MANDADO DE SEGURANÇA Nº 129784-87.2012.8.09.0000 (201291297847) Comarca : GOIÂNIA Impetrante : SÉRGIO ALVES DE AMORIM Impetrado : SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS Relator : Diác. Dr. Delintro Belo de Almeida Filho Juiz de Direito Substituto em 2º Grau. R E L A T Ó R I O SÉRGIO ALVES DE AMORIM, devidamente qualificado e representado nos autos, impetra o presente Mandado de Segurança em face de ato acoimado de ilegal imputado ao SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS, também qualificado, conforme a seguir exposto. Aduz o impetrante que é professor da rede pública de ensino estadual, que encontra-se em estágio probatório, e que participou da última greve deflagrada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (SINTEGO), a qual já se findou, inclusive com acordo de reposição dos dias de paralisação. Menciona que foi surpreendido por um mandado de citação via do qual fora notificado para apresentar defesa em processo administrativo disciplinar instaurado em seu desfavor por ato da autoridade coatora, em razão de ter participado da greve, estando em estágio probatório.
2 Afirma que a portaria que deu causa ao procedimento administrativo disciplinar configura-se como ato abusivo do impetrado, por afrontar os princípios da isonomia, da impessoalidade e o direito de greve, tendo em vista que não deve haver distinção no exercício deste por servidores já efetivados ou não. Alega que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 3.235, entendeu pela vedação à mencionada diferenciação. Outrossim, como dito alhures, a reposição das aulas perdidas já foi acordada, ou seja, o suposto prejuízo pela ausência em sala está corrigido. Ou seja, o motivo que gerou a instauração da portaria é ilegal, por se tratar do exercício regular de um direito. Ressalta ainda que as consequências decorrentes da mesma podem gerar-lhe sérios riscos à sua permanência no cargo. Ao final, pugnou pela concessão de liminar, para fins de determinar-se a imediata suspensão da portaria e dos efeitos dela advindos, e pela sua confirmação ao final, com a procedência do writ. Requereu também a concessão dos benefícios da assistência judiciária. Pedido de liminar deferido, consoante decisão de fls. 28/31. A autoridade coatora prestou informações (fls. 38/42), via das quais alegou que o movimento grevista já se findou, com a celebração de acordo entre o SINTEGO e o Estado de Goiás, tendo sido expedida a Portaria nº 2044/2012-GAB/SEE, de lavra do Secretário Estadual de Educação, a qual determinou a suspensão de todos os processos administrativos instaurados em desfavor dos professores efetivos e em estágio probatório que aderiram ao movimento grevista. Por tais motivos, pugnou pela extinção do mandamus, com fulcro no art. 267, IV, do CPC, haja vista a superveniente perda do interesse processual e da possibilidade jurídica do pedido, em razão da satisfação da
3 pretensão buscada por meio da ação. Em razão das informações prestadas pela autoridade coatora, foi dada nova vistas dos autos ao impetrante, que se manifestou às fls. 53/55, reafirmando o seu interesse no prosseguimento do feito, com a anulação/cassação da portaria 1434/2012 GAB-SEEGO. Instado a se manifestar, o representante da Procuradoria Geral de Justiça opinou pela concessão da segurança (fls. 84/91). É o relatório. V O T O Conforme relatado, trata-se de Mandado de Segurança impetrado por Sérgio Alves de Amorim contra ato acoimado de coator atribuído ao Secretário de Estado da Educação de Goiás, no tocante à instauração de processo administrativo disciplinar, através da Portaria n.º 1434/2012, para apurar sua participação no movimento grevista de professores, iniciado em fevereiro e suspenso em 27 de março deste ano, malgrado ainda cumprisse estágio probatório, o que vem a ferir o consagrado direito constitucional de greve, assegurado a todos, indistintamente. Em que pese a autoridade indigitada de coatora ter informado nos autos a suspensão dos processos administrativos deflagrados, através da Portaria n.º 2044/2012- GAB/SEE, tem-se que não houve perda do objeto da demanda, pois, não tendo sido revogada a portaria que deu causa aos processos administrativos, estando ela ainda em vigor, válida e eficaz (sua eficácia está
4 momentaneamente suspensa), há ainda risco de continuidade, podendo o impetrante e todos aqueles professores afetados pela instauração de processo administrativo disciplinar, por esta razão, vir a ser apenados ou até mesmo exonerados. In casu, de uma detida análise do Ofício Circular n.º 064/2012 SUME (fl. 24) e da Portaria n.º 1434/2012-GAB/SEE (fls. 22/23), que deflagraram o processo administrativo disciplinar contra o impetrante, percebe-se o nítido propósito de punição dos professores, ainda em estágio probatório, que participaram do movimento grevista, o que constitui ofensa à Súmula 316 do STF, segundo a qual A simples adesão à greve não constitui falta grave, uma vez que o direito de greve é respaldado na Constituição Federal (arts. 9º e 37, II), cujo exercício, apesar de pender de regulamentação em lei, não pode ser tolhido. Neste ponto, há de se atentar ao fato relatado na inicial de que, por ocasião da suspensão da greve dos professores, em 27 de março do corrente ano, foi negociado calendário de reposição das aulas, conforme anunciado pela própria Autoridade Coatora, pelo que não há que se falar em perdimento de dias laborais, em razão da paralisação grevista. Consoante já mencionado, houve distinção de tratamento entre os servidores em estágio probatório e os efetivos, conforme Ofício Circular nº 064/2012-SUME (fl. 24), por meio do qual foi solicitada a relação nominal dos professores em estágio probatório que aderiram à greve. Nesse ínterim, imperioso registrar, que tal distinção já foi afastada através de entendimento sedimentado pelo Supremo Tribunal Federal, por seu Pleno, ao julgar, em 04.02.2010, a ADI 3235/AL, donde restou clara a posição daquela excelsa Corte no sentido da eficácia imediata do direito constitucional de
