A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO



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A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO

Copyright Organização Internacional do Trabalho (2015) 1ª edição 2015 As publicações da Organização Internacional do Trabalho gozam da proteção dos direitos autorais sob o Protocolo 2 da Convenção Universal do Direito do Autor. Breves extratos dessas publicações podem, entretanto, ser reproduzidas sem autorização, desde que mencionada a fonte. Para obter os direitos de reprodução ou de tradução, as solicitações devem ser dirigidas ao Serviço de Publicações (Direitos do autor e Licenças), International Labour Office, CH-1211 Geneva 22, Switzerland. Os pedidos serão bem-vindos. Organização Internacional do Trabalho A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) Brasília, OIT, 2015 48p. ISBN 978-92-2-829749-2 (print) 978-92-2-829750-8 (web pdf) Também disponivel em inglês: INNOVATION COMING FROM THE FIELD Systematization of the ILO-Brazil Partnership Programme for the Promotion of South-South Cooperation, ISBN 978-92-2-129749-9 (print) e 978-92-2-129750-5 (web pdf), Brasília, 2015; e espanhol: LA INNOVACIÓN QUE VIENE DEL TERRENO - Sistematización de la Alianza Brasil-OIT para la Promoción de la Cooperación Sur-Sur (2005-2014), ISBN 978-92-2-329749-7 (print) e 978-92-2-329750-3 (web pdf), Brasília, 2015. As designações empregadas nas publicações da OIT, segundo a praxe adotada pelas Nações Unidas, e a apresentação de matéria nelas incluídas não significam, da parte da Organização Internacional do Trabalho, qualquer juízo com referência à situação jurídica de qualquer país ou território citado ou de suas autoridades, ou à delimitação de suas fronteiras. A responsabilidade por opiniões expressas em artigos assinados, estudos e outras contribuições recai exclusivamente sobre seus autores, e sua publicação não significa endosso da OIT às opiniões ali constantes. Referências a firmas e produtos comerciais e a processos não implicam qualquer aprovação pela Organização Internacional do Trabalho, e o fato de não se mencionar uma firma em particular, produto comercial ou processo não significa qualquer desaprovação. As publicações da OIT podem ser obtidas no Escritório no Brasil: Setor de Embaixadas Norte, Lote 35, Brasília - DF, 70800-400, tel.: (61) 2106-4600, ou no International Labour Office, CH-1211. Geneva 22, Switzerland. Catálogos ou listas de novas publicações estão disponíveis gratuitamente nos endereços acima, ou por e-mail: biblioteca_brasilia@ilo.org Visite nossa página na Internet: www.oit.org.br Impresso no Brasil Coronário Editora Gráfica Ltda. (atendimento@coronario.com.br)

Ficha Técnica Organização Internacional do Trabalho (OIT) Escritório no Brasil Diretora Laís Abramo Coordenadora do Programa de Cooperação Sul-Sul Brasil-OIT Fernanda Barreto Coordenadora Nacional do IPEC no Brasil Maria Cláudia Falcão Equipe Erik Ferraz Jean Pierre Granados Pedro Brandão Elaboração Fernanda Barreto (OIT) César Mosquera (consultor) Colaboradores Anita Amorim - Chefe da Unidade de Parcerias Emergentes de PARDEV (OIT) Cecília Malaguti do Prado - Gerente de Cooperação Sul-Sul Trilateral (ABC) Maria Beatriz Cunha - Especialista de SECTOR (OIT) Pedro Américo de Oliveira - Especialista Sênior em Diálogo Social - IPEC (OIT) Projeto Gráfico e Editoração Julio César Leitão (consultor)

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Índice Introdução... 08 1. Antecedentes... 09 1.1 A Cooperação Sul-Sul... 09 1.2 A cooperação sul-sul brasileira... 13 2. O Programa de Parceria Brasil-OIT para Promoção da Cooperação Sul-Sul... 15 2.1 Fase Preliminar (2005-2006)... 15 2.2 Fase de formulação dos instrumentos do Programa (2007-2009)... 16 2.3 Fase de implementação do Programa (2009-2014)... 19 3. Análise da experiência... 24 3.1 Principais características da evolução do programa... 24 3.2 Estratégias e metodologias Sul-Sul Implementadas... 35 3.3. O passo-a-passo dos projetos e os critérios de êxito identificados... 37 4. Os principais resultados do Programa Sul-Sul... 39 4.1 Principais resultados obtidos nos países... 39 4.2 Os principais benefícios para o Brasil... 43 4.3 Os principais benefícios para a OIT... 44 5. Perspectivas e desafios da iniciativa... 46

Introdução O presente estudo descreve e analisa a experiência do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul, desde a sua criação em 2005, os seus resultados e suas perspectivas atuais. O trabalho não pretende incorporar todas as formas de cooperação sul-sul (CSS) que o Governo brasileiro implementou em parceria com a OIT nesse período, mas sistematizar as ações realizadas ao amparo do Programa. Nesse sentido, faz parte de um esforço para identificar lições que possam ser importantes para a OIT, o Brasil, os países parceiros, os atores tripartites e outras partes interessadas, com o objetivo de consolidar e fazer avançar essa iniciativa, além de incentivar futuras experiências de cooperação sul-sul e cooperação triangular como instrumentos de promoção do trabalho decente. 8

