MIGRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO HUMANO
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- Mafalda Câmara Domingues
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1 RESUMO Interpreta-se a defesa do desenvolvimento humano, abordando as naturezas da migração e os seus fatores, bem como os reflexos estatais, desde o planeamento à repulsa cidadã. PALAVRAS-CHAVE desenvolvimento humano, migrações, planeamento estatal Atentando contra as formas de pobreza e exclusão, subsistentes e emergentes universalmente, o enfoque dado ao problema social deste tema expressa a defesa do desenvolvimento humano, sobre o pilar da liberdade do indivíduo e das suas ações. Kofi A. Annan 1 alude ao combate à desigualdade, ao terror e ao crime, como decisivos, também, para o alargamento da liberdade dos indivíduos sobre a própria vida: o desenvolvimento humano. A aproximação às causas verificáveis nas assimetrias globais que o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) refere ao explicar as deslocações pelas disparidades entre nações resulta, na linha histórica, do papel da mobilidade humana. É o fluxo humano que tenta atingir um melhor bem-estar. Na mobilidade, enquanto forma de liberdade, o seu exercício concretiza-se nas deslocações, nesses fluxos migratórios. Independentemente do tipo, a migração 2 enquadra-se entre o indivíduo e a sua família e o contexto socioeconómico. Quem procura 1 Em 2000, Secretário-Geral das Nações Unidas: referência ao prefácio da Declaração do Milénio (Nações Unidas, 2000). 2 Segundo PNUD (2009) a migração pode ser forçada ou voluntária, temporária ou permanente, económica ou não-económica. Pag. 1 de 5
2 as melhores condições de vida - uma vida longa, uma educação melhor, uma vida com dignidade 3 encontra obstáculos ou condicionantes vários: as migrações internas são condicionadas pelas assimetrias regionais, e o fosso estrutural entre o urbano e o rural; pelos problemas ambientais; pelos demográficos, com a desertificação do interior; e, incidindo socialmente, pelo abandono de familiares e precárias condições de vida, nos meios urbanos. O planeamento central dos Estados é outro factor condicionante: o RDH alude às restrições das deslocações internas e os formalismos impostos materializam essa dificuldade; bem como a corrupção, custosa e exploratória noutros casos. Por outro lado, impedem a saída do país, com despesas e taxas inacessíveis para os mais interessados em emigrar: os pobres 4. Neste contexto, sabe-se que a fuga à hierarquia imposta é outro fator migratório. Estas restrições migratórias são um obstáculo importante à melhoria do IDH: muitos países favorecem os trabalhadores altamente qualificados, e são normalmente contrários à liberalização das deslocações, que beneficiariam os países em desenvolvimento. Estes países dispõem de regimes temporários para trabalhadores não qualificados, o que, a par da proximidade cultural entre o país de origem e o de destino, facilita a migração entre países com IDH similar. Neste quadro, a migração internacional está também limitada pela distância percorrida ou a duração da permanência. As situações da emigração, de natureza diversa - sociopolítica e económica, demográfica, religiosa - têm consequências no envelhecimento populacional e nas ruturas com os meios tradicionais, no país de origem, com 3 Os três níveis básicos que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 4 O RDH (PNUD, 2009) conclui que os mais pobres são os que mais beneficiam com a mudança, mas também são os menos móveis. Pag. 2 de 5
3 vantagens no plano económico 5, e no aumento dos rendimentos das respetivas famílias 6. A emigração pode ainda estimular as migrações internas para os centros urbanos. A migração internacional produz, para o país de destino, uma alavancagem demográfica, com o rejuvenescimento populacional resultante da imigração jovem, economicamente aumentando o número de activos, mas acolhendo uma força laboral menos qualificada. Este cenário cria, muitas vezes, tensões sociopolíticas, desencadeando ondas xenófobas e apego a ideias racistas - com manifestação mais evidente em épocas de crise económica. O que advém, também, de se considerar a migração como 'projecto temporário'. Na emergência do novo racismo, o imigrante é responsabilizado pelas crises: e são observáveis os componentes de racismo, com a perceção do outro como ameaça, o apoio a medidas de proteção que discriminam e segregam, e o racismo institucional, mantendo um grupo específico na exclusão. As vertentes laboral, social e pessoal 7, perfilam-se nos problemas das políticas de integração, como a inserção num mercado de trabalho com desemprego crescente, o isolamento social e geográfico com a desintegração do tecido urbano, a dificuldade de inserção no sistema escolar, ou o discurso de exclusão. O desrespeito pelos direitos humanos, que subsiste, encontra na Declaração Universal dos Direitos Humanos a sua firme oposição e à restrição da liberdade e da igualdade. Instituindo os direitos humanos como universais, e fundamentais na lei e relações internacionais, os valores da Declaração Universal 5 Através das remessas dos emigrantes. 6 Observo que, ao invés, o regresso do emigrante não constitui factor de desenvolvimento (Rugy, 2000: p.26). 7 A mão-de-obra necessária; o desemprego e a ilegalidade, devido à supressão de oportunidades formais; e a criminalidade, respectivamente. Pag. 3 de 5
4 contribuem para a implementação e reorientação das políticas estatais para a migração, e o processo migratório internacional 8. A tendência de crescimento, globalização e indiferenciação das migrações pode ter efeitos nas políticas do país de destino, com soluções de integração, melhoria dos processos de naturalização e cidadania, e a segurança; e no país de origem com o desenvolvimento de práticas de controlo da emigração. O desenvolvimento humano também pode ser fomentado com ajuda à integração económica, com políticas para grupos-alvo, estrangeiros e inserção através do emprego, de políticas escolares para a integração social, e politicas urbanas assentes na diversidade. O RDH de 2009 propõe mais abertura e acolhimento de imigrantes, com a garantia de direitos básicos, com políticas de apoio à migração e redução dos seus custos, e que integre as estratégias de desenvolvimento dos países. Muitos países defendem na sua ação política a tolerância e a diversidade étnica, mesmo em dissonância com a opinião pública. Nos EUA, exemplifica o RDH, tolera-se a migração irregular. Têm consciência dos riscos sociais inerentes a políticas mais restritivas. Esta abordagem mais flexível faz parte das recomendações da CMMI 9, como também a sugestão da introdução de programas de migração temporária, para responder a necessidades económicas. Por outro lado, recomenda a cooperação entre países desenvolvidos e os em desenvolvimento para a formação de capital humano: para o reforço da coesão social, integrando os migrantes de longo prazo: e para a proteção dos direitos dos migrantes, nomeadamente o direito ao trabalho digno. 8 O modelo de 4 fases: estada temporária, prolongamento da estada, reagrupamento familiar e fixação permanente. 9 Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais. Pag. 4 de 5
5 Da mesma forma, o contributo de ONG s e entidades sensíveis à migração para a defesa dos direitos do migrante é importante: as Associações da Terra Natal, mexicanas, implementadas nos EUA, financiam e promovem o desenvolvimento no país de origem. E esta é uma das formas decisivas para fomentar o desenvolvimento humano, melhorando e apoiando o país de origem, durante a vivência migratória. BIBLIOGRAFIA Referências bibliográficas omitidas contacte o autor PUBLICAÇÃO DA SILVA LOPES, Jaime, Migrações e desenvolvimento humano. Lisboa, Pag. 5 de 5
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