O LÚDICO NA APRENDIZAGEM: APREENDER E APRENDER 1



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Transcrição:

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM: APREENDER E APRENDER 1 Cibele Lemes Pinto * Helenice Maria Tavares ** Resumo A utilização do lúdico como prática pedagógica garante uma aprendizagem significativa para as crianças com dificuldade de aprendizagem? O objetivo deste artigo é apontar o lúdico como proposta pedagógica para ser trabalhado com crianças em sala de aula, aprofundando sobre as dificuldades de aprendizagem e apontando para a necessidade de tornar as aulas mais prazerosas. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, verificando que é fundamental compreender a atividade lúdica para usá-la como recurso pedagógico, pois de posse desse conhecimento o professor poderá intervir de maneira efetiva no processo de aquisição de conhecimento e na busca de subsídios que atendam as reais necessidades de seus alunos com dificuldades de aprendizagem. Palavras- chave: Lúdico. Interação. Dificuldades de Aprendizagem. Ensino Fundamental. Mediante a falta de interesse que muitas crianças têm em aprender e com isso, podendo ocasionar dificuldades de aprendizagem, levantou se o questionamento sobre a utilização do lúdico como prática pedagógica e possível garantia de uma aprendizagem mais significativa para essas mesmas crianças? A finalidade deste trabalho é apontar a importância do lúdico como proposta pedagógica, pois a criança só aprende o que lhe dá prazer e aprofundar os estudos sobre as dificuldades de aprendizagem torna-se necessário para a discussão em referência. Assim, buscando compreender a função do lúdico como recurso pedagógico, a metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica, recurso para investigar indagações e examinar materiais elaborados de pessoas que já estudaram antes temas desta natureza. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituindo principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (GIL, 1999, p. 65) A Lei de Diretrizes e Bases - LDB consolida e amplia o dever do poder público para com a educação em geral e em particular para com o Ensino fundamental, assegurando a todos a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e lhes fornecer meios 1 Trabalho apresentado como requisito parcial parta conclusão do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. * Graduanda em Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. Email: cibelpinto@yahoo.com.br. ** Professora orientadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. Email: tavareshm@netsite.com.br Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 226

para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Conferindo, assim, ao ensino fundamental um caráter de terminalidade e de continuidade. ( BRASIL,1996) Logo, é muito importante conhecer a LDB, para se apropriar de um estudo mais cabal sobre o que a lei diz referente ao ensino fundamental. O Brasil está avançando em direção à democratização do acesso e permanência dos alunos no Ensino Fundamental. Um exemplo disso é que 97% das crianças estão na escola. Avalia-se que o modelo educacional vigente não provocou mudanças efetivas de comportamento para construir uma cidadania solidária, responsável e comprometida com o país e com seu futuro. A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIl, 1996, p.2) De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases - LDB seção III artigos 32º, 33º, 34º, o ensino fundamental tem duração de oito anos, é obrigatório e gratuito na escola e o objetivo é a formação básica do cidadão, cujo aluno deve desenvolver o pleno domínio da leitura, escrita e cálculos, compreender o ambiente natural, social e político, adquirir conhecimentos, habilidades e formar valores. ( BRASIL,1996) A criança como todo ser, é um sujeito social, histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura em um determinado momento histórico. Conforme o Plano Nacional de Educação PNL, a determinação legal do Ensino fundamental é de, Implantar progressivamente o ensino fundamental de nove anos, pela inclusão das crianças de seis anos de idade, tem duas intenções oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos alcançando maior nível de escolaridade (BRASIL, 2001, p.21 ) Um tempo maior de escolaridade obrigatória representa uma ampliação das possibilidades da criança aprender e interagir com parceiros da mesma idade e com outros mais experientes. O ensino regular será ministrado em língua portuguesa e cabe à comunidade indígena o direito de utilização de sua própria língua e processos próprios de aprendizagem. A jornada escolar no ensino fundamental e regular inclui pelo menos quatro horas de trabalho em sala de aula, podendo ser ampliado o período de permanência na escola. Além disso, o ensino religioso é facultativo no Fundamental. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 227

