Estrutura diamétrica de Dipteryx alata vog. em áreas com diferentes níveis de extração de frutos e antropização

Documentos relacionados
Estrutura populacional e distribuição espacial de Qualea grandiflora Mart., em área de transição no Piauí

Utilização do método de BDq para planejar o corte seletivo em um floresta de várzea no município de Mazagão-AP

Análise da distribuição diamétrica da vegetação de uma área de caatinga por meio da curva de Lorenz e do índice de Gini

Disciplina: BI63 B ECOSSISTEMAS. Tema da aula - Distúrbios: Sucessão Ecológica: principais conceitos e aplicações.

Estrutura Populacional E Distribuição Espacial De Qualea parviflora Mart., Em Área De Transição No Piauí

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA DA FLORESTA SECUNDÁRIA EM UM PERÍMETRO URBANO, BELÉM-PA

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA DE UM TRECHO FLORESTAL NA PORÇÃO SUL AMAZÔNICA, QUERÊNCIA MT

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE

Diversidade e dispersão das espécies lenhosas em áreas de cerrado sensu stricto, no período de 1996 a 2011, após supressão da vegetação em 1988

Predição da distribuição diamétrica de Inga sp. por meio de modelos probabilísticos, Macapá-AP, Brasil

PRODUTIVIDADE DE BARU (DIPTERYX ALATA VOG.) EM AMBIENTES MODIFICADOS, DURANTE 10 ANOS

PRODUTIVIDADE DOS PEQUIZEIROS (CARYOCAR BRASILIENSE CAMBESS.) NO MUNICÍPIO DE DAMIANÓPOLIS, GOIÁS 1

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Anais da Semana Florestal UFAM 2017

COMPORTAMENTO POPULACIONAL DE CUPIÚBA (GOUPIA GLABRA AUBL.) EM 84 HA DE FLORESTA DE TERRA FIRME NA FAZENDA RIO CAPIM, PARAGOMINAS, PA.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Elias Alves de Andrade Presidente em exercício do CONSEPE

DISTRIBUIÇÃO DE ASTRONIUM LECOINTEI DUCKE EM RELAÇÃO ÀS DIFERENTES FASES SUCESSIONAIS EM UMA FLORESTA NATURAL NA FAZENDA RIO CAPIM, EM PARAGOMINAS, PA

Plano De Manejo Florestal Sustentável Da Caatinga Na Região Central Do RN

Fator de forma para Mimosa ophthalmocentra e Poincianella bracteosa em uma área de Caatinga

Comunicado 174 Técnico

MORFOMETRIA DE FRUTOS E SEMENTES DE ÁRVORES DE BARU SITUADAS EM TRÊS CLASSES TEXTURAIS DE SOLO, EM CAMPO GRANDE, MS

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO E FITOSSOCIOLÓGICO EM CERRADO RUPESTRE E CERRADO TÍPICO CONTÍGUOS DO PARQUE DO BACABA.

Washington Luis, km 235 Caixa Postal 676 CEP: São Carlos, SP.

Efeito de estratégias de manejo em plantio de eucalipto sobre a ocorrência de aves. Camila Cristiane Isabella

Os OITO Elementos da Restauração. Sergius Gandolfi LERF/LCB/ESALQ/USP

Similaridade florística em duas áreas de Cerrado, localizadas no município de Parnarama, Maranhão - Brasil

LEVANTAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DE SOLO SOB PASTAGENS DA RODOVIA TRANSAMAZÔNICA - LÁBREA/AM

MANILKARA HUBERI STANDLEY (MAÇARANDUBA), EM UMA FLORESTA NATURAL NA REGIÃO DE PARAGOMINAS, PA 1.

DINÂMICA DAS POPULAÇÕES DE ABIUS EM UMA ÁREA SOB MANEJO NA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS, PA 1

CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE Qualea paraensis Ducke EM FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA NO MUNICÍPIO DE ROLIM DE MOURA, RO

Avaliação florística e estrutural da floresta de conservação de solo e água da Empresa Florestal Integral Guanacahabibes, Cuba

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Portaria CBRN 01/2015

FRAGMENTOS FLORESTAIS

2º RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DO PROJETO PLANTE BONITO

Ocorrência de açaí (Euterpe precatoria Mart.), em área de manejo florestal da Floresta Nacional do Jamari, Rondônia.

REGENERAÇÃO NATURAL DO COMPONENTE ARBÓREO DE UM FRAGMENTO DE VEGETAÇÃO DE ENCOSTA NA SERRA DE MARACAJU EM AQUIDAUANA, MS.

PROGRAMA DE REFLORESTAMENTO

O CLIMA E A VEGETAÇÃO DO BRASIL

Diversidade de biomas = diversidade de desafios para a ciência e a prática da restauração

III Congresso Brasileiro de Eucalipto

Diversidade microbiana em áreas sob vegetação nativa do bioma Cerrado

Estrutura populacional de Psychotria nuda (Cham & Schlecht.) Wawra, Hyeronima alchorneoides Allemão e Marlierea obscura

ESTUDO FITOSSOCIOLÓGICO DE Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don EM FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA

FFA Aula 3. Fatores ambientais. Vânia R. Pivello Depto. de Ecologia, IB-USP

NOTA PRELIMINAR SOBRE EXPERIMENTAÇÃO EM FLORESTAS TROPICAIS *

ANALISE FITOSSOCIOLOGICA DO ESTRATO HERBÁCEO-SUBARBUSTIVO EM UMA ÁREA DO SERTÃO DE ALAGOAS

Adequação ambiental da propriedade rural e aplicação do Programa de Regularização Ambiental (PRA) no Mato Grosso

Fragmentação. Umberto Kubota Laboratório de Interações Inseto Planta Dep. Zoologia IB Unicamp

Editores Técnicos Planaltina, DF 2008

ANÁLISE QUANTITATIVA DOS FRAGMENTOS FLORESTAIS NO ENTORNO DA RESERVA BIOLOGICA DE UNA-BA (REBIO)

RESPOSTAS DO ESTRATO RASTEIRO AO AUMENTO DA DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES EM UMA COMUNIDADE DE CERRADO

CRESCIMENTO DIAMÉTRICO MÉDIO E ACELERADO DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM UM FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA

COMPARAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INICIAL DE HÍBRIDOS DE EUCALYPTUS UROPHYLLA X EUCALYPTUS GRANDIS 1 INTRODUÇÃO

ECO GEOGRAFIA. Prof. Felipe Tahan BIOMAS

Relação entre área basal e a precipitação efetiva em um fragmento de mata atlântica na zona da mata norte mineira

Restauração Florestal de Áreas Degradadas

A NATUREZA DO BRASIL: CLIMA E VEGETAÇÃO

VARIAÇÃO ESPACIAL DA ABERTURA DE DOSSEL EM FLORESTA E PLANTIO DE CACAU NA RPPN DA SERRA DO TEIMOSO, BA

LEVANTAMENTO DO USO DOS RECURSOS FLORESTAIS NO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL JAMIL JEREISSATI-ACRE

Atributos químicos do solo sob diferentes tipos de vegetação na Unidade Universitária de Aquidauana, MS

Avaliação Qualitativa De Dossel Em Um Fragmento De Floresta Estacional Semidecidual Em Vitória Da Conquista

Edson Vidal Prof. Manejo de Florestas Tropicais ESALQ/USP

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS E AS FORMAÇÕES VEGETAIS DO BRASIL

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Crescimento em altura em um povoamento clonal de Tectona grandis L.f. em sistema silvipastoril, Alta Floresta-MT

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Anais da Semana Florestal UFAM 2017

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

Fenologia de Ziziphus joazeiro Mart. em uma área de ecótono Mata Atlântica-Caatinga no Rio Grande do Norte

Crescimento de quatro espécies florestais submetidas a diferentes formas de manejo de Urochloa spp. em área de restauração florestal

Renascimento de florestas

Estudo 4 - Oportunidades de Negócios em Segmentos Produtivos Nacionais

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

RELAÇÃO ENTRE A PRODUÇÃO DE FRUTOS E CIRCUNFERÊNCIA DO TRONCO DE QUALEA GRANDIFLORA MART. (VOCHYSIACEAE).

