ANTIAGREGANTES Quem e quando parar?

Documentos relacionados
Inês Mesquita, Joana Jesus - Serviço Anestesiologia CHUC Joana Bento - Serviço Ortopedia CHUC Abril 2013

PREVENÇÃO DA HEMORRAGIA EM DOENTES HIPOCOAGULADOS OU SOB TERAPÊUTICA ANTIAGREGANTE PLAQUETÁRIA SUBMETIDOS A TÉCNICAS ENDOSCÓPICAS ELECTIVAS

Curso prático de atualização em anticoagulação oral na FANV Casos especiais. Arminda Veiga

Gestão da terapêutica antiagregante

Síndromes Coronários Agudos O que há de novo na terapêutica farmacológica

Como selecionar o tipo de stent e antiplaquetários para cirurgias não cardíacas. Miguel A N Rati Hospital Barra D Or - RJ

Tailur Alberto Grando TSA - SBA. Discussão de caso

Antiagregação e anticoagulação

JOSÉ MARIA MODENESI FREITAS TIAGO HILTON VIEIRA MADEIRA AUGUSTO GALVÃO GONÇALVES. NEUROINRAD Vitória - ES

Tratamento da mulher com SCA em Portugal: mais uma justificação para o programa Bem me Quero

FA e DAC: Como abordar esse paciente? Ricardo Gusmão

ANTICOAGULANTES, TROMBOLÍTICOS E ANTIPLAQUETÁRIOS

RISCO TROMBO-EMBÓLICO E OS NOVOS ANTICOAGULANTES NA FIBRILHAÇÃO AURICULAR: COMO É A PRÁTICA CLÍNICA?

Curso Avançado em Gestão Pré-Hospitalar e Intra-Hospitalar Precoce do Enfarte Agudo de Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST

Cirurgia Não-Cardíaca e Terapia Antiplaquetária em Pacientes Tratados com Stents Coronários

Dr. Gonzalo J. Martínez R.

Como fazer angioplastia primária high-tech low cost

ELEIÇÕES NA SPHM PARA OS ÓRGÃOS SOCIAIS

Click to edit Master title style

Farmacoterapia do Sistema Hematopoiético. Prof. Dr. Marcelo Polacow Bisson

SEÇÃO 1 IMPORTÂNCIA DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL E DE SUA PREVENÇÃO

Introdução. (António Fiarresga, João Abecassis, Pedro Silva Cunha, Sílvio Leal)

Novos Antiagregantes e Anticoagulantes Orais Manejo na endoscopia - maio 2015

PROTOCOLO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ Capítulo JCI Responsável pela elaboração Número do documento Data da 1ª versão

Trombocitopenia induzida pela heparina

Mais Complicações no Enfarte com Supradesnivelamento de ST na População Diabética: Porquê?

Realizado por Rita Calé, Cardiologista de Intervenção no Hospital Garcia de Orta

Resumo Palavras-Chave Abreviaturas Introdução Objetivo Métodos Resultados Discussão Limitações...

USO DE VARFARINA EM MULHERES EM PROCESSO DE ENVELHECIMENTO NO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE IJUÍ 1

Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular Boletim Científico Número

Estratificação do risco e terapêutica antitrombótica

Escolha do regime antiplaquetário nas síndromes coronarianas agudas

Papel do IIb IIIa. Dr. Miguel Antonio Moretti. Unidade Clínica de Emergência, Instituto do Coração, HC, FMUSP, São Paulo, Brasil

Evolução do prognóstico das síndromes coronárias agudas ao longo de 12 anos - a realidade de um centro.

