Diagnóstico das Propriedades Rurais em Busca da Qualidade na Produção Leiteira

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Transcrição:

Diagnóstico das Propriedades Rurais em Busca da Qualidade na Produção Leiteira Ana Claudia Burgermeister Campos (UFSM) aburgermeister@hotmail.com Rosane Coradini Noal (UFSM) rosaneusina@smail.ufsm.br Leoni Pentiado Godoy (UFSM) leoni_godoy@yahoo.com.br Ângela Pellegrini Ansuj (UFSM) angelaansuj@yahoo.com Resumo: Este trabalho tem por finalidade realizar um diagnóstico nas propriedades rurais dos associados da Cooperativa dos Produtores de Leite, de Santa Maria/RS, a fim de verificar se os mesmos estão atendendo à Instrução Normativa nº 51. A pesquisa foi realizada com 62 produtores de leite, pertencentes à Cooperativa. A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de um questionário, envolvendo questões sobre a sala de ordenha, obtenção da matéria-prima, armazenamento e transporte. Para a análise dos dados, utilizou - se a estatística descritiva. Os resultados mostraram que há necessidade de adequações, na maioria das propriedades pesquisadas, pois essas não atendem às determinações da Normativa. Verificou-se, também, a necessidade da participação, mais efetiva, das entidades públicas, na melhoria das estradas e suas sinalizações, manutenção de energia e a disponibilização de empréstimos para os pequenos produtores. Palavras-chave: Qualidade na produção do leite; Propriedade rural; Legislação. 1. Introdução Mundialmente, a indústria leiteira atravessa um período de intensas transformações em sua estrutura, como: a diminuição dos preços pagos ao produtor; a redução de subsídios; o aumento do módulo de produção e, principalmente, o aumento nas exigências da qualidade do leite (SANTOS & FONSECA, 2002). Segundo Portugal (2001), as indústrias procuram, cada vez mais, aliar preço à qualidade dos produtos que estão fabricando, tendo, muitas vezes, produtos melhores com custo menor. Portanto, para chegar a esse ponto, a indústria depende, freqüentemente, de vários aspectos, como: rigorosas regras de higiene pessoal, e limpeza do local de trabalho; controle de qualidade da matéria prima; controle de qualidade dos insumos e controle de qualidade do processamento. O processo de busca da melhor qualidade do leite vai desde a propriedade rural até a mesa do consumidor final. Para garantir a qualidade, e a conformidade das especificações dos produtos, é fundamental capacitar os produtores e seus colaboradores. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento instituiu a Instrução Normativa nº 51/2002 (IN 51), que trata dos regulamentos técnicos, condições e requisitos mínimos de higiene-sanitária, para a obtenção e coleta da matéria-prima, produção e comercialização, para o aumento dos níveis da qualidade do leite. A finalidade dessa Normativa é fixar as condições sob as quais o leite cru, refrigerado, independentemente do seu tipo, deve ser coletado na propriedade rural e transportado a granel, visando promover a redução geral de custos de obtenção e, principalmente, a conservação de sua qualidade, até a recepção em estabelecimento submetido à inspeção sanitária oficial. Descreve, também, o procedimento da coleta de leite cru, refrigerado, a granel, que consiste em recolher o produto em caminhões com tanques isotérmicos, construídos internamente de aço inoxidável. A transferência do produto dá-se através de um mangote flexível e da bomba sanitária, acionada pela energia elétrica da propriedade rural, pelo sistema de transmissão, ou caixa de câmbio, do próprio caminhão, diretamente do tanque de refrigeração, por expansão direta, ou dos latões contidos nos refrigeradores de imersão (BRASIL, 2002). Este trabalho propõe-se realizar um 1

diagnóstico nas propriedades rurais dos associados da Cooperativa dos Produtores de Leite de Santa Maria/RS, com o intuito de verificar se as propriedades rurais estão atendendo as regras instituídas pela IN 51/2002. 2. Legislação A maioria das propriedades rurais não possui infra-estrutura e tecnologia apropriada. Além disso, há dificuldade de acesso dos meios de transporte às propriedades produtoras, devido à precariedade das estradas, dificultando o processo logístico para a coleta e o transporte do leite. Nas propriedades rurais, a sala de ordenha é destinada à coleta do leite, cru, que tem, por finalidade proteger a saúde do consumidor mediante controle sanitário da produção e da comercialização (ZYLBERSZTAJN, 2003). Para Chaves, apud Ansuj (2000), a qualidade e produtividade do leite dependem: - antes da ordenha - de cuidados com os fatores de produção na seleção genética e manejo do rebanho; - após a ordenha - das condições das instalações onde acontece a ordenha; do conhecimento das técnicas operacionais, e da consciência da qualidade e motivação do pessoal envolvido na operação; - na plataforma de recepção - das condições operacionais; do manejo do produto pós-ordenha; transporte e condições de transporte; - leite e derivados, após o processamento - das condições da matéria-prima; dos insumos da produção na indústria, do layout da indústria; dos controles da instalação industrial; da qualidade da água e das condições dos equipamentos e materiais utilizados; - na mesa do consumidor - do manejo e controles realizados, pós-processamento; das condições de conservação do produto; das condições de transporte; dos entrepostos atacadistas; do mercado varejista e da conservação domiciliar. De acordo com Pivaro (2005) para melhorar a qualidade da produção leiteira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em 2002, institui a Instrução Normativa nº 51, que representa um grande avanço nesse setor, e entrando em vigor a partir de 2006. Com as novas orientações, os produtores, as indústrias de lácteos e, principalmente, os consumidores obtiveram grandes benefícios. Várias foram as mudanças introduzidas pela Normativa, entre elas: 2.1. Sala de Ordenha Conforme Bohrer (2003), para preservar a qualidade do leite, o ambiente da ordenha deve apresentar cuidados fundamentais. O ordenhador possuir bons hábitos de higiene e manter a rotina da ordenha, isto é, deve fazer a higiene cuidadosa da sala, eliminando crostas, retirando detritos, desinfetando o local, usar roupas apropriadas e limpas, não cuspir, não fumar, conhecer as características de cada animal, evitar a entrada de pessoas estranhas, tornar o ambiente calmo, organizar e facilitar o trabalho, tendo os utensílios e equipamentos à mão e funcionando eficazmente, para não causar ferimentos ao animal. Os locais de ordenha devem ser de fácil acesso para os animais, evitando rampas, lodo, ou caminhos pavimentados com pedras. 2.2 Obtenção da matéria-prima O Regulamento Técnico, sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação de 1997, estabelece preceitos para a obtenção do leite cru, refrigerado, nas propriedades rurais e nos estabelecimentos Elaboradores/Industrializadores de Alimentos, 2

abrangendo a localização e adequação dos currais à finalidade; condições gerais das edificações (área coberta, piso, paredes ou equivalentes), relativas à prevenção de contaminações; controle de pragas; água de abastecimento; eliminação de resíduos orgânicos; rotina de trabalho e procedimentos gerais de manipulação; equipamentos, vasilhame e utensílios; proteção contra a contaminação da matéria-prima; acondicionamento, refrigeração, estocagem e transporte (Brasil, 2002). 2.3 Armazenamento Para o armazenamento do leite, deve haver um local próprio e específico para a instalação do tanque de refrigeração e armazenagem do produto, mantido sob condições adequadas de limpeza e higiene. Os equipamentos de refrigeração devem ter capacidade mínima para armazenar a produção, de acordo com a estratégia de coleta. Para tanques de refrigeração por expansão direta, o mesmo deve ser dimensionado de forma que permita refrigerar o leite a uma temperatura igual ou inferior a 4ºC (quatro graus Celsius), por um período de, no máximo, três (3) horas, logo após o término da ordenha. Para tanques de refrigeração por imersão, este deve ser dimensionado de forma que permita refrigerar o leite a uma temperatura igual ou inferior a 7ºC (sete graus Celsius), por um período máximo de três (3) horas, logo após o término da ordenha. Para tanques comunitários, é permitido o uso coletivo de refrigeração a granel, desde que baseados no princípio de operação por expansão direta. A localização do equipamento deve ser estratégica, facilitando a entrega do leite após a ordenha (BRASIL, 2002). 2.4. Transporte O processo de coleta de leite cru, refrigerado, a granel, consiste em recolher o produto em caminhões com tanques isotérmicos, construídos internamente de aço inoxidável, utilizandose de mangote flexível e da bomba sanitária, acionada pela energia elétrica da propriedade rural, pelo sistema de transmissão ou caixa de câmbio do próprio caminhão, diretamente do tanque de refrigeração por expansão direta ou dos latões contidos nos refrigeradores de imersão (BRASIL, 2002). 3. Metodologia Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, junto aos produtores de leite associados à Cooperativa dos Produtores de Leite, no município de Santa Maria, região central do Estado do Rio Grande do Sul. Segundo Gil (2001, ps. 72,73), o estudo de caso é um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamentos considerados. Para Yin (1981, p.22), o estudo de caso pode, pois, ser utilizado tanto em pesquisas exploratórias quanto descritivas e explicativas. A pesquisa envolveu 62 produtores de leite, pertencentes à Cooperativa. Para a coleta dos dados, utilizou-se um questionário composto de 16 questões fechadas, envolvendo a caracterização da propriedade rural, infraestrutura externa e interna. O questionário foi aplicado no mês de julho de 2005. Os dados foram analisados com base na estatística descritiva. 4. Resultados 3

