NOS CAMINHOS DA PESQUISA: em pauta os aspectos metodológicos. Maria dos Anjos Lopes Viella 1 Este texto surgiu por solicitação do grupo de professores que irão ministrar a disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa e Extensão em EPT, no Curso de Especialização em Formação Pedagógica para a Docência na Educação Profissional e Tecnológica. O pouco tempo disponível para esta produção não permitiu um aprofundamento teórico desejável, entretanto sinaliza-se aqui alguns dos caminhos da pesquisa, situando brevemente a temática do método e da metodologia no contexto dos componentes estruturais da pesquisa científica em educação. Para ilustrar o método de pesquisa, de coleta e tratamento dos dados, será considerado para este texto o percurso percorrido para a produção do artigo A formação de professores para a educação profissional e tecnológica no quadro das pesquisas sobre formação de professores 2, de autoria das professoras Maria dos Anjos Lopes Viella e Fabiana Besen Santos. Compreender, interpretar e analisar um recorte do real como objeto a ser investigado supõe uma atividade metodológica. Não significa apenas uma "metrologia". A prática metodológica de uma pesquisa envolve quatro polos orientadores: polo epistemológico, polo teórico, polo morfológico e polo técnico, de acordo com De Bruyne, Herman e De Schoutheete (1998, p. 21). Esses autores esclarecem que a metodologia deve ajudar a explicar não apenas os produtos da investigação científica, mas principalmente seu próprio processo. Não se pode converter a metodologia numa tecnologia, numa sequência de operações e procedimentos. Eles também enfatizam que as escolhas metodológicas não são colocadas umas após as outras, mas formam um sistema, isto é, supõem voltas constantes e interpenetrações recíprocas dos polos epistemológico, teórico, morfológico e técnico." (p.30). 1 Doutora em Educação: Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis-SC. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, no Centro de Referência em Formação e EaD. E-mail: maria.viella@ifsc.edu.br. 2 Este artigo foi apresentado em Fortaleza, em novembro de 2015, no IV Encontro Internacional Trabalho e Formação de Trabalhadores: Ensino Médio e Educação Profissional em Questão, na Universidade Federal do Ceará. Esse evento foi promovido pelo Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação Profissional LABOR/UFC, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE e com o Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará UFC e teve como finalidade contribuir com o debate em torno do Ensino Médio e da Educação Profissional.
Os autores continuam insistindo que esses polos não configuram momentos separados da pesquisa, mas aspectos particulares de uma mesma realidade de produção de discursos e de práticas científicos. Toda pesquisa engaja, explícita ou implicitamente, essas diversas instâncias (p. 34). Brandão (2002, p. 21) indaga: "Estaremos nós, docentes/pesquisadores sendo capazes de ensinar aos pós-graduandos [...] como caminhar no conhecimento e utilização das referências para análise consistente de um problema ou objeto de estudo?" (p. 22). Ela menciona a necessidade de desenvolver nos alunos o exercício do faro intelectual para a identificação dos melhores caminhos e fontes para a pesquisa bibliográfica, apontando os periódicos, como instrumentos, por excelência da divulgação da pesquisa em todas as áreas científicas, referências fundamentais para o pesquisador. E assim ela se posiciona em relação aos periódicos: Só se conhece um periódico manipulando-o, frequentando-o; isto é, acompanhando a sua trajetória, número por número, ano por ano. A imagem que faço da minha experiência com os periódicos, é análoga à de um grupo de amigos que tem o hábito de estar juntos, em almoços semanais ou nos finais de tarde para um chopinho: há sempre o que conversar, há sempre continuidades e novidades que alimentam os debates sobre os mesmos temas ou a última notícia. Dos encontros saímos satisfeitos e, algumas vezes, apreensivos. Estilos, experiências e interesses diferentes permitem que, conforme o problema e a circunstância, se recorra com mais insistência em um deles para discutir um problema. Periódicos e livros, como os bons amigos, podem se tornar excelentes conselheiros nos momentos mais críticos (p. 22). Os dados com os quais trabalhamos são fundamentais na pesquisa, bem como o papel da teoria, que propicia ao pesquisador integrar os recortes que faz do fenômeno. O método é, pois, uma forma de organização do trabalho investigativo, de construir o conhecimento e revelar a forma como olhamos a realidade. Dependendo dos nossos pressupostos de análise, de nossas abordagens epistemológicas, haverá diferentes formas de abordagem metodológica (empirismo, positivismo, funcionalismo, estruturalismo e dialética). Para os objetivos deste texto, será utilizado, para ilustrar o método de pesquisa, de coleta e tratamento dos dados, o artigo de Viella e Besen (2015), que se caracteriza
