CORPUS CHRISTI DE CONVENTO PARA HOTEL

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Transcrição:

CORPUS CHRISTI DE CONVENTO PARA HOTEL J. APPLETON V. APPLETON M. FERREIRA DA ROCHA ENG.º CIVIL ENG.º CIVIL ENG.ª CIVIL A2P Consult A2P Consult A2P Consult Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal joao.appleton@a2p.pt vasco.appleton@a2p.pt margarida.rocha@a2p.pt F. VALSASSINA AMARAL A. AQUINO ENG.º CIVIL ENG.ª CIVIL A2P Consult A2P Consult Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal frederico.valsassina.amaral@a2p.pt ana.aquino@a2p.pt RESUMO O convento de Corpus Christi tem origem no período pós restauração, mais concretamente em 1648, tendo ruído parcialmente no sismo de 1755. O que da construção original foi aproveitado e o que será novo e pombalino, apenas o decorrer da obra poderá esclarecer com maior detalhe. O projecto desenvolvido pretende reabilitar o quarteirão e adequá-lo às exigências regulamentares actuais com o objectivo de adaptar todos os edifícios à função de hotel. Ao longo do desenvolvimento do projecto foi necessário ter em consideração: (1) o programa imposto pelo projecto de arquitectura; (2) o respeito pelo próprio conjunto edificado e pela sua história, de modo a criar soluções estruturais pragmáticas e económicas, compatíveis com todas as vertentes. 1. INTRODUÇÃO O conjunto edificado do convento do Corpus Christi, localiza-se num quarteirão da baixa pombalina; delimitado a Nascente pela Rua dos Fanqueiros, a Poente pela Rua dos Douradores, a Norte pela Rua da Vitória e a Sul pela Rua de São Nicolau. 1 Rua dos Fanqueiros 2 Rua dos Douradores 3 Rua da Vitória 4 Rua de São Nicolau A Igreja Figura 1: Quarteirão do Corpus Christi. Pretende-se transformar e adaptar todo o quarteirão à função de hotel, reabilitando o conjunto de edifícios de acordo com as exigências regulamentares actuais. Simultaneamente, as soluções estruturais terão de respeitar o projecto de arquitectura e ter em consideração o próprio conjunto edificado e sua história. 1

O Convento de Corpus Christi tem origem no período pós restauração. Em 1648 foi colocada a primeira pedra da igreja original, tendo sido atribuído aos Carmelitas Descalços, cerca de dez anos depois, para aí edificarem um convento. O convento ruiu parcialmente no sismo de 1755, tendo sido reedificado entre 1762 e 1777. A fundação do convento segue-se a uma tentativa de assassínio do Rei D. João IV, que ocorreu no dia de Corpo de Deus, da qual o monarca se salvou, tendo sido criado em agradecimento por essa mercê. O quarteirão apresenta assim construções anteriores e posteriores ao sismo de 1755 (i.e. construções pré-pombalinas e pombalinas). A planta formal do conjunto edificado distingue-se dos restantes quarteirões na baixa pombalina em três aspectos: (i) uma igreja inserida dentro do conjunto, ao contrário das de S. Nicolau e de S. Julião; (ii) o canto chanfrado entre a Rua da S. Nicolau e a Rua dos Fanqueiros e (iii) a inexistência de saguão ao eixo do quarteirão que é regra existir, possuindo dois pátios interiores. 2. CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL Na sua generalidade, o quarteirão é constituído por 5 pisos: um piso semienterrado (piso -1) que no lado nascente se encontra abaixo do nível da Rua dos Fanqueiros, constituindo no tardoz um piso térreo (lado poente da Rua dos Douradores) de forma a adaptar o quarteirão à própria configuração do terreno; um piso térreo (piso 0); 3 pisos elevados (piso 1, piso 2 e piso 3); e ainda um piso de esteira sob coberturas típicas da geometria da arquitectura de Eugénio dos Santos. Ao nível do rés-do-chão e do 1º andar surgem as abóbadas, que reforçam o carácter pombalino do quarteirão, embora com a singularidade de possuírem, na frente para a Rua dos Fanqueiros, pé-direito duplo interrompido pelo tecto das lojas. Figura 2 e Figura 3: Abóbadas do Piso 1 rua dos Fanqueiros. O pavimento dos pisos superiores é constituído por vigamentos de madeira, tanto nas zonas secas como nas zonas húmidas. Verificou-se a existência de tarugamento dos pisos com secções idênticas às dos vigamentos. Estes elementos transversais ao vigamento têm como objectivo impedir a encurvadura das vigas e minimizar a sua deformação transversal, tanto a estrutural como a decorrente da secagem, aumentando a rigidez global do pavimento e mobilizando mais que uma viga para cargas concentradas. O revestimento destes pisos é feito com tábuas de soalho com 30mm de espessura e com encaixe macheado. Em algumas zonas húmidas, o revestimento é de pedra e noutras é de ladrilhos com constituição diversa. A estrutura vertical interior dos pisos elevados é essencialmente constituída por paredes de tabique de carácter estrutural e por paredes de frontal, que têm como principais funções o travamento das paredes de alvenaria periféricas e o apoio dos vigamentos de madeira. As características pombalinas do quarteirão encontram-se bem marcadas no desenho tipificado das fachadas, fortemente caracterizado pelas janelas delimitadas por cantarias de palmo de desenho simples. No âmbito do desenvolvimento do projecto de estruturas foi efetuada uma caracterização estrutural, onde foi possível tipificar a caracterização construtiva, num piso tipo, com a identificação do tipo de parede. 2