1. Antecedentes 1.1 A Cooperação Sul-Sul Entre as primeiras expressões de articulação, intercâmbio e colaboração entre os países em desenvolvimento em busca de relações internacionais solidárias e não-hegemônicas, duas podem ser consideradas emblemáticas e precursoras da ideia da cooperação sul-sul: a Conferência de Bandung de 1955, que deu lugar ao Movimento dos Não-Alinhados e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) de 1964, de onde nasce o grupo dos 77 (G-77). O maior impulso ao tema veio graças à conferência das Nações Unidas sobre Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) realizada em Buenos Aires, Argentina, em 1978. Duas décadas de esforços iniciais de cooperação entre países em desenvolvimento se condensam nessa Conferência, em um amplo marco conceitual e programático para a Cooperação Sul-Sul: o Plano de Ação de Buenos Aires (PABA). A filosofia e os princípios que inspiram a cooperação internacional entre países em desenvolvimento se refletem nos seguintes enunciados do PABA: a) A CPTD emerge como uma nova dimensão da cooperação internacional para o desenvolvimento, que expressa a determinação do mundo em desenvolvimento de alcançar sua autossuficiência nacional e coletiva, além da necessidade de levar a cabo a nova ordem econômica internacional; b) A CPTD, assim como outras formas de cooperação entre todos os países deve estar baseada em uma estrita observância da soberania nacional, independência econômica, igualdade de direitos e não-ingerência nos assuntos internos dos países, sem importar o seu tamanho, nível de desenvolvimento e seu sistema econômico e social. c) O fortalecimento da CPTD deve constituir um importante componente de qualquer estratégia que busque acelerar o desenvolvimento, elevar a dignidade humana e o progresso, e melhorar o desempenho da economia mundial como um todo. d) A CPTD é entendida como um processo multidimensional, que pode ser bilateral ou multilateral em seu alcance, e regional ou inter-regional em seu caráter. Deve ser organizada por e entre Governos, ainda que esses possam promover a participação de organizações públicas, privadas e indivíduos. A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 9

e) A CPTD não deve ser entendida como um fim em si mesmo nem como um substituto para a cooperação com países desenvolvidos. Uma crescente cooperação dos países desenvolvidos é necessária para a transferência de tecnologias apropriadas e também para a transferência de tecnologias avançadas e outras experiências que possam trazer vantagens. O pensamento expresso no PABA se traduz em nove objetivos estratégicos, dos quais os três primeiros encontram-se a seguir: a) Fomentar a autossuficiência dos países em desenvolvimento através do fortalecimento de sua capacidade criativa para achar soluções para seus problemas de desenvolvimento, em harmonia com suas próprias aspirações, valores e necessidades especiais. b) Promover e reforçar a autossuficiência coletiva dos países em desenvolvimento, através do intercâmbio de experiências, a disponibilização de recursos técnicos e o desenvolvimento de capacidades complementares. c) Fortalecer a capacidade dos países em desenvolvimento para identificar e analisar juntos as principais questões de seu desenvolvimento e para formular as estratégias necessárias para a condução de suas relações econômicas internacionais com vistas a estabelecer a nova ordem econômica internacional. A posição dos países em desenvolvimento sobre a cooperação sul-sul no contexto do novo milênio se viu manifestada por meio dos Chefes de Estado e de Governo dos países membros do G77+China, reunidos na primeira Cúpula do Sul, realizada em Havana, Cuba, em 2000, e seguidamente através da Conferência de Alto Nível sobre a Cooperação Sul- Sul, celebrada em Marrakesh, Marrocos, em 2003, também sob os auspícios do G-77. A Cúpula do Sul e a Conferência de Marrakesh reafirmam a importância da cooperação sulsul, não apenas como realização de uma genuína cooperação internacional, mas também como um instrumento indispensável de uma política externa comum ao Sul que busque concretizar o desenvolvimento sustentável em um mundo no qual a atuação conjunta e solidária dos países em desenvolvimento é indispensável, apesar de suas diferenças, tanto para fazer valer seus interesses comuns no cenário internacional, como para potencializar mutuamente suas próprias forças para alcançar o progresso individual e coletivo, contribuindo assim para criar uma nova ordem internacional. 10

Nesse contexto, em dezembro de 2003, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 58/220 sobre Cooperação Técnica e Econômica entre os Países em Desenvolvimento, por meio da qual adota pela primeira vez a expressão cooperação sul-sul. Desse modo, se oficializa a integração da CPTD e a CEPD (Cooperação Econômica entre Países em Desenvolvimento) sob o conceito de cooperação sul-sul. Conceito esse que compreende outras modalidades de cooperação internacional postas em prática entre os países em desenvolvimento, como a cooperação científica e tecnológica, educativa, acadêmica, cultural e a ajuda humanitária. O relançamento político, conceitual e programático da CSS no início do novo milênio acontece em um período de forte impulso de iniciativas concretas de cooperação bilateral, regional e inter-regional entre países em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia. Fatos que sustentam uma presença cada vez mais notória da CSS no cenário internacional a partir de 2000. A CSS passa a ser considerada na agenda de importantes fóruns internacionais como a Conferência das Nações Unidas sobre os Países Menos Adiantados (Bruxelas, 2001), a Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento (Monterrey, 2002) e a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Johanesburgo, 2002), que incentivam a cooperação sul-sul e a cooperação triangular. Um pouco mais adiante, a CSS também seria considerada na agenda do Fórum de Alto Nível sobre Qualidade da Ajuda (Accra, 2008). O auge da implementação de iniciativas de cooperação sul-sul a partir de 2000 é possível também em função de uma situação econômica mundial favorável. Superada a crise asiática, a primeira década dos anos 2000 foi uma época de crescimento econômico, tanto para os países desenvolvidos como para os países em desenvolvimento, até a crise financeira que eclodiu em 2008 e afetou sobremaneira as principais potências econômicas mundiais. Esses anos de bonança econômica também refletiram na cifra da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD), que chegou a duplicar entre 2000 e 2008. O novo peso econômico dos maiores países em desenvolvimento levou os países industrializados a convidá-los para suas reuniões. Mas apenas com a eclosão da nova crise mundial em 2008 que sua participação se torna indispensável e ganham um assento definitivo ao lado dos países desenvolvidos na governança econômica e financeira mundial. Isso se materializa com as Cúpulas do G20 de 2008, 2009 e 2010, que transformam esse no principal fórum permanente sobre questões econômicas internacionais, substituindo o G8 nesse papel. A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 11