Ajustes de modelos matemáticos para a estimativa de nitrogênio em Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.) Altschul, Floresta-PE

Célia Maria PAIVA 1, Gilberto C. SEDIYAMA 2 RESUMO

9. Formações vegetais. Páginas 02 à 23.

Política Nacional de Meio Ambiente: unidades de conservação. Biogeografia - aula 4 Prof. Raul

DETECÇÃO DO DESMATAMENTO

BIOMA CERRADO Resolução SMA 64/2009. Ilustração: José Felipe Ribeiro

GRADE CURRICULAR ENGENHARIA FLORESTAL ESALQ/USP 2016

SEMENTES: PROPAGAÇÃO, ARMAZENAMENTO E CONSERVAÇÃO FRUTEIRAS NATIVAS. Andréa dos Santos Oliveira

PRODUCAO DE MUDAS DE ESPÉCIES FRUTIFERAS DO CERRADO

ESTRUTURA E PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE DUAS ESPÉCIES DE THEOBROMA EM UM PARQUE DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO NORTE DO ESTADO DE MATO GROSSO

CAPÍTULO 3 CORTE DE CIPÓS

Sucessão Ecológica e Dinâmica de Vegetação 2017

Influência da estrutura da vegetação sobre o uso de diferentes fitofisionomias por Sapajus xanthosternos num fragmento de Mata Atlântica

Dinâmica da paisagem e seus impactos em uma Floresta Urbana no Nordeste do Brasil

Programa Conservação e produção rural sustentável: uma parceria para a vida" no Nordeste de Minas Gerais

III SEMINÁRIO DE BIODIVERSIDADE E AGROECOSSISTEMAS AMAZÔNICOS Conservação de solos na Amazônia Meridional

Caracterização de Trocas de Calor Latente e suas Consequências na Evolução da Camada Limite Atmosférica no Cerrado do Distrito Federal

Prof. Pedro Brancalion

Ecologia Florestal Aplicada. A. Sitoe e Benard Guedes

SANDRA BELTRAN-PEDREROS JONES GODINHO (ORG)

ESTRUTURA DO HÁBITAT E A DIVERSIDADE DE INVERTEBRADOS

Potencialidades e utilização do baru ( (Dipteryx alata Vog.) em assentamento rural no Estado do Mato Grosso do Sul

Parte I. Recursos Florestais Silvicultura. PHD3334 Exploração de Recursos Naturais. Universidade de São Paulo

Transcrição:

