ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS E REDES DE MONITORIZAÇÃO EM PERÍMETROS DE REGA. Um Caso de Estudo na Região de Canhestros

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Transcrição:

ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS E REDES DE MONITORIZAÇÃO EM PERÍMETROS DE REGA Um Caso de Estudo na Região de Canhestros Eduardo A. PARALTA Geólogo, Departamento de Hidrogeologia, IGM, Estrada da Portela, Apartado 7586, 2720 Alfragide, 351.1.4718922, eduardo.paralta@igm.pt Carla P. MIDÕES Geólogo, Departamento de Hidrogeologia, IGM, Estrada da Portela, Apartado 7586, 2720 Alfragide, 351.1.4718922, carla.midoes@igm.pt Cristina G. da COSTA Engª Geóloga, Departamento de Hidrogeologia, IGM, Estrada da Portela, Apartado 7586, 2720 Alfragide, 351.1.4718922, cristina.antunes@igm.pt Augusto M. COSTA Geólogo, Departamento de Hidrogeologia, IGM, Estrada da Portela, Apartado 7586, 2720 Alfragide, 351.1.4718922, augusto.costa@igm.pt Resumo O bloco de rega de Canhestros, numa extensão de 100 km 2, integra-se no perímetro de rega da barragem de Odivelas e, será porventura, das primeiras estruturas do vasto sistema hidráulico, baseado na Barragem do Alqueva, a entrar em funcionamento. Desta forma, por solicitação da EDIA, o Instituto Geológico e Mineiro, através do seu Departamento de Hidrogeologia realizou uma avaliação prévia das condições hidrogeológicas numa perspectiva de minimização de impactes negativos sobre o solo e os recursos hídricos subterrâneos e de instalação futura de redes de monitorização. Em termos climáticos apresenta-se como uma região quente e seca com um déficit hídrico de Maio a Outubro. Do ponto de vista hidrogeológico, a Formação de Esbarrondadoiro, constituida por conglomerados, margas, calcários gresosos com seixos, argilas e areias suporta 2 unidades aquíferas distintas; um aquífero superficial livre captado por poços de pequena profundidade e um aquífero confinado/semiconfinado mais profundo com interesse regional aproveitado para abastecimento público. Foram avaliados alguns parâmetros hidráulicos a partir de relatórios históricos e identificada a fácies hidroquímica que é predominantemente cloretada sódica e bicarbonatada calcomagnesiana. As águas captadas por furos apresentam-se por vezes salobras, com teores elevados de cloretos. São apresentados os mapas de isovalores de nitratos e resíduo seco obtidos por krigagem sobre o modelo esférico e o mapa de fluxo hídrico obtido por krigagem do modelo de potência. São desenvolvidos alguns aspectos metodológicos relativos à definição e construção das redes de monitorização bem como dos parâmetros e frequência da amostragem a implementar na fase de avaliação prévia dos locais estatisticamente mais representativos. Palavras Chave: Hidrogeologia, Perímetros de rega, Impactes ambientais, Geoestatística, Redes de Monitorização Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos

1 - INTRODUÇÃO A área a que se refere este estudo de implantação e manutenção de uma rede de monitorização piezométrica e de qualidade, corresponde ao perímetro de rega da infra-estrutura n.º 12 da 2ª fase de regadio de Odivelas, com uma extensão aproximada de 100 km 2 (10 000 ha), situada 5 Km para oeste de Ferreira do Alentejo, próximo da localidade de Canhestros. A água é um bem escasso e potencialmente indutor de riqueza numa região deprimida como o Alentejo, cuja base económica está fortemente ligada à agricultura. Desta forma os recursos hídricos, na sua globalidade (águas subterrâneas e águas de superfície), devem ser objecto de uma exploração racional, numa perspectiva de desenvolvimento sustentado. O perímetro de Rega de Odivelas será, porventura, o primeiro da mega-estrutura hidráulica de regadio baseada na Barragem de Alqueva a entrar em funcionamento. O plano de regadio do alqueva propõe-se distribuir água por 110 000 hectares através de uma rede de canais de 4 400 km. A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) prevê o fecho das comportas e o início do enchimento da barragem para Fevereiro de 2001. Os impactes microclimáticos e os impactes sobre os recursos hídricos subterrâneos serão consideráveis e não será demais prevenir através de estudos ambientais rigorosos e redes de monitorização apropriadas situações de desastre ambiental irreversíveis, idênticas a outras que ocorreram nas civilizações da antiguidade e também no último século, em virtude de obras hidráulicas de grande envergadura. Para a definição da metodologia de selecção dos locais a monitorizar e dos aspectos técnicos inerentes à construção dos piezómetros avaliaram-se previamente as características geológicas e hidrogeológicas da área, que se apresentam seguidamente de forma resumida. 2 - CLIMATOLOGIA A análise climática da área de estudo indica um clima mediterrânico de características oceânicas. A partir dos dados mensais de precipitação e temperatura da estação climatológica de Canhestros (1965-1971), define-se uma temperatura média anual de 15.8ºC e uma precipitação de 582 mm/ano. Aplicando o método de Thornthwaite-Mather e admitindo uma capacidade de campo de 100 mm obtém-se um índice hídrico de 9.4 (subhúmido seco) e um índice de aridez de 44.8 (déficit de água grande no Verão e Inverno). O escoamento superficial é da ordem dos 140 mm/ano. Nesta região podem identificar-se 4 meses secos, Junho, Julho, Agosto e Setembro (P < 2T) e um déficit hídrico anual de 359 mm/ano (3590 m 3 /ha) correspondente ao período de Maio a Outubro. Se admitirmos perdas de 10%, usuais em canais de rega, teremos necessidade de aproximadamente 4000 m 3 /ha para consumo agrícola no período considerado. 3 - GEOLOGIA A região caracteriza-se por um modelado suave com cotas que oscilam entre os 104 m e os 65 metros. A área de estudo insere-se na bacia hidrográfica do Rio Sado, sendo formada por uma rede de drenagem do tipo dendrítico com escoamento para oeste, definindo duas sub-bacias hidrográficas: bacia da Ribª de Vale de Ouro e a bacia da Ribª de Canhestros. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 2

A maioria da área definida pelo perímetro de rega corresponde às formações detríticas do Vale do Sado, com excepção de um pequeno sector a norte onde predominam terrenos argilosos resultantes da alteração de rochas gabro-dioríticas do complexo dos Gabros de Beja. A geologia dominante pertence á formação do Esbarrondadoiro de idade Miocénica e às formações Plio-Quaternárias. As litologias presentes são constituidas por conglomerados, margas, calcários gresosos com seixos, calcários margosos, argilas, arenitos e areias, em níveis alternantes (Figura 1). O substrato da bacia é constituido por xistos paleozóicos do complexo vulcano-silicioso, detectados a 200 metros de profundidade numa sondagem realizada em Figueira de Cavaleiros (AC1/1959). 4 - HIDROGEOLOGIA Figura 1- Carta geológica do bloco de rega de Canhestros. Em termos hidrogeológicos as formações acima descritas definem um sistema aquífero poroso complexo, multiaquífero ou multicamada, em que os níveis aquíferos podem ser livres, confinados ou semiconfinados. Dado o ambiente de sedimentação em que se depositaram as formações aquíferas, o sistema é muito heterogénio, tanto no que se refere à espessura como no que se refere às propriedades hidraúlicas, pelo que o insucesso da captação de água é frequente. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 3

Em certas regiões definem-se aquíferos multicamada, enquanto que em outros locais existem pequenos aquíferos descontínuos, livres ou confinados. Conhecem-se casos de artesianismo repuxante por ocasião da construção de algumas captações. Na formação do Esbarrondadoiro as maiores produtividades ocorrem na dependência dos níveis de grés grosseiro e cascalheiras limitadas na base e/ou no topo por níveis impermeáveis argilosos e/ou margosos. Os caudais médios situam-se nos 5 l/s, com caudais de ponta que atingem os 10 l/s. O rendimento das captações definido pelo caudal especifico é na ordem dos 0.7 l/s/m. Os parâmetros hidráulicos obtidos em ensaios de bombagem em 2 captações em Figueira de Cavaleiros (P1 e P2, 1969) indicam transmissividades entre 26 e 120 m 2 /dia e condutividade hidraúlica entre 1 e 5 m/dia para uma espessura aquífera de 20 metros. Em conclusão, podemos afirmar que estamos em presença de um aquífero livre a confinado com uma porosidade média admissível, na ordem dos 20 %, com elevada permeabilidade horizontal, directamente relacionada com a continuídade espacial dos níveis aquíferos e uma permeabilidade vertical variável dependendo da sucessão de leitos menos permeáveis de natureza argilosa. Assim podemos definir duas situações com características hidrogeológicas distintas: a) um aquífero freático, superficial captado maioritariamente por poços de pequena profundidade, limitado na base por camadas impermeáveis. Tem apenas interesse local e é extremamente vulnerável à contaminação quimica e bacteriológica, pela reduzida profundidade do nível freático (1 a 10 metros); b) aquíferos confinados e/ou semiconfinados captados a diferentes profundidades por meio de furos, constituindo os aquíferos com interesse regional para abastecimento público. Estes sistemas são menos vulneráveis à contaminação agrícola com origem na superfície. Em termos hidroquímicos as águas subterrâneas provenientes da formação do Esbarrondadoiro apresentam fácies bicarbonatadas calcomagnesianas e bicarbonatadas cloretadas sódicas (Figura 2), por vezes salobras, com teores elevados de cloretos. Figura 2 - Diagrama de Piper das águas provenientes da Formação de Esbarrondadoiro. A caracterização hidroquímica completa das águas desta formação na área do perímetro de rega e zonas envolventes baseou-se na consulta de 10 análises às águas dos furos de abastecimento público de Figueira de Cavaleiros e Canhestros entre 1959 e 1987. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 4

