SIGNO E SEMIÓTICA - UMA REFLEXÃO PEIRCEANA SOBRE O OBJETO PEDRA NO FILME VIDA DE INSETO

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Transcrição:

SIGNO E SEMIÓTICA - UMA REFLEXÃO PEIRCEANA SOBRE O OBJETO PEDRA NO FILME VIDA DE INSETO MORAES, Lidia Carlos Caetano Universidade Estadual de Goiás/Câmpus de Iporá lidia.caetano@ueg.br CARDOSO, Vânia Gomes vaniagomescardoso@gmail.com RESUMO A proposta desse artigo se efetiva tendo como base o pressuposto de que existem possibilidades diversas para transformar qualquer objeto em significado dentro de um círculo interpretativo. Para inferir esse processo será analisado o filme Vida de Inseto (Pixar, 1998) em uma ótica Peirceana de signo, objeto e interpretante. Para realização desta pesquisa ancoramos Peirce (1839-1914) Semiótica, e Santaella (2000) Teoria Geral dos Signos. Assim, o objetivo do trabalho é compreender o processo de semiose na lógica de primeridade, segundidade e terceridade a partir do índice denominado pedra- que aparece em três momentos no filme. Palavras Chave: Semiótica Peirceana. Tríade Genuína. Filme Vida de Inseto. INTRODUÇÃO Tomaremos como questões deste artigo alguns sentidos que podem ser analisados pela materialidade da semiótica Peirceana (1839-1914) por meio da classificação dos signos, uma vez que os símbolos podem ser percebidos e interpretados por múltiplos campos sensoriais, capaz de criar uma infinidade de significados a partir de um único signo. Para tanto, Peirce (1839-1914, p.) afirma que signo é alguma coisa que representa algo para alguém, ou seja, tudo que possa criar significado na mente é considerado signo, não necessariamente algo concreto ou singular, basta ser qualquer coisa que desenvolve na mente humana sentidos dentro da lógica triádico, signo - objeto-interpretante. 300

Deste modo, analisaremos o filme vida de inseto (Pixar, 1998) a partir da noção de semiótica de primeridade, segundidade e terceridade que através da criação de hipóteses nos permite a chegar a uma possível definição de signo, denominado lei. Neste sentido, para alcançar o objetivo principal da proposta, nosso objeto de análise centraliza-se em um signo denominado pedra que surge em três momentos específicos no filme. Assim, o arcabouço teórico focaliza-se em Peirce, Signo, Semiose e Semiótica (1839-1914), Santaella (2000), A Teoria Geral dos Signos, Como as Linguagens Significam as Coisas. Nesta perspectiva explanaremos a análise de forma teórica e mostraremos a conclusão obtida por meio da análise do filme com base na reação e significações que os personagens fazem mediante a relação tríadica a partir do signo pedra, que por sua vez, produzem significados no decorrer das cenas emergentes no filme em um processo permanente. O FILME Em síntese, o filme Vida de Inseto é americano, intitulado por A Bugs Life, estreado no ano de 1998, com direção de John Lasseter, sua duração é de 1h35min, seu gênero é de animação, os responsáveis pelos efeitos especiais, Pixer Animation Studios. O filme conta a história de uma colônia que todos os anos são obrigados a entregarem a um grupo de gafanhotos parte da colheita, portando á um dia em que a oferenda é totalmente destruída, esse acontecimento inesperado causa um grande transtorno no formigueiro, isso leva Flik o protagonista, sair em busca de ajuda para salvar seu povo dos opressores. No plano real, nosso interesse neste primeiro momento não é fazer uma sinopse do filme, mas buscar para este tópico o corpus de nosso trabalho que consiste em analisar o signo a partir das cenas emergentes do filme em análise. Para tanto, tornar-se-á relevante clarificar os três momentos em que este signo se corporifica a partir do conhecimento dos personagens. Assim, no primeiro momento, o signo surge no filme aos seis minutos, em uma cena onde Flik e Dot dialogam. Ela é uma pequena formiga, que vive entristecida, 301