Revista Brasileira de Agroecologia ISSN: 1980-9735 Estrutura diamétrica de Dipteryx alata vog. em áreas com diferentes níveis de extração de frutos e antropização Diameter structure of Dipteryx alata vog. in areas with different levels of fruit extraction and anthropization MAGALHÃES, Laise Cristina Souza1; FARIA, Rogério Rodrigues2; DAMASCENO JUNIOR, Geraldo Alves3 1 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS, Campo Grande/MS, Brasil, laisesmagalhaes@gmail.com; 2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS, Campo Grande/MS, Brasil, rogeriorfaria@gmail.com; 3 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS, Campo Grande/MS, Brasil, geraldodamasceno@gmail.com RESUMO: O objetivo deste trabalho foi verificar a estrutura diamétrica de Dipteryx alata Vogel, em lotes de assentamentos rurais sob diferentes intensidades de colheita dos frutos. Em cada lote foram dispostas três parcelas de 50 x 50m, nas quais todos os indivíduos de D. alata foram medidos o diâmetro à altura da base. O coeficiente de Liocourt q foi calculado para cada classe de diâmetro para verificar se é constante a freqüência de uma classe para a seguinte. Foram medidos 894 indivíduos, sendo 162 na área 1; 365 na área 2; 225 na área 3 e 142 na área 4. Os dados de freqüência demonstraram para todos os lotes que a menor classe de diâmetro foi mais freqüente, e ausência de indivíduos em algumas das classes intermediárias de diâmetro. O lote que mais se aproximou ao modelo de J invertido foi o controle. Cada tipo de lote apresentou estruturas diamétricas distintas e, essas diferenças foram principalmente observadas nas classes intermediárias de diâmetro, sendo um indicativo de perturbação. No lote 2 foi observado maior número de indivíduos regenerando, o que pode indicar um efeito de proteção por parte dos proprietários do lote. PALAVRAS-CHAVE: ecologia aplicada, Cerrado, recursos florestais ABSTRACT: The aim of this work was to verify the effect of Dipteryx alata Vogel fruit extraction in the diametric structure of plants of this species, in lots under different intensities of harvest. In each lot were established three plots of 50 x 50m. In these, all individuals of D. alata were measured at base diameter. The Liocourt coefficient q was calculated for each diameter class to verify if it is constant from one class to the next. It was measured 894 individuals, being 162 in the area 1; 365 in the area 2; 225 in area 3 and 142 in the area 4. Frequency data showed for all lots, that the smallest diameter class was more frequent, and with individual absence in some intermediate classes. The lot that was more near to the inverse J model was the control. Each type of lot showed different diametric structure and, these differences was principally observed in the diameter intermediate classes, and it is perturbation indicative. In the lot 2 a major number of young individuals were observed, indicating a protection effect offered by the households. KEY WORDS: applied ecology, Cerrado, forestry resources Correspondências para: laisesmagalhaes@gmail.com Aceito para publicação em 08/10/2012

Magalhães, Faria & Damasceno Junior Introdução O cerrado possui grande diversidade de plantas com potencial de uso econômico, entre elas Dipteryx alata Vog., conhecido também como cumbaru no Mato Grosso do Sul, espécie nativa, típica do Cerrado do Brasil, é uma espécie arbórea com 15-25m de altura e diâmetro do tronco 40-70 cm florescendo de outubro a fevereiro (OLIVEIRA & SIGRIST, 2008). Contendo no seu interior uma única semente comestível (BARROSO et al., 1999). Tem seus frutos e sementes utilizados na alimentação humana para a fabricação de bombons, bolos e sorvetes, e constitui importante fonte de renda para diversas comunidades rurais na região dos cerrados, onde são utilizados na forma de extrativismo (SANO et al., 2004). Desmatamentos, doenças, baixos índices de polinização ou germinação são fatores que podem interferir nas populações (FELFILI & SILVAJÚNIOR, 1988), assim como o extrativismo, que quando praticado com base na coleta dos frutos e sementes de maneira incorreta, com o passar do tempo, pode alterar a estrutura das populações. Em Nioaque, Mato Grosso do Sul há um centro de pesquisa, produção e capacitação do cerrado (Ceppec) onde as comunidades dos assentamentos Andalucia no município de Nioaque e Monjolinho, município de Anastácio têm se dedicado ao extrativismo, comercializando amêndoas de cumbarú (Dipteryx alata Vog.). A comunidade local realiza o extrativismo de frutos nesta região desde 1998. Contudo, até o momento não se sabe o quanto esta atividade afeta as populações desta espécie, principalmente em termos de regeneração e recrutamento. Uma vez que as comunidades locais dependem do uso de um recurso natural, este uso feito de maneira sustentável permitirá a subsistência desta atividade em longo prazo e assegurará a manutenção destas populações. A pressão extrativista sobre uma espécie, de forma intensa na colheita, pode interferir 136 negativamente na estrutura populacional (JARDIM & SOARES, 2010) a estrutura populacional de uma espécie representa informações em relação à comunidade vegetal e ao ambiente onde ela se apresenta (FELFILI., et al 2003). Em geral as populações com boa regeneração apresentam estrutura populacional enquadrada no modelo de J invertido (LnY = b0 + b1x) ou exponencial negativo (BETTINGER et al., 2009), onde tendência decrescente da primeira para a última classe indica a possibilidade de auto-regeneração, que pode ser utilizado como um parâmetro para a avaliação da estrutura populacional de espécies silvestres sob manejo. Assim, o objetivo do presente trabalho foi verificar o efeito dessas atividades na estrutura diamétrica de plantas de D. alata, em lotes dos dois assentamentos submetidos a diferentes intensidades de colheita. Material e métodos Área de estudo O trabalho foi realizado em dois assentamentos: Andalúcia, município de Nioaque e Monjolinho, município de Aquidauana. A região dos municípios de Nioaque e Aquidauana (MS) apresenta-se com duas estações climáticas bem definidas, chuvosa e seca, sendo o clima do tipo Aw segundo a classificação de Köppen. A estação seca abrange o período de abril a setembro e a chuvosa de outubro a março; com precipitação anual de 1.200 a 1.500 mm, concentrada no período da primavera ao verão. A vegetação predominante é do tipo Cerrado (lato sensu), com várias faixas de cerradão onde são encontradas as populações de D. alata. Os solos predominantes são do tipo latossolo (BRASIL, 1982). Coleta de dados O trabalho foi realizado em lotes dos dois assentamentos, submetidos a diferentes intensidades de colheita. Foram amostrados quatro lotes, sendo dois no assentamento Andalúcia (Lotes 1 e 3) e dois no assentamento Monjolinho

