FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PROEJA DO IFG Ariadiny Cândido Morais 1 FE/UFG Agência Financiadora CNPq Estas reflexões decorrem da pesquisa 2 que está sendo desenvolvida desde agosto de 2009, para investigar a implantação do Proeja no Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) - Campus de Goiânia no curso Técnico em Cozinha, Integrado ao Ensino Médio, na Modalidade de Jovens e Adultos. A investigação é voltada para a formação dos educadores que estão atuando no programa. A proposta do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja), expressa no seu Documento Base, visa uma educação integrada numa concepção ampla de formação de sujeitos baseada nos seguintes fundamentos:... tem como fundamento a integração entre trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral com a finalidade de contribuir para o enriquecimento científico, cultural, político e profissional como condições necessárias para o efetivo exercício da cidadania. (BRASIL, 2009a, p.5). Esta pesquisa contou inicialmente com aprofundamento teórico no campo da educação básica (EB), nas modalidades de educação de jovens e adultos (EJA) e educação profissional (EP), a partir de referenciais bibliográficos, documentos oficiais e informações obtidas em sites como: www.forumeja.org.br/go e www.forumeja.org.br/pf, voltados para a EJA e EP, onde são reunidos dados dos projetos de pesquisa que analisam a implantação do Proeja no Brasil. Além deste aprofundamento, utilizou-se dos recursos metodológicos de observação em campo e aplicação de questionários aos educadores do Proeja no IFG. 1 Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás Campus I Goiânia, Bolsista de iniciação cientifica PIBIC. Orientadora: Maria Margarida Machado. 2 Esta pesquisa faz parte do Subprojeto (PIBIC): Integração Curricular Proposta no PROEJA do IFG Goiânia, vinculada a uma pesquisa maior, financiada pelo CNPq e com o apoio financeiro do Edital Proeja CAPES/SETEC, Projeto 19 - O PROEJA indicando a reconfiguração do campo da Educação de Jovens e Adultos com qualificação profissional - desafios e possibilidades. 1
A aproximação com a realidade do Proeja vem ocorrendo desde o inicio desta pesquisa, em encontros periódicos que acontecem na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. O contato mais direto com os educadores do Proeja iniciou no mês de novembro do ano de 2009, em reunião pedagógica, que ocorreu a partir da movimentação de alguns educadores do Instituto. Foi um momento de reorganização dos próprios educadores que andavam há algum tempo sem se reunir sistematicamente. Aspectos como espaço físico, atualização de e-mails, horário de aula para o próximo semestre e problemas com alunos foram pautados nesta reunião pedagógica. Foi, portanto, uma reunião de reencontro, como afirma um dos educadores: o Proeja estava meio esquecido e ele completa explicando que esse retorno é um importante passo na compreensão de tudo que o Proeja é. Desde então ocorrem reuniões periodicamente no Instituto. O Proeja foi oferecido a partir do segundo semestre do ano de 2006. O primeiro curso nesta modalidade foi o Técnico em Serviços de Alimentos que deixou de existir no ano de 2009. Em 2010 esse curso foi substituído pelo Técnico em Cozinha, o curso tem a duração de três anos o que corresponde a seis períodos. Atualmente as reuniões no Instituto ocorrem quinzenalmente, em caráter formativo, pois as discussões são uma tentativa de entender a proposta do Programa e do Plano de Curso do Técnico em Cozinha, que foi construído a partir de eixos temáticos. As reuniões são embasadas em textos previamente selecionados e lidos, que são discutidos entre os educadores do Instituto. Esses educadores estavam sentindo falta de momentos voltados para o aprofundamento das questões pertinentes ao Proeja. Essas reuniões não aconteciam em virtude da dificuldade em conciliar a carga horária da coordenação e dos educadores além da alta rotatividade destes. As reuniões têm contado com a participação de 7 a 8 educadores, no máximo 10 educadores que foi o caso da primeira reunião (novembro). Há uma rotatividade entre os educadores presentes nas reuniões. Em todas há um ou dois educadores que estão participando pela primeira vez por diversos motivos, há também de dois a três educadores que não estavam presentes em cerca de duas reuniões ou só compareceram na primeira. A rotatividade dos educadores nas reuniões é reflexo da realidade institucional, em função dos 2
contratos temporários, dificultando a comunicação e a continuidade de um trabalho de caráter formativo como esse. O primeiro questionário que foi aplicado pela pesquisa traz dados de identificação dos educadores que atuam no Proeja, tais como, o grau de escolaridade, tipos de especializações para EJA e Proeja, critério de entrada e permanência no programa. Sendo respondido pelos 10 educadores de um total de 22 atuantes no Programa. O segundo questionário ainda está em processos de recolhimento para tabulação de dados. A realidade do Proeja em Goiânia foi refletida na construção do Plano de Curso do Técnico em Cozinha. Pois foi um processo de construção coletiva que contou com a participação de 17 educadores, coordenação do Proeja Campus Goiânia e a coordenação do Proeja do IFG. Na tentativa de formatar uma proposta diferente da lógica com a qual o Proeja vinha sendo trabalhado (cada professor trabalhando seu conteúdo sem uma interdisciplinaridade) e que atendesse ao Documento Base onde A organização curricular não está dada a priori. Essa é uma construção contínua, processual e coletiva que envolve todos os sujeitos que participam do Programa. (BRASIL, 2009a, p.48). Os Princípios metodológicos do plano foram construídos em eixos temáticos, como já foi dito acima, que busca o [...] inicio de um rompimento do isolamento das disciplinas