5 greve dos servidores públicos, a ser exercido com fundamento e de acordo com as regras estabelecidas na Lei Federal nº 7.783/89, até que sobrevenha lei específica para regulamentar a questão, além de vedar o tratamento desigual entre servidores efetivos e em estágio probatório em razão do exercício de greve. Veja-se: Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Parágrafo único do art. 1º do Decreto estadual nº 1.807, publicado no Diário Oficial do Estado de Alagoas de 26 de março de 2004. 3. Determinação de imediata exoneração de servidor público em estágio probatório, caso seja confirmada sua participação em paralisação do serviço a título de greve. 4. Alegada ofensa do direito de greve dos servidores públicos (art. 37, VII) e das garantias do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV). 5. Inconstitucionalidade. 6. O Supremo Tribunal Federal, nos termos dos Mandados de Injunção nºs 670/ES, 708/DF e 712/PA, já manifestou o entendimento no sentido da eficácia imediata do direito constitucional de greve dos servidores públicos, a seu exercício por meio da aplicação da Lei nº 7.783/89, até que sobrevenha lei específica para regulamentar a questão. 7. Decreto estadual que viola a Constituição Federal, por (a) considerar o exercício não abusivo do direito constitucional de greve como fato desabonador da conduta do servidor público e por (b) criar distinção de tratamento a servidores públicos estáveis e não estáveis em razão do exercício do direito de greve. 8. Ação julgada procedente. (ADI 3235/AL - Rel. Min. Carlos Velloso - Rel. p/ Acórdão Min. GILMAR MENDES - j. 04.02.2010 -Tribunal Pleno - publ. DJe 045 de 11.03.2010). Grifei À propósito, colaciono os seguintes precedentes: Mandado de Segurança. Processo administrativo disciplinar. Professores grevistas ainda em estágio probatório. Greve. Direito inserido na Carta Magna. Desconstituição do ato coator. Possibilidade. Estando o direito de greve assegurado na Constituição Federal (arts. 9º e 37), com aplicação da Lei Federal nº 7.783/89, impossível aplicar sanção ao servidor que, mesmo em estágio probatório, aderiu ao movimento. Ademais, não se pode considerar sua participação em movimento grevista desabonador de sua conduta, mormente por estar equiparado ao servidor estável, conforme precedentes do STF. Segurança concedida. (MS 129797-86.2012.8.09.0000, DES. CARLOS ALBERTO FRANCA, DJ 1139 de 05/09/2012) Grifei
6 Assim, aplicando-se a Lei Federal n.º 7.783/1989 ao presente caso, não deve ser considerada abusiva e ilegal a participação em movimento grevista por servidor não estável, uma vez que tal adesão tem, inclusive, alicerce na Constituição Federal de 1988, por se tratar de garantia fundamental. Outrossim, importa assinalar que o movimento grevista em questão não fora declarado ilegal, de modo que não há falar em descumprimento pelos integrantes da greve, quer efetivos, quer em estágio probatório, dos requisitos de assiduidade e pontualidade, o que revela a notória ilegalidade do ato administrativo impugnado na presente impetração. Destarte, deve ser desconstituída a Portaria n.º 1434/2012- GAB/SEE, que determinou a instauração de processo administrativo em face do ora impetrante, por ser ato que fere seu direito líquido e certo. AO TEOR DO EXPOSTO, concedo a segurança pleiteada, para desconstituir a Portaria n.º 1434/2012-GAB/SEE, instauradora de processo administrativo disciplinar em desfavor de Sérgio Alves de Amorim, pelos fatos e fundamentos declinados. É o voto. Goiânia, 25 de setembro de 2012. Diác. Dr. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO Juiz de Direito Substituto em 2º Grau
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 129784-87.2012.8.09.0000 (201291297847) Comarca : GOIÂNIA Impetrante : SÉRGIO ALVES DE AMORIM Impetrado : SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS Relator : Diác. Dr. Delintro Belo de Almeida Filho Juiz de Direito Substituto em 2º Grau. EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. PROFESSOR DA REDE ESTADUAL. ESTÁGIO PROBATÓRIO. GREVE. DIREITO INSERIDO NA CARTA MAGNA. INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. ILEGALIDADE. DESCONSTITUIÇÃO DO ATO COATOR. POSSIBILIDADE. 1- A instauração de processo administrativo em face de servidor publico, em estágio probatório, visando apurar descumprimento dos requisitos de assiduidade e pontualidade, em razão de ter participado do movimento grevista deflagrado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado de Goiás - SINTEGO, cuja greve não fora declarada ilegal, viola o princípio constitucional da isonomia, em conformidade com a orientação do STF. Ademais, não se pode considerar sua participação em movimento grevista desabonador de sua conduta, mormente por estar equiparado ao servidor estável, conforme precedentes do STF. Segurança concedida.
A C Ó R D Ã O 2 VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Mandado de Segurança nº 129784-87, da Comarca de Goiânia. ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em sessão pelos integrantes da Primeira Turma Julgadora da Quarta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conceder a segurança, nos termos do voto do relator. VOTARAM com o relator o Des. Carlos Escher e o Des. Kisleu Dias Maciel Filho. Presidiu a sessão o Des. Kisleu Dias Maciel Filho. Presente a Dra. Orlandina Brito Pereira, Procuradora de Justiça. Goiânia, 18 de outubro de 2 012. Diác. Dr. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO Juiz de Direito Substituto em 2º Grau