4.1. Caracterização da propriedade rural, quanto à infra-estrutura externa As condições das estradas de acesso entre a propriedade e a cidade, podem ser visualizadas na Figura 1. 16% 29% Bom Razoável Ruim 55% Figura 1 Condições de acesso entre a propriedade e a cidade. Observa-se que 55% das estradas, que dão acesso às propriedades, apresentam condições razoáveis, e em apenas 29% são boas. Esses dados mostram que há necessidade de investimentos neste setor. A Figura 2 mostra a existência de sinalização nestas áreas. 3% 47% respondeu 50% Figura 2 Existência de sinalização nas estradas de acesso entre a propriedade e a cidade. Em 50% das estradas de acesso não existe sinalização, existindo em 47% das estradas. Esses dados evidenciam haver falta de segurança. A Figura 3 representa as condições de conservação dessa sinalização. 4

26% 18% Bom Razoável Ruim respondeu 26% 30% Figura 3 Estado de conservação da sinalização da estrada de acesso entre a propriedade e a cidade. Das que possuem sinalização, a maioria dos produtores respondeu que são razoáveis ou ruins. A Figura 4 mostra o tipo de pavimentação existente na estrada, de acesso, entre a propriedade e a cidade. Asfalto 3% 8% 2% 3% 43% Calçamento Chão batido Asfalto/calçamento Asfalto/chão batido Chão batido sem condições respondeu 39% 2% Figura 4 Tipo de pavimentação da estrada de acesso entre a propriedade e a cidade. O tipo de pavimentação predominante é o asfalto (43%), porém, em 39% o pavimento é chão batido. 4.2. Caracterização da propriedade rural quanto à infra-estrutura interna As características da propriedade de acordo com os produtores de leite pesquisados estão descritas na Figura 5. 5

6% 6% 5% 2% Própria Arrendada Outra Própria/arrendada 81% respondeu Figura 5 Características da propriedade rural A maioria, 81%, é proprietário da área de produção do leite. Dos entrevistados, 100%, possui energia elétrica. Esse fator é importante para o armazenamento e conservação do leite. Na Figura 6, pode ser visualizado se a energia elétrica atende às necessidades da propriedade. 6% 94% Figura 6 A energia atende as necessidades da propriedade Em 94% das propriedades a energia elétrica atende às necessidades. A Figura 7 apresenta as informações sobre a sala de ordenha, quanto à existência de cobertura. 3% 3% 94% Figura 7 Sala de ordenha coberta. 6

Observe-se que, em 94% das propriedades as salas de ordenha possuem cobertura, o que atende à Normativa. A Figura 8 mostra o tipo de piso utilizado na sala de ordenha. 10% 40% 50% Figura 8 Sala de ordenha com piso. Os dados evidenciam que 50% das salas de ordenha não possuem piso. Isso mostra que, as salas de ordenha devem adequar-se à Normativa. A existência de água, na sala de ordenha, pode ser visualizada na Figura 9. 16% 5% 79% Figura 9 Sala de ordenha com água encanada. Pode-se observar que a maioria (79%) das salas de ordenha possui água encanada. A Figura 10 mostra o tipo de ordenha adotado. 26% 8% Manual Mecânica 66% 7