Antiagregantes Plaquetários na Prevenção Primária e Secundária de Eventos Aterotrombóticos

ANTICOAGULAÇÃO ORAL E INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS. Graça Oliveira S. Imuno-hemoterapia Hospital S. João, Porto

Fármacos que actuam no aparelho cardiocirculatório

22ª JORNADA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA MATERNIDADE SINHÁ JUNQUEIRA UNIFESP

Anticoagulação peri-procedimento: o que sabemos e o que devemos aprender? Luiz Magalhães Serviço de Arritmia - UFBA Instituto Procardíaco

por Prof. Rosemilia Cunha Princípios Gerais Hemostasia consiste na interrupção fisiológica de uma hemorragia, evitando

DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

Helena Ferreira da Silva, Paula Vaz Marques, Fátima Coelho, Carlos Dias. VII Reunión de Internistas Noveis Sur de Galicia

Fármacos Anticoagulantes, Trombolíticos e Antiplaquetários

Antiagregação/ Anticoagulação. Tem impacto na patência do acesso vascular?

SÍNTESE DE EVIDÊNCIAS SE 03/2016. Brilinta (ticagrelor) para prevenção de síndrome coronariana aguda

Terapêutica Antitrombótica da Fibrilhação Auricular

Diagnóstico de TEV Perspetiva do Laboratório: o papel dos D-Dímeros no diagnóstico. Luísa Lopes dos Santos IPO-Porto

TRATAMENTO DAS SINDROMES CORONARIANAS AGUDAS

ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR

NOVOS ANTICOAGULANTES ORAIS CONTROLO DA HEMORRAGIA IATROGÉNICA

Velhas doenças, terapêuticas atuais

Atualizações em Hemodinâmica e Cardiologia Invasiva. Dr. Renato Sanchez Antonio HCI São Sebastião do Paraíso

Rua Afonso Celso, Vila Mariana - São Paulo/SP. Telefone: (11) Fax: (11)

Necessidades médicas não preenchidas nos SCA

RECOMENDAÇÕES PARA O TRATAMENTO DE DOENTES COM HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA DE CAUSA NÃO VARICOSA

FOLHETO INFORMATIVO: INFORMAÇÃO PARA O UTILIZADOR

Abordagem intervencionista na síndrome coronária aguda sem supra do segmento ST. Roberto Botelho M.D. PhD.

XXXV Congresso Português de Cardiologia Abril ú ç

Estratificação de risco cardiovascular no perioperatório

João Morais Cardiologista, Director do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santo André, EPE, Leiria.

Preditores de lesão renal aguda em doentes submetidos a implantação de prótese aórtica por via percutânea

TAPD + Anticoagulação Oral Indicacões e Diminuição de Risco

Os Novos Anticoagulantes Orais no Tratamento do Tromboembolismo Pulmonar

RICARDO FONTES-CARVALHO MD, PhD, FESC, FACC NOVOS DADOS DA ASPIRINA EM PREVENÇÃO PRIMÁRIA 2. ANTI-AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA APÓS ENFARTE DO MIOCÁRDIO

O doente sob terapêutica anticoagulante oral e a intervenção farmacêutica

Heparinização Plena. na Sala de Emergência

ANESTESIA EM OFTALMOLOGIA

Novos anticoagulantes orais no tromboembolismo venoso e fibrilhação auricular

Manejo da terapia antitrombótica em pacientes submetidos a procedimentos invasivos ou cirurgia

Anticoagulação no ciclo. Adolfo Liao

SANGUE PLAQUETAS HEMOSTASIA

Novos Fármacos Antiagregantes Plaquetários Tailur Alberto Grando TSA - SBA

Síndromas Coronários rios Agudos: Factores de Bom e Mau Prognóstico na Diabetes Mellitus

AVALIAÇÃO INVASIVA, REPERFUSÃO e REVASCULARIZAÇÃO

Manuseio Peri-operatório do Doente medicado com Outros Anticoagulantes

ESTADO DA ARTE DA ANTI-AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA RICARDO FONTES-CARVALHO (MD,

Artigos de Revisão Review Articles

Uso do AAS na Prevenção Primária de Eventos Cardiovasculares

Diminuição da hipercoagulabilidade (redução de tromboembolismo) Bloqueio motor, bloqueio sensitivo, dor lombar

Trombose Associada ao Cancro. Epidemiologia / Dados Nacionais

Serviço de Sangue. Directora de Serviço: Dra. Anabela Barradas. Orientador: Dr. António Barra. Alexandra Gil

