SINTOMAS VOCAIS EM IDOSOS COM PRESBIFONIA APÓS TERAPIA VOCAL COM USO DO LAX VOICE Autores: KARINE MARIA DO NASCIMENTO LIMA, MARIANA REBEKA GOMES QUEIROZ, BRUNO TEIXEIRA DE MORAES, ADRIANA DE OLIVEIRA CAMARGO GOMES, ANA NERY BARBOSA DE ARAÚJO, ZULINA SOUZA DE LIRA, JONIA ALVES LUCENA, Palavras-chave: Voz; Idoso; Treinamento da voz INTRODUÇÃO O envelhecimento é um fator inerente a todos os seres humanos. Entre outros fatores, a voz pode ser modificada com o passar dos anos. Dá-se o nome de presbifonia o envelhecimento da voz, que ocorre em uma parcela de homens e mulheres com mais de 60 anos. Deve ser compreendida como parte do processo de envelhecimento natural do indivíduo, e não como uma desordem vocal. O início da presbifonia, seu desenvolvimento e o grau de deterioração vocal dependem de cada indivíduo, de sua saúde física e psicológica, de sua história de vida, além de fatores constitucionais, raciais, hereditários, alimentares, sociais e ambientais, incluindo aspectos de estilo de vida e atividades físicas 1. As alterações vocais comuns na senescência estão comumente relacionadas à rouquidão, voz fraca e necessidade de repetir o que se fala. Em um estudo realizado com indivíduos acima de 65 anos institucionalizados foram encontrados como sintomas vocais mais comuns: rouquidão, fadiga vocal ou mudança na qualidade de voz, problemas para falar ou cantar em voz alta, dificuldade de projeção vocal, desconforto ao falar, esforço ao falar, secura crônica da garganta, pigarrear constantemente, voz trêmula e voz soprosa. 2 Considerando que a voz desempenha papel importante nas relações interpessoais, bem como fornece características gerais do indivíduo, a presença de uma alteração vocal poderá comprometer a sua qualidade de vida. De maneira particular, o idoso poderá se sentir em desvantagem quando diante de um problema vocal, levando-o, em algumas situações, ao retraimento e até isolamento. Com o intuito de melhorar a qualidade de voz do idoso com alteração vocal, a terapia vocal ou treinamento vocal pode ser uma alternativa, inclusive na modalidade grupal. A terapia vocal para presbifonia pode promover um ajuste muscular mais equilibrado do aparelho fonador, propiciando melhor resultado vocal 3,4 No processo terapêutico, diversas técnicas vocais podem ser utilizadas. Dentre elas, tem destaque aquelas que envolvem os exercícios de trato vocal semiocluido (ETVSO). Na execução dos ETVSO, ocorre o fenômeno de ressonância retroflexa, havendo expansão de toda a área do trato vocal, que vai da boca à laringe, estabilização da produção glótica, além do aumento da
2 pressão interna que favorece a percepção do diafragma, da parede abdominal e da própria laringe 3. Uma das variações dos ETVSO consiste no uso dos tubos de ressonância, que promovem benefícios para a fonação e respiração, podendo ser realizada combinado-se com outros exercícios. Essa técnica é utilizada em terapia vocal na Finlândia desde o início dos anos sessenta 5. É realizada mantendo uma das extremidades do tubo direto na boca do indivíduo. O tubo agirá como uma extensão artificial do trato vocal, ficando a outra extremidade livre no ar ou imerso na água. Dada a importância dos benefícios da técnica vocal com tubos finlandeses e dos efeitos que a terapia vocal pode proporcionar, este estudo tem como objetivo analisar os sintomas vocais de idosos com presbifonia antes e após terapia vocal em grupo com uso da técnica vocal com tubos de ressonância. MÉTODOS Este estudo tem caráter observacional e analítico, realizado em uma unidade de assistência ao idoso de uma universidade pública da cidade do Recife. Os participantes foram idosos inscritos para tratamento em grupo da presbifonia. O grupo terapêutico contou com a participação efetiva de oito idosos. Por meio de um contato prévio, todos os participantes foram convidados a participar da pesquisa e aqueles que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Por meio deste termo, os idosos tomaram ciência de todos os procedimentos envolvidos no estudo, bem como dos possíveis riscos e benefícios. O estudo foi divido em três momentos estratégicos, com 10 encontros semanais: no primeiro e terceiro momento foram realizadas as avaliações vocais e no segundo momento ocorreram as sessões terapêuticas. No primeiro momento houve recrutamento dos idosos