Estudando a atividade e o comportamento dos homens em sociedade, a Antropologia entende a evolução das coletividades e procura compreender as ruturas sociais. Estuda a organização social, fundamentada pelas alterações naturais e culturais. Para obter uma perspetiva contemporânea, e comparável entre si, a Antropologia requer a observação atenta da realidade para a sua descrição. Alicerçada nas monografias etnográficas, com a recolha de dados locais, e na abordagem etnológica de orientação para o diverso, com a classificação de povos e culturas, até ao nosso quotidiano, integra atualmente vários domínios do conhecimento: a investigação do passado das sociedades, e do seu interesse cultural; o estudo da linguagem como vetor primordial nas culturas; o estudo do psicológico no humano e na sua relação permanente na vida social; o estudo do funcionamento das instituições sociais, como a família, o parentesco, baseado em técnicas, objetos e comportamentos para sintetizar a vida social, no domínio da Antropologia Social e Cultural; e a Antropologia Biológica. Esta, outrora designada por Antropologia Física, debruçando-se sobre as caraterísticas de raça, de hereditariedade, de nutrição, de sexo, compreendendo a anatomia, a fisiologia e a patologia comparadas, atualmente, estuda as variações biológicas do Homem, a relação entre o genético e o meio social, atentando ainda nas formas culturais que influenciam o desenvolvimento do indivíduo, ao longo do tempo. O estudo biológico torna-se importante para a compreensão do que já está revestido de diversidade. Pag. 1 de 5
A procura da essência, no seu estado simples, é demonstrada no estritamente biológico, do estudo reprodutivo, genético, nas suas ligações entre géneros ou na tentativa de demonstração racial. As tentativas de classificação das pessoas mediante as suas caraterísticas, com o trabalho antropológico incluso nos modelos tipológico, populacional e no de alteração genética, com registos variáveis do mesmo tipo de sangue por diferentes áreas geográficas, sem distinção de grupos ou raças ou género - com resultados semelhantes por toda a população mundial, onde somos todos geneticamente idênticos, na forma mais simples, retirando todas as caraterísticas supérfluas que resultam do género masculino ou feminino demonstram também o encontro com a universalidade, já referida. Neste sentido, o mais simples do orgânico, contribui ativamente na procura incessante da universalidade do Homem - e a natureza biológica influencia as caraterísticas básicas da sociedade. Revela-nos que o sentido universal está presente mas, também, que a evolução e a multiplicidade coletiva que encontramos resultam da adaptação sucessiva do biológico ao meio ambiente. A relação da Antropologia Biológica com a Antropologia Ecológica justifica-se pela conceção do meio ambiente que origina processos de resposta diante da situação de mudança, a nível biológico e cultural. A Antropologia Ecológica defende que o meio ambiente deve ser entendido como propulsor de cultura aprendizagem do e com o meio envolvente - e não como obstáculo ao desenvolvimento cultural. Deste modo, há uma pressão para o desenvolvimento de técnicas e invenção utilitária, com a conseguinte aprendizagem geracional. Às alterações nas atividades humanas, dos hábitos às tecnologias usadas, no meio ambiente, corresponde a inevitável alteração orgânica. É esta adaptação que provoca Pag. 2 de 5
diversidade e rutura, daí o interesse de estudo através da Antropologia. Para que se entenda o que defendem A. Vayda e Roy A. Rappaport, quando salientam que analisando a população humana local compreende-se o processo de adaptação humano, e o seu ecossistema, é necessário, então, estudar as relações entre dinâmica, organização social e cultura das populações, e o meio ambiente destas. Reconhece-se ainda que o ambiente geográfico influencia as culturas dos homens, desafiando-os a dar uma resposta em função da sua capacidade cultural. Portanto, a Antropologia defende que o Homem vive em dois estados, o de natureza e o de cultura. Constato a interdependência do biológico e do cultural, na transmissão geracional de cultura - como noção de civilização, com o inato e o adquirido. Na mesma noção de civilização, sob ideias comuns partilhadas por um conjunto de indivíduos, de diferentes sexos e idades, e que interagem entre si, encontramos, em Antropologia, o significado de sociedade. Considero que a sociedade deverá ser, sobretudo, a integração dos seus indivíduos num meio que aceita a adaptação à vida, através da aprendizagem e do modo natural de ser, sendo fundamental a caraterização do modo de adaptação, do modo de aprendizagens e da forma de ser. A sociedade, como meio natural do indivíduo, incorpora grupos, que advêm da relação do Homem no meio social, pela associação íntima entre indivíduos ou por alianças com outros grupos. Está dividida pelo sexo em muitas das atividades, regulada pelo parentesco e os seus elementos são distinguidos pela idade. A divisão da sociedade, proposta por evidências biológicas, não é suficiente para esclarecer o conflito permanente provindo da desigualdade. É a cultura que sedimenta as várias noções de poder e subordinação. E se existe uma circunstancial desigualdade resultante do meio físico e social, mais uma vez, o Pag. 3 de 5
estudo da necessária adaptação no ecossistema - nas formas de organização e no adquirido é de elevada importância, através da Antropologia Social e Cultural. Compreenda-se que a adaptação e a capacidade dos indivíduos na sua ação são resultado do constrangimento e do agressivo, no meio envolvente. Em suma, as relações sociais produzem desigualdades que obrigam à consciência do político, da valorização dos dinamismos e das relações contraditórias no seu seio. A vida em sociedade precisa de regras e formas de organização. A análise da relação entre tradição e modernidade, as práticas que contribuem para a diferenciação do coletivo, segundo as contingências do meio ambiente - descritas na divisão material entre a modernidade partilhada junto das estradas nas aldeias de Madagáscar, e a tradição refugiada nos seus campos de arroz de montanha, por exemplo, e que ao mesmo tempo implicava que internamente, entre todos, estavam ressalvadas as práticas tradicionais demonstram a necessidade da compreensão antropológica da diversidade no plano político. Assim como a compreensão da dinâmica das sociedades tradicionais, e a sua explicação, ideológica, através do estabelecimento da ordem não-igualitária, onde, noutro exemplo, os seus utilizadores passam a acreditar que já não precisam da astúcia, como acontecia no Ruanda. Com o desnível permanente causado pelo político, a dinâmica da adaptação humana, e a contemporaneidade desta, impõem o estudo antropológico. BIBLIOGRAFIA BALANDIER, Georges, Antropologia Política. Lisboa, Editorial Presença, 1980. COPANS, Jean, Introdução à Etnografia e à Antropologia. Lisboa, Publicações Europa-América, 1999. Pag. 4 de 5
COPANS, Jean, Serge Tornay, Maurice Godelier, e Catherine Backès-Clément, Antropologia: Ciência das sociedades primitivas? Lisboa, Edições 70, 1971. EVANS-PRITCHARD, Edward E., Antropologia Social. Lisboa, Edições 70, 1985 [1972]. LIMA, Augusto Mesquitela, Benito Martinez, e João Lopes Filho, Introdução à Antropologia Cultural. Lisboa, Editorial Presença, 1985. NEVES, Walter, Antropologia Ecológica. São Paulo, Cortez Editora, 1996. O'NEIL, Dennis, Models of Classification. 2009. Em http://anthro.palomar.edu/vary/vary_2.htm. RIVIÈRE, Claude, Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000 [1995]. PUBLICAÇÃO DA SILVA LOPES, Jaime, Civilização e Sociedade nos Conceitos Antropológicos. Lisboa, 2010. Pag. 5 de 5