acredita não ser importante por ainda não saber voar, seu mais sonhado desejo. Diante disso, o protagonista, com o objetivo de despertar a motivação da pequena formiga, procura uma semente, porém, não a encontra, assim pega um objeto, uma pedra no lugar da semente, e explica-a que aquela pedra (semente) com o tempo transformou-se em uma grande árvore tornando importante, assim como Dot se tornaria um dia, mas ela não consegue estabelecer uma relação de semelhança entre pedra e semente e sua tentativa de metaforizar para facilitar a compreensão de Dot é inválida. No segundo momento, aos cinquenta e oito minutos, o signo volta a ganhar espaço nas cenas, nesse período é a vez de Dot entregar uma pedra para Flik. Essa cena concretiza quando Dot procura convencer Flik a voltar para o formigueiro e salvar a colônia que está sendo destruída pelos gafanhotos, ao recusar o pedido da pequena formiga ela sai voando, pousa, pega uma e entrega a ele, pedindo-o que imagine uma semente, a partir de então Flik atende seu pedido. Porém, os artistas circenses, peça primordial no filme, confusos dizem: - mais é só uma pedra, isso deve ser coisa de formiga. No terceiro momento, o signo reaparece ao final do filme, mas, agora, representante de significado pelos artistas circenses. Assim, ao limiar dos últimos minutos, em meios às comemorações de vitória, tendo em vista que a colônia destruiu os opressores, um dos artistas de circo repete a cena presenciada entre Dot e Flik, ele pega uma pedra e diante de todas as formigas, entrega para princesa Atta, irmã de Dot, que acabara de assumir o posto de rainha, nesse instante engendram murmúrios do mesmo discurso dos circenses quando presenciaram a cena semelhante. Dessa forma, percebe-se o processo de signo e semiose relacionado ao objeto, ou seja, a continuidade de sentidos que vão se atribuindo e estabelecendo um círculo vicioso, dentro de uma classificação dos signos. Por conseguinte, procuraremos trazer com mais afinco para o corpus uma abordagem Peirceana de semiótica para sustentar a constituição de significados engendrados a partir do signo presente nesse filme. O PROCESSO DE SEMIOSE PEIRCEANA 302

Segundo Santaella (2000), a semiótica é a ciência dos signos ou a ciência geral de todas as linguagens, ou seja, é a constituição do sujeito afetado. Deste modo, é importante ressaltar que, a linguagem é a capacidade pela a qual o homem estabelece comunicação através da língua, uma vez que, o individuo é capaz de comunicar por meio de uma infinidade de coisas sígnica. Assim, a semiótica estuda todos os meios de comunicação, seja ela verbal ou não verbal, pois ela nos permiti a ler o mundo a datar da realidade que está em nossa volta. Neste sentido, Peirce (1839-1914) diz que é impossível dissociar semiótica e signo, uma vez que conceituou semiose como: O processo no qual o signo tem efeito cognitivo sobre o intérprete. Semiótica é a doutrina da natureza essencial e variedades fundamentais de semiose possível... Semiótica significa a ação de quase qualquer signo, e a definição dá o nome de signo a qualquer coisa que assim age (PEIRCE 1839-1914, p. 66). Concomitantemente, semiose e signo são processos indissociáveis, uma vez que não existe signo sem semiose, como também não há semiose sem signos, pois um depende do outro para se efetivar na linguagem. Os signos desenvolvem um processamento para atingir um abstraimento, acarretando a função de um objeto no processo da semiose, no mais esse processo é singular para cada sujeito afetado. Nesta vertente, há um imbricamento entre signo e semiose, Peirce (1839-1914) compreende essa relação como um processo de correlatos, tal qual, signo objetointerpretante está um para o outro em um processo continuo de significações. Todavia, signo é tudo aquilo que, sob certo aspecto ou medida, está para alguém em lugar de algo, (p.64), o objeto pode ser uma coisa material do mundo, do qual temos um conhecimento perceptivo, mas também pode ser entidade meramente mental ou imaginária da natureza de um signo ou pensamento, (p.67), e o intérprete é o próprio resultado do significante, ou seja, efeito do signo, podendo também ser algo criado na mente do intérprete, (p.71). Dessa forma, essas teorizações balizam o processo de semiose como um conjunto inacabado, onde essas três correlações se formam de maneira dialógica compondo essencialmente ao signo e dando origem a outro signo. 303

