III SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA ISSN: Universidade Estadual de Maringá 23 de Novembro de 2013

Transcrição

1 MAPEAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA NO BANCO DE RESUMOS DA CAPES Cecília Baruki da Costa Marques (Departamento de Psicologia,, Programa de Iniciação Científica); Eliane Domingues (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá). contato: cecibaruki@hotmail.com Palavras-chave: Identidade nacional. Identidade brasileira. Estado da arte O presente projeto de iniciação científica faz parte de um projeto de pesquisa intitulado Identidade nacional: mitos e estereótipos do ser brasileiro que visa investigar o que marcou a constituição da identidade brasileira, mas também quais são as marcas atuais, buscando a especificidade do olhar psicológico. Para esta iniciação científica, delimitou-se como objetivos principais, primeiramente, o mapeamento da produção recente sobre a identidade nacional, a partir de um levantamento no banco de resumos de teses e dissertações da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no período de 1987 a 2010 e, após isso, a identificação das contribuições específicas psicologia no estudo da temática. A hipótese inicial elaborada era a de que a literatura ocupava um lugar de importância na construção da identidade nacional, porém cada vez mais a indústria cultural, em seu constante crescimento, tomava o lugar daquela. Símbolos novos surgem para substituir as obras literárias e caracterizar o brasileiro e o Brasil, como por exemplo o samba, o carnaval, o futebol, as novelas, entre outros. O caráter desta pesquisa é exploratório e se baseou na pesquisa realizada por Domingues (2007). Ela está inserida na modalidade de pesquisa estado da arte, a qual traz (...) o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares (FERREIRA, 2002, p.258). Realizou-se, inicialmente, uma busca no banco de resumos de teses e dissertações da CAPES ( com a palavra-chave identidade nacional, a qual foi escrita no campo assunto, e a opção de busca selecionada foi a expressão exata. Os campos: autor e instituição/ano base foram deixados em branco. No levantamento preliminar

2 foram identificadas 815 teses e dissertações publicadas entre os anos de 1987 a 2010, todas contendo a expressão exata identidade nacional (resumo, título e palavras-chave). Após a leitura destes resumos, realizou-se uma seleção e excluiu-se os resumos em que citassem apenas em seu resumo a palavra identidade nacional; abordassem identidades nacionais de outros países sem estabelecer relações com a identidade nacional brasileira; e abordassem especificamente identidades regionais. Os resumos em que a identidade nacional não era o tema principal também foram incluídos; considerando estes critérios, selecionou-se 492 resumos de teses e dissertações, sendo 8 destes de programas em pós-graduação em Psicologia. Procurou-se identificar na leitura dos resumos: ano, universidade, área do conhecimento/programa de pós-graduação, se a identidade nacional aparece no título ou como palavra-chave e tema. Inicialmente a proposta era incluir também objetivo, metodologia, referencial teórico e principais resultados e conclusões, porém isto não foi possível devido à dificuldade em identificar estes elementos apenas com a leitura dos resumos, pois os mesmos não seguem nenhum tipo de padronização e nem sempre todos os campos estão preenchidos (área do conhecimento, palavras-chave, programa de pós graduação etc), encontrou-se também resumos em branco ou que pareciam um amontoado de frases soltas, o que dificultou muito o trabalho, até mesmo no que diz respeito a aparentemente simples identificação do tema. Apesar destas dificuldades e limitações, a leitura dos resumos possibilitou fazer o mapeamento de teses e dissertações que abordam a identidade nacional e identificar a contribuição da psicologia no estudo da temática. Dentre os 492 resumos, 133 eram teses e 359 eram dissertações. Estes foram separados e agrupados por período: 1988 a 2000 e 2001 a 2010, com objetivo de fazer uma comparação entre períodos e identificar se existia alguma diferença entre eles, quais temas abordados e suas modificações, o que se manteve e o que se alterou no estudo da identidade nacional brasileira ao longo dos anos. Como a pesquisa deu atenção especial às pesquisas em pós-graduação em Psicologia, três delas foram lidas na íntegra (BACKES, 2000; LOPES, 2006; OLIVEIRA, 2001). Nestas três dissertações se buscou identificar: tema, objetivos, metodologia, referencial teórico, principais resultados e conclusões. Após a seleção dos resumos utilizados nesta pesquisa, estes foram separados em tabelas por: ano de publicação, programa de pós-graduação, área de conhecimento, temas.