Estrutura diamétrica de Dipteryx alata vog. (Lotes 2 e 4). O lote 1 (20 50' 55.9''S 55 44' 13.9'' W) com início das colheitas anuais há 10 anos e última colheita de 1200kg e o mesmo foi roçado pela última vez cinco anos antes do período de coleta. )O lote 2 (20 45' 50''S 50 39' 40.1'') constitui uma área de pasto roçada cnstantemente, teve início das colheitas anuais há dois anos e última colheita de 420kg.O lote 3 (20 50' 13.0'' S 55 44' 31.8'' W) é uma área de pasto abandonada com capim com até dois metros de altura, foram iniciadas as colheitas anuais há 5 anos e última colheita de 360kg. O controle (20 45' 56.4''S 50 39' 25.7'' W) é uma área de reserva legal e não houve coleta de frutos. Em cada lote foram dispostas três parcelas de 50 x 50m totalizando 12 parcelas, nas quais quantificou-sede todos os indivíduos de D. alata e medidos o diâmetro à altura da base. Os dados de diâmetro foram categorizados em intervalos de cinco centímetros, em 13 classes de diâmetro para construção de gráficos de freqüência para cada lote. O coeficiente de Liocourt q (BETTINGER et al., 2009) foi calculado para cada classe de diâmetro para verificar se é constante a freqüência de uma classe para a seguinte. Resultados Ao todo foram medidos 894 indivíduos, sendo 365 no lote 1, 142 no lote 2, 162 no lote 3 e 225 no controle. O lote 1 seguido pelo controle foram os que apresentaram maior proporção de indivíduos na primeira classe de diâmetro, ou seja as plântulas, sendo 0.97 e 0.88 respectivamente, os demais apresentaram proporção de 0.47 para o lote 3 e 0.46 para o lote 2 (Fig. 1). Embora os lotes 1 e Controle apresentem semelhanças em respeito à proporção de indivíduos na primeira classe diamétrica, foi constatada diferenças nas lacunas de indivíduos em classes de diâmetro intermediárias. (Fig. 1). Os lotes 2 e 3 apresentaram distribuições diamétricas bem similares, tanto nas proporções de classe diamétrica, quanto na presença de indivíduos nas classes apresentadas, principalmente no que diz respeito às cinco primeiras classes diamétricas, que representam desde plântulas a indivíduos juvenis (Fig. 1). Todos os lotes tiveram lacunas quanto às classes de distribuições de diâmetro a altura da base, assim das 13 classes presentes, nenhum lote possuía indivíduos em mais do que sete classes. As lacunas estão presentes principalmente nas classes intermediárias de diâmetro, que representa indivíduos jovens. O indivíduo com maior diâmetro basal foi amostrado no lote 1, esta classe 61-65 cm foi ausente para os outros lotes (Fig. 1). Os dados do coeficiente de Liocourt calculado para cada classe em cada lote não indicam valor constante de q entre as classes de diâmetro, em nenhum dos casos. Os valores mais próximos encontrados foram na passagem das classes 1620 para 21-25 no lote 2, e da classe 36-40 para 4145 no Lote 1 (Tab. 1). Discussão Em todos os lotes houve a maior concentração de indivíduos na primeira classe, que no caso significa que a regeneração está ocorrendo, porém com indício de histórico de perturbação recente na área indicado por lacunas nas classes intermediárias. De acordo com Silva-Júnior & Silva (1988), em áreas de Cerrado essa concentração nas primeiras classes pode ser conseqüência do processo de exploração, visto a possibilidade de abate seletivo em um passado recente. A madeira desta espécie é visada pela comunidade rural, pois é de alta densidade (1,1 g/cm³), alta durabilidade, resistente ao apodrecimento, sendo utilizada em cercas, construção civil e implementos agrícolas (SANO et al., 2004). Outro fator responsável pelas lacunas nas classes intermediárias é o fato da transição de 137