Nesta mesma perspectiva, Peirce (1839-1914), em consonância, com efeito, signo pela lógica tríadica, apresentada anteriormente, chega a três classes maiores de interpretantes, sendo a primeira categoria de primeridade, segundidade e terceridade, essas três classes de interpretantes são conceituadas como: A primeira categoria o interpretante imediato corresponde à qualidade da impressão que um signo é capaz de produzir, sem uma reação atual... É o efeito analisado total que se calcula que um signo produzirá ou naturalmente poderia se esperar que produzisse o efeito que o signo produz primeiro ou pode produzir sobre a mente, sem nenhuma reflexão sobre ele mesmo (PEIRCE, 1839-1914, p.74). Esse modelo estabelece o processamento de abstração que permite compreender como o signo afeta o sentido, mesmo ainda não existindo linguagem envolvida no processo, causando impacto para concretizar o sentido. O interpretante imediato é o momento em que o sujeito registra o objeto, sem que antes atinja um intérprete, simultaneamente induzido a detectar o eixo paradigmático da segunda categoria, assim definida: A segunda categoria o interpretante dinâmico corresponde ao efeito direto que realmente produzido por um signo sobre um intérprete, aquilo que é experimentado em cada ato de interpretação e é diferente, em cada ato, do efeito que qualquer outro poderia produzir ( PEIRCE, 1839-191p.75) Nesse processo acontece à criação de uma hipótese possível sobre um determinado fenômeno, o interpretante dinâmico, que advém pela necessidade de identificar o primeiro correlato, assim acontece à criação de hipótese em busca de produzir significados. A partir de então, atinge-se o terceiro correlato, caracterizado como: Aquilo que seria finalmente decidido se a interpretação verdadeira e se a consideração do assunto até que uma opinião definitiva resultasse (...) aquele resultado interpretativo ao qual cada intérprete está destinado a chegar se o signo for suficientemente considerado (PEIRCE, 1839-191,p.8) Essa categoria relaciona um segundo com um terceiro ocorrendo a semiose linguística pura, fazendo uma memória do signo. Essas categorias são: O interpretante 304

final da terceira categoria se desenvolve por meio do experiencial, com objetivo de identificar o signo para o modelo social, com base ao entendimento de todos os signos social. Esse correlato final está atrelado à classe do costume e da lei. Também é importante dizer que é neste momento que o sujeito começa atribuir sentido a partir do seu conhecimento prévio de mundo, isso acontece por meio de uma associação de significados para nomear ao signo um novo sentido dentro da lógica tríadica. Com base na teoria Peirce sobre semiótica, podemos dizer que a ação lógica na tríade genuína nada mais é que a relação da semiótica/signo em um processo de continuidade hábil em criar significados na mente de uma pessoa. É relevante ressaltar que, o signo uma vez desenvolvido na mente do receptor sua função é estabelecer o processo de semiose, pois ele esta em tudo, ou seja, não existe linguagem sem signo como também não há signo sem linguagem. É o signo que determina a relação tríadica ocupando nesse processo posição de primeiro relato que esta para um segundo, que esta para um terceiro correlato. Neste sentido, na percepção Peirceana, tríade genuína é o conjunto de termos particulares, porém em sintonia, signo - primeridade, objeto - segundidade e interpretante - terceridade, onde o primeiro estabelece qualidade, o segundo existência e o terceiro tem função de lei dentro de um único sistema de significação. Esse processo é um conjunto de combinação que objetiva-se na constituição do sujeito afetado com base aos fundamentos do signo. Para Peirce (1839-191) o signo ou representamen 6 está vinculado a três coisas: o fundamento, o objeto e o interpretante. Para ele, a palavra signo é usada para denotar um objeto perceptível ou imaginável e, até mesmo, inimaginável. As tricotomias que apresentamos estão intrinsecamente incluídas com a percepção e são empregadas para analisar coisas de qualquer espécie, do imaginário ao concreto. Assim sendo, por conseguinte, mostraremos uma análise tricotômica do filme que por sua vez, já foi aqui mencionado por inúmeras vezes, no entanto, a análise centraliza-se no signo pedra. 6 Representamen é o nome Peirceana do objeto perceptível que serve como signo para o receptor (PEIRCE, 1839-191; p.66). 305