1. INTRODUÇÃO. 2. OBJETIVO Os objetivos desse protocolo são:

Indicadores Estratégicos

DURAÇÃO DA DUPLA ANTIAGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA APÓS COLOCAÇÃO DE STENTS REVESTIDOS POR FÁRMACOS. Autora: Marta Daniela Maio Leite

1-4 de Maio de 2014 Hotel Grande Real Santa Eulália Albufeira

Processo Seletivo Unificado de Residência Médica 2017 PADRÃO DE RESPOSTAS ANGIORRADIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR

Avanços na prevenção da trombose venosa profunda em urologia

RECOMENDAÇÕES DA SPA PARA MANUSEIO PERIOPERATÓRIO DOS DOENTES MEDICADOS COM ANTICOAGULANTES E ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS

CONGRESSO DE CASOS CLÍNICOS EM CARDIOLOGIA

Processo Seletivo Unificado de Residência Médica 2017 PADRÃO DE RESPOSTAS ANGIORRADIOLOGIA E CURURGIA ENDOVASCULAR

Stent coronariano, cirurgia eletiva e cirurgia de urgência: como proceder

ANEXO I RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

RESPOSTA RÁPIDA 107/2013

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM CARDIOLOGIA DE INTERVENÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO AJUSTAMENTO PELO RISCO NA ANÁLISE DE RESULTADOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DOUTORADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE JULIANA MARIA DANTAS MENDONÇA BORGES

Distúrbios da Coagulação

Síndrome Antifosfolípido

Factores associados ao insucesso do controlo hemostático na 2ª endoscopia terapêutica por hemorragia digestiva secundária a úlcera péptica

Transcrição:

ANTIAGREGANTES Quem e quando parar? Francisco Matias Serviço de Anestesiologia Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Francisco Matias 16/07/2012 1

Objectivos Gerais Reconhecer a importância do uso de um algoritmo para uniformização da orientação terapêutica antiagregante pré-cirurgica. Francisco Matias 16/07/2012 2

Objectivos Específicos Reconhecer Antiagregação como processo distinto de Anticoagulação Identificar riscos associados à interrupção da toma de Antiagregantes Identificar risco associado à continuidade da toma de Antiagregantes Orientar um doente que faz antiagregação e que vai ser submetido a cirurgia tendo como base o algoritmo da SPA. Francisco Matias 16/07/2012 3

SUMÁRIO INTRODUÇÃO Trombo arterial vs Trombo venoso Mecanismo de formação do trombo Fármacos antiagregantes e mecanismo de acção RISCO ATEROTROMBÓTICO vs RISCO HEMORRÁGICO QUEM E QUANDO PARAR CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA Francisco Matias 16/07/2012 4

INTRODUÇÃO Inúmeros doentes fazem terapêutica regular com antiagregantes ou anticoagulantes. Risco de hemorragia Risco de trombose O ponto de equilibrio é, por vezes, motivo de discórdia entre anestesista e cirurgião, levando ao adiamento da intervenção cirúrgica. Francisco Matias 16/07/2012 5

Tipos de trombo ARTERIAL VENOSO Resulta da ruptura de placas ateroescleróticas (+++) Causa + comum de EAM, AVC isquémico e gangrena Zonas de alto fluxo Ricos em PLAQUETAS Raramente se formam em áreas de lesão vascular evidente Causa de Embolia Pulmonar (EP) e sínd. Pós-flebítica Zonas de baixo fluxo Ricos em FIBRINA E GV s Antiagregantes mais eficazes na sua prevenção Francisco Matias 16/07/2012 6

Formação do trombo ADP e TXA2 GPIIb/IIIa Francisco Matias 16/07/2012 7

Antiagregantes Aspirina Inibidor da síntese de tromboxano A2 por inibição irreversível da COX 1 Ticlopidina Clopidogrel Bloqueio irreversível do P2Y 12 um receptor do ADP na superfície das plaquetas. Metabolizados pelo Citocromo P450 para se tornarem activos. Antagonistas do receptor GPIIb/IIIa Aspirina Clopidogrel Ticlopidina Abciximab Eptifibatide Tirofiban Inibem a via final comum da agregação plaquetar por bloquearem a ligação do fibrinogénio à GPIIb/IIIa Francisco Matias 16/07/2012 8

