CULTIVO ORGÂNICO DE BATATA NA REGIÃO DE GUARAPUAVA-PR: CULTIVARES INDICADAS E RESISTÊNCIA A LARVA ALFINETE Área Temática: Tecnologia e Produção Autor(es): Diego Geraldo Freitas Groff 1, Marcos Roberto Barboza 2 ; Mayara De Carli 3 ; Jackson Kawakami 4 ; Cristiane Nardi 5. RESUMO: Diabrotica speciosa é uma das principais pragas de cultura da batata, causando perfurações e galerias nos tubérculos e reduzindo valor comercial. Para o manejo deste inseto em cultivos orgânicos, a seleção de cultivares resistentes é uma estratégia promissora, uma vez que não se dispõe de métodos eficientes de controle aplicáveis nesse sistema. Neste estudo, objetivou-se avaliar os danos causados por larvas de D. speciosa em tubérculos de batata bem como a relação entre o número de adultos e os danos verificados cultivares Catucha, IPR Cris, IAC Vitória. Além disso, realizou-se o levantamento das espécies de insetos fitófagos e de inimigos naturais associados a estas plantas. O experimento foi implantado na estação experimental do IAPAR em Guarapuava/PR, distribuindo-se as cultivares em três blocos ao acaso. As avaliações de danos por D. speciosa de danos foram realizadas 97 dias após o plantio (DAP), analisando 120 tubérculos por cultivar. A porcentagem de danos nos tubérculos foi avaliada pela relação do volume de galerias internas em relação ao volume total do tubérculo, avaliando-se também o número de orifícios ocasionados pelas larvas em cada tubérculo. A avaliação da presença e frequência de adultos de D. speciosa, foi realizada através de coleta direta com o uso de rede e aspirador entomológicos, aos 38 DAP e aos 59 DAP. Os tubérculos da cultivar IPR Cris e cultivar Catucha apresentaram o menor número de orifícios e de galerias na maturação fisiológica indicando menor suscetibilidade às larvas de D. speciosa em relação as demais cultivares. Observou-se também menor número de adultos destes insetos associados às cultivares Catucha e IPR Cris, em relação a IAC Vitória. PALAVRAS-CHAVE: larva alfinete; resistência de plantas a insetos; insetos de solo; vaquinha. 1. INTRODUÇÃO/CONTEXTO DA AÇÃO A batata (Solanum tuberosum) encontra-se entre as principais culturas produzidas e hortaliças mais cultivadas no mundo. No Brasil a batata também está entre as principais culturas, cultivada em mais de 128 mil ha, com uma produção de 3.500.000 t e produtividade média de 27 t.ha -1 (IBGE, 2013). No cultivo convencional, a sanidade está diretamente ligada ao uso intensivo de defensivos agrícolas, sendo empregada grande quantidade de inseticidas 1 Acadêmico do curso de graduação em Agronomia da UNICENTRO. diegogroff@hotmail.com.br 2 Doutorando do curso de Pós-graduação em Agronomia - produção vegetal da UNICENTRO. barbozabio@yahoo.com.br 3 Mestranda do curso e Pós-graduação em Agronomia da UNICENTRO. decarlimayara@gmail.com 4 Professor do Departamento de de Agronomia da UNICENTRO. jkawa13@hotmail.com 5 Professora do Departamento de Agronomia da UNICENTRO. cnardi@unicentro.br
que representam, aproximadamente, 11% do custo de produção. Logo, a agricultura orgânica é apontada como solução para tais problemas e como uma alternativa de manejo sustentável. Adicionalmente, a produção de batata orgânica é uma excelente oportunidade de negócio, visto que há grande demanda pelo produto e baixa produção (DAROLT, 2007). No entanto, é um grande desafio para os produtores, que ainda não dispõem de informações relativas a cultivares adaptadas ao sistema de cultivo orgânico, bem como às técnicas de manejo cultural e de controle fitossanitário (ROSSI et. al., 2011). Dentre os insetos fitófagos que frequentemente atingem o status de praga em bataticultura, um dos principais é Diabrotica speciosa, cujos adultos causam danos nas folhas e brotos diminuindo a área fotossintética, e as larvas perfuram e constroem galerias nos tubérculos, logo acarreta perda qualitativa e quantitativa ao produto comercial (MARQUES; ÁVILA; PARRA, 1999). Para o manejo de D. speciosa em cultivos orgânicos, a seleção de cultivares resistentes é uma estratégia primordial, tratando-se de um método preventivo, que pode restringir a população dos insetos na cultura, reduzindo a demanda por outros métodos de controle. No presente trabalho, objetivou-se avaliar os danos causados por D. speciosa em tubérculos de três cultivares de batata recomendadas para o sistema orgânico a fim de selecionar a mais adequada para o cultivo na região de Guarapuava-PR, e realizar a divulgação das informações junto aos agricultores da região. 2. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E/OU DA METODOLOGIA Área de estudo. O experimento foi realizado na estação experimental do Instituto Agronômico do Paraná, Guarapuava-PR, entre 20 de outubro de 2015 a 25 de janeiro de 2016. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, sendo composto por três blocos com quatro repetições, sendo que os tratamentos foram as cultivares de batata (Solanum tuberosum L.) recomendadas para o sistema orgânico: Catucha, IPR Cris, IAC Vitória. Levantamento populacional de adultos de Diabrotica speciosa. Foram realizadas duas avaliações dos adultos de D. speciosa na área experimental, sendo a primeira aos 38 DAP e a segunda aos 59 DAP a partir de coleta direta com uso de rede e aspirador entomológicos. A coleta com rede entomológica deu-se em cada linha de plantio, com movimentos em forma de 8, sendo que os insetos retidos foram succionados com o aspirador entomológico e posteriormente acondicionados em recipientes plásticos de 50 ml contendo álcool 70% para análise em laboratório. Quantificação de danos ocasionados por larvas de D. speciosa em tubérculos de batata. A avaliação de danos de D. speciosa foi realizada no final da safra 2015/2016 aos 97 (DAP). Para avaliar os danos ocasionados pelas larvas foram avaliados 10 tubérculos coletados aleatoriamente, de cada parcela, totalizando 120 tubérculos por cultivar, oriundas da colheita de plantas na maturação fisiológica. Quantificou-se o número de orifícios ocasionados pelas larvas, considerando-se aqueles com mais de 2 mm de diâmetro e com mancha escurecida no centro, sinais característicos do ataque deste inseto. Além disso, foram avaliados o tamanho de galerias formadas em decorrência da alimentação das larvas. Para tanto, os tubérculos foram previamente medidos quanto a sua largura e comprimento, a fim de estimar a área total. Posteriormente, os tubérculos foram cortados, contando-se o número de galerias, consideradas como aberturas tuneliformes de cerca de 1 milímetro, com laterais necrosadas. Cada galeria foi medida com auxílio de um paquímetro, e posteriormente calculou se a proporção do
comprimento total das galerias em relação a área total do tubérculo. Foi calculada a porcentagem de danos para cada tubérculo através da estimativa do volume, considerando a forma da batata com de uma elipsoide, usando a formula ( ) e considerando as galerias formadas como cilindros foi calculado o volume através da formula ( ), sabendo que o raio médio das galerias é 1 mm. A análise estatística dos dados foi realizada com o auxílio do software estatístico Sisvar. Os dados foram submetidos a análise de variância (anova, p<0.05), posteriormente as médias foram comparadas pelo teste de Tukey. 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO As cultivares de batata recomendadas para o cultivo orgânico mostraram-se distintas em relação aos níveis de danos ocasionados por larvas de D. speciosa (ANOVA, p<0,05) (Tabela 1). A cultivar IPR Cris apresentou menor número de orifícios e de galerias e se mostrou semelhante a cultivar Catucha, sendo as duas superiores a IAC Vitória. Quanto ao comprimento das galerias não houve diferenças significativas entre as três cultivares. Analisando a porcentagens (%) de danos nos tubérculos a cultivar IAC Vitória teve o maior dano diferenciando das demais, a cultivar Catucha apresentou o menor % de danos, e vemos cultivar IPR Cris semelhante a cultivar Catucha. Tabela 1. Danos ocasionados por Diabrotica speciosa em cultiavares de batata. Médias das cultivares seguidas de mesma letra nas linhas