Em termos de equilíbrios químicos a água apresenta-se em equilíbrio a subsaturada relativamente à calcite e subsaturada em relação aos restantes minerais do sistema carbonatado e silicioso, com excepção da variedade de dolomite ordenada. 5 - TRABALHOS DESENVOLVIDOS Com o objectivo de definir claramente a situação de referência actual em termos hidroquímicos e de contaminação realizou-se em Maio de 1999 uma campanha de inventário e medição de parâmetros físico-químicos de campo (ph, condutividade eléctrica, temperatura, resíduo seco e nitratos). Nessa campanha foram identificados na área 37 furos de captação e 26 poços que constituem desde já uma base de trabalho para a definição de futuras redes de monitorização específica (Figura 3). Figueira de Cavaleiros Ferreira do Alentejo Canhestros Olhas Povoação POÇO FURO Foros dos Gasparões 0 5 Km Figura 3- Inventário hidrogeológico no sector do bloco de rega de Canhestros e áreas envolventes. Com base em 37 medições de campo da Condutividade Eléctrica efectuadas entre 5 e 7 de Maio de 1999 e em análises históricas é possível definir no diagrama da qualidade da água para uso agrícola da USSLS (Condutividade Eléctrica versus Taxa de Adsorção de Sódio) que as águas provenientes da formação em estudo se distribuem pelas classes C3 e C4 e S1 a S4 (Figura 4). Desta forma o uso intensivo das águas subterrâneas representa um perigo muito elevado de salinização dos terrenos, sendo desaconselhável o seu uso em culturas sensíveis e solos de reduzida drenagem. Apesar da irregularidade da distribuição dos 42 locais monitorizados é possível distinguir nitidamente diferentes índices de contaminação entre as águas provenientes dos poços que captam o aquífero superficial e as águas provenientes de furos, que captam os aquíferos confinados e semiconfinados mais profundos (Quadro 1). Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 5

Figura 4 - Classificação da água subterrânea da Formação de Esbarrondadoiro para uso agrícola (USSLS, 1953). O Quadro 1 indica os valores estatísticos básicos, obtidos durante a campanha de amostragem. Quadro 1 Teores em nitratos (mg/l) medidos em furos e poços PONTO DE ÁGUA AMOSTRAS MIN MEDIANA MÉDIA MÁX PONTOS ACIMA DO V M A PONTOS ABAIXO DO V M A FUROS 17 18 32 55 188 2 15 POÇOS 25 11 37 58 225 * 12 13 Nota: Medições efectuadas com aparelho portátil RQFlex Merck. Precisão + 5%. * limite máximo de detecção. A distribuição dos teores em nitratos (em 25 poços) e resíduo seco (em 12 furos e 25 poços), segundo medições efectuadas no mês de Maio de 1999 está representada na figura 5. Relativamente ao resíduo seco (RS) constata-se que os valores variam aproximadamente entre 200 e 1400 mg/l ou seja por cada litro de água evaporada pode depositar-se em certos locais mais de 1 grama de sais, o que constitui um risco efectivo de salinização dos terrenos agrícolas. Os valores mais reduzidos de RS correspondem a colheitas em poços eventualmente com mistura de água da chuva. Os valores mais elevados distribuem-se indistintamente por poços e furos. A avaliação da vulnerabilidade dos aquíferos mais profundos relativamente à interferência com águas de superfícíe, depende em parte do grau de confinamento e da relação entre o potencial hidráulico dos dois sistemas. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 6