Como parte dos preparativos da Conferência de Nairóbi sobre CSS; que se realizou em Dezembro de 2009, em outubro do mesmo ano foi publicado o Informe do Secretário Geral da ONU, Promoção da Cooperação Sul-Sul para o Desenvolvimento: Uma perspectiva de 30 anos, que resume a situação e os desafios da cooperação sul-sul naquele momento da seguinte maneira: a) Os países em desenvolvimento como grupo dispõem agora de uma ampla gama de modernas competências técnicas, com centros de excelência em esferas chave que aumentaram sua autossuficiência nacional e coletiva; b) Muitos países em desenvolvimento sofrem, todavia, de graves déficits socioeconômicos, e alguns não estão ainda em condições de alcançar os objetivos mínimos estabelecidos pela Cúpula do Milênio da Assembleia Geral; c) Um número cada vez maior de países em desenvolvimento, com influência decisiva na cooperação sul-sul, estão se convertendo em economias de médio porte, e os mais importantes dentre esses estão adquirindo maior influência na governança global; d) A integração regional impulsionou o progresso econômico, o que conduziu uma maior expansão das correntes sul-sul de finanças, tecnologia e comércio; e) O crescimento industrial do sul apresenta problemas ambientais cada vez maiores; f) Os organismos e programas das Nações Unidas desempenharam um papel chave na promoção da cooperação entre países em desenvolvimento, mas para melhorar ainda mais seus resultados se requerem mecanismos mais enérgicos de coordenação, cooperação, financiamento e apresentação de informes. É em meio a esse contexto de transformações, de reafirmação e emergência da cooperação sul-sul que surge a iniciativa Brasil-OIT de cooperação sul-sul. Os primeiros contatos e as primeiras ações entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a OIT se produziriam em 2005, iniciando-se então o processo de gestação do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da CSS, que começaria suas ações em 2009, pouco antes da Conferência de Nairóbi. 12

1.2 A cooperação sul-sul brasileira A participação do Brasil na cooperação internacional começou na década de 1940 na condição de receptor de ajuda de países do norte, e gradualmente evoluiu para uma dupla condição, na qual o País, sem renunciar a receber assistência, também passa à condição de prestador de cooperação, no contexto dos países em desenvolvimento. A partir de 1973, com base na experiência de cooperação entre instituições nacionais que ocorria ao interior do país chamada cooperação técnica interna e a intensificação da ação diplomática brasileira na América Latina e na África, o programa de cooperação técnica para o exterior passou a ser gradualmente estendido, tendo início assim as primeiras experiências de cooperação técnica oficial brasileira para outros países no nível intraregional (América Latina) e com os países africanos de língua portuguesa (PALOP). Com o fim do regime militar, em 1985, a expansão da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) recebeu um impulso, ganhando cada vez mais importância e passando, cada vez mais, a ser vista como um instrumento de ação diplomática. Esse fator foi fundamental para a criação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), em 1987, no âmbito do Ministério das Relações Exteriores. Desde o início, a cooperação executada pela ABC tem se baseado nos seguintes princípios: i) o estabelecimento de relações cada vez mais horizontais entre os países; ii) parcerias desenvolvidas a partir da demanda dos países em desenvolvimento em contraposição à oferta de cooperação; iii) não interferência nos assuntos internos dos países; e iv) ausência de condicionalidades aos beneficiários. Com o início do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, a busca de novas parcerias estratégicas, especialmente com outros países do Sul, fortaleceu-se e passou a ser a linha definidora da nova política externa do Brasil, denominada pelo antigo Chanceler Celso Amorim de ativa e altiva. Algumas evidências dessa mudança são: o reforço dos laços com os países da América do Sul e a contribuição do país ao fortalecimento do Mercosul e à criação da UNASUL, em 2008; o fortalecimento das relações com os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e Timor Leste e a aproximação com a Índia e África do Sul, que deu origem ao IBSA (2006), assim como com a China e a Rússia, dando origem aos BRICS (2008). A partir de 2008, juntamente com outros países emergentes, o Brasil passou a participar das reuniões do G20. A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 13

Em consonância com a nova política externa, a cooperação Sul-Sul (CSS) recebeu um grande impulso, como uma das ferramentas importantes para fortalecer os laços de amizade e solidariedade com outros países em desenvolvimento, especialmente na América do Sul e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A expansão da CSS nesse período foi possível também graças à situação econômica favorável do país, assim como os resultados positivos de suas políticas econômicas e sociais, que fizeram do Brasil uma referência importante em várias áreas das estratégias de desenvolvimento, nas quais acumulou experiência, conhecimentos e habilidades. À medida que esses resultados positivos eram ampliados e consolidados internamente, aumentava o seu reconhecimento internacional e as demandas recebidas pelo governo para que suas experiências fossem compartilhadas. Com efeito, de acordo com os dados do IPEA e da ABC 1, durante o período 2005-2009 a cooperação brasileira atingiu uma cifra total próxima a R$ 2,9 bilhões (equivalente a USD 1,6 bilhões) para o conjunto desses cinco anos. Mais de 76% desse total foram contribuições para organizações internacionais e bancos regionais, e quase 24% dirigidos a outras modalidades (assistência humanitária, bolsas de estudo e cooperação técnica). A quantidade anual dos recursos de cooperação quase se duplicou entre 2005 e 2009, passando de R$ 384.2 milhões a mais de R$724 milhões respectivamente. Calcula-se um incremento de quase 50% em termos reais quando se considera sua equivalência em dólares, passando de US$ 242.9 milhões a USD$ 362.200 milhões em 2009. A partir de 2005, ao superar alguns desafios institucionais e jurídico-legais, o país retoma o ritmo de crescimento da CSS com maior energia, propenso à diversificação temática, expansão geográfica e interessado no desenvolvimento da cooperação triangular. Foi nesse período que se inicia a aproximação entre a OIT e o Governo Brasileiro no âmbito da cooperação sul-sul. 1 Brazilian Cooperation for International Development: 2010. IPEA, ABC. Brasília, 2014 14