Figura 10 Tipo de ordenha. Verifica-se que 66%, dos produtores, utilizam o sistema de ordenha manual. Contudo, a forma da ordenha não interfere na qualidade do leite, pois Reis et al (2004) afirmam que a obtenção de boa qualidade pode ser atingida por ordenha manual, ou mecânica, sendo mais importante a condução do sistema de ordenha como um todo, e não o tipo de ordenha realizado. A Figura 11 apresenta o tipo de equipamento utilizado para armazenar o leite, na propriedade. 19% 5% Freezer Resfriador de imersão 76% Figura 11 Equipamento utilizado para resfriamento do leite. Percebe-se que 76% dos respondentes utiliza o freezer como resfriador, e 19,35% o resfriador de imersão de tarros. Esses dados demonstram dificuldades de adequação à Norma. A Figura 12 apresenta as informações sobre a localização dos equipamentos de frio, nas propriedades. 2% 3% 11% 24% Sala de ordenha Galpão Casa Sala do leite 60% Figura 12 Localização do equipamento de frio. Observe-se que a maioria dos proprietários possui o equipamento para resfriamento do leite em suas casas. Apenas uma minoria possui a sala do leite. Isso inviabiliza a coleta a granel do produto. A Figura 13 mostra a facilidade de acesso do caminhão transportador ao setor de frio. 8

28% 6% 66% Figura 13 Facilidade do acesso do caminhão transportador ao leite armazenado. Em relação à facilidade do acesso do caminhão transportador, ao leite armazenado, na propriedade, 66,13% informou ser fácil. 6. Conclusão O estudo mostrou que as propriedades são de difícil acesso para o recolhimento do leite a granel, no que tange à pavimentação e sinalização. As salas de ordenha não se apresentam conforme a IN 51, embora várias delas possuam água, não apresentam piso. Quanto ao tipo de ordenha, a maioria utiliza o sistema manual. Quanto ao resfriamento do leite, a maioria possui freezer, o que não é a recomendação da IN 51. A localização do equipamento encontra-se na casa do proprietário, que, na opinião dos mesmos, não dificulta o acesso do caminhão transportador. Isso contradiz o previsto na Normativa. Diante disso, para atender às exigências da IN 51, uma vez que a maioria dos produtores são proprietários, recomenda-se que sejam feitas instalações simples, eficientes e higiênicas, com piso, cobertura, água encanada e com acesso para o caminhão transportador para recolhimento do leite. Recomenda-se, ainda, a aquisição de tanques comunitários, ou a adaptação do freezer, já existente na propriedade, para resfriador de imersão, com a utilização de revestimento interno em lâminas de aço inoxidável, ou folhas de flandres. Sugere-se, também, que sejam procuradas autoridades governamentais para melhoria das estradas, sinalizações, manutenção do fornecimento de energia, disponibilização de recursos para aquisição de tanques de resfriamento comunitários e adaptações dos locais de ordenha e resfriadores, conforme a nova legislação. 9. Bibliografia ANSUJ, A. P. Melhoramento da qualidade de um processo de produção contínua utilizando técnicas estatísticas e os métodos taguchi. 2000.128f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2000. BARSZCZ, J.C & LIMA, I. A. A qualidade do leite com base na contagem de células somáticas e na Instrução Normativa nº51: Um estudo de caso da indústria Lactobom e seus produtores. Encontro Nacional de Engenharia de Produção. 25. Porto Alegre RS. Anais em CD Room. BOHRER, O.L.M. Manejo da ordenha e qualidade do leite, Porto Alegre: SENAR/AR-RS, 2003. BRASIL - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n 51, de 18 de setembro, 2002. BURG, G. & NOAL, R.M.C. Avaliação do processo da coleta e transporte do leite, em propriedades rurais, na região central do Rio Grande do Sul, em conformidade com as exigências da Instrução Normativa 51/2002. Encontro Nacional de Engenharia de Produção. 25. Porto Alegre, RS. Anais em CD Room. 9

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1995. PIVARO, J. Novas normas para um produto melhorar. Revista Indústria de Laticínios. São Paulo, n 55, p.32 34, 2005. PORTUGAL, J.A.B. (Coord.) O agronegócio do leite e os alimentos láteos funcionais. Juiz de Fora, EPAMIG ILCT, JUL. 2001. REIS, G.L. et al. Efeito do tipo de ordenha sobre a qualidade do leite. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, Juiz de Fora, Vol. 59, n. 339, p. 243 246,2004. SANTOS, M.V. FONSECA, L.F. Qualidade microbiológica do leite e métodos de análise. In: 2 CURSO online Qualidade do leite. São Paulo:[s.n.], 2002b. CD-ROM YIN, R. K. Estudo de caso: Planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001. ZYLBERSZTAJN, D. (Coord.) Gestão da qualidade no agrobusiness. São Paulo: Atlas, 2003. 10