ANALISADORES CONSTITUÍDOS NO SIGNO PEDRA PRESENTES NO FILME O signo presente no filme Vida de Inseto é analisado em consonância com o sistema tríadico Peirceana de primeridade, segundidade e terceridade sobre a mente do interpretante. No primeiro momento em que o signo surge no filme acontece o processo de semiose, onde segundo Peirce, o representamen é o primeiro que se relaciona com um segundo, denominado objeto, capaz de determinar um terceiro, chamado interpretante Pierce (1839-1914). Esse processo acontece diante de dois sujeitos, sendo, Flik que já atribuiu significados a metáfora da pedra e Dot que esta em fase de constituição do primeiro impacto, primeridade, ou seja, para ela a pedra é apenas uma coisa redonda, dura, uma e nada mais. A pedra é um quali-signo 7. O primeiro impacto de um intérprete nesse processo estabelece de imediato o efeito de qualidade contígua que é notada como uma parte da natureza, formados por cores e formas conforme a sua origem, Santaella (2000). Concomitantemente, as conclusões obtidas por Dot da metáfora é uma ação relevante de primeridade. No filme, Flik tenta trazer para Dot algo do seu pensamento, porém ela só consegue imaginar a forma do objeto propriamente dito, pois não consegue interpretar a pedra comparando a com uma pequena semente que irá nascer e formar uma árvore enorme, no entanto, ela internaliza o conselho. No segundo momento o signo relaciona com o objeto. O signo apresenta aspectos qualitativos do objeto e se evidencia por possuir semelhança com ele. A na segundidade apresenta uma aproximação de um existente concreto que se corporifica e passa a ser denominado por sin-signo 8. Neste momento, quando Dot entrega a para Flik 7 Quali-signo funciona como signo por intermédio de uma primeridade da qualidade, qualidade como tal, possibilidade abstraída de qualquer relação empírica espaço-temporal da qualidade com qualquer outra coisa, (PEIRC, 1839-1914; p.99). 8 Sin-signo é um signo considerado especialmente no que diz respeito a uma relação diádica na qual ele se situa sua ocorrência ou existência atual (seu ocorrer ou existir: uma propriedade segunda) apenas na medida em que isso é constitutivo de uma identidade signica que ele carrega (RANSDELL, 1983, op.cit SANTAELLA, 2000, p.100). 306