selecionados a participarem da avaliação vocal, que incluiu, neste estudo, a aplicação da escala de sinais e sintomas vocais ESV 6. O ESV é um instrumento adaptado e validado para a população brasileira, que autoavalia a voz e sintomas vocais, através de 30 questões, contemplando informações de funcionalidade (limitação), impacto emocional e sintomas físicos que um problema de voz pode acarretar na vida do indivíduo. As respostas das questões variam entre nunca, raramente ás vezes, quase sempre e sempre, e cada resposta foi pontuada de 0 a 4, de acordo com frequência de ocorrência assinalada: (0) nunca, (1) raramente, (2) às vezes, (3) quase sempre, (4) sempre. A pontuação foi mensurada através de escores, e a partir deles foi determinado o nível de alteração vocal autoavaliado por cada participante. No segundo momento, ocorreu realização da terapia vocal, utilizando-se a técnica com o tubo finlandês pelos idosos recrutados. Neste momento, foram realizadas oito sessões terapêuticas. Cada sessão teve a duração de uma hora e meia. Na primeira das oito sessões propostas, cada idoso recebeu um tubo finlandês e uma garrafa de 500 ml para que utilizasse nas sessões e também na realização dos exercícios em casa. O tubo finlandês utilizado foi de látex (LAX VOICE), com 35 cm de comprimento e 09 mm de diâmetro. A tabela 1 ilustra as atividades realizadas em cada uma das sessões de terapia. Os idosos foram instruídos a segurar a garrafa com as mãos e mantê-la em frente à região peitoral, posicionando o tubo finlandês entre o indicador e o polegar. O tubo foi posicionado, aproximadamente, há 01 mm dos dentes, mantendo-se os lábios arredondados para um adequado vedamento labial, não permitindo escape de ar. Inicialmente, foi solicitado imersão do tubo de
3 ressonância há pelo menos 10 centímetros de altura, dentro da garrafa de 500 ml com água e explicado como cada exercício tinha que ser realizado. Ao longo das sessões, os participantes foram orientados a afundar o tubo até 15 cm na água, e introdução das variações de exercícios. Os exercícios foram realizados por cada um deles durante 3 minutos. No final de cada sessão, os participantes eram orientados a realizar, diariamente em casa, os exercícios trabalhados na sessão, de 3 a 5 vezes ao dia, durante 3 minutos. No terceiro momento, houve recrutamento dos idosos à nova avaliação vocal, incluindo nova aplicação da Escala de Sintomas Vocais (ESV). Para a análise dos dados, foram obtidas as medidas estatísticas: média e desvio padrão, por meio de técnicas de estatística descritiva para os valores totais e de suas subescalas obtidos da ESV. Para avaliar as diferenças de escores dos sujeitos antes e após a terapia vocal com o uso do tubo de ressonância, as medidas do ESV foram comparadas por meio do teste estatístico de Wilcoxon para dados pareados. A escolha do teste de Wilcoxon justifica-se devido ao número reduzido de pesquisados. O nível de significância utilizado nas decisões dos testes estatísticos foi de 5%. O software utilizado para digitação dos dados e obtenção dos cálculos estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 21. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos através do número 0333.0172.000-10. RESULTADOS O presente estudo contou com a participação de oito idosos, sendo três homens e cinco mulheres que preencheram os requisitos de inclusão para o estudo. A faixa etária da população estudada foi de 63 a 77 anos, com média geral de 69,87 anos. Segundo aplicação da Escala de Sintomas Vocias, como pode ser observado na tabela 2, a média de escores totais no momento pré-terapia foi de 38,38, enquanto no momento pós-terapia foi de 13,25, com diferenças significativas observadas conforme utilização do teste de Wilcoxon (p=0,012). Quanto às subescalas, no momento pré-terapia, foram encontrados maiores escores na subescala limitação, seguida das subescalas emocional e física. No momento após a terapia, a subescala limitação manteve a predominância, seguida do físico e emocional. As médias das subescalas limitação, emocional e físico antes da terapia vocal foi de 23,5, 5,5 e 9,37, respectivamente. Após a terapia essas médias foram iguais a 8, 0,5 e 4,75, respectivamente. Houve registro de diferenças significativas para todas as subescalas (p=0,012; 0,042 e 0,027, respectivamente). No que diz respeito aos itens mais pontuados da ESV, tiveram destaque antes da terapia vocal empregada: dificuldades para cantar (78,2%), rouquidão (68,75%), dificuldade para falar em locais barulhentos (62,50%), tosse ou pigarro (62,50%). Outros itens também foram bem pontuados, a exemplo de voz fraca/baixa, dificuldade para ser ouvido em grupo, muita secreção ou pigarro, voz rouca e seca, e falha na voz no meio da frase. CONCLUSÕES
