USINAS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA: a relação de afetividade dos atingidos com os lugares impactados pela UHE Belo Monte na cidade de Altamira/PA

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Transcrição:

USINAS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA: a relação de afetividade dos atingidos com os lugares impactados pela UHE Belo Monte na cidade de Altamira/PA Bruno Alves dos Santos Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Pará. bruno.pqd.23@hotmail.com Patrícia Barbosa Nunes Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Pará. patriciabarbosageo@gmail.com INTRODUÇÃO Dentre as muitas fontes energéticas exploradas atualmente, a hidroeletricidade se destaca por ser resultante da força da água, um recurso de fácil disponibilidade na Amazônia e que permite sua reutilização à jusante. No entanto, embora, seja uma das mais econômicas e promissoras fontes entre as alternativas energéticas convencionais a implantação de uma usina hidrelétrica, geralmente provoca alterações no meio ambiente físico, sociocultural e econômico que nenhuma indenização ou remanejamento reconstituirá. Para Silva e Silva (2012), as hidrelétricas são projetos que visam à apropriação e à reprodução do espaço sob uma ótica lucrativa e exploratória dos recursos naturais, os quais ignoram as populações que ali vivem e possuem vínculo imaterial com a área a ser impactada. Dentre os impactos sociais ocasionados pela construção de um empreendimento hidrelétrico está o deslocamento compulsório, que se caracteriza pela fragmentação das relações de pertencimento dos impactados com o seu lugar de moradia e com os elementos que fazem parte do seu modo de vida. Neste contexto, a cidade de Altamira-PA, está passando por transformações ambientais e sociais drásticas. Grande parte dessas mudanças se deve a construção da UHE Belo Monte, afetando diretamente a população local, no que diz respeito à relação de afetividade com o lugar de vivencia, visto que, as mesmas foram remanejadas para

outros locais da cidade, sejam os reassentamentos urbanos ou outros lugares. Novas relações se estabelecerão no novo lugar a migrar e as lembranças do outrora virarão memórias, pois, passarão a ser um mecanismo de se recontar histórias do que não se vive mais. Portanto, é importante valorizar o papel do lugar, conforme Relph (1979) afirma, o lugar está intrinsecamente ligado a dois aspectos: identidade e pertencimento aos ambientes. Neste caso lugar não se refere a objetos e atributos das localizações e sim ao tipo de experiência e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e de segurança. Neste sentido, o conceito de lugar é entendido como o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico que inclui os laços afetivos dos seres humanos com o ambiente material, percebidos através de experiências e percepções. Portanto, o lugar pode ser definido como o espaço dotado de função e valor. Cada sociedade e individuo pode estabelecer, para com o espaço vivido, uma relação que envolve funções práticas, criando lugares como de trabalho ou descanso, e também uma relação valorativa envolvendo questões subjetivas e afetivas. Nascem assim, lugares de memória, lugares queridos e também lugares de repulsa e ressentimento. Dessa forma, este artigo trata das relações de afetividade dos atingidos com os lugares impactados em razão da construção da Usina hidrelétrica de Belo Monte. OBJETIVO As pessoas atingidas por construções de hidrelétricas tendem a carregar um sentimento de perda de parte de sua história por toda a sua existência. Diante do disposto, o objetivo deste trabalho foi estudar através de pesquisas em bibliografias pertinentes e trabalhos de campo, a relação de afetividade dos envolvidos com os lugares inundados em consequências da construção da UHE Belo Monte. METODOLOGIA

A metodologia consistiu de pesquisa e leituras de bibliografias pertinentes sobre o tema em questão, para embasamento teórico e de trabalho de campo com realização de entrevistas a partir de um roteiro de questões semiestruturadas desenvolvido com 28 pessoas que foram atingidas pela construção da UHE Belo Monte na cidade de Altamira-PA. Os dados foram processados em planilha do Excel 2010 e analisados em tabela e gráficos. Abaixo mapa da área diretamente afetada na cidade. Figura 1: Mapa da Área diretamente afetada-ada Fonte: Base cartográfica do IBGE (2011) e Norte Energia S.A (2012) A área de estudo localiza-se no município de Altamira, Estado do Pará e está compreendida na região fisiográfica do vale do Xingu. Sua área, segundo o IBGE, é de 159.533,401 Km², um dos maiores municípios do mundo, com uma população segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010 de 99.075 habitantes e estimada em 2015 de 108.382 habitantes (IBGE Cidades). RESULTADOS E DISCUSSÕES A relação de afetividade que os indivíduos desenvolvem com o lugar só ocorre em virtude de esses voltarem para ele munidos de interesses predeterminados, ou