Desde o início de sua vida, a criança apresenta ritmos e maneiras diferentes para andar, falar, brincar, comer, ler e escrever. Pode se dizer que a educação deve ser voltada para tais perspectivas, pois o ser humano é um ser de múltiplas dimensões, com ritmos diferentes e o seu desenvolvimento é um processo contínuo. Considerar as especificidades de cada faixa etária das crianças significa reconhecê-las como cidadãs, possuidoras de direitos e deveres, entre eles a educação pública e de qualidade. Nóvoa (1995) ressalta que a escola tem de ser encarada como uma comunidade educativa, permitindo mobilizar o conjunto dos atores sociais e dos grupos profissionais em torno de um projeto comum. O que se vê é que o aluno não problematiza, não questiona, só recebe e acomoda o conhecimento passado, desvinculado da realidade em que vive. O conhecimento se dá nas relações sujeito- objeto- realidade com a mediação do professor. Conhecer o funcionamento cognitivo e a capacidade de planejar as atividades que são realizadas, controlar suas execuções e avaliar seus resultados para detectar erros, modificar a atuação, conhecer as suas peculiaridades e o potencial é de grande relevância para o aprendizado do aluno. A importância da aprendizagem varia de uma espécie para a outra. Os animais, por exemplo, aprendem de maneira lenta, já o homem possui a capacidade de tirar proveito de tudo o que aprende, tem ações e reações, que iniciam até antes do seu nascimento e se desenvolvem pela aprendizagem. O homem se afirma como ser racional, formando, assim, a sua personalidade. Ocorrida a aprendizagem, pode haver mudanças no comportamento daquele que aprende, no agir, no fazer. Os produtos da aprendizagem são agrupados em automatismos em que predominam os elementos motores, cognitivos, afetivos ou apreciativos. Coll (1997) diz que, a análise de qualquer processo de aprendizagem precisa levar em conta todos os fatores e as possíveis interações que podem ser estabelecidas entre eles, fatores que são atividades, características e natureza. Segundo Coelho (2002, p.11), a aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o individuo já maturo, diante de uma situação problema sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência. É comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente a fenômenos que ocorrem na escola com o resultado do ensino. No entanto, aprendizagem abrange os Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 228

hábitos, aspectos de nossa vida afetiva, assimilação de valores culturais, funcionais e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo indivíduo no decorrer da vida e, também, ao sofrer interferências intelectual, psicomotor, físico e social. Para que a aprendizagem seja significativa é necessário que o indivíduo perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida. Isso envolvendo seu raciocínio, análise, imaginação, relacionamento entre ideias, coisas e acontecimentos. De acordo com Dockrell (2000, p.11) As dificuldades de aprendizagem afetam um número substancial de crianças em nossa sociedade. São heterogêneas, leves, moderadas, graves, de curta ou longa duração e as mesmas exigem avaliações e intervenções e uma teorização dos modelos do funcionamento cognitivo.. Segundo Dockrell (2000) deve se realizar uma avaliação, baseada nos resultados e desenvolver um programa de intervenção, isto levantará hipóteses sobre a base do problema. Assim, a maior preocupação é considerar de fato o que se sabe a respeito das demandas cognitivas de tarefas como linguagem, leitura, números e os problemas que as crianças com dificuldades de aprendizagem enfrentam. Dada a variedade de tipos de dificuldades de aprendizagem, é necessário considerar os modos como elas podem ser classificadas. De acordo com Dockrell, As dificuldades de aprendizagem podem ser classificadas de variadas formas, a mais relevante é relacionada à base cognitiva subjacente a uma dificuldade, pois a intervenção procura afetar o funcionamento cognitivo, a avaliação apresenta um perfil das potencialidades dentro dos domínios relevantes do funcionamento cognitivo. (2000, P. 15 ) Todas as crianças gostam de aprender e de fazer, e quando isto não ocorre é porque alguma coisa não está indo bem. É necessário que haja um questionamento sobre as causas das dificuldades escolares. De acordo com Morais (1986), a falta de estimulação adequada, métodos de ensino inadequados, problemas emocionais, falta de maturidade e dislexia, são causas de dificuldades na aprendizagem. Para Morais (1986), a partir do momento em que a criança começa a sentir dificuldades para acompanhar é necessário um diagnóstico para detectar as causas do não aprender, porque a criança que apresenta dificuldades de aprendizagem possui uma autoestima negativa que é decorrente de constante fracasso escolar. A valorização desta autoestima deve ser motivo de preocupação em todos os envolvidos no processo educacional, para o sucesso de sua aprendizagem. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 229