4 O uso dos tubos de ressonância em terapia vocal em grupo parece ser uma medida eficaz para diminuir os diversos sintomas vocais em idosos com presbifonia, com possível melhoria de qualidade de vida. TABELAS: TABELA 1 TABELA CONTENDO A VARIAÇÃO DOS EXERCÍCIOS E DEMAIS ATIVIDADES REALIZADAS AO LONGO DE 8 SESSÕES TERAPÊUTICAS 1ª sessão Avaliação vocal: aplicação da escala de sinais e sintomas vocais (ESV) e avaliação do Tempo Máximo de Fonação. 2ª sessão Discussão sobre o envelhecimento da voz e medidas para manter uma boa voz; Tubo finlandês: repetir a vogal /u/, produzindo borbulhas. 3ª sessão Discussão sobre o envelhecimento da voz e medidas para manter uma boa voz; Tubo finlandês: repetir a vogal /u/, produzindo borbulhas, com aumento da imersão do tubo na água. 4ª sessão Discussão sobre realização dos exercícios em casa e dúvidas acerca das medidas variando a frequência do som em dois tons (grave e agudo) para alterar a atividade muscular e perceber as sensações de lábios, boca e laringe. 5ª sessão Discussão sobre realização dos exercícios em casa e dúvidas acerca das medidas variando a frequência do som em dois tons (grave e agudo) para alterar a atividade muscular e perceber as sensações de lábios, boca e laringe. 6ª sessão Discussão sobre realização dos exercícios em casa e dúvidas acerca das medidas variando a frequência do som em tons variados (escalas musicais) para alterar a atividade muscular e perceber as sensações de lábios, boca e laringe. 7ª sessão Discussão sobre realização dos exercícios em casa e dúvidas acerca das medidas variando a frequência do som em tons variados (escalas musicais) para alterar a atividade muscular e perceber as sensações de lábios, boca e laringe. Aumento da imersão do tubo na água.
5 8ª sessão Discussão sobre realização dos exercícios em casa; Quiz com perguntas frequentes relacionadas à voz; Tubo finlandês: prolongar a vocalização do /u/, utilizando melodias (Ex: parabéns a você). 9ª sessão Discussão sobre realização dos exercícios em casa; Jogo de memória, utilizando conceitos sobre voz; Tubo finlandês: prolongar a vocalização do /u/, utilizando melodias diversas. Aumento da imersão do tubo na água. 10ª sessão Reavaliação vocal: aplicação da escala de sinais e sintomas vocais (ESV) e avaliação do Tempo Máximo de Fonação. RECIFE, 2015. TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DE MÉDIA E DESVIO-PADRÃO DOS ESCORES DA ESCALA DE SINTOMAS VOCAIS (ESV) NOS MOMENTOS ANTES E APÓS TERAPIA VOCAL COM USO DO TUBO DE RESSONÂNCIA ESCORES ESV Média e desvio padrão préterapia Média e desvio padrão pósterapia Valor de p Total 38,38 (15,184) 13,25 (10,082) 0,012* Limitação 23,50 (9,442) 8,00 (7,309) 0,012* Emocional 5,50 (7,964) 0,50 (1,414) 0,042* Físico 9,38 (6,278) 4,75 9 (3,495) 0,027* RECIFE, 2015 Legenda: * Wilcoxon p<0,05 REFERÊNCIAS 1. Behlau M. Azevedo R, Pontes P. Conceito de voz normal e classificação das disfonias. In: BEHLAU M. Voz: o livro do especialista. 2ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010; 53-76. 2. Roy N, Stemple, J, Merril RM, Thomas L. Epidemiology of voice disorders in the elderly: preliminary findings. Laryngoscope. 2007; 117:628-33. 3. Behlau M, Madazio G, Feijó D, Azevedo R, Gielow I, Rehder MI. Aperfeiçoamento vocal e tratamento fonoaudiológico das disfonias. In: Behlau MS. Voz: o livro do especialista. Vol. 2. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p. 409-564. 4. Sataloff RT, Rosen DC, Hawkshaw M, Spiegel JR. The aging adult voice. J Voice. 1997;11(2):156-60. 5. Guzmán M, Higueras D, Fincheira C, Muñhoz D, Guajardo C. Efectos acústicos inmediatos de uma secuencia de ejercicios vocales com tubos de resonancia. CEFAC, 2012; 14(3): 471-80.
6. Moreti F, Zambon F, Oliveira G, Behlau M. Cross-cultural adaptation, validation, and cutoff values of the Brazilian version of the Voice Symptom Scale-VoiSS. J Voice. 2014;28(4):458-68. 6