AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE SERVIÇO DA AVENIDA CASTELO BRANCO EM JUAZEIRO DO NORTE CE Sabrina Câmara de Morais 1 Marcos José Timbó Lima Gomes 2 1 Introdução/ Desenvolvimento Nos últimos anos, o acelerado crescimento urbano do município de Juazeiro do Norte, acompanhado da elevação da frota de veículos, trouxe como conseqüência um aumento dos problemas de circulação urbana (ASTEF, 2009). Em decorrência disso, observa-se cada vez mais a existência de congestionamentos, acarretando maiores tempos de viagem, consumo de combustíveis, emissão de poluentes e outros impactos negativos no trânsito. Conhecendo essa problemática do município e analisando as várias reclamações da comunidade nos meios de comunicação, sobre trânsito congestionado, resolveu-se avaliar nesse trabalho, de forma científica, as reais condições operacionais das vias urbanas de Juazeiro do Norte, determinando para isso o nível de serviço. O nível de serviço corresponde à qualidade de operação da via, o que reflete, de certa forma, o nível de fluidez da corrente de tráfego, a possibilidade de realizar manobras de ultrapassagem ou de mudança de faixa, e o grau de proximidade entre veículos. De uma forma geral, quanto menor o fluxo de veículos, melhor a qualidade de operação. Por outro lado, quanto mais o fluxo se aproxima da capacidade da via, pior será o nível de serviço, pois maior é a probabilidade de ocorrerem congestionamentos (SETTI, 2011) Como no Brasil ainda não se dispõe de metodologias específicas para determinar o nível de serviço, será utilizado nesse trabalho o Capítulo 15 do manual americano HCM (Highway Capacity Manual), na versão 2000, que trata de vias urbanas. Conforme SETTI (2011), o HCM estabelece seis níveis de serviço para as vias, designados por letras variando de A a F, sendo que o nível A representa as melhores condições de tráfego e o nível F representa situações de congestionamento. O nível de serviço é avaliado a partir de uma medida de desempenho que pode incluir a velocidade e o tempo de viagem, a facilidade de manobras dentro da corrente de tráfego, o tempo de retardamento e o conforto e conveniência (SETTI, 2011). Especificamente para as vias urbanas, a medida de desempenho utilizada pelo HCM na determinação do nível de serviço é a velocidade média de viagem do trecho estudado. Portanto, esse trabalho tem como objetivo a determinação do nível de serviço da Avenida Castelo Branco, em Juazeiro do Norte, e espera-se que tal análise permita uma melhor compreensão da problemática dos congestionamentos no município. 1 2 Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará, e-mail: morais.sabrina3@gmail.com Universidade Federal do Ceará, Juazeiro do Norte, Ceará, e-mail: timbo@ufc.br 1
2 Metodologia/ Resultados Foi estudado o trecho da Av. Castelo Branco (via de pista dupla), entre a Av. Padre Cícero e a Av. Humberto Bezerra, numa extensão de 3.269 m. A análise foi realizada nos 2 sentidos de tráfego da avenida e também de forma desagregada, visto que o trecho foi dividido em 8 seções de controle para identificar os segmentos problemáticos e que influência eles têm no trecho completo. A Tabela 1 ilustra os segmentos do sentido 1 (Av. Padre Cícero até Av. Humberto Bezerra). Tabela 1 Seções de Controle de Tráfego do Sentido 1 (Av. Padre Cícero até Av. Humberto Bezerra). Seção Início / Fim da Seção Extensão (m) 1 Av. Padre Cícero / Rua Edward Mclain 298 2 Rua Edward Mclain / Rua José Marrocos 200 3 Rua José Marrocos / Rua São Pedro 213 4 Rua São Pedro / Rua das Flores 54 5 Rua das Flores / Av. Ailton Gomes 671 6 Av. Ailton Gomes / Rua São Benedito 481 7 Rua São Benedito / Av. Maria Edinir 513 8 Av. Maria Edinir / Av. Humberto Bezerra 839 Para determinar a velocidade média de viagem, utilizou-se o método do veículoteste com cronômetros. Este método consiste em percorrer o trecho estudado em um veículo, no qual vão dois pesquisadores munidos de cronômetro, sendo que o primeiro registra os tempos de percurso e o segundo os tempos de retardamento (tempos parados nos semáforos), ambos em formulários previamente elaborados. A pesquisa foi realizada em dois dias típicos nos horários de pico da via (17:30 18:30), tendo sido obtido uma amostra de cinco viagens por sentido de tráfego. Assim, coletado os tempos de percurso e tendo-se as distâncias dos segmentos, determinou-se a velocidade média de viagem em cada segmento e em cada sentido de tráfego. Os dados coletados foram tabulados em planilha Excel, sendo os dados de entrada as medidas de quilometragem e tempo de percurso no início e fim da cada seção. A velocidade média por segmento foi calculada usando-se a seguinte fórmula (DNIT, 2006): 3600. D t onde, S A = velocidade média do segmento em km/h; D = comprimento da seção ou trecho em km; t = tempo de percurso da seção ou trecho definida em segundos. S A Com as velocidades médias calculadas e aplicando a metodologia do HCM 2000 para determinar nível de serviço, foi possível avaliar sob quais condições a massa veicular da avenida trafegava ao longo da rota estudada. Além da velocidade média de viagem, o HCM tem como dados de entrada: i) classe da via urbana que está sendo analisada; ii) velocidade de fluxo livre; iii) velocidade de fluxo livre padrão, como mostrado na Tabela 2. 2