ela passa a significar um ato de coragem, sabedoria e força, embora seja muito distinto um do outro. A pedra indica heroísmo, a existência material de uma semente. Assim, essa pedra ao mesmo tempo é um signo que indica seu objeto, a semente, fazendo parte da experiência existencial, ou seja, Dot (intérprete) envia o signo em um processo de semiose para uma lei. Na segundidade, Dot entrega a pedra para Flik, justamente como ele fizera com ela no passado. Assim, percebe-se que Dot repete o ato com o objetivo de mostrar-lhe que os ensinamentos transmitidos foram absorvidos. Dot resgatou da história, uma ação que acendeu o inconsciente de Flik, a vontade de conseguir as coisas com coragem, de forma altruística, qualidade da subjetividade de Flik. No terceiro momento é uma relação mais concreta, refere-se ao correlato entre signo e interpretante, é um signo medianeiro do pensamento, um terceiro, que admite relacionar o signo apresentado com objeto que ele representa um legi-signo 9, Santaella (2000). Na terceridade a pedra passa a ter representações sígnica, ela deixa de ser pedra e ocupa o lugar lógico de sabedoria e persistência na colônia para Dot e Flik. Quanto aos insetos circenses, eles entregam a pedra para Atta por acreditar que aquele objeto representa algum significado as formigas, algo que os faz persistir e nuca desistir diante dos problemas, mas a reação de Atta diante daquela situação é de primeridade, a pedra apenas como um objeto concreto. Para Peirce (1839-1914), o signo é uma coisa que representa outra coisa, seja por representação ou substituição, leitura interpretativa, semiótica, em um processo ininterrupto e dinâmico. Analisando o signo pedra dentro da simbologia, a pedra e o homem apresentam um movimento duplo de subida e descida. Segundo a tradição bíblica, em função de seu caráter imutável, a pedra simboliza a sabedoria. Contudo, pelo viés da noção de semiótica Peirceana, tudo que produz sentido na mente são signos que corporifica. Essa construção se dá a partir do conhecimento prévio do interpretante que 9 Legi-signo é um signo considerado no que diz respeito a um poder que lhe é próprio de agir semioticamente, isto é, de gerar signos interpretantes, sendo que sua identidade particular se dá pela margem de signos interpretantes que ele é capaz de gerar (RANSDELL,1983, op.cit SANTAELLA, 2000, p.101). 307

vão aglomerando para atribuir um novo sentido as coisas conforme a situação vivenciada, pois a percepção e a leitura de mundo acontecem por meio de signos. No mais, a pedra inserida no contexto das formigas foi ganhando forma, corporificando por meio da semiose, de igual modo, passa a ocupar um lugar de símbolo fictício que se concretiza na realidade das formigas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objeto denominado presente no filme Vida de Inseto corporifica se em um signo importante no contexto das formigas, pois pelo viés da abordagem Peirceana de primeridade, segundidade e terceridade foi possível analisar e concluir que o signo pedra é um objeto simbólico e histórico naquela colônia, isso fica evidente a partir do momento em que começa a criação de hipóteses de Flik para Dot, onde ele coloca a pedra para Dot no lugar de semente. No primeiro momento, Dot não compreende a intenção de Flik, mas no segundo momento ela começa criar hipótese, logo após, já acontece à devolução desse signo para Flik repleto de significados e conclusões apreendidas por Dot. Dessa forma, o processo de semiose foi concretizado, supondo que a seria uma semente e que em um determinado dia se tornaria uma grande árvore, assim como Dot um dia se tornara uma formiga grande e que poderia voar. Porém ela atribui significados diferentes do esperado por Flik, já que o signo pedra passa a simbolizara passagem da sabedoria, força e confiança para colônia, fator este que passa a simbolizar um amuleto no formigueiro prevalecendo à relação tríadica em um processo de continuidade para o infinito. REFERÊNCIAS CARLOS Alberto Mucelin, LUZIA Marta Bellini SEMIÓTICA, SEMIOSE E SIGNO: análise sígnica de uma imagem fotográfica com base em tricotomias de C. S. Peirce. 308

LASSETER, John. STANTON, Andrew. VIDA DE INSETO. Produzido pela Pixar em 1998 e distribuído pela Walt Disney Pictures, Estados Unidos. PEIRCE, Charles Sanders,1839 1914 2.Semiótica 3. Semiótica História 4. Signos e símbolos I. Título II. Série. Nõth, Winfried, Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce/Winfried Nõth. São Paulo: Annablume, 1995. (coleção E;3). SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral dos Signos, como as linguagens significam as coisas. São Paulo: Editora pioneira, 2000. 309