O estado de conservação do quarteirão é de grau satisfatório à excepção do edificado situado na esquina a sul entre a Rua do Douradores e a Rua de S. Nicolau; nesta zona os elementos interiores de estrutura de madeira apresentam um elevado nível de degradação que inviabiliza (apenas localmente) uma operação corrente de restauro ou reforço. Figura 4 e Figura 5: Degradação dos pavimentos na esquina sul. Verificou-se também que o edifício, ao nível do piso térreo do lado da Rua dos Fanqueiros, é o produto de sucessivas alterações que lhe foram sendo introduzidas e que modificaram a sua organização estrutural, devido à abertura de vãos e espaços para as lojas, mantendo-se contudo praticamente inalterada a zona da Igreja. Figura 6: Planta do piso tipo. Figura 7: Nível superior. Figura 8: Cúpula da Igreja. 3

Figura 9: Vista 360º da igreja. 3. SOLUÇÃO ESTRUTURAL A intervenção estrutural baseia-se numa lógica de reabilitação/restauro sempre que o seu estado de conservação o permita, e na reconstrução com recurso a estruturas leves, com base em materiais tais como a madeira e o aço. As paredes de alvenaria estrutural, interiores ou de fachada, serão alvo de intervenção localizada de abertura e fecho de vãos. Todos os vãos a abrir serão alvo de reforço estrutural, este reforço dependerá da dimensão do vão e da espessura da parede de alvenaria. Em todos os vãos a fechar, executar-se-á uma ligação através de chumbadouros que garantam uma ligação mecânica entre o novo troço de parede de alvenaria a reconstruir e a alvenaria existente. Nas zonas onde se verifica tal necessidade, tanto por razões sísmicas como por alterações de geometria fragilizantes da estrutura, será executado o encamisamento das paredes de alvenaria. De forma a garantir o comportamento do conjunto de todas paredes de alvenaria que compõem o quarteirão e sempre que se verifica a necessidade de as reforçar sismicamente, serão colocados tirantes embainhados ao longo das vergas das paredes de alvenaria. Por razões de comportamento sísmico, as fundações das paredes de alvenaria serão reforçadas com micro-estacas. Figura 10: Reforço da ligação entre paredes de alvenaria. Nos pavimentos em contacto com o terreno, à excepção dos saguões, serão colocados massames armados com 0.15m de espessura. A solução com 0.25m de espessura apenas será utilizada em zonas pontuais para o equilíbrio dos maciços de micro-estacas. O apoio dos pavimentos de madeira nas paredes de alvenaria será reforçado, no caso de vigamentos existentes, ou executado no caso de novos vigamentos, com cantoneiras do tipo LNP150x100x10. Estas cantoneiras serão ligadas à face das paredes e alvenaria. Esta solução poderá dar lugar a outras, não convencionais, quando a sua função futura o justifique ou quando tal se torne estruturalmente necessário, nomeadamente como acontece no piso 4: com o objectivo de reduzir a espessura do pavimento ao mínimo possível este encontra-se em alguns pontos suspenso pela estrutura de cobertura e noutros pontos apoiado nas paredes divisórias estruturais do piso inferior. 3.1. Igreja Nas zonas junto à Igreja sempre que o programa bem como o estado de conservação o permite, a intervenção baseia-se numa lógica de recuperação e reforço integral das estruturas existentes. Em toda zona nobre da antiga Igreja apenas será 4

executado um massame com uma laje térrea de 0,10m e espessura. Todas as restantes zonas serão alvo de restauro, tanto em paredes como na cobertura. Apenas se se verificar necessário reforçar os arcos, e consoante a consolidação dos carregos dos mesmos, é que se poderá executar algum reforço. Nas traseiras, com entrada pela rua dos Douradores no piso -1, semienterrado e com futura função de restaurante, haverá lugar à execução de reforços/recalçamentos de fundações com micro-estacas. Os maciços das micro-estacas serão executados do lado interior das paredes de alvenaria e equilibrados com uma laje térrea com 0,25m de espessura. No piso 0, a única estrutura metálica a executar nesta zona corresponde à estrutura de um mezanino que existirá sobre a zona do restaurante. Esta estrutura será para uma área de estar que terá acesso directo da zona do átrio do hotel. No piso 1, 2 e 3 no tardoz da Igreja, a estrutura existente de madeira será reforçada com uma grelha de perfis metálicos. 3.2. Escadas em abóbadas e claustro No quarteirão existe uma zona com lanços de escadas apoiados em arcos e abóbadas de arestas. Nestas abóbadas, prevêse apenas o reforço dos carregos com a execução de um reforço com um reboco armado no intradorso e extradorso com 0.040m de espessura ligadas entre si com grampos 10//0.40m a 0.80m em quincôncio. Relativamente ao claustro, actualmente envolvido por paredes de alvenaria e acesso verticais do período pombalino, avalia-se a viabilidade de recuperar o antigo claustro do convento (pré-pombalino), visto que a maioria dos elementos estruturais não foram destruídos, encontrando-se integrados nas estruturas actuais. Figura 11: Pormenor de reforço das abóbadas. 3.3. Edifícios a Norte da Igreja - Rua dos Fanqueiros, Rua da Vitória e Rua dos Douradores Neste conjunto de edifícios a intervenção destina-se a eliminar as deficiências visíveis e as respectivas causas de anomalias identificadas, tais como paredes fendilhadas, garantindo a reconstituição da integridade estrutural das paredes e das ligações afectadas; por outro lado, os elementos de madeira de pavimentos, afectados por ataques de térmitas, carunchos e fungos, serão igualmente reparados ou substituídos. Torna-se ainda necessário, eliminar zonas de infiltração (actualmente coincidentes com zonas dos vãos das paredes de fachada e zonas húmidas, casas de banho, cozinhas e coberturas), que são causadoras da formação e proliferação de colónias de fungos de podridão. Prevê-se o reforço/substituição dos pavimentos e madeira existentes sempre que se encontrem degradados ou com insuficiência estrutural. Todos os pavimentos de madeira, novos e existentes, serão alvo de tarugamento, tratamento preservador contra o ataque de xilófagos e protegidos contra o fogo de acordo com as especificações do caderno de encargos do projecto de execução. As paredes divisórias interiores não estruturais serão alteradas, para homogeneizar a distribuição do número de quartos do hotel. As paredes que possuam revestimentos decorativos considerados intocáveis pela equipa de arquitectura e de conservação/restauro serão mantidas, nas restantes sempre que se verifiquem revestimentos estes serão removidos/registados e reaplicados. As paredes interiores estruturais serão alvo de alterações de vãos e apenas removidas em casos especiais em que tal se torne imperativo por motivos arquitectónicos. Sempre que possível irá existir uma parede de travamento da fachada a cada 2 ou 3 vãos. Estes travamentos são na generalidade efectuados com paredes de frontais aligeirados. As descontinuidades em altura destas paredes de frontal são viabilizadas à custa de perfis metálicos ou arcos de transição incorporados dentro das abóbadas existentes. 5