Tabela 2 Limites de Velocidade para Determinação do de Vias Urbanas Classificação da Via I II III IV Intervalo da Velocidade 90 a 70 km/h 70 a 55 km/h 55 a 50 km/h 50 a 40 km/h de Fluxo Livre Velocidade de Fluxo Livre Típica 80 km/h 65 km/h 55 km/h 45 km/h Velocidade Média de Viagem (km/h) A > 72 > 59 > 50 > 41 B > 56-72 > 46-59 > 39-50 > 32-41 C > 40-46 > 33-46 > 28-39 > 23-32 D > 32-40 > 26-33 > 22-28 > 18-23 E > 26-32 > 21-26 > 17-22 > 14-18 F 26 21 17 14 Fonte: PAULA (2006) A classificação é feita avaliando a velocidade de fluxo livre (VFL), que corresponde a velocidade em que o motorista trafega sob condições de fluxo suficientemente baixo para que não exista interferência da interação com outros veículos, e sem sofrer qualquer atraso devido às interseções semaforizadas (PAULA, 2006). Conhecendo-se a classe da via é possível determinar o nível de serviço ofertado pela mesma através da velocidade média de viagem que leva em consideração os atrasos. A análise do nível de serviço por sentido de tráfego e por seção permite avaliar os segmentos mais problemáticos da rota. Avaliando os resultados ilustrados na Tabela 3, sentido 1 de tráfego (Av. P adre Cícero até a Av. Humberto Bezerra), é possível perceber dois segmentos com nível de serviço F, um com nível E e os cinco restantes com níveis C e D. Tabela 3 das Seções de Controle do Sentido 1 (Av. Padre Cícero até Av. Humberto Bezerra). Seção Início / Fim da Seção Velocidade Média (km/h) da Seção 1 Av. Padre Cícero / Rua Edward Mclain 15 F 2 Rua Edward Mclain / Rua José Marrocos 29 C 3 Rua José Marrocos / Rua São Pedro 25 D 4 Rua São Pedro / Rua das Flores 12 F 5 Rua das Flores / Av. Ailton Gomes 24 D 6 Av. Ailton Gomes / Rua São Benedito 27 D 7 Rua São Benedito / Av. Maria Edinir 34 C 8 Av. Maria Edinir / Av. Humberto Bezerra 22 E Os níveis de serviço no sentido 2 de tráfego (Av. Humberto Bezerra até Av. Padre Cícero) apresentaram condições piores, conforme ilustra a Tabela 4. Dois trechos foram classificados com nível de serviço F, quatro com nível E e dois com nível C. 3
Tabela 4 das Seções de Controle do Sentido 2 (Av. H umberto Bezerra até Av. Padre Cícero). Seção Início / Fim da Seção Velocidade Média (km/h) da Seção 1 Av. Humberto Bezerra /Av. Maria Edinir 33 C 2 Av. Maria Edinir / Rua São Benedito 31 C 3 Rua São Benedito /Av. Ailton Gomes 18 E 4 Av. Ailton Gomes / Rua das Flores 18 E 5 Rua das Flores / Rua São Pedro 22 E 6 Rua São Pedro / Rua José Marrocos 18 E 7 Rua José Marrocos / Rua Edward Mclain 15 F 8 Rua Edward Mclain / Av. Padre Cícero 13 F Observe que nos dois sentidos de tráfego os níveis de serviço F foram obtidos em seções compreendidas entre a Av. Padre Cícero e Rua das Flores, trecho esse que apresenta um maior número de ônibus (urbanos e intermunicipais), topiques e moto - táxis, visto que é um dos principais acessos ao centro da cidade. Fazendo a análise de todo o trecho por sentido, o sentido 1 (Av. Padre Cícero até Av. Humberto Bezerra) a velocidade média de viagem foi de 21,23 km/h o que a classifica com NS E e no sentido 2 (Av. Humberto Bezerra até Av. Padre Cícero) a velocidade calculada foi de 19,50 km/h o que lhe confere também um NS E. 3 Considerações Finais Através da pesquisa realizada foi possível perceber que os motoristas que trafegam no trecho estudado da Avenida Castelo Branco, o fazem em condições precárias de conforto, principalmente a indisciplina no uso das paradas de ônibus, estacionamentos permitidos que reduzem a capacidade da via, e o excessivo número de semáforos com 3 estágios, gerando maiores atrasos. É visível também a necessidade de uma atualização e coordenação entre os semáforos, visto que a Av. Castelo Branco apresenta um elevado volume de veículos, pois é a principal via arterial no sentido Leste/Oeste da cidade, e é cortada por várias outras vias arteriais e coletoras no sentido Norte/Sul, também com expressivo volume de tráfego. 4 Referências ASTEF (2009) Estudo de Trânsito e Transporte para o Aglomerado Urbano do Crajubar (Crato, juazeiro e Barbalha). Relatório parcial 3 Sistema de Avaliação das Ações Prioritárias. Associação Técnico Cientifico Engenheiro Paulo de Frotim- ASTEF- Governo do estado do Ceará. DNIT (2006) Manual de estudos de tráfego Rio de Janeiro, 2006. 384 p. (IPR. Publ. 723). 4
PAULA, F. S. M. (2006). Proposta de Adaptação da Metodologia do Highway Capacity Manual 2000 para Análise de Vias Arteriais Urbanas em Fortaleza. Dissertação de Mestrado, Programa de Mestrado em Engenharia de Transportes Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE. SETTI, J. R. A (2011) Tecnologia de Transportes (Material Did ádico). Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos. 5