Para Simpson (1973), mesmo as crianças com dificuldades na leitura e escrita, podem desenvolver-se em outras áreas do conhecimento, As áreas de interesse da criança devem ser estimuladas para desenvolver sua autoestima. Crianças com dificuldade para ler e escrever, têm geralmente habilidades para a música, pintura, Matemática, Ciências e cabe ao professor reforçar, auxiliando a utilizar com meio de compensar suas limitações. (1973, p. 13) Portanto, esta valorização da autoimagem implica no desenvolvimento da autoestima necessária para que a criança se engaje novamente no processo de ensino e sinta prazer em aprender. Os problemas de aprendizagem podem ocorrer tanto no início como durante o período escolar. Esses problemas surgem em situações diferentes para cada aluno e requer investigações no campo em que elas se manifestam. Os sinais de dificuldade de aprendizagem surgem, geralmente, na época da alfabetização e à medida que o tempo vai passando, vão se evidenciando. A criança passa a ter dificuldade para ler, escrever, processar o raciocínio matemático, não consegue copiar do quadro, comete erros ortográficos, ninguém compreende a letra dele. Muitas vezes, é taxado de preguiçoso e irresponsável. Para Morais (1986), é importante que a família fique atenta a fim de identificar se a criança tem algum distúrbio como dislexia (dificuldade de leitura e escrita); Disortografia caracteriza-se pela incapacidade de escrever ortograficamente correto, disgrafia (problema na linguagem escrita); dislalia (distúrbio na fala); discalculia (afeta o raciocínio matemático). Portanto, é necessário avaliar as demandas do processo, da tarefa e a função do meio em relação às habilidades que a criança possui para desenvolvermos um modelo para a compreensão das dificuldades de aprendizagem para a interação da criança, tarefa na análise cognitiva das dificuldades de aprendizagem, para que seja uma avaliação confiável e válida. Segundo Rodrigues (1999), a concepção tradicional considera a criança como um recipiente vazio que deve o professor enchê-lo. A partir de 1930, desenvolve-se a questão interacionista representada pelo construtivismo. Sob esta ótica surge a importância do simbólico enquanto processo de aprendizagem, neste inclui-se o brinquedo. Brincar é natural e faz parte do desenvolvimento humano. O faz de conta mostra a realidade e são formas encontradas pela criança de assimilar, atuar e mudar, contribuindo para seu desenvolvimento psíquico. Conforme Winnicott (1995), o lúdico é considerado prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 230

É este aspecto de envolvimento emocional que torna uma atividade de forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Por meio do lúdico, a criança canaliza suas energias, vence suas dificuldades, modifica sua realidade, propicia condições de liberação da fantasia e a transforma em uma grande fonte de prazer. E isso não está apenas no ato de brincar, está no ato de ler, no apropriar-se da literatura como forma natural de descobrimento e compreensão do mundo, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. A ludicidade pode ser utilizada como forma de sondar, introduzir os conteúdos no ensino da Matemática, fundamentados nos interesses daquilo que pode levar o aluno a sentir satisfação em descobrir um caminho interessante no aprendizado. Com relação à socialização, as crianças exercem a liderança ou a passividade, desenvolvem a personalidade e o controle da mesma, exercício de competir e vencer é motivo, de orgulho e prazer, bem como age diretamente na cooperação do grupo e da participação coletiva. Portanto, o lúdico é uma ponte que auxilia na melhoria dos resultados por parte dos educadores interessados em promover mudanças. O lúdico é uma necessidade humana que proporciona a interação da criança com o ambiente em que vive, sendo considerado como meio de expressão e aprendizado. As atividades lúdicas possibilitam a incorporação de valores, o desenvolvimento cultural, assimilação de novos conhecimentos, o desenvolvimento da sociabilidade e da criatividade. Assim, a criança encontra o equilíbrio entre o real e o imaginário e tem a oportunidade de se desenvolver de maneira prazerosa. Atividades lúdicas criam um clima de entusiasmo, é este aspecto de envolvimento emocional que torna a ludicidade um forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Kishimoto diz: [...] no contexto cultural e biológico as atividades são livres, alegres e envolve uma significação. É de grande valora social, oferecendo possibilidades educacionais, pois, favorece o desenvolvimento corporal, estimula a vida psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo preparando para viver em sociedade, participando e questionando os pressupostos das relações sócias. (1994, p.13) Conforme Kishimoto (1994), o lúdico é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário, como um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança, um momento para observar a criança que expressa através dele sua Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 231