como pesquisa bibliográfica 3, denominada de estado da arte ou estado do conhecimento". Segundo Ferreira (2002, p.257), essas pesquisas parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados, privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários. O objetivo do artigo de Viella e Besen (2015) foi situar as pesquisas sobre a formação de professores para a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) tanto no quadro das pesquisas da formação de professores em geral quanto no quadro das pesquisas sobre a formação de professores para a EPT, buscando aprofundar a análise e a compreensão sobre a forma como essa temática se apresenta no contexto das pesquisas já produzidas, para enfim, pensar na implementação de propostas de formação de professores que contribuam para direcionar as ações do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Para fazer o mapeamento das pesquisas sobre EPT, foram percorridos dois caminhos de busca, sendo que um deles foi o Banco de Teses e Dissertações da CAPES 4. A escolha dessa fonte justifica-se pelo fato dela possibilitar o acesso a informações sobre teses e dissertações defendidas junto a programas de pós-graduação do país e também pelo fato de muitos artigos produzidos serem resultantes das teses e dissertações defendidas. Esse Banco de Teses e Dissertações disponibiliza ferramenta de busca e consulta aos resumos relativos às pesquisas defendidas a partir de 1987. Assim, é possível realizar a busca por autor, título e palavras-chave. 3 Cabe aqui destacar que os tipos de pesquisa se diferenciam quanto aos objetivos (pesquisa exploratória, descritiva, explicativa); quanto à abordagem (qualitativa, quantitativa); quanto à natureza (pesquisa básica, pesquisa aplicada); quanto aos procedimentos técnicos (bibliográfica, documental, levantamentos, estudo de caso, pesquisa-ação etc.). A pesquisa bibliográfica e documental são muito parecidas, só que a bibliográfica tem como suas fontes material que já recebeu um tratamento de análise: livros e artigos. A pesquisa documental consta de documentos como jornais, revistas, arquivos públicos, relatórios etc. Para maiores aprofundamentos consultar Gerhardt e Silveira (2009). Disponível em < www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsserie/derad005.pdf > Acesso em: 25 abr. 2014. 4 Ver bancodeteses.capes.gov.br/
A busca de teses e dissertações da CAPES que abordam a temática da formação de professores para a EPT partiu das seguintes palavras-chave: Formação de professores para EPT; EPT; Educação Profissional; Educação Profissional, Científica e Tecnológica; Institutos Federais; Docência na educação profissional; Educação Profissional Técnica de Nível Médio; Formação de professores nos Institutos Federais e CEFET. 5 Ao colocar a palavra-chave selecionada, apareciam os números de registros de dissertações e teses que a continham, acompanhadas de dados sobre nome do autor, título da dissertação, data de defesa, nível de ensino (mestrado ou doutorado), instituição na qual foi cursada a pós-graduação e biblioteca depositária. Logo abaixo dessas informações aparece a palavra detalhes, que remete diretamente ao resumo do trabalho, que contém o e-mail do autor, orientador, banca examinadora, palavraschave etc. 5 Foi utilizada também essa palavra-chave e apareceram (268) resultados, entretanto eles focavam dissertações e teses da área de engenharia elétrica, engenharia civil, engenharia de energia, tecnologia, modelagem matemática e computacional realizadas nos CEFETs ou em outras instituições que oferecem tais cursos. Foi feita leitura prévia de todos os títulos e foram considerados apenas aqueles que faziam referência à formação de professores.
O outro caminho percorrido foi uma busca no Google com as mesmas palavraschave, acessando todos os links para selecionar as dissertações e teses que foram defendidas depois de 2012, pois o recorte temporal disponibilizado no Banco de Teses e Dissertações da Capes contempla, no momento, pesquisas defendidas até o ano de 2012. Assim buscou-se no Google aquelas pesquisas realizadas entre 2012 e 2014. Feito esses percursos para a coleta de dados, foi aberta uma pasta onde foram salvos todos os títulos encontrados com as palavras-chave. Foram 210 dissertações e teses. Para ir refinando os dados, foi construído um quadro sintético contendo o nome do autor, por ordem alfabética, título da dissertação e/ou tese, nível de ensino (mestrado ou doutorado), instituição na qual foi cursada a pós-graduação, ano de defesa e área de formação (educação e outras áreas). Dessas dissertações e/ou teses foram selecionadas aquelas que tratavam especificamente da formação de professores para a EPT (38) e foi montado um segundo quadro, trazendo as mesmas informações do quadro sintético mencionado anteriormente mais o resumo do trabalho. Foi feita a leitura atenta desses resumos e a sua análise, que culminou com o trabalho apresentado no evento em Fortaleza já mencionado. Outras análises decorrentes da pesquisa realizada por Viella e Besen (2015) podem contribuir para desvelar alguns temas de pesquisa neste curso de pós-graduação, apontando temáticas que podem ser mais aprofundadas e/ou silenciadas. Há muitos caminhos ainda para serem desbravados nas pesquisas relacionadas à EPT.
REFERÊNCIAS BRANDÃO, Zaia. Pesquisa em Educação: Conversas com pós-graduandos. Rio de Janeiro: ED. PUC- Rio; São Paulo: Loyola, 2002. BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques; SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os Pólos da Prática Metodológica. Rio de Janeiro, F. Alves. 1991. GATTI, Bernardete A. A construção da pesquisa em Educação no Brasil. Brasília: Plano Editora, 2002. GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (orgs.). Métodos de pesquisa: EAD: UAB/UFRGS/Curso de Graduação Tecnológica: Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.