TROMBOSE vs HEMORRAGIA Risco Aterotrombótico da interrupção de Antiagregantes A interrupção dos antiagregantes plaquetares aumenta o risco aterotrombótico, sendo a taxa de EAM de 30% durante a fase de reendoltelização dos stents coronários com uma mortalidade associada de 20-40%. (1) A descontinuação prematura da terapia antiplaquetar é o factor de risco mais importante para trombose do stent (2,3) NÃO existe evidência que apoie a utilização de heparinas não-fraccionada ou de baixo peso molecular para a redução do risco aterotrombótico nos doentes em que se suspendem antiagregantes plaquetares. (4) Francisco Matias 16/07/2012 9

TROMBOSE vs HEMORRAGIA Risco Hemorrágico dos Antiagregantes Anti-agregação risco hemorrágico sem aumento da morbilidade e mortalidade. (1) Excepção: Neurocirurgia e prostatectomia Aspirina Dupla 2,5-20% 30-50% transuretral Francisco Matias 16/07/2012 10

TROMBOSE vs HEMORRAGIA Risco Aterotrombótico vs Risco Hemorrágico A ponderação dos riscos favorece a manutenção dos antiagregantes palquetares no período pré-operatório. Intra-operatoriamente é mais fácil controlar uma hemorragia do que uma trombose coronária aguda. (1) Francisco Matias 16/07/2012 11

QUEM E QUANDO PARAR Sociedade Portuguesa de Anestesiologia: Classificação das cirurgias em relação ao risco de hemorragia Francisco Matias 16/07/2012 12

QUEM E QUANDO PARAR Sociedade Portuguesa de Anestesiologia: Em concordância com guidelines das ACC/AHA e da ESC de 2009. Francisco Matias 16/07/2012 13

QUEM E QUANDO PARAR Sociedade Portuguesa de Anestesiologia: * * Se o doente faz AAS para prevenção primária e se não tem manifestações de doença cardiovascular deve parar AAS 5 a 7 dias antes de qualquer tipo de cirurgia (6) Em concordância com guidelines das ACC/AHA e da ESC de 2009. Francisco Matias 16/07/2012 14

CONCLUSÃO A interrupção dos antiagregantes aumenta o risco aterotrombótico. Heparina não-fraccionada ou HBPM não substituem antiagregantes. Anti-agregação aumenta risco hemorrágico sem aumento da morbilidade e mortalidade. excepto - neurocirurgia - prostatectomia transuretral. Devemos basear a nossa actuação no algoritmo apresentado! Francisco Matias 16/07/2012 15

BIBLIOGRAFIA 1 - Chassot PG., Delabays A., Spahn DR., Perioperative use of anti-platelet drugs. Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology (2007) 21:241-56. 2- Luckie M., Fraser D., Khattar RS., Non-cardiac surgery and antiplatelet therapy folowing coronary artery stenting, Heart (2009); 95:1303-1308. 3- Iakovou I., Schmidt T., Bonizzoni E., et al. Incidence, predictors, and outcome of thrombosis after sucessful implantation of drug-eluting stents. J Am Med Assoc (2005); 293:2126-2130. 4- Douketis J., Berger P., Dunn A., et al. The perioperative Management of Antithrombotic Therapy: American College of Chest Physicians Evidence-Based clinical Practise Guidelines (8th Edition). The Eight ACCP conference on Antithrombotic and Thrombolytic Therapy. Chest (2008) 133: 299S-339S. 5- http://www.spanestesiologia.pt/?page_id=60 6- Korte W., Cattaneo M., et al., (2011) Peri-operative management of antiplatelet therapy in patientes with coronary artery disease, Thrombosis and Haemostasis, 105: 745 7- Ferreira J., Victor M., Risco cardiovascular associado à interrupção dos antiagregantes plaquetares e anticoagulantes orais (2009)., 28: 845-858. 8- Harrison et al (2009) Harrison Medicina Interna (17ª edição). McGraw-Hill Francisco Matias 16/07/2012 16