IDENTIFICAÇÃO DE FERRAMENTAS DE CONTROLE DOS PROJETOS EXECUTIVOS NOS CANTEIROS DE OBRAS

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Transcrição:

IDENTIFICAÇÃO DE FERRAMENTAS DE CONTROLE DOS PROJETOS EXECUTIVOS NOS CANTEIROS DE OBRAS Luri Sabina Cosme (1) ; Maria Carolina Gomes de Oliveira Brandstetter (2) (1) Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de Goiás, e-mail: lurisabina@gmail.com (2) PPGGECON/UFG, e-mail: maria.carolina@uol.com.br Resumo Este trabalho tem por objetivo identificar ferramentas de controle dos projetos executivos destinados a construção civil, com base em investigações ocorridas durante o período de andamento de obras. Com o interesse em contribuir para a melhoria das atividades desenvolvidas na construção civil, fundamentou-se o tema do trabalho na importância do projeto executivo durante o desenvolvimento da obra e no seu caráter documental, o qual registra as alterações que ao final da obra são de grande relevância para a construção do as built e possíveis validações de aditivos contratuais, confirmando a necessidade da padronização das atividades. A metodologia abrange duas etapas de campo, sendo a primeira a pesquisa-ação em uma obra industrial na cidade de Vitória, no Espírito Santo, com atuação dentro do setor de coordenação de projetos, utilizando-se de registro fotográfico, observação, aplicação de check lists e entrevista semiestrutrada com os agentes envolvidos no processo. A segunda etapa foi composta por um estudo de caso múltiplo, em quatro construtoras da cidade de Goiânia, com a realização de registros fotográficos e entrevistas semiestrutradas a fim de levantar dados referentes ao controle do projeto dentro da obra. Cada uma das ferramentas identificadas ao longo dos estudos foi relacionada às possíveis ações de controle do projeto executivo no canteiro de obra, demonstrando quais dados podem ser obtidos a partir das mesmas (tais como informações de modificações, validações e status do projeto na obra) e os benefícios diretos obtidos (tais como atendimento ao cronograma físico e à aquisição de material). Palavras-chave: Controle do projeto. Coordenação de projetos. Canteiro de obras. Abstract This work aims to identify project's control executive tools designed to civil construction. This research had two stages in action-research, where the data collection occurred during the realization of the industrial venture at the city of Vitória, Espírito Santo, with actuation in a sector of Projects Coordination. The second was composed by a multiple case study in four contractors at the city of Goiania. At that moment were realized registering photographs, observation, application of check lists and semi structured interviews with the agents involved on the process, to aim to diagnose referring data to the project control inside at the construction site. Each of the tools identified over the studies was related to possible actions of project's control executive, demonstrating what data can be obtained from the same (such as information of changes, validation, and project status in work) and the direct benefits obtained (such as physical programation and material acquisition). Keywords: Project Control, Project Management, Construction Site. 1. INTRODUÇÃO O setor da construção civil de uma forma geral é caracterizado historicamente pela oscilação 3637

de demanda produtiva, onde em períodos de crescimento precisam se estruturar para atender à alta demanda e nos momentos de recessão, são obrigadas a voltar atrás em relação às estratégias de crescimento (SOUZA, 2009). O momento atual é de crescimento, o nível de atividade da Construção Civil no Brasil tem aumentado e a disponibilidade financeira tem sido o indicativo para o início de um empreendimento e não a conclusão de um planejamento que contemple um minucioso programa de necessidade e auxilie no desenvolvimento do projeto. Observa-se que tem sido cada vez mais curto o prazo para o desenvolvimento do projeto e execução da obra, o que traz como conseqüência falhas executivas. Em meio a esse contexto, as empresas procuram se enquadrar ao ritmo de crescimento do setor e ao mesmo tempo buscam soluções para controlar os projetos por meio de ferramentas de gestão de projetos. Essas ferramentas são usualmente utilizadas pela coordenação de projetos, que é o setor responsável pela intermediação e controle do projeto com o cliente externo e com todos os profissionais envolvidos na obra, ou seja, os clientes internos, aqueles que fazem uso do projeto em qualquer que seja a etapa da obra. O projeto é controlado em dois momentos, sendo eles dentro do escritório, antes do início da obra, onde teoricamente deve ocorre a compatibilização e quando está na obra, período em que o número de revisões pode ser considerável, caso etapas anteriores não tenham sido bem desenvolvidas como, por exemplo, o programa de necessidades e a própria compatibilização dos projetos, o que acarreta revisões durante o período de execução. No canteiro de obras de grandes empreendimentos com data para início e fim, o tempo para discutir soluções e revisar projetos é curto, o que torna fundamental o acompanhamento e controle minucioso do projeto emitido para a execução. Dependendo do tipo de contrato entre a construtora e o cliente, pode ser que seja extenso o caminho que o projeto percorre até ser aprovado pela fiscalizadora que gerencia o projeto e a obra, para chegar na empresa executora, pois tem que passar pela aprovação do dono da obra, o cliente. O volume de pranchas gerado numa obra e o número de revisões devem ser cuidadosamente controlados, a fim de evitar erros decorrentes do uso de prancha com revisão superada no campo. É neste contexto que o presente trabalho se insere, fundamentando-se na importância do projeto executivo durante o desenvolvimento da obra e no seu caráter documental, o qual registra as alterações que ao final da obra são de grande relevância para a construção do as built e possíveis validações de aditivos contratuais, confirmando a necessidade da padronização das atividades. Pressupõe-se que ações tomadas para a melhoria do controle do projeto na obra evitarão atraso na execução do empreendimento por falta de programação da chegada de projetos na obra e por erros executivos, em função da existência de projetos obsoletos durante a etapa de execução. 2. BREVE REVISÃO DO TEMA O emprego do termo projeto não é exclusivo da construção civil. A NBR 5674 (ABNT, 1999) o define como a descrição gráfica e escrita das propriedades de um serviço ou obra de engenharia ou arquitetura, definindo seus atributos técnicos, econômicos, legais e financeiros. O PMBOK, que é um conjunto de práticas em gestão de projetos ou gerência de projetos, define o projeto como um esforço temporário empreendido para alcançar um objetivo específico, como desenvolver um novo produto ou serviço, conduzir uma campanha política, 3638

implantar um novo procedimento ou processo de negócio entre outros. Esta última definição esta mais voltada ao planejamento (PMI, 2008). O projeto tem toda uma evolução como registro gráfico e principalmente no que se refere ao projeto digital, em especial pela evolução do seu armazenamento e distribuição, passando pela representação em 2D (duas dimensões) e 3D (três dimensões) e atualmente pela modelagem introduzida pela tecnologia BIM (Building Information Modeling), tendo sido objeto de investigação de vários estudos no cenário nacional e internacional (NOVAES, 1996; TZORTZOPOULOS, 1999; MELHADO, 2001; FABRICIO, 2002; BRANDÃO, 2002; DUARTE, SALGADO, 2002; LEEUWEN; FRIDQVIST, 2006). Independente do tipo de tecnologia a ser usada para o desenvolvimento de um projeto é importante o entendimento das suas fases de desenvolvimento, pois se inicialmente bem trabalhadas irão resultar num produto final de qualidade. A ABNT NBR 13531 (2000) orienta quanto à elaboração de um projeto, apresentando em ordem de desenvolvimento (Figura 1). Figura 1 - Etapas das atividades técnicas do projeto de edificação segundo a NBR 13531 (2000) Inicialmente a maneira que as etapas das atividades técnicas do projeto são apresentadas pela NBR 13531 é coerente, porém é discutível se o projeto executivo não deveria ser desenvolvido antes do projeto legal, já que após lançado o empreendimento com divulgação é comum haver alteração na dimensão dos ambientes. O modo de projetar influencia na estrutura organizacional dos documentos de controle do projeto dentro da obra, pois passa a existir uma diversidade de especialistas e de projetos para a produção. O afunilamento quanto à forma de projetar e a separação entre a atividade projetual e a execução, levam à necessidade de coordenar e compatibilizar os projetos, assim afirmam Mikaldo Jr. e Scheer (2008) e Mikaldo Jr. et al (2010) que acrescentam outros motivos como a conformação de equipes de projeto situadas em diferentes localidades e o número crescente de soluções tecnológicas que são agregadas nos empreendimentos. Percebe-se que a coordenação de projeto torna-se importante no segmento das edificações dadas as possibilidades e potencialidades do projeto para fornecer subsídios quanto aos procedimentos, controles, seqüências e detalhes para execução da obra e de suas partes, que possibilitem uma execução mais racionalizada e eficiente, eliminando incertezas, reduzindo custos e aumentando a competitividade das empresas (MELHADO, 2001; BERTEZINI, 2006). 3639

XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - 29 a 31 Outubro 2012 - Juiz de Fora 3. A PESQUISA 3.1. Metodologia e análise dos dados A pesquisa foi dividida em três etapas - estudo do tema e planejamento, investigação e coleta de dados e resultados e conclusões, como pode ser visto no fluxograma da Figura 2. Figura 2 Etapas da Pesquisa A pesquisa-ação foi realizada numa empresa nomeada como Construtora X com obra na cidade de Vitória no Espírito Santo e o estudo de caso múltiplo ocorreu em quatro construtoras com obras na cidade de Goiânia em Goiás sendo referenciados como Casos A, B, C e D. Ferramentas como o check lists, entrevistas semiestruturadas e registros fotográficos permitiram a formação de um banco de dados que deram suporte para a formulação de diretrizes. Nos check lists da pesquisa-ação foram abordados questionamentos referentes ao tamanho da prancha, cotas e letras do projeto, título do projeto, informações, conteúdo do projeto e controle de entrega e foram aplicados junto aos profissionais pertencentes ao corpo gerencial da empresa, bem como aos seus colaboradores. As entrevistas da pesquisa-ação foram gravadas e as perguntas foram diversificadas em função dos entrevistados possuírem diferentes graus de instrução e vivência e pelo interesse nesse momento ser a visualização do contexto da obra por outros ângulos e adquirir 3640

XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - 29 a 31 Outubro 2012 - Juiz de Fora conhecimentos por meio da experiência dos que estavam sendo entrevistados. As perguntas foram elaboradas de maneira a confirmar afirmações entre os agentes envolvidos, investigar a aceitação e importância da coordenação de projetos na obra e obter informações de como funciona a obra industrial, que era o perfil do empreendimento da pesquisa-ação. No estudo de caso múltiplo, foram realizadas entrevistas com o corpo gerencial das quatro empresas construtoras, que compuseram uma amostra por conveniência. Todas as empresas possuem certificação ISO 9001 e atuam no segmento de edificações residenciais na cidade de Goiânia. As entrevistas, assim como na pesquisa-ação foram gravadas, buscando investigar: tipos de projetos envolvidos na obra, documentos de registro e controle das informações relativas aos projetos na obra, aspectos de padronização, armazenamento, alterações por parte dos clientes, análise de viabilidade das modificações solicitadas, relação dos projetos com a programação da obra em termos de serviços e compras, entre outras. O banco de dados foi formado ao longo da pesquisa com anotações, croquis, registros fotográficos, gravações, documentos informais, entre outros. A Figura 3 ilustra parte da obra da pesquisa-ação, onde foi vivenciada a coordenação de projetos pela autora durante o ano de 2010, dentro do complexo industrial e portuário de Tubarão, o qual abrigava três companhias, sendo de minério, siderúrgica e de petróleo. A Figura 4 ilustra uma das interferências encontradas durante a execução, que gerava a necessidade de ações imediatas da coordenação de projetos. Figura 3 - Parte da obra industrial da pesquisa-ação Figura 4 - Interferência encontrada após escaneamento A Figura 5 exemplifica a nomeação de uma prancha de estrutura das usinas. A Figura 6 apresenta o fluxograma que exemplifica um dos vários tramites de projeto entre os agentes: contratada, cliente e fiscalizadora da obra da pesquisa-ação. Figura 5 - Nomeação de uma prancha de estrutura das usinas Figura 6 - Tramite de projeto entre contratada x cliente x fiscalizadora 3641

As Figuras 7 a 12 ilustram algumas das evidências de ferramentas relacionadas ao controle do projeto nos canteiros dos estudos de caso em edificações residenciais. Figura 7 Lista mestra caso A Figura 8 Cabideiro de projetos caso A Figura 9 Prancha com carimbo obsoleto caso B Figura 10 Projetos guardados em pastas caso C Figura 11 Prancha de personalização do apartamento Caso C Figura 12 Planilha de controle de projetos em obra Caso D 3642