O mapa de isovalores de piezometria medida em 26 poços (Figura 6) indica um gradiente hidráulico entre 0.1% a 0.4% sucessivamente decrescente para oeste, acompanhando a drenagem superficial. 130000 130000 128000 128000 126000 126000 124000 124000 122000 122000 1400 150 1300 120000 118000 116000 100 50 120000 118000 116000 1200 1100 1000 900 800 700 600 500 A 0 1 2 km 0 114000 Nitratos (mg/l) 186000 188000 190000 192000 194000 196000 198000 200000 202000 114000 B 0 1 2 km 300 Resíduo Seco ( mg/l ) 186000 188000 190000 192000 194000 196000 198000 200000 202000 400 Figura 5 Cartas de isovalores de nitratos (A) e resíduo seco (B) obtidas por krigagem do variograma esférico com efeito de pepita. 130000 128000 126000 124000 122000 0.0105 120000 0.0085 0.0065 118000 0.0045 116000 0.0025 114000 Fluxo hídrico Poço 0 1 2 km 0.0005 Gradiente Hidráulico ( metros ) 186000 188000 190000 192000 194000 196000 198000 200000 202000 Figura 6 - Mapas de isopiezas para o aquífero superficial obtido por krigagem do variograma de potência com slope. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 7

Para avaliar o potencial hidráulico do sistema confinado foram medidos os níveis hidroestáticos em 11 furos em repouso. Conclui-se que o fluxo subterrâneo do sistema confinado segue o mesmo padrão do aquífero superficial. Verifica-se ainda, que de uma forma geral, o potencial dos níveis mais profundos é alguns metros inferior ao do aquífero superficial, tornando-o algo vulnerável a contaminação com origem na superfície, especialmente em situações em que furos ou poços intersectem os dois sistemas e os coloquem em contacto sem a preocupação de isolar as águas superficiais, normalmente com maior teor de fertilizantes e fitofármacos dissolvidos. 6 - ANÁLISE ESTRUTURAL Variografia e Modelização Na caracterização da estrutura espacial das variáveis nitratos, resíduo seco e piezometria aplicaram-se um conjunto de técnicas geoestatísticas que permitem conhecer melhor o padrão de intercorrelação espacial e desenhar os respectivos mapas de isovalores. Foram analisados os respectivos variogramas experimentais (omnidireccionais) ajustados a modelos teóricos do tipo esférico com efeito de pepita (Figura 7A e 7B) e a modelos de potência com slope no caso da variável piezometria (Figura 7C). A B C Figura 7 Semivariogramas experimentais das variáveis nitratos (7A), resíduo seco (7B) e piezometria (7C). Definidos os modelos estruturais das três variáveis realizou-se a estimação por krigagem sobre uma malha de 100 metros sobreposta à área em estudo através do software Surfer, considerando os parâmetros que constam dos Quadros 2 e 3 e obtiveram-se os mapas de isovalores apresentados anteriormente nas figuras 5 e 6. Quadro 2 Parâmetros estruturais dos modelos esféricos Variograma Efeito de pepita (c0) Patamar (c) Amplitude (metros) Nitratos 1000 2656 1600 Resíduo Seco 14300 109435 2160 Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 8

