Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP



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ISSN 1981-2086 65 Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP Introdução A agricultura e a pecuária contribuem para as emissões antrópicas de metano (CH 4 ), dióxido de carbono (CO 2 ) e óxido nitroso (N 2 O) à atmosfera. O aumento da concentração desses gases provoca o aquecimento da superfície terrestre e destruição da camada de ozônio na estratosfera (PRIMAVESI et al., 2004). O CH 4 é um importante gás de efeito estufa, apresentando um potencial de aquecimento 25 vezes maior que o do gás carbônico e vida útil aproximada de 12 anos na atmosfera (IPCC, 2006). Atribui-se a este gás uma participação de 15% no potencial de aquecimento global (COTTON & PIELKE, 1995). Atividades microbiológicas em ambientes anaeróbios (áreas inundadas, cultivo de arroz irrigado por inundação, fermentação entérica e processamento anaeróbio de dejetos) constituem a principal fonte de metano, além da queima de biomassa e da indústria de carvão e gás natural (LIMA & DEMARCHI, 2007). São Carlos Dezembro, 2010 Autores Sérgio Novita Esteves Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, sergio@cppse.embrapa.br Alberto C. de Campos Bernardi Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, Bolsista do CNPq alberto@cppse.embrapa.br Marcela de Melo Vinholis Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP marcela.vinholis@cppse.embrapa.br Odo Primavesi Pesquisador aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP A emissão de CH 4, resultante da fermentação entérica por ruminantes, é responsável por 22% da emissão de gases de efeito estufa, e constitui a terceira maior fonte em escala global (USEPA, 2000). No Brasil, a pecuária tem sido responsabilizada pela emissão de 96% de metano proveniente de todas as atividades agrícolas, sendo a maior parte dela originária de áreas de pastagens extensivas (LIMA, 2002). Como a maioria destas pastagens está em processo de degradação, o aumento da produtividade é uma das opções para tornar a pecuária mais rentável (BERNARDI et al., 2009), o que poderia também mitigar as emissões de metano (VILELA et al., 2005). Devido aos grandes investimentos necessários para a formação e para a reforma de pastagens, tem-se buscado diversas técnicas para reduzi-los. De acordo com Kluthcouski & Aidar (2003), no sistema de integração lavourapecuária (SILP) a utilização do consórcio de culturas anuais com forrageiras pode ser preconizada na formação e na reforma de pastagens, na produção de forragem para alimentação animal na entressafra. O objetivo deste trabalho foi estimar a emissão de metano (CH 4 ) por bovinos criados a pasto no sistema de integração lavourapecuária e terminados em confinamento em condições tropicais brasileiras.

2 Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP Material e Métodos O estudo foi conduzido na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP por 3 safras consecutivas (2005/06, 2006/07 e 2007/08, respectivamente ano 1, ano 2 e ano 3), em área de pasto de 21 hectares, em degradação, com predominância de capim-braquiária. A pastagem apresentava baixa produção de biomassa, ocorrência de plantas invasoras e início de processo erosivo no solo. Em cada um dos três anos consecutivos, foram realizadas, em aproximadamente 7 ha (33% da área), operações para substituição do capim-braquiária, utilizando-se preparo convencional do solo e cultivo de milho (Zea mays L.) var. BRS 2020 (híbrido duplo) ou sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) var. BRS 610 (híbrido) de acordo com o descrito por Bernardi et al. (2009); na época da adubação de cobertura do milho (60 dias após a germinação), foi realizada a semeadura do capim-marandu (Urochloa brizantha (Hochst ex A. Rich.) Stapf cv Marandu sin.: Brachiaria brizantha) e, no plantio do sorgo, o plantio da forrageira de capim Piatã (Urochloa brizantha (Hochst ex A. Rich.) Stapf cv Piatã sin.: Brachiaria brizantha) ocorreu concomitantemente, na entrelinha do sorgo. Desta forma, ao final de 3 anos, toda a área de pastagem havia sido reformada (Tabela 1). Tabela 1. Esquema de rotação de culturas e forrageiras em um sistema de integração lavoura-pecuária utilizado na Embrapa Pecuária Sudeste em área de 21 ha. Ano 0 Pasto degradado Pasto degradado Pasto degradado Ano 1 Milho silagem + forrageira Pasto degradado Pasto degradado Ano 2 Pasto renovado Sorgo silagem + forrageira Pasto degradado Ano 3 Pasto Pasto renovado Sorgo silagem + forrageira Animais da raça Nelore e cruzado Nelore x Angus, Nelore x Canchim (2006), Canchim (2007) e cruzados threecross (Nelore x Canchim e Angus) e Canchim (2008), foram utilizados durante o período experimental, tanto a pasto quanto em confinamento, havendo em todas as etapas avaliações para ganho de peso dos animais. Os animais utilizavam as pastagens de maneira rotacionada conforme a disponibilidade de forragem. A silagem produzida na área foi utilizada para a suplementação dos animais que permaneceram à pasto durante o período da seca e para a terminação em confinamento dos animais bois magros, até atingirem peso de abate. No ano de 2007 e 2008, durante o período da seca, os animais receberam sal proteinado. Os animais foram confinados a pasto, recebendo a dieta total em cochos a céu aberto e utilizando-se relação volumoso concentrado de 50:50 na matéria seca. O manejo alimentar, os dados dos animais, as dietas dos confinamentos dos anos 1, 2 e 3 e do manejo das culturas estão descritos em Bernardi et al., (2009). Os bovinos desmamados do ano de 2007 foram confinados em 2008 e os ganhos de peso vivo foram medidos até o dia 31 de dezembro de 2007 e 2008. As estimativas da emissão de metano (g CH 4 /d.kg PV) foram feitas a partir das equações propostas por Primavesi et al. (no prelo), com base em dados de Demarchi et al. (2003a,b), Nascimento (2007) e Primavesi et al. (2004), considerando os resultados obtidos em medições a campo com gado de corte em sistemas de produção da região Sudeste, utilizando a técnica do gás traçador SF6 para medição de campo do metano ruminal em bovinos: a) Bovinos de corte a pasto: y = 0,00000000192x 3-0,00000424x 2 + 0,002577x - 0,09; b) Bovinos de corte com dieta de concentrado: y = 0,000000002x 3-0,000004x 2 + 0,0023x - 0,0792; onde, Y = emissão de metano (g CH 4 /d.kg PV); X = peso médio do animal no período (kg PV).

Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP 3 Resultados e Discussão Os resultados do ganho de peso vivo dos animais, por categoria animal, manejo alimentar e período do ano, encontram-se descritos na Tabela 2. Observa-se que no manejo alimentar de pasto de verão, inverno e novo (pasto renovado, formado após a retirada da cultura anual), com a substituição gradativa da área degradada de capim-braquiária por espécies mais produtivas, houve aumento na produção, com ganhos de peso vivo a pasto de 1.477, 4.542 e 4.330 kg (Tabela 2); o sistema de integração lavoura-pecuária adotado proporcionou aumento na produção de carne, com ganhos de peso vivo total de 3.723, 7.854 e 6.221 kg e de produtividade de 177, 374 e 296 kg de peso vivo por hectare, respectivamente para os anos de 2006, 2007 e 2008 (Tabela 4). As estimativas de emissão de metano ruminal dos bovinos por período, por quilo de peso vivo ganho e por animal por dia estão descritos na Tabela 3. Os resultados demonstram que quanto maior o ganho de peso vivo diário, menor é a emissão de metano por quilo de peso vivo ganho. No ano de 2008, os garrotes mantidos a pasto durante o período de verão e de inverno, tiveram os menores ganhos diários de peso vivo, de cerca de 0,26 kg/animal/dia, e consequentemente apresentaram as maiores emissões de metano, de cerca de 0,64 kg de metano/kg de peso vivo ganho. Tabela 2. Manejo alimentar e dados dos animais a pasto e em confinamento em um sistema de integração lavourapecuária, nos anos 2006, 2007 e 2008. Categoria animal Manejo alimentar Ganho de peso vivo por animal no período (kg) Período (dias) Ano de 2006 Ganho de peso vivo (kg/animal/dia) Número de animais Ganho total de peso vivo no período (kg) Desmamado pasto verão 72,9 140 0,521 17 1.239 Garrote pasto inverno -9,3 56-0,166 18 0 Garrote pasto novo 13,2 34 0,388 18 238 Garrote Confinamento 124,8 92 1,357 18 2.247 Ano de 2007 Garrote pasto verão 74,6 140 0,533 30 2.237 Garrote pasto inverno -3,1 74-0,042 30 0 Garrote Confinamento 110,4 92 1,200 30 3.313 Desmamado pasto inverno -8,2 47-0,175 19 0 Desmamado pasto novo 12,0 30 0,401 19 229 Desmamado pasto inv. e novo 109,3 121 0,903 19 2.076 Ano de 2008 Garrote pasto verão 35,4 138 0,257 19 673 Garrote pasto inverno 3,8 15 0,250 32 120 Garrote pasto inverno 49,0 71 0,690 28 1.371 Garrote Confinamento 67,5 64 1,055 28 1.891 Desmamado pasto verão 48,0 138 0,178 21 1.008 Desmamado pasto inverno 7,7 57 0,135 20 154 Desmamado pasto novo 24,0 30 0,800 19 456 Desmamado pasto inv. e novo 28,8 117 0,246 19 547

4 Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP Tabela 3. Estimativas da emissão de metano ruminal por bovinos criados a pasto em um sistema de integração lavourapecuária e terminados em confinamento, por período. Categoria animal Manejo alimentar kg de CH 4 por animal/período Ano de 2006 kg de CH 4 por kg peso vivo ganho kg de CH 4 total no período CH 4 g/animal/dia Desmamado pasto verão 9,3 0,128 158,4 67 Garrote pasto inverno 7,3-132,0 131 Garrote pasto novo 4,6 0,348 82,7 135 Garrote Confinamento 12,4 0,099 222,8 134 Ano de 2007 Garrote pasto verão 15,2 0,203 455,2 108 Garrote pasto inverno 9,2-276,6 125 Garrote Confinamento 11,9 0,108 356,7 129 Desmamado pasto inverno 2,9-54,6 61 Desmamado pasto novo 1,9 0,157 35,8 63 Desmamado pasto inv. e novo 11,5 0,105 218,8 95 Ano de 2008 Garrote pasto verão 22,6 0,639 429,8 164 Garrote pasto inverno 2,4 0,636 76,3 159 Garrote pasto inverno 11,1 0,227 311,2 157 Garrote Confinamento 10,3 0,152 287,5 160 Desmamado pasto verão 15,1 0,314 313,0 162 Desmamado pasto inverno 3,8 0,491 75,5 66 Desmamado pasto novo 2,2 0,093 42,6 75 Desmamado pasto inv. e novo 10,1 0,350 191,6 86 Apesar do aumento na produção de metano anual de 28,4, 66,6 e 82,3 kg/hectare, a produção média de metano em gramas por animal por dia foi de 104 gramas nos anos de 2006 e 2007 e de 123 gramas de metano por animal por dia no ano de 2008 (Tabela 4). Este aumento é em parte devido ao menor desempenho dos animais em confinamento, assim como também pelo menor desempenho dos garrotes a pasto no período de verão e de inverno de 2008. Da mesma forma, a produção de metano anual, por quilo de peso vivo ganho, aumentou de 0,160 para 0,178 e 0,278 quilos, respectivamente para os anos de 2006, 2007 e 2008. Proporcionalmente, este aumento do ano de 2006 para o ano de 2008 de 73,6%, foi maior que o aumento em gramas por animal por dia de 18,3%. Verifica-se assim que o aumento na produção de carne resultou em aumento na emissão de metano total, mas, por quilograma de carne produzida o aumento foi muito menor, indicando, portanto que a intensificação de sistemas de produção de carne pode diminuir a produção de metano por quilo de carne produzida. Os animais que obtiveram maior média de ganho de peso vivo diário produziram menor quantidade de metano. A Figura 1 ilustra esta relação linear inversa entre missão de metano (kg CH 4 ) por ganho de peso vivo (kg por dia). Estes dados demonstram que a utilização de animais capazes de apresentar melhores ganhos diários de peso vivo, tanto a pasto como em confinamento, aliado a um sistema de produção mais produtivo (semi-intensivo, intensivo ou SILP), pode ser eficiente tanto econômica quanto ambientalmente sem alterar significativamente a taxa de emissão de metano, comparativamente ao sistema extensivo.

Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP 5 Pedreira et al. (2004), estudando a emissão do gás metano em bovinos machos mestiços consumindo dieta exclusiva de silagem de sorgo e com 30% e 60% de concentrado, obtiveram valores de 125, 149 e 140 g/animal/dia, respectivamente. Neste experimento, a média ponderada das emissões de metano dos animais criados exclusivamente a pasto (Tabela 3), foram de 92, 99 e 119 g/animal/dia, enquanto que nos animais em confinamento, recebendo silagem de milho ou de sorgo, na proporção de 50% da dieta na matéria seca, a emissão de metano foi de 135, 129 e 160 g/animal por dia, respectivamente nos anos 2006, 2007 e 2008. Tabela 4. Ganhos de peso vivo (total e por hectare) e produção de metano (total, diária e média por kg de ganho), nos anos de 2006, 2007 e 2008. Período Ganho de pv Produtividade kg CH 4 kg CH 4 / kg CH 4 / Prod. CH 4 kg CH 4 /ano total (kg) kg de pv/ha total hectare kg p.v. ganho g/animal/dia estimada 2006 3.723 177 595,6 28,4 0,160 0,104 38,0 2007 7.854 374 1397,7 66,6 0,178 0,104 38,0 2008 6.221 296 1730,7 82,3 0,278 0,123 48,5 Os valores médios da emissão de gás metano (Tabela 4), nos anos de 2006 e 2007 foram menores (104 g/animal/dia) que os relatados por Johnson & Johnson (1995) em estimativas para gado de corte (164 a 194 g/animal/dia) e gado de leite (298 a 345 g/animal/dia). No ano de 2008, o valor de 123 g/animal/ dia foi próximo ao limite máximo observado por Johnson & Johnson (1995). Primavesi et al. (2004), avaliando a produção de metano no rúmen de gado leiteiro em pastagens de Pannicum maximum, observaram valores da emissão do gás de 198 a 222 g/dia em novilhas, 403 g/dia em vacas em lactação e 278 g/dia em vacas nãolactantes. Estima-se que no Brasil as emissões de metano de animais em sistema de pastagem, produzam 54 kg de metano/ animal/ano (CRUTZEN et al., 1986). Neste sistema de ILP a emissão de metano por animal por ano foi estimada pela média ponderada das emissões de metano, em g/animal/dia, dos animais criados exclusivamente a pasto, e foram de 34, 36 e 43 kg/animal/ano, respectivamente para os anos de 2006, 2007 e 2008, com valor médio dos 3 anos de 39 kg de CH 4 /animal/ano. Esse fato mostra que boa oferta de pasto, suficiente para permitir aos animais o rápido e pleno atendimento das suas necessidades nutricionais, constitui uma forma de redução de perdas de energia na forma de metano. Os resultados mostraram também que a emissão de metano por kg de ganho de peso vivo foi maior para os animais a pasto (0,276) do que os confinados (0,120), com redução de 56,5% devido ao maior ganho de peso diário obtido. Os animais que obtiveram maior média de ganho de peso vivo diário produziram menor quantidade de metano (kg CH 4 /kg pv ganho). 0,7 Emissão metano (kg CH 4) 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 y = -0,0319x + 0,5249 r = 0,754* 0,1 0,0 0,13 0,18 0,25 0,25 0,26 0,39 0,40 0,52 0,53 0,69 0,80 0,90 1,06 1,20 1,36 Ganho Peso vivo (kg por dia) Figura 1. Emissão de metano (g CH 4 ) por ganho de peso vivo (kg/dia).