Nas abóbadas no piso 2 e onde a verticalidade arquitectónica o permite, serão executados arcos de transição para apoio das novas paredes interiores estruturais, de frontal, que terão a principal função de travar fachadas, e apoiar a estrutura dos pavimentos do piso 3, 4 e cobertura. Nesta zona todos os pavimentos de abóbadas localizam-se ao nível do piso 0 e 2, sempre que se verifique essa necessidade, será feita a reposição e consolidação dos carregos existentes, bem como o encamisamento da abóbada com duas lâminas de betão, no intradorso e no extradorso. Todos os cortes e furações em abóbadas serão alvo de reforço estrutural. Figura 12: Arco de transição para apoio das novas paredes de frontal. 3.4. Edifícios a Sul da Igreja - Rua dos Fanqueiros, Rua da Vitória e Rua de São Nicolau Nestes edifícios os elementos interiores de estrutura de madeira apresentam um elevado nível de degradação que inviabiliza (apenas localmente) uma operação corrente de restauro ou reforço. Assim a estrutura prevista visa a reconstrução total da estrutura existente. As paredes de frontal serão reconstruídas e apoiadas ao longo de cada piso por perfis metálicos que por sua vez também servem de apoio aos vigamentos de madeira. De modo a garantir a longevidade e durabilidade das estruturas existentes de madeira, os elementos de frontal a manter (basicamente, as situadas na adjacência da caixa de escadas), actualmente em contacto com o terreno, serão recalçados com um troço de parede de betão com uma sapata de fundação no seu primeiro metro de altura, de forma a eliminar o contacto dos elementos de madeira com o terreno, sapata essa a fundar, eventualmente, em micro estacas. Nas zonas em contacto com o terreno prevê-se a execução de reforços/recalçamentos de fundações com micro-estacas. 3.5. Coberturas Na generalidade, à excepção da cobertura da igreja, as coberturas serão alteradas, de modo a melhorar a sua estrutura, libertando simultaneamente os espaços interiores de cargas adicionais, encaminhando-as para as paredes periféricas, que possuem maior capacidade de as absorver. Prevê-se restaurar a cobertura da cúpula da Igreja, pois, até agora, não se verificaram indícios de mau funcionamento estrutural da mesma que obriguem à sua reconstrução. Figura 13: Corte de uma asna da cobertura. 6

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O que da construção original será aproveitado e o que será novo e pombalino, apenas o decorrer da obra poderá esclarecer com maior detalhe, mas no momento actual a campanha de prospecção estrutural e arqueológica (enterrada e parietal), conjugadas com a análise histórica, já permitiram classificar a igreja e algumas zonas envolventes como certamente pré-pombalinas, bem como uma parte significativa do miolo do quarteirão. No entanto o projecto visa reabilitar o quarteirão e adequá-lo às exigências regulamentares actuais com o objectivo de adaptar todos os edifícios à função de hotel, tendo em conta não só o respeito pelo programa imposto pelo projecto de arquitectura, como também o respeito pelo próprio conjunto edificado e pela sua história, de modo a criar soluções estruturais pragmáticas e económicas que sejam compatíveis com todas as vertentes. 5. AGRADECIMENTOS A toda a equipa, particularmente: Dono de Obra Companhia de Seguros Tranquilidade; Arquitectura Intergaup. 6. REFERÊNCIAS [1] Ribeiro dos Santos, M. Em busca do convento perdido Dossiê Monumentos, 2004, n.º21 pp.124-131 [2] Soromenho, M. O Convento do Corpus Christi: um caso de estudo Dossiê Monumentos, 2004, n.º21 pp.116-123 [3] França, J. - Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Lisboa: Bretand, 1987 [4] Appleton, J. - Reabilitação de Edifícios antigos, Lisboa: Orion,2003 7