Análise de Organismos Bentônicos Rio Doce e Afluentes Abril 2016 Pesquisadores envolvidos nas coletas: Prof. Dr. André Cordeiro Alves dos Santos (UFSCAR Sorocaba) Dr. Dante Pavan Dra. Flávia Bottino (UFSCAR São Carlos) Dra. Luciana Carvalho Bezerra de Menezes (Instituto de Pesca SP) José Ricardo Baroldi Ciqueto Gargiulo (Instituto de Pesca SP) Marcio Constantino Vicente (Instituto de Pesca SP) Natália Carvalho Guimarães (UnB Darcy Ribeiro) Ms. Vinicius Moraes Rodrigues Pesquisadores envolvidos na triagem e identificação Dra. Luciana Carvalho Bezerra de Menezes (Instituto de Pesca SP) José Ricardo Baroldi Ciqueto Gargiulo (Instituto de Pesca SP) Marcio Constantino Vicente (Instituto de Pesca SP) Responsável pelo Relatório: Dra. Luciana Carvalho Bezerra de Menezes
Este relatório apresenta uma visão geral da comunidade bentônica, visando a utilização destes organismos como bioindicadores de qualidade da água, contribuindo com o diagnóstico sobre os impactos ambientais gerados pela lama de rejeitos de mineração ocorrido após o rompimento da barragem em Mariana/MG. As coletas foram realizadas no final de março, início de abril de 2016, em 17 pontos de coleta ao longo do rio doce e seus afluentes Fig 1. As amostras foram coletadas com um tubo de PVC tipo corer com 5 cm de diâmetro, sendo coletadas 10 tubadas por ponto e posteriormente lavadas no campo com uso de malha de 250 mµ e colocadas em potes de polietileno, fixadas logo após a coleta, com formalina 4%. Com o intuito de aumentar a velocidade e a eficiência do trabalho de triagem, as amostras que apresentaram muita areia foram flutuadas, no laboratório, com NaCl (Brandimarte & Anaya, 1998), sendo novamente colocadas em formalina neutralizada com NaOH, para posterior triagem e identificação dos organismos. As análises foram realizadas no Laboratório do Instituto de Pesca- SP/SAA/APTA. A triagem foi efetuada sob microscópio estereoscópico e os animais contados foram identificados e fotografados. Fig.1. Mapa com a localização aproximada dos pontos de coleta no rio Doce e seus tributários. Em amarelo os pontos controle.
Poucos organismos foram encontrados inclusive nos tributários - controles (que não foram atingidos diretamente pelo rejeito) o que indica que a bacia do rio Doce apresenta-se bastante impactada pelas mais diversas atividades antrópicas no seu entorno, que comprometem a qualidade de suas águas. Em estudos realizados antes do rompimento da barragem no médio curso do Rio Doce, em seus tributários, e em lagos naturais na região já se encontrava uma baixa diversidade de organismos bentônicos, provavelmente relacionada a uma baixa qualidade da água e a um sedimento com alto conteúdo de matéria orgânica de origem antropogênica (Galdean et al 2001; Cota et al, 2002; Morreti & Calisto, 2005). Os taxa mais representativos nesta coleta foram Chironomini (Diptera) e Hydropsychidae (Trichoptera) além de Corbicula sp. (bivalves) que é uma espécie de molusco introduzida, de origem asiática. A tabela 1 apresenta os locais de coleta e os organismos bentônicos encontrados.
Tabela 1. Pontos de coleta ao longo do rio doce e seus tributários e organismos bentônicos. M2 - Rio Gualacho do Norte à montante do despejo J1 (CMH) - Rio do Carmo à montante do encontro com o Rio Gualacho do Norte - Monsenhor Horta J2 - Rio Gualacho do Norte em Piracatu de de Baixo (MG) J3 - Rio do Carmo à jusante do Rio Gualacho do Norte em Barra Longa (MG) J4 - Rio Doce na altura da cidade de Rio Doce (MG) UHE C1 - Rio Piranga (MG) J5 - (BR262) - Rio Doce entre as cidades de Rio Doce e Ipatinga (MG) C2 - Rio Piracicaba (MG) J10 -Rio Doce na altura de Ipatinga (MG) J11 - Rio Doce na cidade de Naque (MG) J12 - (ETA) - Rio Doce na cidade de Governador Valadares (MG) no ponto de captação de água para abastecimento público J13 - Rio Doce na cidade de Galiléia (MG) J14 - Rio Doce na cidade de Baixo Guandu (ES) C4 - Rio Guandu (ES) Itapina - Rio Doce - Fazenda Pavan J15 - Rio Doce na cidade de Colatina (ES) J16 - Rio Doce na Fazenda Maria Bonita na cidade de Linhares (ES) J17 - Foz do Rio Doce distrito de Regência (ES) Oligocha eta Tubificid ae Chiron omini Tanyt arsini Diptera Tanyp odina e Cerat opogo nidae Thrichopte ra Pupa Hydropsyc hidae Coleopt era Elmidae Hemipt era Naucor idae Bivalvia Corbicul a sp Mollusca Gastrop oda Pomace a sp Gastro poda Littorad ina sp 2 3 1 1 0 2 3 2 3 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 1 4 0 2 1 1 11 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 3 2 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2 0 0
Além de os organismos bentônicos terem sido afetados pelo rejeito do minério de ferro, estes organismos vêm sendo afetados pela poluição advinda das atividades antrópicas (esgoto doméstico, atividades de mineração por pequenos mineradores, atividades agrícolas..). Portanto, as razões para o baixo número de organismos amostrados durante as coletas de Dezembro/2015 e de Abril de 2016 podem ser diversas, incluindo a dificuldade de amostragem. Os organismos encontrados vivos na coleta de dezembro de 2015 foram os colonizadores após o rompimento da barragem, observamos que na coleta de dezembro encontramos menos organismos e uma diversidade menor (vide relatório da fauna bentônica de Dez 2016). Dois fatores ambientais observados podem estar limitando e selecionando esses colonizadores: a alta quantidade de partículas em suspensão na água, revelada pela alta turbidez, que já reduziu nesta coleta de abril mas continua bastante elevada (ver relatório de dados in situ ) e a compactação do sedimento, observado durante as coletas. Grande quantidade de partículas em suspensão na água prejudicam o processo respiratório, entupindo as brânquias dos animais, enquanto que a grande compactação do sedimento dificulta o processo de escavação e enterramento. Se faz necessária a realização de futuras coletas, para que possamos inferir maiores informações a respeito da comunidade bentônica e sua recolonizarão e também em relação a qualidade da água como um todo. Alguns dos organismos bentônicos encontrados e sua descrição como bioindicadores (fotos tiradas no laboratório do Instituto de Pesca SP): Trichoptera Hydropsychidae: Presentes em águas correntes, toleram águas com pouca contaminação. Presentes em águas oligo a eutróficas (Perez, 1996).
Diptera Ceratopogonidae presentes em locais com matéria orgânica em decomposição, indicadores de águas mesoeutróficas (Perez, 1996). Diptera-Tanypodinae larvas geralmente predadoras de vida livre, não constroem casulos ( Strixino, 1995). Indicadores de águas mesoeutróficas (Perez, 1996). Diptera Chironominae- Chironomini Larvas comumente encontradas em águas pouco movimentadas, embora algumas tenham adaptação para águas correntes, geralmente constroem casulos (Strixino & Strixino, 1995)..Indicadores de águas mesoeutróficas (Perez, 1996). Hemiptera Naucoridae Presentes em charcos e remansos, indicadores de águas oligotróficas (Perez, 1996).
Coleoptera Elmidae Bivalvia Corbicula sp Referências Bibliográficas Brandimarte AL, Anaya M. Bottom fauna using a solution of sodium chloride. Ver. Internat. Verein. Limnol 1998; 26: 2358-2359. Cota, L.; Goulart, M; Moreno, P. & Callisto, M. Rapid assessment of river water quality using an adapted BMWP index: a practical tool to evaluate ecosystem health. Verhandlungen des Internationalen Verein Limnologie, vol. 28, 1-4, 2002. Galdean, N.; Callisto, M. & Barbosa, F. A. R. Biodivesity assessment of benthic macroinvertebrates in altitudinal lotic ecosystems of Serra do Cipó (MG, Brazil). Revista Brasileira de Biologia, vol. 61, p. 239-248, 2001. Moretti, M. S & Callisto, M. Biomonitoring benthic macroinvertebrates in the middle Doce River watershed. Acta Limnologica Brasiliensia, vol. 17, p. 267-281, 2005. Pérez, G.R. (1996). Guía para el estudio de los macroinvertebrados acuáticos del Departamento de Antioquia. Bogotá. Presencia. 217p. Strixino ST & Strixino G. Larvas de Chironomidae (Diptera) do Estado de São Paulo. São Carlos: UFSCAR; 1995.