SEGURANCA AERONAUTICA Nº 68 2007-01-19 Meu Caro, Ao longo desta minhas croniquetas semanais versando a Segurança Aeronáutica tenho abordado bastas vezes o tema da Meteorologia como factor da (In)segurança Aeronáutica. A meteorologia é um dos factores que mais problemas trás à segurança da Aviação Geral. Como tu bem sabes os factores meteorológicos manifestam-se das mais diversas maneiras. Hoje não pretendo relembrar as possíveis consequências dos factores meteorológicos adversos. Não! Para que um piloto se possa defender desse papão só tem um meio: conhecer com antecedência a meteorologia para a sua rota e tomar as decisões mais acertadas e defensivas. Até não descolar... Infelizmente, em Portugal, até há pouco tempo a informação meteorológica para a Aviação Geral era praticamente nula e só estava disponibilizada nos grandes aeroportos internacionais. Há pouco mais de um ano numa organização tripartida IM, INAC e NAV ocorreu uma reunião pública em que se debateram diversos problemas ligados à Aviação. Lembro-me bem de, no fim dessa reunião, extremamente concorrida, ter manifestado o meu total desagrado pelo facto de ter necessidade de recorrer ao Governos dos USA para conhecer a informação meteorológica produzida em Portugal, pelo Instituto de Meteorologia. Sentia-me que pagava, com os meus impostos, uma organização e, depois, tinha de mendigar o produto dessa organização a um governo estrangeiro. Um verdadeiro processo kafkiano. Lembro-me, ainda, que no fim da sessão, durante aquele período em que normalmente se resolvem os problemas o período das despedidas em que se dá um verdadeiro contacto pessoal ter manifestado, aos responsáveis do IM presentes, que a importância da informação meteorológica não se resumia à Aviação Comercial. Havia, ainda, uma Aviação Geral para a qual a informação meteorológica era, talvez, ainda, de maior importância. Afinal, a Aviação Geral não voa, normalmente, acima do tempo. Lembro-me, ainda, que, passados cerca de três meses, numa reunião formal entre a Direcção da AOPA Portugal e a Presidência do Instituto de Meteorologia, termos voltado a demonstrar a importância da meteorologia para a segurança da Aviação Geral. Por outro lado evidenciámos que, esta, praticamente não opera em Lisboa, Porto e Faro. Demonstrámos, assim, que a Aviação Geral, praticamente, não tinha acesso à informação meteorológica aeronáutica. Depois destes três momentos concluí que o Instituto de Meteorologia havia entendido
completamente a mensagem da AOPA Portugal. Concluí, isto, da melhor maneira: comecei a ver resultados práticos. Passado pouco tempo já era possível obter TAF s e METAR s na página de meteorologia aeronáutica do site do IM. Mas não só. Já era, também, possível obter cartas de vento e temperatura para os FL050, FL100 e FL180. Afinal os níveis de voo normalmente utilizados pela Aviação Geral. Durante os contactos que fomos mantendo com o IM através das pessoas da Dr.ª Teresa Abrantes e do Dr. José Barradas, a certa altura, foi-nos prometida uma surpresa para o início de 2007. E que surpresa! Afinal essa surpresa não era nem mais nem menos do que o Self-Briefing Meteorológico que foi disponibilizado esta semana. O Self-Briefing Meteorológico ou "Sistema de Informação Meteorológica de Voo" ficou pronto para testes no início de Dezembro de 2006. Mais uma vez, porque haviam competências técnico-profissionais dentro da Direcção da AOPA Portugal, colaborámos com o IM em todo o processo de testes, quer aplicacionais, quer funcionais do Sistema. Não podemos deixar de referir, agora, a pessoa do Dr. Augusto Rodrigues, chefe do Met COMM Center do IM. Na passada terça-feira, com toda a pompa e circunstância, como se costuma dizer, foi apresentado à comunidade aeronáutica o sistema de Self-Briefing Meteorológico. O SELF-BRIEFING METEOROLÓGICO OU "SISTEMA DE INFORMAÇÃO METEOROLÓGICA DE VOO" DO INSTITUTO DE METEOROLOGIA Mas afinal o que é o Self-Briefing Meteorológico? É um sistema disponibilizado pelo Instituto de Meteorologia, de Portugal, que permite, através da internet, obter um plano de voo meteorológico em qualquer parte do mundo e para voos de e para qualquer parte do mundo. E, note-se bem, com informação meteorológica certificada de acordo com o Anexo III da ICAO! Paralelamente, o sistema pode fornecer informação da World Meteorological Organization (OMM) para as estações da Península Ibérica. Meu caro, já te imaginaste, em casa, de manhã de pijama e pantufas, antes do voo que programaste, a obter um briefing meteorológico completo que te permitirá tomares as decisões acertadas? Para quem, ainda há um ano, não tinha nada a não ser olhar através da janela, isto é um verdadeiro luxo. Mas não, isto não é um luxo. É uma solução para um problema de segurança aeronáutica. É uma solução fruto da compreensão, por parte da equipa do IM, da necessidade da informação meteorológica para a Aviação Geral. Afinal, uma necessidade pela qual a AOPA Portugal sempre se bateu. Queres, agora, acompanhar-me num tour pelo Sistema? Posso ser o teu cicerone. Afinal já conheço o Self-Briefing como a palma das minhas mãos. Há mais de um mês que o experimento quase todos os dias. Comecemos pela porta da entrada. Diriges-te ao site http://brief.meteo.pt. Vais necessitar de ter um perfil de utilizador (nome de utilizador e password) que te vai ser atribuído pelo IM. Perguntarás, porquê? Para deixar os carraças da internet à porta. Afinal isto é uma ferramenta de segurança aeronáutica para ser utilizada por quem dela precisa: os aviadores. Os brincalhões do costume não são bem-vindos. Só empatam. O teu registo é feito on-line e, no dia seguinte, já tens o teu password para abrires a porta.
Depois de entrares vai ser-te apresentado um formulário para preencheres. É fácil de o fazer e muitos dos dados pedidos para o plano de voo meteorológico podem ser gerados automaticamente.
Deixemos os entretantos e passemos aos finalmente. Vejamos um exemplo prático! Um voo VFR entre Santa Cruz (LPSC) e Málaga (LEMG), passando por Códoba (LEBA). O nível de voo pretendido é FL100, a hora de partida é 1700 e o tempo estimado em rota são 0300. Naturalmente, vai também ser necessário conhecer as condições para o FL050. Para obtermos o plano de voo meteorológico, basta preencher os campos abaixo indicados: Fazendo click sobre o botão Completar Formulário os restantes campos preencher-se-ão automaticamente. O resultado será o seguinte: Dando ordem para executar, o sistema irá gerar o plano de voo meteorológico. Este pode ser consultado no écran ou ser descarregado para o teu computador sob a forma de um ficheiro pdf. O plano começa por apresentar os METAR e TAF s para todos os aeródromos da rota para os quais o IM disponha de tal informação. Na imagem seguinte ilustra-se a parte inicial desta lista de informação.
Finalmente, depois de nos mostrar os SIGMET e AIRMET para a rota, o sistema apresenta as diversas cartas para o plano preenchido. Para que tu não te percas nesta conversa, em anexo, envio-te este plano de voo meteorológico sob a forma de ficheiro pdf. Descarrega-o para a tua máquina e vê com os teus próprios olhos.
Contudo a informação não termina aqui. Como informação não certificada Anexo III, o sistema fornece-te, ainda, a informação meteorológica SYNOP S para Portugal e Espanha. Esta é uma informação meteo muito importante para nós pilotos de Aviação Geral que, muitas das vezes, fazemos voos VFR. Por enquanto esta informação ainda vem codificada. Para nos ajudar, o sistema tem um descodificador nas Ajudas. Porém, espera-se que num futuro próximo a informação possa ser descodificada automaticamente. A ti, que muito provavelmente nunca viste códigos SYNOP s, posso garantir-te que este conjunto de códigos é algo de muito semelhante a uma informação METAR. Se não acreditares, analisa o descodificador. Se escolheres a opção Browse da página do formulário que preencheste, o sistema disponibilizar-te-á as seguintes imagens: trovoadas no território do Continente, imagens radar e imagens de satélite (visível e infravermelhos). Meu caro, se fosses ao departamento de meteorologia de um dos aeroportos internacionais, seria esta a informação documental que te entregariam. Agora podes dispor de toda esta informação meteorológica em tua casa ou algures num ponto do mundo com acesso à internet. Naturalmente isto que aqui te digo não é uma descrição completa de todas as potencialidades e modo de operar do Self briefing meteorológico. O que aqui te digo é só para te aguçar o apetite. O resto, deixo para seres tu próprio a descobrir. Resta-me uma coisa: agradecer ao Instituto de Meteorologia este passo significativo no sentido da melhoria da segurança aeronáutica em Portugal. É um excelente exemplo de qual deve ser a postura das entidades oficiais para bem servir os cidadãos. É um excelente exemplo da colaboração entre a AOPA Portugal e as entidades oficiais ligadas à Aviação Geral. Deixa-me terminar recomendando-te que te associes à AOPA Portugal. Perguntarás, de imediato, como o poderás fazer. Visita o site da AOPA Portugal em www.aopa.pt e manda as tuas perguntas para o Presidente da AOPA Portugal através do seguinte e-mail address: robin.andrade@aopa.pt. Gostaria de contar com a tua presença na nossa AOPA.
Como sempre, um abração do Fernando