natureza psicológica e suas inclinações. Momento, esse, de aprender valores importantes, socialização e a internalização de conceitos de maneira significativa. O lúdico na sala de aula passa ser um espaço de reelaboração do conhecimento vivencial e constituído com o grupo ou individualmente. Sendo assim, a criança passa a ser a protagonista de sua história social, o sujeito da construção de sua identidade, buscando uma autoafirmação social, e dando continuidade nas suas ações e atitudes, possibilitando o despertar para aprender. Alguns profissionais desconsideram o lúdico como fator importante no processo ensino-aprendizagem. Por esse motivo não desenvolvem atividades lúdicas e mantêm a resistência ao dizer que o trabalho com a ludicidade acarreta desorganização. O professor deve organizar suas atividades para que sejam significativas para o aluno. Deve criar condições para um trabalho em grupo ou individual, facilitando seu desenvolvimento. Pois, é no lúdico que a criança tem a oportunidade de vivenciar regras, normas, transformar, recriar, aprender de acordo com suas necessidades, desenvolver seu raciocínio e sua linguagem. A ludicidade é portadora de um interesse recíproco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo, nos quais mobilizam esquemas mentais, ativando as funções psico- neurológicas e as operatórias - mentais estimulando o pensamento. Feijó aponta: Através do lúdico e de sua história são recuperados os modos e costumes das civilizações. As possibilidades que o ele oferece à criança são enormes: é capaz de revelar as contradições existentes entre a perspectiva adulta e a infantil quando da interpretação do brinquedo; travar contato com desafios, buscar saciar a curiosidade de tudo, conhecer; representar as práticas sociais, liberar riqueza do imaginário infantil; enfrentar e superar barreiras e condicionamentos, ofertar a criação, imaginação e fantasia, desenvolvimento afetivo e cognitivo. (1992, p.185) Uma postura lúdica não é necessariamente aquela que ensina conteúdos com jogos, mas na qual estejam presentes as características do lúdico, ou seja, no modo de ensinar do professor, na seleção de conteúdos e no papel do aluno. O professor reconhece a importância da ludicidade e tem uma postura ativa nas situações de ensino. O aluno, nessa situação, aparece como sujeito da aprendizagem, em que a espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas. Por meio de uma aula lúdica, o aluno é estimulado a desenvolver sua criatividade e não a produtividade. Sendo sujeito do processo pedagógico, no aluno é despertado o desejo do saber, a vontade de participar e a alegria da conquista. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 232

O lúdico desempenha um papel vital na aprendizagem, pois através desta prática o sujeito busca conhecimento do próprio corpo, resgata experiências pessoais, valores, conceitos, busca soluções diante dos problemas e tem a percepção de si mesmo como parte integrante no processo de construção de sua aprendizagem, que resulta numa nova dinâmica de ação, possibilitando uma construção significativa. O lúdico pode se caracterizar assim, o sentimento, os questionamentos, prática social, mediação professor/aluno, habilidades, autonomia, responsabilidades, senso crítico e aprimoramento de estruturas mentais, como atenção, percepção e raciocínio. Atividades lúdicas garantem uma aprendizagem significativa para a criança com dificuldades de aprendizagem, bem como o prazer, a socialização, o respeito, a individualidade. Pois, a criança estará aprendendo no seu ritmo, criando hipótese, chegando à conclusão e elaborando suas regras. Acertando e errando com seus próprios erros e retomando para acertar novamente. Assim, sua aprendizagem será significativa e levará consigo um aprendizado que nunca se esquecerá. Com isso, a criança será, também, um construtor do saber, privilegiando a criatividade, imaginação, por sua própria ligação com os fundamentos do prazer. Não comporta regras preestabelecidas, nem velhos caminhos trilhados, abre novos caminhos, vislumbrando outros possíveis. Com isso, observamos que o lúdico serve como uma forma para apresentar os conteúdos através de propostas metodológicas, fundamentada nos interesses daquilo que pode levar o aluno a sentir satisfação em descobrir um caminho interessante no aprendizado. A idéia de Alves (1987) sobre o lúdico está ancorada quando ele diz: O lúdico se baseia na atualidade, ocupa-se do aqui e do agora, não prepara para o futuro inexistente. Sendo o hoje a semente de qual germinará o amanhã, podemos dizer que o lúdico favorece a utopia, a construção do futuro a partir do presente. (p.22) É um processo contínuo e gradativo, pois o sujeito está em construção de sua identidade e autoafirmação social, que resultará em modificações significativas em seu comportamento, atitudes e ações, despertando, assim, o desejo de aprender, indispensável para o desenvolvimento do potencial de todas as pessoas. Desta maneira, as ações dos educadores devem ser efetivas neste processo, pois eles são fundamentais na melhoria dos níveis de desempenho dos alunos. Por meio da interação, muitos momentos prazerosos estarão presentes em sala de aula e possibilitarão uma aprendizagem mais dinâmica e sólida. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 233

