Sessão de Encerramento. Taguspark, Oeiras, 20 de novembro de 2015

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Transcrição:

SEMINÁRIO A AERONÁUTICA, ESPAÇO E DEFESA EM PORTUGAL UM SETOR RICO EM OPORTUNIDADES Sessão de Encerramento Taguspark, Oeiras, 20 de novembro de 2015 Minhas senhoras e meus senhores, Durante um dia e meio, este seminário deixou bem claro o dinamismo que caracteriza as indústrias da aeronáutica, espaço e defesa, no panorama da economia portuguesa e, sobretudo, as potencialidades que encerram e que urge concretizar: o painel desta manhã foi particularmente eloquente sobre as oportunidades que se abrem a estas indústrias em Portugal. Ficou também claro o protagonismo que as associações empresariais podem e devem desempenhar no quadro de uma verdadeira política de clusters. A AED Portugal é um excelente exemplo de como esta política deve constituir um estímulo ao movimento associativo e à sua coesão. De facto, este cluster surgiu em Portugal pela convergência das vontades de três associações empresariais dinâmicas, que aqui faço questão de felicitar, não só por esta iniciativa, mas por todo o trabalho que têm vindo a desenvolver em prol das empresas suas associadas. À DANOTEC, à PEMAS e à ProEspaço, na pessoa dos seus Presidentes, quero também expressar o reconhecimento pelo seu empenho, no seio da CIP, na construção de um movimento associativo mais forte e mais coeso, na defesa dos interesses das empresas portuguesas. Estas três associações souberam recusar uma atitude de individualismo e uma cultura de protagonismos estéreis e compreender as vantagens da cooperação para o desenvolvimento das empresas que representam e que servem. Olhemos, pois, para o agrupamento dos setores industriais em clusters, não como uma ameaça ao movimento associativo, mas como um desafio a que deve responder pela positiva, reclamando sempre que o desenho de uma política de clusters reconheça e valorize o papel insubstituível das associações empresariais. Curiosamente, a internacionalização não constou do título de nenhum dos painéis deste Seminário, talvez porque a sua importância seja, para estas indústrias, um dado adquirido. Esteve, contudo, presente, na prática, ao longo de todo o seminário. Desde logo, pela presença na sua organização da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa que aqui saúdo e felicito. 1

A este propósito, quero realçar a ideia alargada de internacionalização que aqui esteve patente. De facto, internacionalização não se pode limitar à sua vertente meramente comercial, ligada ao fomento das exportações, por muito importante que seja, especialmente na presente conjuntura económica. A relevância das vertentes de investimento estrangeiro e de cooperação e transferência de tecnologia, ficou aqui bem expressa. Minhas senhoras e meus senhores, Este seminário focou-se, naturalmente, no cluster da Aeronáutica, Espaço e Defesa, mas foram aqui abordados temas transversais a toda a indústria. Temas aos quais a CIP tem vindo a dar uma grande importância e que ocuparam um espaço alargado no nosso II Congresso das Empresas e das Atividades Económicas, que realizámos no passado mês de julho. Em primeiro lugar, foi aqui tratado, na manhã de ontem, o tema da Política Industrial para o futuro. Das conclusões do nosso Congresso, consta precisamente a proposta de um Compromisso Nacional para a Reindustrialização e Competitividade de Portugal, como instrumento de um nova Política Industrial para o nosso País. Foi defendido, neste contexto, um conceito de reindustrialização alargado à produção de todos os bens e serviços transacionáveis que consigamos não só exportar, mas em que consigamos também reduzir as importações, em mercado aberto e concorrencial, através da produção nacional. Tal significa, pois, no nosso entendimento, a ênfase na realocação dos recursos para a produção de bens e serviços transacionáveis, com muito maior valor acrescentado, avançando para clusters mais desenvolvidos e promovendo a inovação radical e incremental dos nossos produtos e processos produtivos. Deste modo, o conceito de reindustrialização em Portugal não pode confundir-se com o retorno a modelos dum passado assentes em mão-de-obra barata, mas sim recorrendo a um modelo de economia do conhecimento com mão-de-obra qualificada, injetando conhecimento nas empresas em articulação com as Universidades, os Politécnicos e o Sistema de Ciência e Tecnologia. Defendemos, assim, um Programa de Desenvolvimento da Indústria e dos Bens Transacionáveis assente numa diversidade de eixos, que vão das políticas de ciência, tecnologia e inovação à internacionalização, incluindo a atração de investimento direto estrangeiro, passando pela qualificação da mão de obra, pelo sistema logístico e de infraestruturas, pelo financiamento às empresas, pela fiscalidade, pela redução dos custos energéticos. 2