Magalhães, Faria & Damasceno Junior Figura 1: Distribuições diamétricas de Dipteryx alata em lotes de dois Assentamentos no município de Nioaque-MS, 2008. plântulas para indivíduos jovens ser um processo pouco previsível em plantas de Cerrado. De acordo com Ressel et al. (2004) supõe-se que em áreas de Cerrado, após o processo inicial de estabelecimento de plântulas, as condições ambientais e as exigências específicas do crescimento controlam o processo de estabelecimento, assim as estratégias de alocação podem ser independentes do tipo de morfologia 138 funcional das plântulas. Para Dipteryx panamensis, em um fragmento de Floresta Tropical Úmida na Costa Rica, foi constatado também poucos indivíduos juvenis (CLARK & CLARK, 1987). Porém em D. panamensis o crescimento relativamente rápido de indivíduos jovens grandes e de pequenos adultos, e a distribuição contínua de diâmetros de indivíduos adultos refutam a hipótese de adultos remanescentes de distúrbios ocorridos

Estrutura diamétrica de Dipteryx alata vog. Tabela 1: Valores do coeficiente de Liocourt q baseado nos dados de diâmetro a altura da base de indivíduos de Dipterix alata, para os lotes dos Assentamentos Andalúcia e Monjolinho, Nioaque-MS. 2008. no passado, até porque se trata de uma floresta primária e há indícios de ausência de distúrbios nos últimos 100 anos. Mesmo com maior concentração de indivíduos na primeira classe diamétrica, não foi constatado nenhum caso de ajuste ao padrão do J invertido. Entretanto, os resultados devem ser analisados com cautela, pois o modelo possui suas limitações. Como há uma diferença de tamanho entre os indivíduos, pode haver a possibilidade de transição rápida de uma classe para outra ou mesmo nem haver essa transição, a probabilidade de transição é nula e ocorre acréscimo de plantas em uma única classe diamétrica (SCOLFORO et al., 1998). Isso resultaria em uma distribuição diamétrica errática e também não balanceada, pois o formato de J invertido pode ser atribuído ao constante recrutamento e à taxa de mortalidade entre as 139

Magalhães, Faria & Damasceno Junior classes. Com essas limitações, o modelo ainda é o mais adequado para as avaliações ou suposições de impacto da coleta de frutos e sementes na estrutura populacional de espécies como D. alata. No entanto verificou-se que nas áreas estudadas que o potencial de regeneração pode estar sendo favorecido pelos assentados. Uma vez que os frutos são fonte de renda para a população dos assentamentos da região, estes podem estar atuando na conservação destas plantas (CANDIL et al., 2007). Nepomuceno (2006) na região de Pirenópolis, Goiás, relatou uma situação na qual os proprietários rurais estão mantendo D. alata junto às pastagens, visando também à atividade extrativista. Dependendo do tipo de extrativismo, pode haver efeitos negativos em uma população de plantas. Borges-Filho & Felfili (2003) em uma área de Cerrado no Brasil Central constaram que a extração da casca de Stryphnodendron adstringens, sem critérios e de maneira desordenada, tornava as plantas suscetíveis a injúrias físicas, conseqüentemente levando a uma situação de baixa regeneração e alta mortalidade. Assim, seriam necessários estudos nos quais fosse verificada a distribuição diamétrica de D. alata em mata primária. Nos Assentamentos estudados o controle é uma área de Reserva Legal, porém sua vegetação apresenta traços de extração seletiva de madeira (obs. pess), é uma área isolada do gado e na qual não ocorria colheita dos frutos. Vegetação sem perturbação antrópica praticamente não existe devido ao histórico da área e ao processo de ocupação. Os dados obtidos pelo coeficiente de Liocourt (q) indicam que não há uma razão constante entre as classes diamétricas de D. alata, ou seja, um típico caso de estrutura não balanceada ou não equilibrada. Uma razão constante de q significa que há um equilíbrio entre mortalidade e crescimento (FELFILI & SILVA-JÚNIOR, 1988). Caso esse padrão se repita ao longo do tempo é 140 provável que não ocorra um número proporcional de árvores em cada classe diamétrica (POURREZA et al., 2008). Quando uma série é interrompida ou truncada, o ciclo de vida não está sendo completado, a espécie então não pode ser considerada equilibrada, ou seja, populações em equilíbrio deveriam apresentar histogramas de freqüência de classe de diâmetro como uma série geométrica decrescente (MARTINS, 1991). Irregularidade estrutural também já foi constatada por Felfili & Silva-Junior (1988), ao registrar em uma área de Cerrado sensu stricto que as 17 principais espécies arbóreas tinham este padrão, e neste caso também foi atribuída à hipótese de distúrbio no passado como principal razão. Estudos envolvendo modelos de simulação matemáticas indicam que em muitos casos o desequilíbrio na distribuição diamétrica atuais pode estar associado a eventos de perturbação passados (e.g. COOMES & ALLEN, 2007). Não era esperado que nos lotes dos Assentamentos estudados fosse encontrada estrutura diamétrica balanceada, ou seja, valores de q constantes e nem o padrão de J invertido para D. alata. Pois em sua maioria os lotes são muito alterados em decorrência da ocupação humana e das atividades de subsistência dos assentados. Além de manutenção do pasto, que incluem roçadas, a colheita de frutos poderia ser tão intensa que impediria o recrutamento. A presença do pasto também poderia inibir o crescimento das plântulas por competição por nutrientes e espaço. Em D. alata os estágios iniciais de desenvolvimento são em grande parte dependentes de um sistema radicular mais desenvolvido (OLIVEIRA et al., 2006), que pode ser obstruído pela competição com as pastagens. No entanto, foi observada a regeneração, desde em áreas em que não houve colheita até em áreas com regime mais intenso de colheita. Pode-se observar que em lotes com pasto em

Estrutura diamétrica de Dipteryx alata vog. que os proprietários estão colhendo sementes de D. alata (lotes 2 e 3) existe um maior número de indivíduos jovens em diferentes classes de diâmetro. Aonde ocorrem as coletas, os assentados evitam roçar as plântulas de cumbaru bem como a derrubada de árvores adultas pelo interesse econômico que possuem (obs. pes). Assim, de acordo com os resultados apresentados é possível verificar que há um efeito de proteção por parte dos proprietários, ou seja, um caso no qual a atividade extrativista é aliada a conservação de uma espécie arbórea. Agradecimentos Ao Ceppec pelo apoio logístico, aos proprietários dos lotes pela permissão de uso das áreas e ao CNPq pelo apoio financeiro. Referências Bibliográficas BARROSO, G.M. et al. Frutos e sementes morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa: Editora da UFV, 1999. 443 p. BETTINGER, P. et al. Forest Management and Planning. California-USA: Ed. Elsevier, 2009. 331p. BORGES-FILHO, H. C. B.; FELFILI, J. M. Avaliação dos níveis de extrativismo da casca de barbatimão Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville no Distrito Federal, Brasil. Revista Árvore, v. 27, n. 5, p. 735-745. 2003. BRASIL. Projeto RADAMBRASIL. Folha SE. 21 Corumbá e parte da folha SE. 20. (Levantamento de recursos naturais, 27). Rio de Janeiro: MME. 1982. CANDIL, R. F. M. et al. O Cumbaru (Dipteryx alata Vog.), o desenvolvimento local e a sustentabilidade biológica no assentamento Andalúcia, Nioaque/MS. Interações, v.8 n.1, p 75-80. 2007. CLARK, D. A.; CLARK, D. B. Population ecology and microhabitat distribution of Dipteryx panamensis, a neotropical rain forest emergent tree. Biotropica, v.19, n. 3, p. 236-244. 1987. COOMES, D. A.; ALLEN, R. B. Mortality and treesize distributions in natural mixed-age forests. Journal of Ecology v.95, p 27-40. 2007. FELFILI, J. M.; SILVA-JÚNIOR, M. C. Distribuição dos diâmetros numa faixa de Cerrado na Fazenda Água Limpa (FAL) em Brasília-DF. Acta botânica Brasilica, v.2, p 85-104. 1988. FELFILI, J. M. et al. Diversidade, estrutura e distribuição espacial de palmeiras em um cerrado sensu stricto no Brasil Central. Revista Brasileira de Botânica, v. 26, n. 3, p. 362-369. 2003. JARDIM, F. C. DA S.& SOARES, M. DA S. Comportamento de Sterculia pruriens (Aubl.) Schum. em floresta tropical manejada em MojuPA. Revista Acta Amazonica, v. 40, n.3,p. 535 542. 2010. MARTINS, F. R. Estrutura de uma floresta mesófila. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1991. 246 p. NEPOMUCENO, D. L. M. G. O extrativismo de Baru (Dipteryx alata Vog) em Pirenópolis (GO) e sua sustentabilidade. Dissertação de mestrado. Goiânia-GO: UCG. 2006. 116p. OLIVEIRA, A. N. et al. Variações genéticas para características do sistema radicular de mudas de baru (Dipteryx alata Vog.). Revista Árvore, v.30, n.6, p. 905-909. 2006. OLIVEIRA, M. I. B.; SIGRIST, M. R. Fenologia reprodutiva, polinização e reprodução de Dipteryx alata Vogel (LeguminosaePapilionoideae) em Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, v. 31, p. 195207, 2008. POURREZA, M. et al. Sustainability of wild pistachio (Pistacia atlantica Desf.) In: Zagros forests, Iran. Forest Ecology and Management, v. 255, p. 3667 3671. 2008. RESSEL, K. et al. Ecologia morfofuncional de plântulas de espécies arbóreas da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, Minas Gerais. Revista Brasileira de Botânica, v. 27, n. 2, p.311323. 2004. SANO, S.M. et al. Baru: biologia e uso. (Embrapa Cerrados. Documentos, 116). Planaltina: Embrapa Cerrados, 2004. 52p. SCOLFORO, J. R. S. et al. Modelagem da produção, idade das florestas nativas, distribuição das espécies e a análise estrutural. In: SCOLFORO, J.R.S. (Org.). Manejo Florestal. Lavras: Ed.UFLA/FAEPE, 1998. p.189-246. SILVA-JÚNIOR, M. C; SILVA, A. F. Distribuição dos diâmetros dos troncos das espécies mais importantes do Cerrado na Estação Florestal de 141

Magalhães, Faria & Damasceno Junior Experimentação de Paraopeba (EFLEX)-MG. Acta Botanica Brasilica, v.2, p. 107-126. 1988. 142