2. O Programa de Parceria Brasil-OIT para Promoção da Cooperação Sul-Sul Do ponto de vista cronológico, a colaboração entre a OIT e o Brasil no âmbito do Programa de Parceria para a Promoção da Cooperação Sul-Sul se desenvolveu, até agora, em três fases. A primeira se estende de 2005 a 2006, e foi caracterizada pelos primeiros contatos e projetos entre a OIT e a ABC; a segunda entre 2007 e 2009, se caracteriza pela negociação e formulação dos instrumentos jurídicos e programáticos; a terceira, iniciada em 2010 e ainda em curso, se caracteriza pela implementação e ampliação do Programa. Fase preliminar (2005-2006) Fase de Formulação (2007-2009) Fase de Implementação (2010-2014) FASES Contatos iniciais e primeiros projetos OIT/ABC que preparam o terreno para o surgimento do programa Negociação e formulação dos instrumentos jurídicos e programáticos do Programa Brasil-OIT para a Promoção da CSS Implementação dos projetos de CSS com os países interessados 2.1 Fase Preliminar (2005-2006) O fortalecimento das relações do mais alto nível entre o Governo do Brasil e a OIT, a importância política adquirida pelo tema do Trabalho Decente no País a partir do Memorando de Entendimento assinado entre o presidente Lula e o Diretor-Geral da OIT, em 2003, e a busca de novas possibilidades de financiamento da cooperação técnica pelo Escritório da OIT no Brasil, estão na origem da definição de uma aliança em torno da CSS como uma área de interesse e benefício mútuos. Por parte da OIT, esse movimento de aproximação teve sua origem em uma discussão sobre as alternativas de prosseguimento do trabalho desenvolvido para a prevenção e erradicação do trabalho infantil no país 10 anos depois do início da atuação do Programa IPEC no Brasil. Foram, considerados, nessa discussão, por um lado, o significativo desenvolvimento da capacidade das instituições brasileiras para enfrentar o problema (com importantes experiências de integração do objetivo da prevenção e erradicação do trabalho infantil em A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 15

uma série de políticas e instrumentos) e, por outro, a crise de financiamento causada pela diminuição progressiva da cooperação técnica tradicional dirigida ao Brasil (devido, justamente, aos avanços institucionais, políticos e sociais registrados no país). Além disso, como já mencionado, os êxitos do Brasil em várias áreas das políticas públicas, incluindo os programas e ações desenvolvidos em várias áreas da Agenda de Trabalho Decente, como os de combate ao trabalho infantil e ao trabalho escravo, despertavam cada vez mais atenção da comunidade internacional e geravam interesse de outros países em desenvolvimento que recebiam com entusiasmo as possibilidades de cooperação do novo governo. Por esses motivos, a equipe da OIT no Brasil começou a considerar a cooperação sul-sul como uma nova oportunidade para difundir a experiência desenvolvida nessas áreas, focalizando, inicialmente no tema do trabalho infantil, por ser essa a área de cooperação técnica mais consolidada da OIT no país. Por parte do Governo Brasileiro, o aumento da importância atribuída à CSS se refletia, entre outros aspectos, nos esforços voltados à expansão do programa, à diversificação de seus temas e áreas de cooperação, bem como à estruturação de alianças para fortalecer a capacidade de implementação da CSS brasileira. Nesse contexto, e em um processo de diálogo entre o Escritório da OIT no Brasil e a ABC, foi resgatado o Acordo Básico entre o Brasil e a OIT para a cooperação com outros países da América Latina, África e Ásia sobre questões trabalhistas, assinado em 1987, que passou a ser visto como um instrumento fundamental para a viabilização desta associação. Nesse marco, foram negociados e aprovados os dois primeiros projetos financiados pelo governo brasileiro, através da ABC, no âmbito da cooperação sul-sul. Ambos estavam voltados ao combate ao trabalho infantil. O primeiro deles foi em dezembro de 2005, dirigido a Angola e Moçambique, e o segundo, aprovado em novembro de 2007, dirigido ao Haiti. 2.2 Fase de formulação dos instrumentos do Programa (2007-2009) Os resultados encorajadores desses dois primeiros projetos, bem como o reconhecimento da importância da cooperação sul-sul como instrumento de implementação da Agenda Nacional de Trabalho Decente (maio de 2006) e o estabelecimento de metas ambiciosas de eliminação do trabalho infantil na XVI Reunião Regional Americana da OIT realizada em Brasília na mesma ocasião, levou a ABC e o Escritório da OIT no Brasil a discutirem a possibilidade de elevar esta parceria a um nível superior. 16

