoneiro, tabagista (um maço/dia), consumo moderado de álcool (1 drink 15 g / dia).

Aplicação Diagnóstica. Método. Especificações Técnicas. Nome COBAS AmpliPrep/COBAS AMPLICOR HIV-1 MONITOR Test, version 1.5

Diagnóstico Virológico

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C Revisão da Literatura

Modalidade de Pagamento para a Infecção VIH/sida

O laboratório de biologia molecular no diagnóstico e acompanhamento da infeção pelo VIH-2

Carvalho, A. C. et al.

PCR (Polymerase chain reaction) Reação em cadeia da DNA polimerase. e suas aplicações

Vigilância sindrômica: Síndromes febris ictero-hemorrágicas 2018

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO. Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho):

doi: / v58n3p

Vírus Hepatotrópicos A B C D E G TT SEN V -

Método. Aplicação Diagnóstica. Especificações Técnicas. Nome AMPLICOR HIV-1 MONITOR Test, version 1.5

Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções Portaria SCTIE/MS nº 13 de 13 de março de 2018

Universidade de Lisboa Faculdade de Medicina de Lisboa

Terapêutica da Hepatite B AgHBe Negativo

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

Tratamento do paciente HBeAg (+) Fernando L Gonçales Jr Professor Associado FCM-UNICAMP

Acidentes Ocupacionais com Material Biológico

CURADA A HEPATITE C PODE SER ATUE JÁ 8,5 MILHÕES DE PESSOAS NA EUROPA TÊM HEPATITE C CRÓNICA 1

Imunologia da infecção pelo HIV

Perguntas para o roteiro de aula. 1) Descreva as principais características estruturais gerais das moléculas de DNA e

Hepatites Virais. Prof. Claudia L. Vitral

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE HEPATITE A NOTIFICADOS EM UM ESTADO NORDESTINO

Vírus Oncogênicos e Câncer. Fabiana K. Seixas

Controle da hepatite C no pós-transplante hepático

Colheita de produtos biológicos destinados à investigação laboratorial virológica

Interação parasito-hospedeiro: A infecção pelos vírus das hepatites de transmissão parenteral (HBV e HCV) Prof. Cláudia L. Vitral

ESTA PALESTRA NÃO PODERÁ SER REPRODUZIDA SEM A REFERÊNCIA DO AUTOR

Inquérito epidemiológico *

FORMA CORRETA DE COLHEITA E ENVIO DE

Hepatites A e E. Hepatite E 3/7/2014. Taxonomia. Características do vírus. Não envelopado nm diâmetro Fita positiva RNA ~7.2 kb.

FÍGADO UM ÓRGÃO COM MUITAS FUNÇÕES

A portaria 29, de 17 de dezembro de 2013 SVS/MS, regulamenta o diagnóstico da infecção pelo HIV, no Brasil.

PREVALÊNCIA DE HEPATITE C EM PACIENTES ATENDIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO EM CAMPINA GRANDE, PB

Vigilância sindrômica 2: Síndromes febris ictero-hemorrágicas 2018

Hepatites Crônicas e Tumores Hepáticos

BIOLOGIA MOLECULAR NAS HEPATITES B e C

Nome: Curso: Nº. 1 º Teste Engenharia Genética 22 de Novembro de 2012 Duração: 2h.

ENFERMAGEM SAÚDE DA MULHER. Doenças Sexualmente Transmissíveis Parte 7. Profª. Lívia Bahia

Anotadas do 5º Ano 2008/09 Data:

HEPATITE C PCR Qualitativo, Quantitativo e Genotipagem

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

Vigilância sindrômica: Síndromes febris ictero-hemorrágicas Síndromes respiratórias

Hepatite A: saiba como se pega o vírus, quais são os sintomas e tratamentos

Transcrição:

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA O vírus da Hepatite B (VHB) é o agente etiológico da Hepatite B vírica, uma das doenças infecciosas mais frequentes a nível mundial. A infecção aguda pelo VHB pode ter uma apresentação variável desde uma hepatite subclínica, a uma hepatite anictérica, hepatite ictérica e hepatite fulminante. A fase crónica pode ser traduzida por um estado de portador assintomático, hepatite crónica, cirrose e carcinoma hepatocelular. Quando um doente está sob terapia, a eficácia da mesma no controlo da replicação viral, vai reflectir-se na quantidade de vírus circulante no organismo do doente, pelo que a sua monitorização se reveste de elevada importância. Por outro lado, o uso prolongado de alguns antivirais pode levar ao desenvolvimento de resistências à terapia prescrita. Este facto eleva o risco de mortalidade e morbilidade associadas a patologias hepáticas provocadas por um controlo deficiente da infecção, sendo importante nestes casos a detecção precoce de mutações de resistências no genoma viral. O VHB pode ser classificado geneticamente em 8 genótipos (A a H) que têm uma distribuição geográfica característica. O genótipo A é o mais comum na Europa Ocidental, mas na área mediterrânica em particular o genótipo D é o mais frequente. Em Portugal, a distribuição genotípica do VHB coincide com a da área mediterrânica sendo o genótipo D o mais frequente, seguido pelos genótipos A e E.