Quadro 3 Parâmetros estruturais do modelo de potência Variograma Potência Covariância Slope (metros) Piezometria 1.32 45.2 0.0006 7 - REDES DE MONITORIZAÇÃO As redes de monitorização de água subterrânea - redes piezométricas e de caudais de nascentes e redes de qualidade - são fundamentais para o acompanhamento da evolução quantitativa e qualitativa dos aquíferos, permitindo o planeamento e gestão destes recursos. Possiblitam ainda, em tempo útil, a implementação de medidas minimizadoras da sua degradação sempre que situações de sobreexploração e de poluição o justifiquem (INAG, 1999). As redes podem ser de dois tipos (Figura 8): redes de referência para caracterizar quantitativa e qualitativamente os diferentes sistemas aquíferos e redes específicas para controlar situações pontuais de maior risco para os recursos hídricos subterrâneos como perímetros de rega, zonas industriais, aterros sanitários e congéneres. 7.1 Implementação das redes de monitorização Face à necessidade de se dar cumprimento às exigências da legistação nacional (Decreto-Lei n.º236/98 de 1 de Agosto) e aos normativos comunitários (Directiva 80/68/CEE sobre qualidade das águas subterrâneas, Directiva 98/61/CEE sobre qualidade das águas para consumo humano, Directiva 91/676/CEE sobre protecção das águas face à contaminação com origem em nitratos, Directiva Quadro, etc.) torna-se necessário implementar redes específicas de monitorização de qualidade dos recursos hídricos (INAG, 1999). As densidades estimadas das redes de monitorização geral para meios hidrogeológicos do tipo poroso, segundo o INAG, deverão ser de 1 piezómetro por cada 20 km 2. No caso das redes específicas de qualidade a densidade de cobertura depende do problema em estudo. A definição do número mais adequado de pontos que devem constituir as redes de observação de qualidade no bloco de rega de Canhestros baseia-se num conjunto de variáveis dificilmente previsíveis, pelo que só um projecto de monitorização preliminar especificamente orientado para este objectivo poderá dar resposta. A periodicidade das medições piezométricas deverá ser trimestral e as nascentes mais representativas devem ter um registo contínuo de caudais. No âmbito da qualidade considera-se que a periodicidade deve ser no início semestral, com uma campanha na estação de águas altas e outra na estação de águas baixas. Para um conjunto de parâmetros críticos, predefinidos, a frequência deverá ser trimestral. Para além disso, os pontos de água que constituem origens para consumo humano devem cumprir o disposto no normativo nacional (Dec. L. 236/98) Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 9

Redes de Referência Redes Específicas Caracterização quantitativa e qualitativa dos diferentes sistemas aquíferos Controlo de situações de risco Níveis piezométricos e caudais de nascentes Disponibilidades hídricas Qualidade da água Tendências evolutivas de qualidade da água Figura 8 - Esquema conceptual das redes de monitorização de águas subterrâneas (adaptado de INAG (1999)). Segundo RIBEIRO et al. (1999), a implementação das redes de monitorização deve desenvolverse segundo as seguintes etapas: a) Inventário hidrogeológico; b) Definição da rede de monitorização de referência (rede geral); c) Avaliação das principais acções antropogénicas que influenciam os sistemas aquíferos; d) Avaliação da representatividade no domínio espaço temporal das redes piezómetricas; e) Análise da representatividade no domínio espaço temporal das redes de qualidade da água subterrânea; f) Optimização das redes de referência com selecção de novos pontos de amostragem ou omissão de outros, bem como, selecção do conjunto de parâmetros a monitorizar assim como da frequência de amostragem; g) Mapeamento temático das tendências sazonais detectadas nas séries disponíveis; h) Classificação preliminar dos piezómetros e das estações de qualidade com base em padrões temporais semelhantes. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 10

A análise das variáveis piezometria e qualidade da água no domínio espaço-temporal, correspondente à área de 100 km 2, será efectuada através de um tratamento geomatemático dos dados analíticos medidos em horizontes temporais determinados, com base nos métodos de Análise em Componentes Principais (ACP) e Análise Factorial de Correspondências (AFC), Classificação Ascendente Hierárquica (CAH) e teste de Mann-Kendall para determinação de tendências sazonais. Desta forma serão implementadas 2 redes de monitorização distintas: - Rede de controle piezómetrico e de qualidade do aquífero freático de pequena profundidade (complementando as observações em poços com a construção de alguns piezómetros de pequena profundidade) - REDE DENSA - Rede de controle piezómetrico e de qualidade dos aquíferos mais profundos (complementando as observações em furos com a construção de alguns piezómetros de profundidade variável) REDE ALARGADA Segundo RIBEIRO (1997), as redes de monitorização de águas subterrâneas, nas suas vertentes de quantidade e qualidade, constituem instrumentos primordiais para o conhecimento da evolução espaço-temporal dos níveis piezométricos e caudais de nascentes, bem como da qualidade da água subterrânea. Importa também referir que as redes de monitorização são dinâmicas, pelo que, os pontos a monitorizar, periodicidades e parâmetros a analisar devem ser ajustados de acordo com os resultados obtidos. De acordo com o conhecimento hidrogeológico e/ou a ocupação do solo pode revelar-se a necessidade de aumentar ou diminuir a densidade da rede. 7.2 Parâmetros e frequência da amostragem (1) - Os parâmetros a analisar com uma frequência semestral por ocasião de águas altas (Março/Abril) e águas baixas (Agosto/Setembro) são: Condutividade eléctrica, Resíduo Seco, temperatura, ph, bicarbonato, cloretos, sulfatos, nitratos, nitritos, fluoretos, fosfatos, cálcio, sódio+potássio, magnésio, sílica, ferro e eventualmente algumas substâncias do grupo dos fitofármacos (pesticidas e herbicidas). (2)- Os parâmetros a analisar com uma frequência trimestral, são um conjunto de elementos que normalmente constituem bons indicadores de poluição de origem antrópica: Condutividade eléctrica, ph, cloretos, sulfatos e nitratos. Porém no caso dos cloretos deve fazer-se a distinção entre os teores naturais característicos desta região, anormalmente elevados e os casos pontuais de contaminação. Paralelamente serão desenvolvidos alguns trabalhos complementares com vista à avaliação rigorosa das características hidrogeológicas do sector em estudo e que incluem levantamentos geofísicos (VLF/EM, SEV e diagrafias), ensaios de bombagem, caracterização dos usos do solo e práticas agrícolas e definição dos perímetros de protecção das captações de abastecimento público Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 11