A vontade de ambas as partes para avançar nessa direção expressou-se através da assinatura de dois memorandos de entendimento. O primeiro deles sobre a eliminação do trabalho infantil (dezembro de 2007) e o segundo sobre a promoção da proteção social (março 2008), ambos com o propósito de promover essas duas dimensões do trabalho decente por meio da cooperação sul-sul entre o Brasil e outros países em desenvolvimento da América Latina e da CPLP. Após a assinatura desses dois memorandos de entendimento, iniciaram-se as negociações sobre como operacionalizar essa intenção de aprofundamento da colaboração, enquanto algumas ações preliminares, como o desenvolvimento de estudos sistemáticos de boas práticas e identificação das necessidades e demandas de outros países em desenvolvimento são implementadas. A experiência de implementação desses primeiros projetos evidenciou a capacidade da OIT de contribuir (técnica, política e institucionalmente) para a cooperação entre o Brasil e outros países em desenvolvimento, de forma mais articulada e abrangente. A partir daí, as discussões avançaram no sentido do estabelecimento de um modelo de cooperação triangular ou trilateral, que avançasse em relação a essas primeiras experiências, no rumo da definição de programas e não apenas de projetos específicos. Essa foi considerada uma alternativa importante, tanto para a OIT quanto para o Governo Brasileiro, para fortalecer a cooperação sul-sul do Brasil em geral, e particularmente no âmbito da Agenda do Trabalho Decente. No entanto, como não havia uma experiência anterior para ser replicada, nem um modelo específico a seguir, foi necessário construir um novo modelo de atuação conjunta. Nascia assim uma experiência pioneira, que abriu caminhos, gerou aprendizagem e o desenvolvimento, tanto no âmbito da OIT quanto do Governo Brasileiro, de conceitos e mecanismos operacionais para o fortalecimento dessa modalidade de cooperação. O Ajuste Complementar O resultado desse processo de discussão e negociação foi a assinatura do Ajuste Complementar ao Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre cooperação técnica com outros países da América Latina e África, para a implementação do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul- Sul, em Genebra, em 22 de março de 2009, entre o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e o Diretor-Geral da OIT, Juan Somavia. A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 17

Esse instrumento tem um alcance mais amplo do que os dois memorandos de entendimento assinados em 2007 e 2008, já que não se limita às questões do trabalho infantil e proteção social, mas define os parâmetros para a criação de um Programa de Parceria para a Promoção Cooperação Sul-Sul, com o objetivo de fornecer, através de um mecanismo técnico de cooperação sul-sul, o apoio a implementação dos quatro objetivos estratégicos e temas transversais da Agenda de Trabalho Decente. A adoção, em junho de 2008, pela 97 a Reunião da Conferência Internacional do Trabalho, da Declaração sobre Justiça Social para uma Globalização Equitativa, foi um elemento importante para a definição dos parâmetros e os pressupostos dessa Cooperação. Seus termos são definidos de maneira ampla, referindo-se à promoção dos quatro objetivos estratégicos da Agenda de Trabalho Decente e seus temas transversais, tal como estabelecido na Declaração. O Ajuste Complementar estabelece os princípios orientadores do Programa de Parceria: a igualdade entre as partes, o apoio mútuo, a apropriação local e a solidariedade entre as nações. À luz destes conceitos, define como modus operandi a formulação de um documento do programa, do qual se derivariam documentos de projetos específicos a serem formulados e aprovados pelo Brasil, a OIT e os países interessados. Os projetos deveriam conter uma descrição do contexto, justificativa, objetivos, estratégias, resultados e beneficiários previstos, assim como sua duração, recursos técnicos e financeiros e as autoridades nacionais responsáveis por sua execução, tanto no Brasil quanto nos países interessados. O Escritório da OIT no Brasil passa a ser designado como responsável pela coordenação das atividades a serem desenvolvidas no âmbito do Ajuste Complementar, assumindo a responsabilidade pela gestão dos recursos financeiros a serem mobilizados no âmbito do programa, de acordo com as suas regras, regulamentos, diretrizes e procedimentos administrativos. Fica estabelecido que um relatório semestral sobre recursos recebidos e as despesas do programa seria preparado pela OIT e enviado ao governo brasileiro. A OIT iria ainda fornecer um relatório técnico anual e um relatório final para cada projeto. A previsão de uma Reunião Anual de Revisão do Programa também foi criada para avaliar os produtos e resultados alcançados pelos projetos e atividades realizados no âmbito do Ajuste Complementar. 18

2.3 Fase de implementação do Programa (2009-2014) A partir da assinatura do Ajuste Complementar foram aprovados, entre 2009 e 2010, quatro Documentos de Programa, nas seguintes áreas: i) erradicação do trabalho infantil; ii) promoção da seguridade social; iii) fortalecimentos das organizações sindicais e; iv) eliminação do trabalho forçado e promoção de empregos verdes. Os programas na área de combate ao trabalho infantil e extensão da proteção social começaram a ser implementados em 2009, e prosseguiram nos anos seguintes. No âmbito dos dois primeiros programas foram aprovados 10 projetos na área do trabalho infantil (incluindo um projeto apoio ao programa) e 3 projetos na área da seguridade social (incluindo também um projeto de apoio ao programa). As restrições financeiras sofridas pela ABC a partir de 2010 dificultaram a implementação dos outros dois programas. A partir de 2012, no entanto, uma nova modalidade de financiamento possibilitou a expansão do Programa de Parceria para novas áreas. Assim, o esquema de execução do programa foi configurado da seguinte forma: Acordo Básico Brasil-OIT Ajuste Complementar Documento de Programa Documento de Programa Documento de Programa Documento de Programa Projeto de Apoio ao Programa Projeto de CSS Projeto de CSS Projeto de CSS Projeto de CSS Âmbito jurídico Âmbito programático Âmbito Operacional A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 19

O Programa de Trabalho Infantil O Programa de Parceria OIT/Brasil para a Promoção da Cooperação Sul-Sul para a Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil nas Américas foi aprovado em maio de 2009, com uma duração inicial de três anos (2009-2012) e um valor indicativo de US$3 milhões de dólares sujeito à aprovação de projetos específicos. Com base nos projetos aprovados até dezembro de 2014, este montante aumentou para US$ 11.1 milhões, e sua duração foi estendida até 2017. O programa tem como objetivo fortalecer a cooperação Sul-Sul do Brasil nesta área, difundindo conhecimento e boas práticas e sua adaptação às realidades e necessidades de cada país, em função de suas demandas específicas. Pretende ainda, reforçar as iniciativas já existentes a nível nacional, regional e global, e avançar no cumprimento dos compromissos internacionais sobre eliminação do trabalho infantil. O programa formula um conjunto de resultados esperados, organizados em 5 eixos estratégicos: i) desenvolvimento de conhecimento sobre o problema; ii) desenvolvimento da legislação; iii) desenvolvimento da capacidade institucional para o cumprimento das normas; iv) conscientização pública sobre os aspectos negativos do trabalho infantil e, v) desenvolvimento de ações diretas de proteção às crianças e adolescentes. O programa também define a estratégia de formulação de projetos a partir da demanda dos países interessados, guiada pelos princípios de igualdade entre as nações, apoio mútuo e solidariedade, priorizando a atuação através das Comissões Nacionais para a Erradicação do Trabalho Infantil, e a participação da mais ampla gama de instituições responsáveis nos diferentes países, através de três etapas: i) missões preparatórias de identificação de demandas e instituições parceiras; ii) oficinas tripartites de planejamento para definir conjuntamente os principais resultados do projeto e sobre esta base; iii) elaboração do documento final do projeto para aprovação do Brasil, do país parceiro e da OIT. Em dois anos (entre outubro de 2009 e dezembro de 2011) foram formulados e aprovados oito projetos, em um total de 11 países e um bloco sub-regional distribuídos em três regiões: América Latina e Caribe, África e Ásia. Depois de um período sem que novos projetos fossem aprovados, devido às restrições financeiras que sofreu a ABC, em outubro de 2012, foi aprovado o projeto de apoio à III Conferência Global sobre Trabalho Infantil, com recursos do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Nessa linha, em maio de 2013, já com recursos do recursos do 20

Ministério do Trabalho e Emprego foi aprovada a revisão do Projeto de Apoio ao Programa do TI para inclusão do apoio logístico à III CGTI e de objetivo de desenvolver e implementar a Iniciativa Regional América Latina e Caribe livres do Trabalho Infantil. No começo de 2015, o projeto de apoio à III Conferência Global sobre Trabalho Infantil foi ampliado, com novos recursos, incluindo um novo componente voltado à inclusão produtiva através do trabalho decente dos beneficiários e beneficiárias dos programas de combate à pobreza. O Programa de Seguridade Social O documento do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Cooperação Sul-Sul na área da Seguridade Social foi assinado em junho de 2009, em Genebra. Aprovado inicialmente por um período de dois anos (julho de 2009 a junho de 2011), e um orçamento indicativo de um milhão de dólares, em função dos projetos aprovados no âmbito do Programa, esse valor se elevou a US $ 1,13 milhões, e suas atividades se estenderam até dezembro de 2013, quando concluiu suas atividades. O programa teve como objetivo sistematizar práticas, experiências e conhecimentos desenvolvidos no Brasil em relação à extensão da cobertura da proteção social e apoiar a sua transferência e adaptação à realidade socioeconômico e institucional dos países interessados, na América Latina, África e Ásia. Atribuía à OIT o papel de facilitar e incentivar este processo de forma consistente com a Agenda Nacional de Trabalho Decente e em coordenação com outras intervenções executadas nos países. A partir da experiência brasileira e de acordo com as prioridades nacionais a serem definidas pelos países selecionados, o programa se dispôs a contribuir em quatro áreas: i) gerar informações sobre os grupos vulneráveis desprotegidos para apoiar propostas de extensão da cobertura da proteção social; ii) formular propostas de extensão da cobertura acordadas através de mecanismos de diálogo social; iii) realizar estudos prospectivos para garantir a sustentabilidade da ampliação da cobertura, e iv) desenvolver programas de capacitação e treinamento para difundir os valores e importância da seguridade social. O programa baseou-se nas disposições de três documentos programáticos principais: i) a Agenda Nacional de Trabalho Decente do Brasil, que definia, entre suas linhas de ação, a ampliação progressiva da proteção social para os trabalhadores da economia informal; ii) a Agenda Hemisférica de Trabalho Decente para as Américas, que definia, como um de seus objetivos, o aumento de 20% de cobertura da proteção social, entre 2005 e 2015, e iii) A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 21

as declarações dos ministros do trabalho e da seguridade social aprovadas nas reuniões da CPLP em Portugal (Óbidos 2009) e Timor Leste (Díli, 2008), enfatizando a necessidade de aprofundar a cooperação entre países no domínio da proteção social. Foram aprovados três projetos no âmbito desse Programa: o de apoio ao programa (outubro de 2009) e os dirigidos ao Timor Leste (junho de 2010) e o Paraguai (novembro de 2010). Outras Áreas de Cooperação Em 2011, no campo da cooperação humanitária iniciou-se uma parceria entre o Governo brasileiro e o Centro Internacional de Treinamento da OIT em Turim para a implementação de um programa de capacitação no tema de catástrofes e desastres naturais, com uma contribuição de US$ 997 mil dólares. A parceria Brasil-OIT e Centro de Turim teve uma duração de 36 meses (Janeiro de 2011 a Dezembro de 2013), com foco em países que sofreram crises ou desastres naturais, buscando reduzir o impacto das dificuldades enfrentadas por suas populações através de iniciativas de desenvolvimento sustentável. Os beneficiários do programa de capacitação foram os governos, organizações de trabalhadores e empregadores e sociedade civil em países lusófonos, Palestina, Haiti, Nigéria e Timor Leste. O Brasil e a OIT desenvolveram metodologias e estratégias para prover ajuda humanitária às populações de países em risco e de encorajar a prevenção, reabilitação e recuperação através de fortalecimento institucional e promoção de mecanismos de desenvolvimento sustentável. No final de 2014, confirmando a tendência de diversificação de áreas de atuação e fontes de financiamento, dois novos projetos são aprovados. O primeiro, Cooperação Sul-Sul para a proteção dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras migrantes na Região de América Latina e Caribe, contou com recursos do MTE no valor de US$ 625.7 mil dólares. O projeto abordará, prioritariamente, os temas ligados à legislação de migração, à construção de uma nova Política Nacional e ao fomento de pesquisas que poderão oferecer uma melhor descrição da realidade da migração no Brasil para atualização da sua legislação, assim como para desenvolver conhecimentos úteis para as ações governamentais de fortalecimento da Política e propostas de legislações específicas. Através das ações do projeto, pretende-se trabalhar diretamente na garantia de direitos de migrantes no Brasil, fortalecendo as ações internas e as relações entre o Brasil e países das Américas. 22

O segundo projeto aprovado ainda em 2014, Cooperação Sul-Sul para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio do trabalho decente e da proteção social, no valor de US$600 mil dólares, inaugura a parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e a OIT no campo da cooperação sul-sul. O objetivo final deste projeto é a afirmação do trabalho decente e da proteção social enquanto instrumentos de promoção do desenvolvimento sustentável. Campanha "O MERCOSUL unido contra o Trabalho Infantil A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 23

3. Análise da experiência 3.1 Principais características da evolução do programa Evolução da iniciativa em termos geográficos A partir de 2009, o Programa Sul-Sul começou a ser desenvolvido na Bolívia, Equador e Paraguai, sendo mais tarde estendido para os países do MERCOSUL, em seguida para a Tanzânia (África), Timor Leste (Ásia), os países africanos de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe) e, finalmente, para o Haiti. Podemos afirmar, em primeiro lugar, que em termos geográficos a iniciativa se desenvolve de projetos dirigidos a países individuais a projetos voltados a grupos de países (como os PALOP), projetos dirigidos a blocos de integração regional (MERCOSUL), projetos de âmbito regional (apoio à Iniciativa Regional América Latina e Caribe Livre de Trabalho Infantil) e projetos com projeção global (apoio à III Conferência Global sobre Trabalho Infantil). Em resumo, contando com os projetos de apoio aos programas de trabalho infantil e de seguridade social, um total de 15 projetos são implementados em 11 países e um bloco de integração subregional na América Latina e no Caribe, África e Ásia, como mostrado na tabela seguinte: Países/Regionais Programa de Trabalho Infantil Programa de Seguridade Social Outras Áreas Bolivia Equador Paraguai MERCOSUL (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai) Timor Oriental PALOP (Angola, Moçambique, Guine Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe) Tanzania 24

Haití América Latina e Caribe Desenvolvimento Sustentável Migrações Global Evolução da iniciativa por áreas de cooperação Quanto às áreas de cooperação, a evolução das ações da Parceria Brasil-OIT para a promoção da CSS é caracterizada pela passagem do tema do trabalho infantil, ao conjunto dos temas que fazem parte da agenda trabalho decente. Como visto na fase preliminar da iniciativa, os primeiros projetos de 2006 e 2007 são realizados no âmbito da luta contra o trabalho infantil. Sua experiência positiva permite que rapidamente se perceba o seu potencial como uma estratégia para promover a agenda do trabalho decente em geral, entre os países em desenvolvimento. Nesse sentido, já em 2006 a promoção da CSS aparece incluída tanto na Agenda Nacional do Trabalho Decente brasileira quanto na Agenda Hemisférica do Trabalho Decente adotada pela Reunião Regional Americana de Brasília. Um pouco mais tarde, o Memorando de Entendimento assinado em 2007 e 2008 indica a disponibilidade e o empenho de ambas as partes para avançar de um regime de colaboração maior para promover a cooperação Sul-Sul, começando com duas áreas específicas, trabalho infantil e seguridade social. Finalmente, em 2009, o Ajuste Complementar estabelece seu objeto de atuação da maneira mais ampla possível, referindo-se à promoção dos quatro objetivos estratégicos da Agenda de Trabalho Decente e seus temas transversais, como estabelecido na Declaração da OIT sobre Justiça Social para uma Globalização Equitativa de 2008. A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 25

Evolução temática do Programa Brasil-OIT para a CSS Evolução e distribuição do financiamento. A contribuição brasileira De acordo com os quatro programas aprovados no âmbito do Programa de Parceria, um montante de US$6,1 milhões de dólares foi previsto. Desse valor, 49% correspondiam ao programa de trabalho infantil, 25% ao programa de trabalho forçado e empregos verdes, 16% ao programa de seguridade social e 10% ao programa de fortalecimento dos sindicatos. Na realidade, em função dos projetos aprovados, a contribuição financeira do Brasil foi muito superior ao previsto nos programas. Até o final de 2014, a contribuição brasileira totalizou US$ 14,4 milhões, incluindo os primeiros projetos em 2006 e 2007 e uma nova geração de projetos que vão além dos programas inicialmente formulados. 26

Recursos Financeiros por Projetos Aprovados ( US$) Programa/Área Projeto Valor Combate às Piores Formas de Trabalho Infantil em Países Lusófonos na África (Angola e Moçambique) 200.00,00 Eliminação e Prevenção das Piores Formas de Trabalho Infantil no Haiti 289.823,00 Projeto de Apoio ao Programa Sul Sul para Prevenção de Eliminação do Trabalho Infantil nas Américas 4.048.788,00 Proteção e Promoção Social para Crianças e Adolescentes e suas Famílias em Situação de Trabalho Infantil no Paraguai 283.894,74 Trabalho Infantil Contribuição para o desenvolvimento de políticas e programas nacionais de prevenção e eliminação das Piores Formas de Trabalho Infantil na Bolívia. Projeto para Redução do Trabalho Infantil através da Cooperação Sul-Sul no Equador. 219.362,11 742.064,58 Programa para Eliminar as Piores Formas de Trabalho Infantil no Timor Leste 261,891,37 Projeto de apoio ao Plano Regional para Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil no Mercosul 308.298,52 Apoiar a implementação do Plano de Ação Nacional para a Eliminação das Piores Formas de Trabalho Infantil em Tanzânia 276.318,00 Apoio a ações voltadas para a consecução das metas de 2015 de eliminação das piores formas de trabalho infantil em países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) por meio de conhecimentos, conscientização e Cooperação Sul-Sul 450.000,00 Estratégias para Acelerar o ritmo de queda das Piores Formas de Trabalho Infantil - Conferência Global 3.733.439,00 Proteção de crianças contra o Trabalho Infantil durante a Fase inicial de recuperação do Haiti. 300.000,00 Subtotal Trabalho Infantil 11.113.879,32 Apoio ao programa de parceria Brasil/OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul na área de Seguridade Social 563.886,96 Seguridade Social Promoção da Cooperação Sul-Sul na área de Seguridade Social em Timor-Leste Promoção da Cooperação Sul-Sul na área de Seguridade Social no Paraguai 385.825,96 184.001,00 Subtotal Seguridade Social 1.133.712,96 Cooperação Humanitária Migrações Desenvolvimento Sustentável e Trabalho Decente Iniciativa com centro de treinamento da OIT em Turim para a promoção de curso na área de Prevenção de Crises e Desastres Naturais Cooperação Sul-Sul para a proteção dos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores migrantes na América Latina e no Caribe Cooperação Sul-Sul para Promoção do Desenvolvimento Sustentável por meio do Trabalho Decente e da Proteção Social TOTAL APROVADO (US$) 998.000,00 625.730,00 600.000,00 14.470.322,28 A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 27

Tanto o programa de trabalho infantil quanto o de seguridade social conseguiram formular e aprovar projetos com um valor superior ao previsto nos documentos do programa. No caso do trabalho infantil, a diferença foi realmente notável, acrescentando mais que o triplo do valor inicialmente aprovado no programa. Como consequência, a distribuição de recursos por tema também foi distinta da programada. Sobre o valor total dos projetos aprovados, a área de trabalho infantil é responsável por 76,8% dos fundos, a de seguridade social 7,9% e novos temas representam 15.3% dos recursos. Observando a distribuição regional, encontramos que do total de recursos aprovados, 61,7% foram para projetos com países da América Latina e Caribe, 18,5% para projetos globais, 13,3% para projetos com a África e 6,5% para os projetos com os países da Ásia. A evolução da iniciativa é afetada a partir de 2011, quando se inicia no Brasil uma política de restrição dos gastos públicos como parte de um conjunto de medidas governamentais para proteger o país dos efeitos da crise econômica global. Isso determina, pelo menos temporariamente, o fim da fase de expansão da cooperação técnica brasileira iniciada em 2003. Os projetos de trabalho infantil aprovados em 2011 seriam os últimos do Programa a serem financiados com recursos da própria ABC. No entanto, a adoção, em 2012, do projeto de apoio à III Conferência Global sobre Trabalho Infantil financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e em 2013, a aprovação da revisão do projeto de apoio ao programa de trabalho infantil para a inclusão do apoio 28

logístico à III CGTI e suporte à Iniciativa Regional América Latina e o Caribe Livres do Trabalho Infantil, com financiamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mantém a Parceria Sul-Sul em andamento. No final de 2014, confirmando esta tendência, dois novos projetos são aprovados, um com recursos do MTE no valor de US$ 625,730 para o tema de migrações e outro em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio do trabalho decente e da proteção social, no valor de US$600 mil dólares. Este passo, de projetos financiados pela ABC para projetos financiados por outros Ministérios, é um dos mais importantes desenvolvimentos da iniciativa, do ponto de vista financeiro. A INOVAÇÃO QUE VEM DO TERRENO Sistematização do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul (2005-2014) SUMÁRIO EXECUTIVO 29

A mobilização de outros recursos Além da contribuição brasileira, a iniciativa CSS Brasil-OIT gerou a mobilização de uma quantidade razoável de recursos financeiros e não financeiros de outras fontes que vieram em apoio aos projetos implementados. Uma contrapartida da OIT no total de US$ 1,1 milhões foi estabelecida nos documentos de projetos aprovados. Montante que refletia, muito timidamente na verdade, toda a mobilização interna de recursos que a implementação do Programa requereria no âmbito da OIT. Em particular, essa quantidade não contabilizava o aporte em conhecimentos, experiência, tecnologia, influência política, alianças, facilidades logísticas e outros recursos intangíveis de difícil valoração. Por outro lado, a iniciativa permitiu atrair recursos de doadores tradicionais, destacando os EUA como o primeiro entre os países desenvolvidos a entrar em cena. O apoio financeiro dos EUA totalizou US$8.2 milhões de dólares, considerando: i) o projeto de cooperação horizontal no Brasil, Bolívia, Equador e Paraguai; ii) o projeto complementar ao projeto PALOP, e iii) o projeto de cooperação triangular no Haiti. O apoio financeiro dos países doadores, em especial dos EUA, contribuiu para que os projetos do Programa atingissem seus resultados. Este apoio tornou possível contar com especialistas internacionais e oficiais nacionais da OIT nos países onde os projetos financiados pela ABC eram executados. Ademais, permitiram incrementar o intercâmbio de experiências entre os países e apoiar as iniciativas nacionais resultantes dessa aprendizagem. Por último, mas não menos importante, deve ser considerada a contribuição dos países beneficiários dos projetos implementados. Embora os documentos do projeto não registrem suas contribuições, é evidente que a sua implementação exigiu um investimento das instituições envolvidas que consiste, por exemplo, na participação de funcionários e peritos nacionais, desde a fase de concepção do projeto até o desenvolvimento de adaptações ou novas soluções alimentadas pelo intercâmbio de experiências com seus pares brasileiros. Evolução do esquema da CSS Como já vimos, tanto para a OIT como para o Brasil, a parceria para a promoção da cooperação sul-sul construída a partir das primeiras conversas em 2005 foi uma verdadeira novidade. Para a OIT, foi o início de sua intervenção nesse campo. Para o Brasil, foi o primeiro exemplo 30