EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO 02ª VARA CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE CAMAQUÃ/RS Processo n.º 007/1.11.0005612-1 SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A, pessoa jurídica de direito privado, com sede na cidade do Rio de Janeiro/RJ, na Rua Senador Dantas, n.º 74, 5º andar, Bairro Centro, com inscrição regular no CNPJ sob n.º 09.248.608/0001-04, representada processualmente por seus procuradores abaixo assinado, vem, à presença de Vossa Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO à demanda aforada por LUIZ CARLOS MARTINS, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: - SÍNTESE DA INICIAL Alega o demandante ter sofrido acidente automobilístico em 24/10/2010, quando teria sofrido lesões graves, que teria ocasionado invalidez de caráter permanente, em razão da fratura no fêmur. Aduz, que recebeu administrativamente o valor de R$ 2.362,50, contudo, esse valor segundo o autor é ínfimo, fazendo jus à complementação. Para tanto, requer a procedência da demanda para que a requerida seja condenada ao pagamento da indenização no valor de R$ 7.087,50, que corresponde ao valor máximo do seguro DPVAT para os casos de perda anatômica e/ou funcional do membro inferior, R$ 9.450,00.
MÉRITO I- DO PAGAMENTO EFETUADO NA INTEGRALIDADE À VÍTIMA/AUTOR Conforme documento MEGADATA, ora juntado, a autora recebeu em 30/05/2011, o valor total de R$ 2.362,50, a título de indenização do Seguro Obrigatório DPVAT. Ademais, importante esclarecer que o referido pagamento se deu maneira integral de acordo com a legislação vigente à época do pedido administrativo e de acordo com o grau da lesão apresentada, consoante Tabela de Graduação. Dessa forma, deve ser julgada improcedente a demanda uma vez que resta comprovado o pagamento integral da indenização do seguro obrigatório para o sinistro em tela. Destarte, o que pretende a parte autora, buscando em Juízo a complementação do pagamento efetuado extrajudicialmente, é usar a máquina do Judiciário para obter enriquecimento de maneira indevida, configurando o abuso de direito, uma vez que a sua motivação se baseia apenas em insatisfação e inconformismo com o valor recebido administrativamente. II- DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA INVALIDEZ SUPORTADA POR MEIO DE LAUDO MÉDICO OFICIAL A parte autora requer a concessão de indenização decorrente de invalidez permanente que teria sofrido em virtude de acidente de trânsito. Ocorre que para a percepção da referida indenização é necessária a comprovação da existência de alguma invalidez decorrente de acidente de transito. Contudo, o autor anexa apenas aos autos boletins médicos e fichas de atendimentos, desprovido de laudo oficial necessário para comprovação de fato qualquer. Verifica-se, portanto a fragilidade da instrução do pedido no tocante a produção de prova, pois, somente a análise dos documentos juntados, torna impossível a verificação
da existência de invalidez de caráter permanente, sendo assim, não produziu o autor prova mínima da verossimilhança de suas alegações. Ora Excelência, tal requisito é pressuposto necessário para a quantificação da indenização, conforme expresso na legislação em vigor. Tal previsão está expressa na lei 6.194/74 a qual sofreu alterações pela lei 8.441/92, acrescentando o 5º ao artigo 5º da lei 6.194/74, assim mencionando: 5 o O Instituto Médico Legal da jurisdição do acidente ou da residência da vítima deverá fornecer, no prazo de até 90 (noventa) dias, laudo à vítima com a verificação da existência e quantificação das lesões permanentes, totais ou parciais. (Redação dada pela Lei nº 11.945, de 2009). Por sua vez, na mesma linha expressa o artigo 3º, inciso I, da Resolução nº. 07/97 do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), in verbis: Art. 3º - A indenização por invalidez permanente será paga no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da entrega dos seguintes documentos: I laudo do Instituto Médico Legal da circunscrição do acidente, qualificado da extensão das lesões físicas ou psíquicas da vítima, atestando o estado de invalidez permanente, de acordo com os percentuais da Tabela das Condições Gerais de Seguro de Acidente, suplementadas, quando for o caso, pela Tabela de Acidentes do Trabalho e da Classificação Internacional de Doenças; (Grifo nosso) Ademais, Excelência, recente decisão da Egrégia Terceira Turma Recursal proferida pelo Eminente Juiz-Relator Dr. Afif Jorge Simões Neto infere a necessidade da parte de produzir prova mínima para o deslinde do feito, vejamos: EMENTA: SEGURO DPVAT. GRANDE LAPSO TEMPORAL ENTRE O SINISTRO E A OCORRÊNCIA POLICIAL E LAUDO DML. AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE ACIDENTE SUPOSTAMENTE SOFRIDO E DEFORMIDADE PERMANENTE. PRINCÍPIO DA INFORMALIDADADE E DA CELERIDADE, QUE NÃO ISENTAM A PARTE DE PRODUZIR PROVA MÍNIMA, AO EFEITO DE VER ACOLHIDA SUA PRETENSÃO. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71001656362, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Afif Jorge Simões Neto, Julgado em 27/05/2008) (grifei) Portanto, sem o laudo fornecido pelo órgão especializado informando com precisão o percentual de redução funcional acometida a parte autora, não há como confrontar o grau de invalidez com a tabela expressamente prevista em lei para cálculo e fixação da indenização. Dessa forma, não se desincumbiu a parte autora do ônus que lhe competia, forte no artigo 333, I, do CPC, deixando de comprovar nos autos o grau de invalidez alegado, sustentáculo de seu pedido, haja vista necessidade de laudo especializado, neste caso do DML ou do DMJ. No entanto, se for outro o entendimento de Vossa Excelência, entendendo como suficiente os documentos juntados com a inicial, importante ressaltar que de acordo com os documentos juntados a autora sofreu fratura no fêmur. A tabela de graduação do Seguro DPVAT prevê cobertura de 70% do valor total para os casos de lesões completas e permanentes de um dos membros superiores. Portanto, caso houvesse a perda anatômica e/ou funcional o máximo que o autor poderá receber será o valor de R$ 9.450,00. Todavia, houve a perícia na esfera administrativa que devidamente apurou o grau da lesão na importância de R$ 2.362,50, portanto, em que pese a lesão no fêmur, necessariamente não corresponde ao valor total para o membro inferior. Ainda, quanto ao Relatório de Avaliação acostado pelo autor, fl. 26, embora tenha sido denominado de Laudo não analisa minuciosamente a lesão, deixa de graduá-la, e ainda fora produzido de forma unilateral e imparcial. Ademais, o documento possui algumas partes ilegíveis devido a caligrafia do profissional que subscreveu. Logo, caso o autor tenha direito a complementação de sua indenização e se erroneamente for levado em consideração a documentação acostada pelo autor, este deverá ser indenizado na exata importância de sua invalidez e não no valor pretendido pelo autor.
III - ACIDENTE OCORRIDO SOB A VIGÊNCIA DA LEI N.º 11.945/09: IMPOSSIBILIDADE DE VINCULAÇÃO DE TODOS OS SINISTROS À INDENIZAÇÃO MÁXIMA Muito embora exista pedido de indenização no patamar máximo, necessário advertir o juízo que o possível evento danoso narrado na inicial ocorreu em 24/10/2010, portanto sob a vigência da Lei n.º 11.945/09. A referida Lei provém da Medida Provisória n.º 451 e tem vigência incidente na mesma data que publicada a referida MP, 16/12/2008. O mencionado comando normativo, a título elucidativo, derrogou do art. 3 da Lei 6.194/74, classificando a invalidez permanente em total ou parcial - esta última subdivida em parcial completa e incompleta, a ser verificada conforme a extensão das perdas anatômicas ou funcionais. Vejamos o referido art. 3 da Lei que regula o Seguro DPVAT: Art. 3 o Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2 o desta Lei compreendem as indenizações por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as regras que se seguem, por pessoa vitimada: I - R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de morte; II - até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de invalidez permanente; e III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) - como reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas. 1 o No caso da cobertura de que trata o inciso II do caput deste artigo, deverão ser enquadradas na tabela anexa a esta Lei as lesões diretamente decorrentes de acidente e que não sejam suscetíveis de amenização proporcionada por qualquer medida terapêutica, classificando-se a invalidez permanente como total ou parcial, subdividindo-se a invalidez permanente parcial em completa e incompleta, conforme a extensão das perdas anatômicas ou funcionais, observado o disposto abaixo: I - quando se tratar de invalidez permanente parcial completa, a perda anatômica ou funcional será diretamente enquadrada em um dos segmentos orgânicos ou corporais previstos na tabela anexa,
correspondendo a indenização ao valor resultante da aplicação do percentual ali estabelecido ao valor máximo da cobertura; e II - quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta, será efetuado o enquadramento da perda anatômica ou funcional na forma prevista no inciso I deste parágrafo, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da indenização que corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) para as perdas de repercussão intensa, 50% (cinquenta por cento) para as de média repercussão, 25% (vinte e cinco por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual de 10% (dez por cento), nos casos de sequelas residuais. Dessa forma, com todo o respeito ao procurador da parte contrária, mas não pode ter como objetivo material, no caso concreto, o máximo indenizável indicado na Lei, R$ 9.450,00, sob pena de ofensa à famosa expressão latina tempus regit actum e a própria Lei derrogada que regula o Seguro DPVAT. Logo, descabe indenização no valor total de R$ 9.450,00, sendo imperiosa a improcedência da ação. IV- DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS AO CASO Se não graduarmos a invalidez e vincularmos indistintamente todos os sinistros ao teto máximo, por óbvio, colidiremos nos princípios constitucionais da Proporcionalidade e da Igualdade. Este preceitua que devemos tratar os desiguais desigualmente, na medida de sua desigualdade. No caso da graduação da invalidez, devemos aplicar o princípio da igualdade material, ou seja, verificar a diferença existente entre os indivíduos. Conforme Kelsen: "a igualdade dos indivíduos sujeitos a ordem pública, garantida pela Constituição, não significa que aqueles devem ser tratados por forma igual nas normas legisladas com fundamento na Constituição, especialmente nas leis. Não pode ser uma tal igualdade aquela que se tem em vista, pois seria absurdo impor os mesmos deveres e conferir os mesmos direitos a todos os indivíduos sem fazer quaisquer distinções, por exemplo, entre crianças e adultos, sãos de espírito e doentes mentais, homens e mulheres". ( KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Coimbra: Armênio Amado, 1974, p.203.). Assim, não podemos tratar igualmente uma pessoa que sofre com invalidez permanente total e outra que é acometida de invalidez parcial incompleta.
V-DOS JUROS LEGAIS E DA CORREÇÃO MONETÁRIA Em caso de eventual condenação, os juros devem ser aplicados conforme a Súmula n.º 163 do STF, que diz: Salvo contra a Fazenda Pública, sendo a obrigação ilíquida, contam-se os juros moratórios desde a citação inicial para a ação. Salientamos ainda que recente decisão o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, sumulou a questão, senão vejamos: Súmula n.º 426-STJ. Os juros de mora na indenização do seguro DPVAT fluem a partir da citação. Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, em 10/3/2010. Em relação à correção monetária, deve ser observada a data de propositura da presente como termo inicial para a sua incidência (16/11/2011), em respeito ao disposto na Lei nº. 6.899/81 e Súmula n.º 14 do STJ, abaixo transcrita: Arbitrados os honorários advocatícios em percentual sobre o valor da causa, a correção monetária incide a partir do respectivo ajuizamento. Desta feita, torna-se imperativo a observância dos dispositivos acima citados, por tratar-se de uma lei federal e entendimentos sumulados, mesmo sendo remota a hipótese de condenação. VI - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Havendo entendimento diverso por Vossas Excelências, mister se faz a fixação dos honorários em percentual mínimo, sob pena de violação do disposto no artigo 20, 3º, do CPC.
Senão vejamos: (...) 3 o - Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: (Redação dada pela Lei n.º 5.925, de 1º.10.1973) a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. (...) Ora, a demanda não apresenta nenhum grau de complexidade, e nem mesmo exige um grau de zelo demasiado pelo patrono do autor, tornando-se, assim, injustificável a fixação dos honorários em patamar superior a 10%. Além disso, caso esteja sob o pálio da AJG, os honorários advocatícios não poderão ultrapassar 15% do líquido apurado em sede de execução da sentença, conforme lei 1.060/50. - DOS PEDIDOS Vossa Excelência: Diante do exposto e confiante no senso de justiça deste MM Juízo, requer-se a a) Seja julgado improcedente o pedido do autor, tendo em vista que o sinistro ocorreu na vigência da Lei n.º 11.945/09, não sendo cabível a indenização no patamar máximo para os casos de lesão no fêmur, eis que a lesão da autora foi graduada corretamente quando do pagamento na via administrativa; b) Seja declarada totalmente improcedente a ação, com resolução do mérito, nos exatos termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil, uma vez que restou amplamente demonstrado pela demandada o descabimento de complementação da indenização eis que o seguro já foi adequadamente pago à vítima, inclusive com a sua anuência, e de acordo com o grau de lesão por ela apresentado quando da realização de perícia no processo administrativo; c) Seja julgado improcedente o pedido de complementação de indenização, uma vez que a parte autora não conseguiu provar que está acometida de invalidez permanente, na medida em que não carreou aos autos um dos documentos mais importantes para a instrução de ação desta natureza, qual seja, laudo médico atestando a
sua condição de invalidez permanente; ainda, requer seja desconsiderado o Boletim de ocorrência conforme produzido, pois trata-se de comunicação pessoal da própria vítima; d) Em não sendo este o entendimento de Vossa Excelência, o que se admite a título argumentativo e pelo Princípio da Eventualidade, requer sejam observados os parâmetros fornecidos na defesa, tais como utilização da tabela de graduação da invalidez, honorários advocatícios, juros e correção monetária entre outros acima demonstrados; Por derradeiro, requer, ainda, sejam feitas as anotações necessárias para que seja observado o nome do patrono da presente, Dr. Gabriel Lopes Moreira, OAB/RS 57.313, para efeito de intimações futuras, exclusivamente sob pena de nulidade. Nestes termos, Pede deferimento. Porto Alegre/RS, em 15 de dezembro de 2011. Adriane Aquino Martins OAB/RS 80.788