No intuito de unir algumas das informações mais relevantes dos estudos de caso e da pesquisa-ação, foi criado o resumo apresentado no Quadro 1, onde as respostas foram marcadas como sim, não ou não se aplica. Quadro 1 - Resumo das informações coletadas na pesquisa-ação e no estudo de caso múltiplo RESUMO DAS INFORMAÇÕES POR EMPRESA COORDENAÇÃO DE PROJETOS PROJETISTAS RESPONSÁVEL RECEBIMENTO DO PROJETO FORMA DE RECEBIMENTO DO PROJETO FERRAMENTAS DE CONTROLE DO PROJETO PESQUISA- AÇÃO CONSTRUTORA ESTUDO DE CASO CONSTRUTORAS X A B C D dentro da obra S N N N N fora da obra mas da empresa S N N S S terceirizado fora da obra N S S NA N contratado pela construtora S N S S S contratado pelo cliente N S N N N coord. projetos S N N N N engenheiro N N S S S estagiário N S S S N recebeu treinamento N S S S N CD ou pen drive N S N N N extranet S N S N N internet S S N N N cópia impressa N N N S S controle de entrada S N N S S controle de saída S S N N S controle de cópias S S N N S controle de revisão S S N N S identificação proj. obsoleto S S S N S carimbo cópia controlada S N N N S situação do projeto S N N S S carimbo da prancha S N N N S Cotas S N N N N PADRONIZAÇÃO PRANCHAS (EMPREEND) fonte do texto S N N N N PADRONIZAÇÃO formato NA NA N S NA PRANCHAS carimbo da prancha NA NA N S NA (APTO PERSON.) legenda NA NA N S NA Ao analisar a tabela percebe-se que não há uma uniformidade na adoção de como coordenar o projeto e suas ferramentas de controle dentro do canteiro de obras e até mesmo na forma de contratar os projetistas. 3.2. Diretrizes para o controle do projeto executivo A partir da análise dos dados, pode-se listar como os principais fatores de inconsistência das informações referentes ao projeto e as principais falhas ocorridas em relação à falta de controle dos projetos executivos durante o andamento da obra: ausência de uma listagem de fácil acesso e rápida leitura para identificar o status do projeto; falta de programação da obra, em função da inexistência do controle da previsão de chegada dos projetos; falta de identificação do status da prancha ao retornar do campo; ausência de identificação e controle da prancha que foi analisada, aprovada e enviada ao campo; indisponibilidade de projeto atualizado para rápida consulta no canteiro; inexistência do histórico das alterações do projeto ao longo da obra. Independente da estrutura organizacional e do tipo de contrato, as ferramentas que não podem faltar são: Lista Mestra, Carimbo de Cópia Controlada e Controle de Distribuição de Cópias. Estas proporcionam um controle mínimo, pois evitam que projetos superados circulem pela 3643

obra. Seguem outras recomendações após as análises dos dados: Para obter dados referentes à previsão da chegada do projeto a Lista de Desenho é a ferramenta que conterá datas futuras, o que fornecerá dados que irão beneficiar o planejamento, o qual poderá alimentar o cronograma da obra, podendo assim prever o período para a aquisição de material e o dimensionamento da equipe. Para o controle do projeto executado, a ferramenta de Controle de Cópias do Projeto, o qual no primeiro momento controla os projetos que foram entregues para o campo, possui a informação dos projetos que foram e voltaram do campo, seja por estarem obsoletos ou executados. No caso do projeto ter sido executado esse fornece para o setor de medição as tarefas executadas, as quais poderão ser cobradas no faturamento do mês. Para controlar os imprevistos que ocorrem durante a execução, em especial nas obras de reforma, o Formulário de Solução Técnica é a prancha que irá referenciar o que de fato foi executado e que fornecerá dados para a construção do as built. Para obtenção do status do projeto, a Lista Mestra e a Lista de Desenho são ferramentas que trazem esses dados, sendo possível identificar quais projetos estão no campo e o número da última revisão, evitando assim retrabalho e atraso no cronograma. Para a obtenção do histórico do projeto e validações do que foi executado, a Relação de Documentos de Projetos é uma ferramenta que guarda todo o progresso e alterações do projeto, fornecendo dados precisos para o acerto de aditivos no custo final da obra. 4. CONCLUSÕES A pesquisa-ação, que ocorreu no primeiro momento com a investigação, aproximou a pesquisadora à realidade da obra, proporcionando um entendimento real dos detalhes de como ocorre o fluxo do projeto no momento da execução do empreendimento. O estudo de caso múltiplo deu uma contribuição significativa complementando o conhecimento, pois gerou conhecimento de outras relações entre construtor x cliente x fiscalização, o que levou à conclusão que, dependendo da estrutura da obra, há mudança na gestão do projeto no canteiro, não havendo a necessidade do uso de várias ferramentas de controle. Foi diagnosticado que as empresas que possuem certificações utilizam pelo menos uma ferramenta de controle, que é a Lista Mestra. Quanto mais informações possuírem sobre o projeto, mais minucioso é o seu controle, se tornando mais difícil ocorrer erro de execução decorrente da presença de projeto obsoleto na obra. Salienta-se que, mesmo certificadas, as empresas nas quais foi conduzida a pesquisa não necessariamente possuem um controle eficaz que atenda as exigências da norma, tendo sido observada, por exemplo, a existência de projetos obsoletos durante a execução da obra. O controle dos projetos executivos no canteiro de obras terá uma quantidade menor de ferramentas se houver uma coordenação de projetos eficiente no escritório central. Observou-se que a coordenação de projetos mais eficiente é aquela que normalmente trabalha com os mesmos projetistas e que possui sempre o mesmo estilo de projeto, pois assim ao longo do tempo os possíveis problemas já foram sanados e há um entrosamento entre as equipes do canteiro, do escritório central e com os projetistas. Apesar da pesquisa ter como foco o projeto impresso, e que por norma sempre terá no carimbo o título do projeto, a nomenclatura do arquivo digital não pode ser esquecida e deverá ter uma lógica. Ao longo da descrição das ferramentas foi possível perceber que algumas informações se repetem nos documentos, como o número das pranchas adotadas pelo cliente e construtora, o título da prancha e o número da revisão. Sugere-se que a ordem de disposição dessas informações fossem sempre as mesmas, tanto nos documentos como nas 3644

pranchas, o que facilitaria a transcrição dos dados sem o risco de erro. Quanto à guarda dos projetos no canteiro de obras, esta deve ocorrer de maneira que todos os envolvidos no empreendimento tenham acesso a esses para esclarecimento de dúvidas, assim se torna mais eficaz a disposição dos projetos em cabides com pentes identificados pelo tipo de projeto. Sempre que houver a revisão de uma prancha o cabide deverá ser atualizado imediatamente com a retirada da prancha obsoleta e colocação da última revisão. Os resultados obtidos pela pesquisa servem de subsídio para a análise das ferramentas que auxiliam na gestão dos projetos dentro do canteiro de obras, esclarecendo a importância dessas no controle dos projetos durante a execução do empreendimento, evitando erros causados pelo uso de projeto obsoleto e mapeando a tramitação do projeto dentro da obra, contribuindo para a diminuição de falhas no processo executivo e na etapa de uso e manutenção da edificação. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13531: Elaboração de Projetos de Edificação Atividades Técnicas. Rio de Janeiro, 2000. 10p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5674: Manutenção de edificações Procedimentos, Rio de Janeiro, 1999. 6p. BERTEZINI, A. L. Métodos de avaliação do processo de projeto de arquitetura na construção de edifícios sob a ótica da gestão da qualidade. 2006. 193 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. BRANDÃO, D. Q. A Diversidade e o Potencial de Flexibilidade dos Arranjos Espaciais de Apartamentos da Oferta Imobiliária Brasileira, Analisados com Base em Suas Tipologias e Segmentos. 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. DUARTE, T. M.P.; SALGADO, M. S. O projeto executivo de arquitetura como ferramenta para o controle da qualidade na obra. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 9, 2002, Foz do Iguaçu. Anais...Foz do Iguaçu: ANTAC, 2002, 10p. FABRICIO, M. M. Projeto Simultâneo na construção de edifícios. 2002. 329f. Tese (Doutorado em Engenharia de Construção Civil e Urbana), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. LEEUWEN, J.P.; FRIDQVIST, S. An information model for collaboration in the construction industry. Computers in Industry, n. 57, p. 809-816, 2006 MELHADO, S. B. Gestão, cooperação e integração para um novo modelo voltado à qualidade do processo de projeto na construção de edifícios. 2001. 235 f. Tese (Livre Docência), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. MIKALDO JR., J. ; SCHEER, S. Compatibilização de projetos ou engenharia simultânea: qual é a melhor solução? Gestão & tecnologia de projetos, v. 3, p. 79-99, 2008. MIKALDO JR., R. M.; NASCIMENTO, E. L.; SANTOS, R. B.; SCHEER, S. Uso de sistemas online gratuitos para gestão de informações de projeto em empreendimentos da construção civil. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 13,Canela. Anais... Canela: ANTAC, 2010. NOVAES, C. C. Diretrizes para garantia da qualidade do projeto na produção de edifícios habitacionais. 1996. 280p. Tese (Doutorado em Engenharia), Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. PMI. Um Guia do Conjunto de Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos: Guia PMBOK. 4 ed. Newton Square, PA: Project Management Institute, 2008. SOUZA, F.R. Implementação de modelo de gestão para empresas de projeto de edifícios. 2009. 202f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. 3645

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