das povoações da área do regadio, de acordo com a legislação em vigor (Dec. L. 382/99, de 22 de Setembro). 7.3 Definição e construção das redes de monitorização A densidade das redes de monitorização específica é variável e depende, entre outros factores, das heterogeneidades hidrogeológicas e das características intrínsecas do sistema como sejam a capacidade de dispersão e adsorpção dos poluentes em presença e a sua variabilidade temporal e espacial de acordo com as condições climáticas e os tipos de cultura. A finalizar este estudo serão construídos os piezómetros necessários a uma monitorização estatísticamente representativa das condições hidroquímicas e piezométricas do sistema, cuja rede de controle incluirá necessariamente pontos já existentes (furos e poços com características apropriadas). A densidade final da rede de monitorização e o padrão de cobertura da área de estudo só poderá ser determinada no final do projecto, embora se admita, para o aquífero freático superficial, mais vulnerável, uma densidade média de 1 piezómetro/estação de qualidade por cada 4 km 2, num total de cerca de 25 pontos (profundidades médias entre 10 e 15 m), como indicado na figura 9. Figura 9 Sequência litológica na área do bloco de rega de Canhestros e dimensão provável dos piezómetros a construir para monitorização do aquífero superficial livre (Piez. A) e do aquífero semi-confinado mais profundo (Piez. B). Para os aquíferos subjacentes será conveniente adoptar uma malha de monitorização mais alargada, mas que permita em todo o caso detectar alterações de qualidade relacionadas com drenância a partir de águas mais superficiais. Prevê-se uma densidade média de 1 piezómetro/estação de qualidade por cada 10 km 2, num total de cerca de 10 pontos (profundidades médias na ordem dos 30 m). Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 12

A componente técnica e económica de construção dos piezómetros é igualmente um factor importante uma vez que deverão ser robustos e não ser excessivamente dispendiosos. Os diâmetros dos entubamentos e as dimensões das caixas de segurança devem permitir a introdução de instrumentos de medida manuais e automáticos bem como possibilitar a colheita de amostras através de pequenos amostradores e bombas submersíveis, como indicado na figura 10. PIEZÓMETRO 8 - CONCLUSÕES Figura 10 Aspecto final dos piezómetros. A caraterização hidrogeológica rigorosa dos sistemas aquiferos em áreas de futuros regadios reveste-se da maior importância para a definição da situação de referência dos aspectos hidrodinâmicos e de qualidade da água, numa fase anterior aos previsíveis impactes que as alterações do uso do solo e o incremento do regadio inevitavelmente irão provocar. A avaliação prévia das condições hidrogeoquímicas e das relações entre as diferentes unidades aquíferas do sistema constituem a base para a definição do programa e frequência da amostragem que será objecto de tratamento geomatemático para selecção da rede de monitorização estatisticamente mais representativa, a implementar em colaboração com a EDIA. Em face dos resultados obtidos, no âmbito desta avaliação preliminar, é desaconselhável o uso dos recursos subterrâneos próprios na área do bloco de rega de Canhestros pelo elevado risco de salinização e alcalinização dos solos, potenciado pelo clima quente e seco da região. A utilização de águas menos mineralizadas provenientes de outras estruturas hidráulicas, como é o caso da Barragem de Alqueva constitui por isso um impacte positivo, embora outros equilíbrios químicos (precipitação, modificações do ph, etc) e o incremento de fertilizantes e fitofármacos devam ser considerados e objecto de monitorização a longo prazo. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos 13

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