6 Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP Os resultados indicam que o manejo alimentar adequado pode reduzir a emissão de metano entérico, porém outras estratégias para alimentação de bovinos de corte devem ser investigadas, considerando-se condições pedoclimáticas específicas, e estrutura socioeconômica e infraestrutura característica de cada região. Uma opção seria a melhoria da digestão fermentativa no rúmen, que pode ser obtida por dietas contendo uréia e proteínas, além do fornecimento equilibrado de nutrientes vitais. No Brasil, como a maior parte do rebanho provém de áreas de pastagem extensiva, as emissões de metano são altas, porém poderiam ser reduzidas com a suplementação alimentar de gado a pasto. Outras práticas que também poderiam contribuir com a mitigação das emissões de metano na atividade pecuária estão relacionadas ao aumento da produtividade animal, por meio da suplementação alimentar, controle de zoonoses e doenças, melhoramento genético, melhoramento das taxas de reprodução e de intervalos entre partos. Conclusões Os resultados indicaram que: O sistema de integração lavoura-pecuária forneceu alimento em quantidade e qualidade adequadas e aumentou a produtividade animal. A intensificação da produção de carne pode diminuir a produção de metano por quilo de carne produzida. Animais com melhor desempenho, tanto a pasto como em confinamento, aliado a um sistema de produção mais intensivo, mantiveram a emissão de metano (g/animal/dia) a níveis semelhantes ao sistema extensivo com pasto de capimbraquiária degradado. Agradecimentos À Bunge Fertilizantes pelo apoio no desenvolvimento deste projeto. Literatura citada BERNARDI, A. C. de C.; VINHOLIS, M. de M. B.; BARBOSA, P. F.; ESTEVES, S. N. Renovação de pastagem e terminação de bovinos jovens em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP: resultados de 3 anos de avaliações. São Carlos, SP: Embrapa Pecuária Sudeste, 2009. (Boletim de Pesquisa & Desenvolvimento / Embrapa Pecuária Sudeste; 24). 23p. COTTON, W. R.; PIELKE, R. A. Human impacts on weather and climate, Cambridge: Cambridge University Press, 1995. 288p. CRUTZEN, P. J.; ASELMANN, I.; SEILER, W. Methane production by domestic animals, wild ruminants and other herbivorous fauna and humans, Tellus, Boston, v. 38B, p. 271-274, 1986. DEMARCHI, J. J. A. A.; MANELLA, M. Q.; LOURENÇO, A. J.; ALLEONI, G. F.; FRIGHETTO, R. S.; PRIMAVESI, O.; LIMA, M. A. Daily methane emission at different seasons of the year by Nellore cattle in Brazil grazing Brachiaria brizantha cv. Marandu. Preliminary results. In: WORLD CONFERENCE ON ANIMAL PRODUCTION, 9., 26-31/10/2003, Porto Alegre RS, Brazil. Proceedings. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Zootecnia/ World Association of Animal Production, 2003a. CD-Rom: Session Ruminant Nutrition, 3p. DEMARCHI, J. J. A. A.; MANELLA, M. Q.; LOURENÇO, A. J.; ALLEONI, G. F.; FRIGHETO, R. T. S.; PRIMAVESI, O.; LIMA, M. A. Preliminary results on methane emissions by Nelore cattle in Brazil grazing Brachiaria brizantha cv. Marandu. In: INTERNATIONAL METHANE AND NITROUS OXIDE MITIGATION CONFERENCE, 3rd., 2003b, Beijing. Proceedings... 2003b. p. 80-84. IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories. Chapter 10: Emissions from livestock and Manure Management. 2006. p. 10.1-10.84. JOHNSON, K.A.; JOHNSON, D.E. Methane emissions from cattle. Journal of Animal Science, v. 73, p.2 483-2492, 1995.