e de uma aprendizagem centrada numa visão de mundo fragmentada, e de outro, busca, por meio de conhecimentos das diversas áreas, pensar, refletir e propor alternativas de aprendizagem mais próximas da experiência imediata dos jovens e adultos[...] (IFG, 2009, p.14). Contudo, muitos educadores ainda não dominam essa proposta ou não tem certeza do que ela representa. Nas reuniões pedagógicas não se percebe avanço na discussão, pois em todas elas é necessário voltar e dizer, rapidamente, o que é a proposta dos eixos temáticos, os exemplos que possibilitem aos educadores que não estavam presentes em reuniões anteriores entenderem. A partir das informações obtidas através do primeiro questionário identificamos que entre os educadores existem: cinco especialistas, um mestrando, três mestres e um doutor. Com relação a formação voltada para o Proeja há um especialista, três participantes do projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade Federa de Goiás (UFG) sobre o Proeja e um educador participou de cursos realizados pela Secretaria de Educação do Estado de Goiás (Seduc - GO). Dentre esses educadores apenas um tem menos de um ano no 3
Instituto, quatro educadores tem mais de dez anos e os outros cinco tem de um a dez anos na instituição. Todos eles entraram por concurso público. Ainda, quando analisados os dados dos questionários respondidos pelos educadores que atuam no Proeja, percebe-se que a entrada de 50% (cinqüenta por cento) dos educadores se dá, inicialmente, por adequação de carga horária, enquanto que para os outros 50% (cinqüenta por cento), essa entrada se dá em função da opção pessoal. Quando falamos da permanência desses educadores no programa percebemos que 80% (oitenta por cento) deles continuam no programa por opção, incentivados por facilidades encontradas no trabalho com os alunos jovens e adultos, por eles expressas no gráfico a seguir: Facilidades encontradas alunos mais interessados oralidade bem desenvolvida solidariedade entre os alunos aplicação dos conhecimentos adquiridos convivência com os alunos convivência com os professores material didático elaboratorial formaçao do professor apoio da gestão Todas as dificuldades identificadas nos encontros pedagógicos, entre os educadores do IFG, em compreenderem a proposta do Proeja, se somam às contradições evidenciadas no próprio Plano de Curso (IFG, 2009). Por exemplo, quando se trata do aluno que se espera formar com o curso, há uma concepção presente nos objetivo, mais restrita aos aspectos técnicos da formação, e outra mais abrangente, presente no item que trata das concepções e princípios, 2. Objetivo do curso A oferta do Curso Técnico em Cozinha, na área de Turismo e Hospitalidade, é voltada para a educação do público jovem e adulto e tem como objetivo formar profissionais que atuem em diferentes etapas do 4
processo de produção de alimentos: seleção, armazenamento, higienização, porcionamento, preparo, finalização dos pratos e elaboração de cardápios. O técnico em Cozinha opera e mantém equipamentos e maquinários de cozinha e armazena diferentes gêneros alimentícios, controlando seus estoques, consumo e custo. [...] 3. Concepção e Princípios do Curso A oferta do Curso Técnico Integrado em Cozinha na área de Turismo e Hospitalidade, voltado para o publico jovem e adulto, encerra uma opção teórico-metodológico e ideológica centrada na construção de espaços destinados à concretização de uma práxis assentada na perspectiva da inclusão social de parcelas significativas da população aos conhecimentos produzidos. Como consciência, busca se a formação de um trabalhador-cidadão consciente da sua unicidade enquanto sujeito potencialmente transformador da sua realidade de origem (excluído), da sua capacidade de pensamento autônomo, independente e critico e da sua condição ontológica de ser coletivo e solidário. (IFG, 2009, p.9, 10). Para além destas contradições já identificadas, outras questões estão sendo analisadas e ainda será objeto de aprofundamento desta pesquisa, tais como: identificar o sentido e a pertinência da integração curricular no Proeja; entender e acompanhar esse esforço da organização curricular baseada em eixos temáticos; acompanhar o processo formativo dos educadores que para esse primeiro semestre do ano de 2010 tem previsto discussões a cerca das temáticas: avaliação, evasão escolar, relatos de experiências dos cursos: Técnico em Alimentação e Técnico em Cozinha. Referências AZEVEDO, J.M.L. A educação como política pública. Campinas, SP: Autores Associados, 2004 3. Edição. BRASIL. Decreto Nº. 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o 2º do art.36 e os art. 39 a 42 da Lei n.º 9.394. Brasília, 1997.. Decreto Nº. 5.154, de 23 de junho de 2004. Regulamenta a Lei Nº 9.394/96. Brasília, 2004.. Decreto Nº. 5.840, de 13 de julho de 2006. Institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA, e dá outras providências. Brasília, 2006.. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Documento Base. Programa de Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Brasília: MEC/ SETEC, 2009a... Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade. Documento Nacional Preparatório à VI Conferencia Internacional de Educação de Adultos (VI CONFINTEA). Brasília:MEC; Goiânia: FUNAPE/UFG, 2009b. 5
FREIRE, A dialogicidade essência da educação. In: Pedagogia do oprimido, 17ª Edição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. p. 44 69. INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Plano de Curso. Técnico em Cozinha, Integrado ao Ensino Médio, na Modalidade de Jovens e Adultos. Goiânia: IFG, 2009. Portal do Fórum Goiano de EJA. Disponível em: http://forumeja.org.br/go/. Acesso dia 06 de maio de 2010. Portal do Fórum de EJA e Formação Profissional. Disponível em: http://forumeja.org.br/pf/. Acesso dia 06 de maio de 2010. 6