3 Pode-se observar, através da tabela de ano, que a produção sobre a identidade nacional vem aumentando, até o ano de 2000 foram defendidas 32 teses e 70 dissertações, enquanto que de 2001 a 2010 foram defendidas 101 teses e 289 dissertações. Os programas de pós- graduação com mais teses e dissertações foram: História Social (USP), com 14 resumos; Letras (UFRS) com 11; Letras (UFF) também com 11; História (UFMS) com 10; Letras - Ciências da Literatura (UFRJ) também com 10. Em geral, os programas com maior número de publicações foram: História com 122 resumos, Letras com 94 e Comunicação com 50. Com respeito à localização destas teses e dissertações por universidades, foram encontradas na seguinte distribuição: a Universidade de São Paulo (USP), com 50; a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também com 50; a Universidade Federal Fluminense, com 31; a Universidade de Campinas (Unicamp), com 29; a Universidade de Brasília (UnB), com 27; a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com 26; a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), com 23; a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com 22; a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, com 20; a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com 17; a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), com 13; a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com 13; a Universidade Federal da Bahia (UFBA), com 10; a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com 10; e a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp/Assis), também com 10. Além destas, outras 54 universidades produziram sobre a identidade nacional, porém o número em cada uma foi inferior a 10. Foram encontrados entre os temas abordados 119 referentes à literatura, os quais tratavam sobre assuntos como o indianismo, o modernismo e outras correntes que marcaram a história da literatura brasileira. A identidade nacional como tema principal aparece em 76 resumos: 15 destes abordam a construção da identidade nacional e 14 a influência de instituições e pessoas nesta construção. Na seleção dos resumos por temas, notou-se a incorporação de símbolos de massa como televisão, mídia e propaganda ao longo dos anos. Das 102 teses e dissertações datadas até o ano 2000, apenas duas falavam sobre propagandas, já nos 381 resumos dos anos seguintes foram publicadas 20 teses e dissertações com os temas propaganda e mídia e o tema televisão, que não aparecia até 2000, foi incorporado e encontrados em 15 resumos. Outros temas que chamaram atenção foram aqueles que se tratavam de estereótipos do

4 brasileiro. Dentre eles, a figura do malandro/ jeitinho e do caipira/ sertanejo são abordados não somente como temas principais destas teses e dissertações, como também indiretamente entre os temas Literatura e Música. Com relação aos resumos de psicologia encontrou-se que o brasileiro tem facilidade ao falar do Brasil como o país do futebol, país do carnaval, ao falar do jeitinho brasileiro, das belezas naturais, entre outros, pois são características originais do país, são construções próprias. Apesar disso, não podemos ignorar que muitos dos elementos identitários que consideramos originais não o são, o futebol, por exemplo, chegou ao Brasil trazido por imigrantes e só após um certo período é que passou a ser apropriado pelos brasileiros. Assim, a psicologia afirma que não há originalidade sem imitação e que mesmo no que foi imitado há elementos originais, pois um elemento que não é possível reproduzir e nem excluir é o aqui e o agora (BACKES, 2000, p.94). A construção de uma identidade não deve ser pensada como algo totalmente original ou totalmente reproduzida. É uma construção com participação importante e talvez fundamental do Outro. O Outro que não exclui o eu, mas que serve de base para essa nova formação (CIAMPA, 1984). Como há uma grande pluralidade de grupos e estes não são constantes e imutáveis, podemos pensar que a identidade sofre um processo contínuo de construção, o que reflete também no questionamento sobre a real necessidade de se descobrir e definir o que é e como é a identidade nacional do brasileiro. Referências BACKES, Carmem. O que é ser brasileiro?. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social e Institucional) Universidade Federal do Rio Grande do Sul CAPES, Acesso em CIAMPA, Antonio da Costa. Identidade. In: LANE, Silvia T. M. et al. Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Editora Brasiliense S.A, p DOMINGUES, Eliane. Vinte anos do MST: a psicologia nesta história. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 12, n. 3, p , set./dez

5 FERREIRA, N. S. de A. (2002). As pesquisas denominadas estado da arte. Educação & sociedade, 23(79), Disponível em acesso em 02 de junho de LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo: Pioneira,1976, 3 ed. LOPES, Carla Fonseca. Diálogos culturais no Banco do Brasil/Regional MG: uma abordagem psicossociológica. Dissertação (Mestrado em Psicologia) Universidade Federal de Minas Gerais OLIVEIRA, Fatima Oliveira. A paixão é uma bola: a representação social e ideológica do futebol. Dissertação (Mestrado em Psicologia) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul