HIGIENE INDUSTRIAL SEM LIMITES Eileen Senn Tarlau Nós estamos testemunhando uma importante reviravolta na história da higiene industrial. A Occupational Safety and Health Administration (OSHA - Administração de Segurança e Saúde Ocupacional), com o apoio de muitos empregadores, tem "atualizado"os limites de exposição permissíveis (permissible exposure limits - PELs) apesar dos sindicatos de trabalhadores e seus aliados sustentarem que os PELs estão falidos, contaminados por influência empresarial, e não protegem a saúde do trabalhador. O modo pelo qual operamos no dia-a-dia como higienistas industriais praticantes tem sido dirigido uma vez mais para o uso dos limites de exposição e amostragem de ar por este recente regulamento da OSHA. Nenhum outro conceito simples domina tanto nosso campo de trabalho ou influencia tão fortemente como gastamos nosso tempo quanto esses limites. Se a OSHA também tiver sucesso em promulgar um padrão genérico para a monitorização da exposição, assim como eles estão propondo, nós estaremos gastando ainda mais do nosso precioso tempo e talento de higienistas industriais coletando amostras de ar. Esse padrão obriga a coleta de amostra de ar no local de trabalho para centenas de produtos químicos. Certamente é hora de se perguntar se a coleta de tais amostras para comparação com os PELs é um bom uso do tempo de um higienista industrial, e se essa atividade beneficia os trabalhores. A realidade é que, para a vasta maioria dos produtos químicos, nós temos poucos ou nenhum dados sobre toxicidade crônica. Mesmo quando temos, geralmente não sabemos os efeitos químicos na função pulmonar, do sistema nervoso, do sistema endócrino ou imunológico, reprodutiva ou outras funções vitais do organismo. Sem tais dados são falsas as afirmações de que nós conhecemos quais exposições são permissíveis e que não prejudicarão os trabalhadores. O depoimento apresentado pelo Departamento de Saúde do Estado de Nova Jersey ( NJDOH New Jersey Department of Health ), nas audiências sobre as propostas da OSHA para " atualizar " os PELs (1) demonstrou, para uma amostra aleatória tanto de PELs atuais como de propostos, que eles são totalmente inadequados quando comparados com os limites de exposição recomendados por razões de saúde do banco *As opiniões expressadas neste artigo, são aquelas do autor e não representam necessariamente a política oficial, ou opinião do Departamento de Saúde do Estado de Nova Jersey ( New Jersey State Department of Health ).
de dados do Sistema Integrado de Informações sobre Riscos ( Integrated Risk Information System - IRIS ) da Agência de Proteção Ambiental ( Environmental Protection Agency - EPA ) (2). O banco de dados IRIS foi desenvolvido pela EPA nos últimos dois anos para colecionar e rever sistematicamente dados toxicológicos humanos e de animais sobre produtos químicos de relevância ambiental. Corretamente contém revisões de 370 produtos químicos e tenciona apoiar a EPA e outras agências reguladoras governamentais em seus esforços. Contudo este banco de dados foi ignorado pela OSHA durante a recente elaboração dos PELs. O Departamento de Saúde do Estado de Nova Jersey (HJDOH) usou uma metodologia de avaliação de risco amplamente aceita que faz extrapolação partindo-se das doses respostas e riscos unitários do banco de dados IRIS para se elaborar diretrizes ocupacionais. Para 43 produtos químicos estudados pela NJDOH, a média de PEL atual era 9,5 mg/m 2, a média de PEL proposto era 7,5 mg/m 2 e a média do limite de exposição recomendado por razões de saúde era 0,004 mg/m 2. Portanto, as revisões atualizadas dos PELs não são significativas em comparação às reduções necessárias para proteger a saúde pública. De fato, do ponto de vista de risco, os PELs atualizados da OSHA são essencialmente a mesma coisa que os PELs atuais. O Departamento de Saúde do Estado de Nova Jersey conclui que os PELs propostos pela OSHA, agora adotados, são baseados em informações desatualizadas e metodologia deficiente, e não protegeriam a saúde do trabalhador. Um artigo recente escrito por Barry Castleman and Grace Ziem, (3) assim como seus depoimentos nas audiências da OSHA sobre PELs, documentou a influência empresarial nos valores de limite de tolerância (threshold limit values - TLVs) e o uso de procedimentos irregulares e não científicos pelo Comitê de TLV da American Conference of Governmental Industrial Higienists ( ACGIH ). Comunicações não publicadas de empresas foram importantes no desenvolvimento de TLVs para 104 substâncias. Para 15 deles, a documentação de TLV foi baseada somente em tais informações. Os esforços dos autores para obter cópias escritas desse material não publicado para uma revisão científica independente foram, na maioria das vezes, sem sucesso. Aos representantes de empresas listados como consultores do comitê desde 1.970 foi dada a responsabilidade principal do desenvolvimento de TLVs para produtos químicos de propriedade das companhias que os empregavam. Foi também mostrado que o comitê do TLV falhou no uso de todos os dados cientifícos disponíveis. Não foram feitas pesquisas bibliográficas sistemáticas na preparação das documentações sobre centenas de produtos químicos. Esse escândalo conduz à inescapável conclusão de que os limites da ACGIH estão comprometidos e não são confiáveis. O artigo de Castleman/Ziem (4) tem provocado muita controvérsia e algum exame de consciência na ACGIH. Novos procedimentos e Substâncias Químicas (Chemical Substances TLV Committee) têm sido adotados (5). A ACGIH agora planeja contratar pessoal de apoio para fazer pesquisas bibliográficas para o Comitê. Entretanto, eles ainda não atuaram rigorosamente para impedir conflitos de interesse entre os membros. Ao invés de exigir a divulgação dos relacionamentos de consulta com as empresas, eles estão usando um sistema de honra no qual os membros meramente declaram, mediante um termo de