Estimativas da emissão de metano por bovinos criados em sistema de integração lavoura-pecuária em São Carlos, SP 7 KLUTHCOUSKI, J.; AIDAR, H. Uso da integração lavoura-pecuária na recuperação de pastagens degradadas. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F.; AIDAR, H. (Eds.). Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. p. 183-225. LIMA, M.A. Agropecuária brasileira e as mudanças climáticas globais: caracterização do problema, oportunidades e desafios. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v.19, p. 451-472, 2002. LIMA, M.A.; DEMARCHI, J. J. A. A. Emissão de metano pela pecuária ruminante: quantificação e estratégias de mitigação. Feed & Food, ano II, nº. 07, março/abril, p. 66-68, 2007. NASCIMENTO, C.F.M. Emissão de metano por bovinos Nelore ingerindo Brachiaria brizantha em diferentes estádios de maturação. 2007. 65f. Tese (Dissertação de mestrado, Nutrição e Produção Animal) FMVZ, USP, Pirassununga, 2007. PEDREIRA, M. dos S.; BERCHIELLI, T. T.; OLIVEIRA, S. G. de; PRIMAVESI, O.; LIMA, M. A.; FRIGHETTO, R. Produção de metano e concentração de ácidos gráxos voláteis ruminal em bovinos alimentados com diferentes relações de volumoso: concentrado. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande, MS. Anais... Campo Grande: SBZ, 2004. 5 f. 1 CD-ROM. PRIMAVESI, O.; DEMARCHI, J.J.A.A.; LIMA, M.A.; PEDREIRA, M.S.; FRIGHETTO, R.T.S.; BERCHIELLI, T.T.; BERNDT, A.; MANELLA, M.Q. Produção de gases de efeito estufa em sistemas agropecuários: bases para inventário de emissões de metano por ruminantes. Brasília: Embrapa/SCT (no prelo). PRIMAVESI, O.; FRIGHETTO, R. T. S.; PEDREIRA, M. dos S.; LIMA, M. A. de; BERCHIELLI, T. T.; BARBOSA, P. F. Metano entérico de bovinos leiteiros em condições tropicais brasileiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 39, p. 277-283, 2004. USEPA. Evaluation ruminant livestock efficiency projects and programs: peer review draft. Washington: United States Environmental Protection Agency, 2000. 48p. VILELA, L.; MARTHA JR., G.B.; BARIONI, L.G.; BARCELLOS, A.O.; ANDRADE, R.P. Pasture degradation and long-term sustainability of beef cattle systems in the Brazilian Cerrado. Discussion draft presented at the Symposium Cerrado Land- Use and Conservation: Assessing Trade-Offs Between Human and Ecological Needs. XIX Annual Meeting of the Society for Conservation Biology Conservation Biology Capacity Building & Practice in a Globalized World, Brasília, Brazil. 15-19 July 2005. Circular Técnica, 65 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Pecuária Sudeste Endereço: Rod. Washington Luis, km 234, São Carlos, SP Fone: (16) 3411-5600 Fax: (16) 3361-5754 Endereço Eletrônico: sac@cppse.embrapa.br 1 a edição on-line (2010) Comitê de publicações Expediente Presidente: Ana Rita de Araujo Nogueira. Secretário-Executivo: Maria Luiza F. Nicodemo. Membros: Ane Lisye F.G. Silvestre, Maria Cristina Campanelli Brito, Milena Ambrósio Telles, Sônia Borges de Alencar. Revisão de texto: Milena Ambrosio Telles. Editoração eletrônica: Maria Cristina C. Brito. Apoio: