Crescimento vegetativo e incidência de cercosporiose em cafeeiros sob diferentes sistemas de manejo

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1 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 7., 2010, Belo Horizonte Crescimento vegetativo e incidência de cercosporiose em cafeeiros sob diferentes sistemas de manejo Guilherme Conceição Gonçalves (1), Rodrigo Luz da Cunha (2), Vicente Luiz de Carvalho (2), Eguimar Pereira Xavier (3) (1) Bolsista PIBIC FAPEMIG/EPAMIG, guilhermecg1986@hotmail.com.br; (2) Pesquisadores/Bolsistas BIP FAPEMIG/ EPAMIG - Lavras, rodrigo@epamig.ufla.br; (3) Técnico Agrícola EPAMIG - São Sebastião do Paraíso Introdução A agricultura mundial e, em especial, a brasileira estão a cada ano modernizando-se e procurando maximizar a produção, sem, contudo, buscar um desenvolvimento sustentável do agroecossistema. Em oposição ao modelo agrícola moderno, surgiram os movimentos alternativos que apresentam, em termos gerais, a insustentabilidade do modelo moderno ou convencional. Esta é atribuída ao comprometimento tanto dos recursos produtivos, tais como solo, água e recursos genéticos, como das estruturas e processos ecológicos básicos, responsáveis pelo funcionamento dos ecossistemas, tais como biodiversidade, fluxo de energia, ciclagem de nutrientes e mecanismos de regulação populacional (SANTOS; MENDONÇA, 2001). Nos sistemas orgânicos, apesar de existirem leis, normas e padrões de produção, esses, muitas vezes, não são fundamentados na pesquisa e baseiam-se mais em princípios do que em conhecimento científico. Nesse contexto, uma das dificuldades enfrentadas pelos cafeicultores de base ecológica refere-se à ocorrência de doenças em suas lavouras. Existem várias medidas de controle que podem ser adotadas para minimizar e evitar a ocorrência da ferrugem, entre elas, o controle genético, que figura como alternativa bastante importante, principalmente, para cultivo ecológico. Além da ferrugem, outra doença de destaque é a cercosporiose, que ocorre tanto nas folhas como nos frutos do cafeeiro. Nos últimos anos, foi lançado um grande número de cultivares resistentes à ferrugem, considerando o grande potencial que representa essas cultivares

2 EPAMIG. Resumos expandidos 2 para o cultivo de base ecológica. O presente estudo teve como objetivo avaliar, em quatro cultivares resistentes à ferrugem, as características vegetativas e a incidência de cercosporiose, sob diferentes sistemas de manejo: o convencional e o orgânico. Material e Métodos O ensaio foi implantado em fevereiro de 2008, com o plantio de cultivares de cafés resistentes à ferrugem, na Fazenda Experimental de São Sebastião do Paraíso (FESP), da Unidade Regional Sul de Minas (U.R. EPAMIG SM). O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, no esquema fatorial (4 x 2), com oito tratamentos e quatro repetições. Cada parcela foi constituída de 20 plantas. Os tratamentos constaram, para o primeiro fator, de quatro cultivares, conforme descrito na Tabela 1. O segundo fator, em estudo, constou de dois sistemas de condução da lavoura, ou seja, uma no sistema orgânico e outra no sistema convencional. Desse modo, o ensaio foi conduzido em duas áreas distintas (convencional e orgânica), no renque mecanizado de 3,2 x 0,7 m, colocando em cada área as quatro cultivares preconizadas, ocupando uma área de m 2, o que totalizou em torno de 1 ha. O detalhamento dos tratamentos propostos para o ensaio são os seguintes: a) lavoura conduzida no sistema convencional: obedecem às operações normais de cultivo. O controle de plantas daninhas foi realizado com a utilização de herbicidas pré-emergentes na linha de plantas e, nas entrelinhas, foi realizada a capina mecânica (roçadeira), alternando com herbicidas pós-emergentes. A incidência de pragas e doenças foi monitorada, adotando-se o controle com base no nível de dano econômico, com exceção para a cercosporiose. As adubações de solo e foliares foram realizadas de acordo com Ribeiro, Guimarães e Alvarez V. (1999), considerando os resultados da análise química do solo e da análise foliar e, também, com base na carga pendente;

3 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 7., 2010, Belo Horizonte 3 b) lavoura conduzida no sistema orgânico: neste sistema o café foi cultivado sem o uso de adubos químicos e de agrotóxicos. Foram adotadas as normas da Instrução Normativa n o 7 (BRASIL, 1999). O controle de pragas, doenças e invasoras foi obtido, basicamente, por meio de medidas preventivas, como a adoção de práticas culturais adequadas, processos mecânicos e biológicos. As áreas remanescentes de vegetação natural, visando à manutenção do equilíbrio biológico do agroecossistema, foram conservadas, além da implantação de espécies frutíferas como o abacate, ameixeiras e cercas vivas, utilizando leucena. Nas adubações, foram empregadas compostagem orgânica, resíduos vegetais, esterco bovino, atendendo as mesmas quantidades de N do sistema convencional. Foram avaliadas as seguintes características: a) altura de plantas: medida em centímetros do colo das plantas até a gema apical, aos 12 meses pós-plantio; b) diâmetro do caule: foi avaliado, medindo em milímetros, com o auxílio de paquímetro, aos 12 meses do plantio; c) número de ramos plagiotrópicos: foi avaliado pela contagem de todos os ramos laterais primários que apresentaram tamanho superior a 5 cm, aos 12 meses pós-plantio; d) incidência de cercosporiose: foram avaliadas 50 folhas, ao acaso, nas parcelas, nos meses de julho e agosto de Nessas folhas, foram identificadas e determinadas a frequência de incidência por meio da porcentagem de folhas infectadas. A análise de variância foi realizada de acordo com o modelo usual em blocos casualizados, para todas as variáveis estudadas, e fez-se a comparação entre as médias, utilizando o teste Scott-Knott, a 5% de probabilidade, de acordo com Ferreira (2000).

4 EPAMIG. Resumos expandidos 4 Resultados e Discussão Na Tabela 2, estão apresentadas as médias referentes às características de crescimento vegetativo, avaliadas aos 12 meses pós-plantio. Não houve efeito para altura de plantas entre cultivares e sistema de cultivo. Também, para todas as características avaliadas, dentro de cada sistema de cultivo, nenhuma cultivar destacou-se nessa fase de formação da cultura. Com relação ao sistema de cultivo, o convencional proporcionou maior desenvolvimento das plantas, verificado pelo diâmetro do caule e maior número de ramos plagiotrópicos. Na Tabela 3, estão apresentadas as médias de incidência de cercosporiose do cafeeiro, avaliadas nos meses de julho e agosto de Houve maior ocorrência da doença no mês de julho, quando comparada com o mês de agosto. O sistema de cultivo orgânico apresentou maior incidência de cercosporiose, em relação ao convencional, nos dois meses estudados. Esses resultados podem ser traduzidos pela melhor nutrição propiciada pelo sistema convencional, mostrando que a mineralização lenta das fontes de material orgânico fornecido aos cafeeiros no sistema orgânico favorece a incidência da doença, que apresenta uma estreita relação com a nutrição das plantas. No sistema de cultivo convencional, não houve efeito de cultivares, em virtude da menor ocorrência da doença, enquanto que para o sistema orgânico a cultivar Pau Brasil, nos dois meses avaliados, e a cultivar Catiguá MG 3 apresentaram menores índices da doença no mês de agosto. Conclusão O cultivo convencional propiciou melhor crescimento vegetativo das plantas e menores índices de cercosporiose, em relação ao cultivo orgânico nessa fase de formação da lavoura.

5 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 7., 2010, Belo Horizonte 5 Referências BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n o 7, de 17 de maio de Estabelece as normas de produção, tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e de certificação da qualidade para os produtos orgânicos de origem vegetal e animal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 19 maio Seção 1, p.11. FERREIRA, D.F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0. In: REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA, 45., 2000, São Carlos. Programa e Resumos... São Carlos: UFSCar, p.235. RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. Recomendação para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5 a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, p. SANTOS, R.H.S.; MENDONÇA, E. de S. Agricultura natural, orgânica, biodinâmica e agroecologia. Informe Agropecuário. Agricultura alternativa, Belo Horizonte, v.22, n.212, p.5-8, set./out

6 EPAMIG. Resumos expandidos 6 Tabela 1 - Relação das cultivares empregadas nos sistemas de produção orgânico e convencional N o de ordem Cultivar Instituição Porte 1 Paraíso EPAMIG Baixo 2 Catiguá MG 3 EPAMIG Baixo 3 Pau Brasil EPAMIG Baixo 4 H c4 (Katitu - fase final de registro) EPAMIG Baixo Tabela 2 - Valores médios de alguns parâmetros de crescimento vegetativo de cafeeiros em função de cultivares e sistemas de cultivo Cultivares Altura (cm) Diâmetro do caule (mm) Orgânico Convencional Orgânico Convencional Orgânico N o de ramos plagiotrópicos Convencional Paraíso 35,7 40,2 8,3 b 10,3 a 13,8 b 16,1 a Catiguá MG 3 35,3 39,6 8,5 b 10,5 a 13,8 b 16,0 a Pau Brasil 34,4 38,6 8,3 b 10,4 a 13,6 b 16,1 a H ,5 42,2 8,1 b 10,3 a 13,5 b 16,0 a NOTA: Médias seguidas de mesma letra, nas linhas, não diferem entre si a 5 % de probabilidade pelo teste Scott-Knott. Tabela 3 - Valores médios de incidência de cercosporiose em diferentes cultivares de cafeeiros e sistemas de cultivo Cultivares Julho Cercosporiose (%) Agosto Orgânico Convencional Orgânico Convencional Paraíso 18,7 b 1,3 a 10,7 b 0,1 a Catiguá MG 3 20,0 b 4,0 a 6,7 a 0,1 a Pau Brasil 10,0 a 1,3 a 6,0 a 0,7 a H ,0 b 3,3 a 9,3 b 0,7 a NOTA: Médias seguidas por letras iguais, nas colunas, não diferem entre si a 5 % de probabilidade pelo teste Scott-Knott.