NIQUELÂNDIA Basquete em cadeiras de rodas Projeto Chute, Tabela e Xuá será desenvolvido em parceria da Secretaria Municipal de Esportes com a Federação Goiana de Basquetebol em Cadeira de Rodas (FGBC), com o Ministério do Esporte e com a mineradora Anglo American. Euclides Oliveira Niquelândia será a primeira cidade do Norte do Estado a contar com uma equipe de basquete em cadeiras de rodas. O projeto Chute, Tabela e Xuá é fruto de uma parceria da Secretaria Municipal de Esportes com a Federação Goiana de Basquetebol em Cadeira de Rodas (FGBC), com o Ministério do Esporte e com a mineradora Anglo American. A novidade foi anunciada na noite da última terça-feira (14), por ocasião da eleição em chapa única da diretoria da Asdeniq (Associação das Pessoas Portadoras de Deficiência Física de Niquelândia). A entidade será comandada por Raimunda de Castro de Oliveira, de 38 anos, moradora no CHC. Nascida em Madalena (CE), ela se locomove uma cadeira de rodas há 24 anos. Em 1985, com apenas 14 anos, Raimunda trabalhava como babá em Iueiras (PI) e foi vítima de um acidente automobilístico
quando viajava no banco traseiro de um carro com duas crianças, filhos de sua então patroa. A mulher dirigia o carro em alta velocidade e morreu no acidente. Raimunda escapou da morte, mas ficou tetraplégica (perdeu todos os movimentos do corpo, inclusive a fala e a visão). LUTA ÁRDUA Em 1987, ainda em recuperação, Raimunda mudou-se em definitivo para Niquelândia, onde seus pais já moravam. Raimunda, desde então, travou uma luta praticamente solitária contra a tetraplegia que lhe acometeu. Após seguidos tratamentos médicos e sessões de fisioterapia, conseguiu recuperar os movimentos da cintura para cima, estando hoje na condição de paraplégica. Na hora em você pensa que tudo acabou, devemos sempre lembrar que Deus existe. Todos nós temos um destino e uma provação para passar. Não foi fácil aceitar viver em cima desta cadeira de rodas, enfrentar o olhar (preconceituoso) das pessoas e erguer a cabeça, mas superei tudo. Foi aqui, em Niquelândia, que aprendi a sorrir de novo, que aprendi a ver o sol nascer de novo e ver que a minha vida tinha que continuar. Tem dias que eu fico indignada, não mais por estar na cadeira de rodas, mas pelas dificuldades que eu e outros deficientes enfrentamos no dia-a-dia, aqui em Niquelândia. Por isso é que fundamos essa associação, para lutarmos juntos, pelo mesmo objetivo, comentou a
presidente da Asdeniq, que é casada e não tem filhos. A advogada Belzi Pires Toledo será a vice-presidente da entidade. Keila Aparecida dos Santos será a primeira-secretária da Asdeniq. OS PLANOS Como presidente da Asdeniq, Raimunda espera viabilizar parceria com o Poder Público de Niquelândia, para melhorar as condições de acessibilidade dos portadores de deficiência física na cidade. Ampliação do número de guias rebaixadas, melhor sinalização das mesmas, nivelamento das calçadas e a instalação de elevadores mais modernos e ágeis nos ônibus que servem ao transporte coletivo da cidade estão entre as principais reivindicações da associação. Uma outra dificuldade encontrada na cidade, segundo ela, é a manutenção das cadeiras de rodas: não há loja especializada ou mesmo mão-de-obra qualificada em Niquelândia para a simples troca de um pneu, de uma roda ou das alavancas de freio das cadeiras. Quando o serviço é feito, faz-se na base do improviso, em oficinas de fundo de quintal. Reparos mais cuidadosos precisam ser feitos em Goiânia, a custos poucos acessíveis, até mesmo pela distância da cidade em relação à capital. Raimunda deseja que, ao menos em Niquelândia, os reparos nas cadeiras sejam feitos com custo zero para os cadeirantes em dificuldade financeira.
Ela pretende convidar a Votorantim Metais para, juntamente da Anglo American, tornar-se parceira da Asdeniq. MAIS SOBRE O BASQUETE PARA CADEIRANTES O técnico de handebol da Secretaria de Esportes de Niquelândia, Amauri Fernando Vicente Dias (o popular Fernandão) será capacitado pela FGBC para treinar os 14 portadores de deficiência física da cidade que já manifestaram interesse em participar do time de basquete em cadeiras de rodas. Ainda faltam seis jogadores para completar o time de 20 atletas. O pré-requisito básico é, evidentemente, ter a plenitude dos movimentos dos braços, já que a prática do basquete requer impulsão para acertar a bola ao cesto. Aliás, segundo Fernandão, o cadeirante vai necessitar de esforço adicional para a prática, uma vez que as tabelas são colocadas na mesma altura do jogo de basquete tradicional. A FGBC deverá promover em Niquelândia, em breve, uma partida demonstrativa entre dois times em plena atividade em Goiás. Atualmente, existem equipes de basquete em cadeiras de rodas em Rio Verde, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Trindade, Senador Canedo, Catalão e Ouvidor. O projeto Chute, Tabela e Xuá também será viabilizado em Barro Alto, ainda neste ano. Representantes da FGBC (atualmente presidida por Teresa Cristina Sabbag Cunha) também virão ao município para tirar as medidas dos portadores de deficiência e
confeccionar as cadeiras de rodas específicas para a necessidade de cada um dos atletas. A entidade vai bancar a compra dos equipamentos: cada cadeira custa R$ 1.100,00, em média. Em relação às cadeiras de rodas normais, o equipamento para desportistas possui o centro de gravidade das rodas ligeiramente inclinado para dentro e reforços tubulares em sua estrutura metálica, para evitar quedas dos praticantes da modalidade durante as partidas. ELEVAÇÃO DA AUTO-ESTIMA Queremos implantar o projeto o mais rápido possível em Niquelândia. A cidade vai ganhar muito com isso, pois será um trabalho bastante diferenciado. Muitas pessoas, com algum tipo de deficiência, acabam se trancando e se isolando dentro de suas casas. Com essa iniciação esportiva, vamos conseguir levantar a auto-estima e promover a interação social dos portadores com outras pessoas. Eles vão mostrar que estão vivos e que podem ser iguais a nós, comentou a psicóloga Elísia Rejane de Souza Lino. Ela vai atuar como coordenadora do projeto na cidade e ofertar assistência motivacional às pessoas que vão jogar basquete em cadeiras de rodas em Niquelândia.