CONSIDERAÇÕES FINAIS As atividades lúdicas exercem um papel importante na aprendizagem das crianças. Os professores atestam que é possível reunir dentro da mesma situação, o lúdico e o educar. É necessário que as escolas sensibilizem no sentido de desmistificar o papel do lúdico, que não é apenas um passatempo, mas sim uma ferramenta de grande valia na aprendizagem em geral, inclusive de conteúdos, pois propõe problemas, cria situações, assume condições na interação, responsável pelo desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo da criança. A importância do lúdico está nas possibilidades de aproximar a criança do conhecimento científico, levando-a a vivenciar, situações de solução de problemas. Assim, ela é colocada diante de atividades que lhe possibilitará conhecer a utilização de conhecimentos prévios para a construção de outros mais elaborados no futuro. A criança colocada diante de situações lúdicas apreende a estrutura dos conteúdos culturais e sociais. É educativo e tem como característica seu uso de modo intencional, sendo assim requer um plano de ação que permita a aprendizagem de conceitos de uma maneira geral. Nesta perspectiva, assume a finalidade de desenvolver habilidades, possibilitando ao aluno a oportunidade de estabelecer planos de ação para atingir objetivos, avaliar e obter resultados. O lúdico é ferramenta importante nas dificuldades de aprendizagem, pois a criança pode ser trabalhada na individualidade ou em grupos e ela mesma poderá sanar suas dúvidas e corrigir o que é de real dificuldade. Assim, ela passará a se conhecer melhor, criará estratégias para um melhor aprendizado, que será prazeroso e significativo. Tão importante em todas as fases da vida humana, possibilitando, assim a interação da criança com o mundo externo, formando conceitos, idéias, relações lógicas, socializando, absorvendo o indivíduo de acordo como seu ritmo e potencial. Referências ALVES, Rubem. A gestação do futuro. Campinas: Papirus, 1987. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. Lei n. 9394,20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC/SEF, 1996. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 234

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Plano Nacional de Educação. Lei n.10.172/2001. Brasília: MEC/SEF, 2001. COLL, C. et. al. Desenvolvimento psicológico e educação: Necessidades especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. COELHO, M. T. Problemas de aprendizagem. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002. DOCKRELL, J. et. al. Crianças com dificuldades de aprendizagem: Uma abordagem cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. FEIJO, O. G. O corpo e movimento: Uma psicologia para o esporte. Rio de Janeiro: Shape, 1992. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. JOSÉ, E. A.; COELHO, M. T. Desenvolvimento e aprendizagem. In Problemas de aprendizagem. São Paulo: Ática, 2004, cap.1, p. 9-12. KISHIMOTO, I. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994. MORAIS, A. M. P. Distúrbios da aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Edicon, 1986. NÓVOA, A. Para uma análise das instituições escolares.in: NÓVOA, A.(org). As organizações escolares em análise. Lisboa, Dom Quixote/inst. Inovoção Educacional,1995, p.35-36. RODRIGUES, M. F. S. Oficina criativa: Uma abordagem psicodinâmica com crianças e adolescentes. Texto e contexto, Florianópolis, v.8, p. 373-376, maio/ago. 1999. SIMPSON, D. M. Aprendendo a aprender. Curitiba: Cultrix, 1973 WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio d Janeiro: Imago, 1995. Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 226-235, 2010 catolicaonline.com.br/revistadacatolica 235