Não será esta a ocasião para apresentar este programa de forma mais detalhada. Aliás, a CIP irá lançar proximamente um conjunto de iniciativas para aprofundar e divulgar as nossas ideias e propostas sobre esta nova política industrial para o século XXI que pretendemos para Portugal. Mas permitam-me que tome um pouco mais do vosso tempo para me debruçar sobre o tema que dominou a tarde de ontem deste seminário: a inovação. A estratégia de crescimento sustentado que defendemos, mediante a reorientação da nossa economia para a produção de bens e serviços transacionáveis e assente na competitividade internacional da economia e no estímulo ao investimento empresarial, não pode estar dissociada do vetor inovação. Só pela inovação conseguimos valorizar aquilo que sabemos produzir com o conhecimento de que dispomos, marcando a diferença face aos nossos concorrentes. A este respeito, gostaria de centrar a vossa atenção em três ideias simples: A primeira é a de que a inovação deve estar orientada para a criação de valor. O nosso País já evoluiu muito no domínio da base científica e tecnológica e de produção de conhecimento. Importa agora injetá-lo nas empresas por forma a dinamizar a inovação empresarial. No relatório da Comissão Europeia Innovation Union Scoreboard, estamos particularmente mal nos indicadores que estão diretamente relacionados com os resultados económicos que conseguimos retirar do nosso esforço de inovação. Estes resultados sugerem a necessidade de uma mais estreita ligação entre os meios científicos e empresariais, de modo a colocar o conhecimento e as competências de que Portugal já dispõe ao serviço de estratégias de inovação das empresas. Estratégias que resultem em novos produtos e serviços, baseados em conhecimento e tecnologia, e em processos mais eficientes. Esta é, aliás, a ideia que está subjacente às propostas avançadas pela CIP no que respeita às políticas de ciência, tecnologia e inovação. A segunda ideia que gostaria de trazer para reflexão é a de que inovar implica sempre risco. Esta certeza tem consequências em termos de financiamento e do modo como devem ser concebidos os estímulos ao investimento em inovação. Sabemos que a principal restrição ao financiamento já não é de liquidez da banca, mas sobretudo de perceção de risco. 3

É frequente ouvirmos responsáveis pela banca queixarem-se da escassez de bons projetos onde investir. Mas sabemos também que os critérios da banca são hoje marcadamente restritivos. Além disso, a avaliação de risco por parte da banca é afetada pelo facto de uma proporção significativa das empresas, especialmente as PME, apresentarem estruturas de financiamento desequilibradas, com elevados níveis de endividamento e uma excessiva dependência de crédito bancário de curto prazo. Acresce ainda que os investimentos com uma maior componente de inovação estão também frequentemente associados a um maior risco, dificultando ainda mais o acesso ao financiamento. Neste contexto, a resolução do problema do financiamento, e em particular do financiamento de investimento em inovação, exige medidas centradas em três vetores: O desenvolvimento do capital de risco; Uma fiscalidade mais favorável à retenção de lucros e às entradas de capital por parte dos sócios ou acionistas, e, finalmente, O desenvolvimento de novos instrumentos financeiros com natureza de quase capital, os quais, não apresentando as exigências inerentes ao capital de risco, são passíveis de melhorar a estrutura de capitais das empresas. Finalmente, a terceira ideia que deixo é a de que, na maioria das PME, a inovação que está ao seu alcance, e que importa estimular, revestirá sobretudo a natureza de inovação incremental, nas suas diversas vertentes: inovação ao nível dos produtos e dos processos; inovação tecnológica e organizacional, inovação também na vertente comercial e no serviço pós-venda. É preciso não confundir inovação com investigação. Investigação requer a utilização de recursos para obter conhecimento. Inovação requer a utilização de conhecimento para obter valor. Inovação nem sempre requer grandes saltos ou o recurso às tecnologias mais sofisticadas e, como tal, está ao alcance da generalidade das empresas, nas suas diversas vertentes. Defendo, por isso, uma noção alargada de inovação empresarial e entendo que esta noção deve ser difundida ao nível das PME e devidamente apoiada. 4

Minhas senhoras e meus senhores, Termino com uma palavra de incentivo às empresas que aqui estiveram reunidas: continuem a trabalhar para que este cluster desenvolva todo o seu potencial, arrastando consigo uma vasta cadeia de valor, bem como em todo o tecido social e económico, através de sinergias transversais. Contamos convosco, contem com a CIP na defesa dos vossos interesses! António Saraiva Presidente da CIP 5