CARGA VÍRICA DO VHB Carga vírica do vírus da Hepatite B (VHB) Para monitorização da terapêutica prescrita ao doente e controlo da progressão da doença Importante na fase pré-terapêutica, uma vez que um valor superior a 100000 cópias de ADN do VHB/ml de plasma é considerado o valor limite a partir do qual se recomenda iniciar o tratamento Polimerase chain reaction (PCR) em tempo real Limite de quantificação inferior: 6 UI de ADN VHB/ml de plasma Limite de quantificação Superior: 1X108 UI de ADN VHB/ml de plasma 2,5 ml de plasma Sangue total: 12 horas à temperatura ambiente ou refrigerado Plasma: Congelação em gelo seco Tempo que medeia entre a colheita e a chegada da amostra superior a 12 horas no caso de envio de sangue total 10 dias úteis SNS026325

GENOTIPAGEM DO VHB Genotipagem do vírus da Hepatite B (VHB) Resistências: surgem mais precocemente contra a lamivudina e são mais frequentes nos genótipos A do que nos D Desenvolvimento de CHC: o genótipo 1 apresenta um risco 4,5X maior de desenvolver CHC do que os restantes Taxas de seroconversão de AgHBe: seroconversão espontânea mais precoce em genótipos B do que C, após 1, 3 e 5 anos de seguimento Taxas de progressão da doença: B menor taxa do que C - os doentes B têm menor taxa de AgHBe positivo e cargas víricas mais baixas Remissão sustentada: ALT persistentemente normais e desaparecimento do AgHBs mais frequente no genótipo A do que no genótipo D Ocorrência de hepatites fulminantes: o genótipo D parece ser mais frequente nos casos fulminantes Resposta à terapia: menor taxa de resposta ao IFN alfa e INF alfa peguilado e maior taxa de recaída após descontinuação da lamivudina por parte dos genótipos C e D do que dos A e B Amplificação do genoma do vírus por polimerase chain reaction (PCR), sequenciação e análise filogenética Limite de detecção: 10 UI de DNA de VHB/ml de plasma 1 ml de plasma Sangue total: 12 horas à temperatura ambiente ou refrigerado Plasma: Congelação em gelo seco

GENOTIPAGEM DO VHB 10 a 20 dias úteis SNS026323

RESISTÊNCIAS DO VHB AOS ANTIVIRAIS Resistências do vírus da Hepatite B (VHB) aos antivirais Permite reajustar ou alterar a terapia prescrita, quando a monitorização da infecção evidencia que não há o controlo esperado da replicação viral Amplificação por polimerase chain reaction (PCR) do domínio da DNA polimerase do gene pol, seguida de sequenciação directa Limite de detecção: 10 UI de DNA de VHB/ml de plasma 1 ml de plasma Sangue total: 12 horas à temperatura ambiente ou refrigerado Plasma: Congelação em gelo seco 10 a 20 dias úteis SNS026343

HEPATITE C INTRODUÇÃO À PATOLOGIA O vírus da Hepatite C (VHC) é o agente etiológico da Hepatite C e pode conduzir a cirrose hepática, insuficiência hepática terminal e carcinoma hepatocelular. A presença de anticorpos contra o VHC, por si só, não é indicadora de infecção, uma vez que por vezes a infecção resolve-se sem que o doente tenha consciência de que foi infectado e os anticorpos podem permanecer presentes no organismo durante vários anos. Por outro lado, há situações raras de infecção activa em que o organismo do doente falha na produção de anticorpos contra o vírus. Quando há suspeita de infecção com VHC é importante pesquisar directamente a presença do ARN viral no organismo do doente. Quando um doente está sob terapia, a eficácia da mesma no controlo da replicação viral, vai refletir-se na quantidade de vírus circulante no organismo do doente, pelo que a sua monitorização se reveste de elevada importância. Actualmente, é do conhecimento geral que vírus da Hepatite C de diferentes genótipos estão associados a diferentes respostas à terapia standard (Interferão+Ribavirina). Por este motivo, genotipar o vírus que circula no organismo do doente reveste-se da maior importância para a decisão do esquema terapêutico a aplicar.

HEPATITE C CARGA VÍRICA DO VHC Carga vírica do vírus da Hepatite C (VHC) Para monitorização da terapêutica prescrita ao doente e controlo da progressão da doença Polimerase chain reaction (PCR) quantitativo em tempo real Limite de quantificação inferior: 25 UI de ARN VHC/ml de plasma Limite de quantificação superior: 3,91x108 UI de ARN VHC/ml de plasma 2,5 ml de plasma Sangue total: 6 horas à temperatura ambiente ou refrigerado Plasma: congelação em gelo seco Tempo que medeia entre a colheita e a chegada da amostra superior a 6 horas no caso de envio de sangue total 10 dias úteis SNS026324

HEPATITE C PESQUISA DO ARN DO VHC Pesquisa do ARN do vírus da Hepatite C (VHC) A pesquisa directa do vírus através da detecção do seu ARN permite confirmar a presença do vírus no organismo de um doente em caso de suspeita de infecção, quer devido a serologia positiva, quer devido a outros resultados laboratoriais (ex: bioquímicos) ou sintomalogia suspeitos Amplificação por transcrição reversa e polimerase chain reaction (PCR) em tempo real Limite de detecção: 37 UI de ARN viral/ml de plasma 2,5 ml de plasma Sangue total: 6 horas à temperatura ambiente ou refrigerado Plasma: congelação em gelo seco Tempo que medeia entre a colheita e a chegada da amostra superior a 6 horas no caso de envio de sangue total 10 dias úteis SNS026320

HEPATITE C GENOTIPAGEM VHC Genotipagem do vírus da Hepatite C (VHC) Essencial para decidir qual o esquema terapêutico de Interferão+Ribavirina a prescrever a um doente, uma vez que os genótipos 1 e 4 respondem mais dificilmente a esta terapia do que os genótipos 2 e 3 Amplificação por transcrição reversa e polimerase chain reaction (PCR) seguido de hibridação inversa Detecta genótipos virais diferentes se existir uma infecção múltipla na amostra 2,5 ml de plasma. Sangue total: 6 horas à temperatura ambiente ou refrigerado Plasma: congelação em gelo seco Tempo que medeia entre a colheita e a chegada da amostra superior a 6 horas no caso de envio de sangue total 10 dias úteis SNS026321