não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Danos Cultivares IPR Cris Catucha IAC Vitória Número de galeria 1,836 a 1,940 a 2,440 b Número de orifícios 2,532 a 2,898 a 4,404 b Comprimento das galerias 1,809 a 1,855 a 1,917 a % de danos nos tubérculos 0,213 a 0,182 a 0,576 b Em experimento realizado por Salles (2000), analisando tubérculos divididos por tamanho grande e pequeno e classificados em categorias de danos pelo número de orifícios, este autor verificou que a cultivar Catucha apresentou menos danos ocasionados por larvas de D. speciosa, em relação as cultivares recomendadas para cultivos convencionais, na região de Pelotas. No presente estudo, além da cultivar Catucha, observou-se que IPR Cris também apresentou menos danos de D. speciosa, tanto em relação ao número de orifícios, quanto ao número de galerias, embora o número de galerias não tenha diferido entre as cultivares. Também foi avaliada a presença de insetos adultos de D. speciosa sobre a parte aérea das plantas através de duas coletas, a partir da análise dos dados percebeu se que houve relação entre o número de adultos presentes durante o ciclo da cultura e os danos nos tubérculos, quando foi analisado a porcentagens de danos na maturação fisiológica das cultivares (Figura 1). Foram encontrados maiores danos nos tubérculos onde foram
quantificadas as maiores populações de adultos Diabrotica speciosa, como pode ser verificado (Figura 1), a cultivar IAC Vitória apresentou maior ocorrência do inseto adulto e maior número de orifícios e galerias causadas pelas larvas. Segundo Campos (2012) a cultivar Catucha possui um alto teor de matéria seca e de açúcares redutores, sendo que Pereira (2013) constatou que a cultivar possui uma película um pouco áspera, esses fatores podem ter contribuído com a resistência do cultivar aos ataques de larvas de D. speciosa. Figura 1. Porcentagem de danos nos tubérculos e número de adultos de Diabrotica speciosa presentes em cada cultivar referentes a duas coletas, aos 38 DAP e aos 59 DAP, Guarapuava/PR. Médias das cultivares seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si por Tukey a 5% de probabilidade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A cultivar Catucha apresentou menor número de orifícios, galerias e porcentagens de danos causados por larvas de Diabrotica speciosa. Houve relação entre o número de adultos de Diabrotica speciosa e os danos nos tubérculos. A espécie Diabrotica speciosa foi o inseto fitófago mais frequente durante o ciclo da cultura da batata (Solanum tuberosum). Devem ser realizados trabalhos mais aprofundados para determinar as características físicas e químicas dos tubérculos, que podem ter conferido resistência a cultivar Catucha e IPR Cris. REFERÊNCIAS CAMPOS, J. I. Cultivares de batata para aumentar a produtividade da agricultura familiar. 2012. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/- /noticia/1481202/cultivares-de-batata-para-aumentar-a-produtividade-da-agricultura-familiar> Acesso em: 09 abril. 2016. DAROLT, M.R. As principais correntes do movimento orgânico e suas particularidades. 2007. Disponível em: <HTTP://www.planetaorganico.com.br/trabdarnut1.htm> Acesso em: 09 abril. 2016. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal. Culturas temporárias e permanentes. Volume 40, 2013. MARQUES, G.B.C.; ÁVILA, C.J.; PARRA, J.R.P. Danos causados por larvas e adultos de Diabrotica speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae). Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 34, p. 1983-1986, 1999.
PEREIRA, A. S. et al. Catálogo de cultivares de batata. Embrapa Clima Temperado. Pelotas, RS. Agosto, 2013. 44 p. ROSSI, F.; MELO, P.C.T.; AZEVEDO FILHO, J.A.; AMBROSANO, E.; J. GUIRADO, N.; SCHAMMASS, E.A.; CAMARGO, L.F. Cultivares de batata para sistemas orgânicos de produção. Horticultura Brasileira, Brasília, v.29, p.372-376, 2011. SALLES, L. A. Incidência de danos de Diabrotica speciosa em cultivares e linhagens de batata. Ciência Rural, Santa Maria, RS. v. 30, n. 2, p. 2055-209, 2000.