melhor, dotados de uma intencionalidade. Os lugares só adquirem identidade e significado através da intenção humana e da relação existente entre aquelas intenções e os atributos objetivos do lugar, ou seja, o cenário físico e as atividades ali desenvolvidas (RELPH, 1979). Tuan (1980, p. 110) conceitua os sentimentos que um ser social ou cultural pode ter em relação aos lugares. Estes sentimentos são os de topofilia e seu oposto o de topofobia. O sentimento topofilico pode ser definido como [...] o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito, vivido e concreto como experiência pessoal, já o conceito de topofobia seria o sentimento de aversão a determinados ambientes. Diante do disposto o presente trabalho procurou saber quais os lugares aos quais os entrevistados moravam antes da construção da UHE Belo monte. A tabela 1 mostra os lugares onde os 28 entrevistados moravam antes da construção da UHE Belo Monte, sendo que 18 moravam no Baixão do Tufi, 5 no Açaizal, 3 nas Olarias e 2 na rua da Peixaria, locais esses que foram afetados pelo empreendimento de Belo Monte, portanto, sendo remanejados para outros locais da cidade. Tabela 1: Lugares onde os entrevistados residiam antes da UHE Belo Monte Locais Quantidade Baixão do Tufi 18 Açaizal 5 Olaria 3 Peixaria 2 Fonte: Pesquisa de campo, 2016. Identificados os lugares onde os sujeitos da pesquisa viviam, procurou-se saber então quantos tempos os mesmos residiram nesses locais. Na analise do gráfico abaixo, observa-se que, a maioria dos entrevistados residiram mais de 10 anos nos locais afetados pela construção da UHE, sendo que, 47% dos sujeitos da pesquisa moravam a mais de 15 anos nesses locais.

Gráfico 1: Tempo de residiram nos locais identificados 7% 47% 25% 21% 5 Anos 10 Anos 15 Anos Mais de 15 Anos Fonte: Pesquisa de Campo, 2016. Assim, houve a perda de um lugar onde se construía uma identidade, não podendo ser revertida em uma nova estruturação identitária a partir do momento em que esse grupo tem consciência dos efeitos negativos dos impactos gerados com a UHE Belo Monte sobre as suas vidas. Portanto, trata-se na realidade de referenciais afetivas as quais desenvolveram ao longo de vidas a partir da convivência com o lugar e com o outro. A pesquisa também procurou saber se os entrevistados possuem relação afetiva com o antigo lugar. Muitos disseram que tem boas lembranças, visto que, sempre viveram ali, e ali criaram seus filhos, tendo uma historia de vida com o lugar outrora afetado. Nas palavras de Buttimer (1985, p. 228), lugar é a somatória das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e biológicas. Neste caso, as falas dos entrevistados estão carregadas de sensações emotivas principalmente porque eles se sentiam seguros e protegidos onde residiam. Gráfico 2: Relação afetiva com os antigos lugares Não Sim 18% 82% Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

O resultado analisado no gráfico 2 mostra que, 82% dos sujeitas desta pesquisa possuem uma relação afetiva com os lugres impactos por Belo Monte, relação esse que nenhuma indenização ou remanejamento reconstituirá o cotidiano da população atingida, sendo que, novas relações se estabelecerão no novo lugar a migrar e as lembranças do outrora virarão memórias, pois, passarão a ser um mecanismo de se recontar histórias do que não se vive mais no cotidiano. Neste sentido, trata-se de uma identidade que se constrói em face do sentimento relativo a uma situação de expropriação, mas que se define também enquanto perca da historia construída em um determinado lugar, sendo ela de pertencimento e afetividade, visto que, os sujeitos entrevistados têm nas memorias de uma existência que não existirá mais nesse antigo locais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nas atividades desenvolvidas e executadas neste trabalho, chega-se a conclusões relevantes para a compreensão da complexidade dos fatos do ponto de vista perceptivo, relacionados ao estudo de caso da implantação da usina hidrelétrica de Belo Monte com relocação de comunidades. Nesta perspectiva, o resultado mostra que as pessoas atingidas tendem a carregar um sentimento de perda de parte de sua história por toda a sua existência. Embora, o novo lugar e toda a sua estrutura possa oferecer mais confortos e vantagens no que se refere à qualidade de vida, os laços afetivos com o lugar são muito valiosos em uma comunidade e, no entanto, as perdas se fazem irreparáveis, sem mecanismos de compensação, tornando-se problemas que às vezes passam sem a devida análise pela sociedade, mas que podem gerar problemas por várias gerações. Como sugestão em projetos dessa natureza, devem ser desenvolvidos recursos ainda inexistentes para amenizar a geração de impactos, uma delas, indispensável é a criação de atrativos para que a população não se disperse na fase de transição e remanejamento. Portanto, diante do que discutimos neste trabalho, não é difícil concluir que ao se construir uma hidrelétrica, em especial ao inundar uma cidade, de alguma maneira se está apagando uma parte do passado da população local.

REFERENCIAS BUTTIMER, A. Aprendendo o dinamismo do mundo vivido. In: CHRISTOFOLETTI, Antônio Carlos (Org.). Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1985. p. 165-193. IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS. Disponível em: <http//www.cidades.ibge.gov.br>. acessado em 19/04/2016. RELPH, E. C. As Bases Fenomenológicas da Geografia. Geografia, v. 4, n. 7, p. 1-25, 1979. SILVA, R. G. S.; SILVA, V. de P. Os atingidos por barragens: reflexões e discussões teóricas e os atingidos do Assentamento Olhos D Água em Uberlândia-MG. Sociedade & Natureza, 23(3), 397-408, 2012. TUAN, Y. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: DIFEL. 1980.