compromisso, que eles não têm conflitos de interesse. Enquanto algumas mudanças positivas têm sido feitas, nada foi feito para desfazer o prejuízo já causado pelos TLVs atuais, os quais foram estabelecidos sob o sistema velho e não funcional, e as mudanças não vão tão longe a ponto de se assegurar que os erros passados não serão repetidos. Limites de exposição são teoricamente úteis aos trabalhadores. Entretanto, se não possuírmos os números corretos, e parece que a ACGIH e a OSHA usualmente não têm, então eles serão perniciosos. Limites de exposições nos ser refutado pelos trabalhadores, que as exposições são seguras quando ninguém realmente sabe se elas são ou não. reavaliados. Há outras razões pelas quais os limites de exposição deveriam ser O fim dos limites de exposição Chegou o momento de todos os higienistas industriais responsáveis pararem de usar PELs e TLVs. Nós devemos ter consciência de que toda vez que os usamos, nós realmente estamos endossando-os. É como se disséssemos que acreditamos, tal qual a Dow e DuPont podem julgar, que conviver com um TLV é o que é seguro para os trabalhadores. Não há dúvida que existem alguns PELs e TLVs decentes. Mas eles são todos suspeitos até que tenhamos uma revisão científica independente de quais são quais. Isso levará muito tempo, embora pudesse ser mais rápido se a ACGIH e a OSHA descobrissem o banco de dados IRIS. No estudo do Departamento de Saúde do Estado de Nova Jersey, somente 4 dos 43 PEls estavam próximos o bastante (não mais que o dobro) dos limites recomendados por razões de saúde para serem usáveis. As disparidades são grandes tal que nenhum limite PEL ou TLV é confiável. Higiene Industrial sem PELs e TLSs Não será tão terrível, como você poderia pensar, praticar higiene industrial sem limites. De fato, eu prevejo que será mais divertido. Significará realmente retomar a prática do espectro completo de nossas habilidades em higiene industrial e talvez acrescentar ao nosso ofício alguns procedimentos especiais de avaliação da saúde e da exposição. Nós podemos praticar higiene industrial à moda antiga - observando os trabalhadores. Nós podemos mudar a natureza de nossas investigações para gastar menos empo olhando instrumentos e números, e mais tempo observando como o processo de trabalho acontece, checando medidas de controle e conversando com os trabalhadores. Os trabalhadores são as melhores fontes de informação sobre o que realmente está acontecendo no local de trabalho. Naturalmente, todas as entrevistas com trabalhadores devem ser estritamente confidenciais e conduzidas reservadamente, se esperamos obter cooperação e confiança dos mesmos.
Uma ferramenta que faríamos bem em acrescentar ao nosso repertório é a condução de entrevistas sobre os efeitos na saúde dos trabalhadores. Orientações e questionários para tais entrevistas, a serem usadas por pessoal de saúde ocupacional nãomédico, foram recentemente preparadas por um médico do trabalho, no departamento de Saúde do Estado de Nova Jersey (5). Seja o que for que fizermos durante nossas avaliações de higiene industrial, pareceria essencial descobrir se os trabalhadores relatam queixas e sintomas. Não é realmente o que interessa em saúde ocupacional? Documentar queixas de saúde e sintomas dos trabalhadores pode ser pensado como avaliação fundamental de exposição. Escrevendo Bons Relatórios Falha ao escrever um relatório ou produzir um relatório que possa ser facilmente mal interpretado como um " garantia de saúde " minará mesmo a melhor avaliação de higiene industrial. Quando trabalhei pela primeira vez para a OSHA em 1.974, nós sempre escrevíamos relatórios de higiene industrial assim como notificações após uma inspeção. Essa prática tem cessado sob a pressão para um maior número de inspeções. Esta visão estreita da valorização da quantidade de inspeções sobre a qualidade dos resultados deve terminar. Toda inspeção de higiene industrial feita pela OSHA, assim com o qualquer outra avaliação de higiene industrial feita por um consultor, de empresa ou do governo, deveria resultar em um relatório completo dos achados e recomendações o qual vai para o empregador, empregados ou para o sindicato representante dos trabalhadores quando houver. Conduzindo avaliações e medidas da exposição desta forma e escrevendo tais relatórios, estaremos aplicando uma luz desinfetante no local de trabalho. Estaremos resistindo em sermos definidos estreitamente como técnicos que coletam amostras de ar, e estaremos insistindo para que nos seja permitido usar todas as nossas habilidades de higienista industrial, conhecimento e julgamento profissional. Nós estaremos vendo a " floresta " da saúde ocupacional não obstante as " árvores " PEL. Nós estaremos declarando que, dada a limitação de nossa ciência, controles podem e devem ser colocados no local mesmo quando as causas não são conhecidas ou completamente entendidas, muito menos quantificadas. Estaremos nos recusando em sermos pegos na " Armadilha 22 " ( Catch 22 ) dos PELs e TLVs que diz: a)" Nada pode ser feito sem prova de exposição além dos limites "(Overexposure) b) " Ninguém pode provar " exposição além dos limites " (Overexposure) porque os limites foram estabelecidos muito altos. Nós estaremos em harmonia com o nosso código de ética o qual estabelece que devemos manter uma atitude objetiva com respeito à avaliação de riscos à saúde independente de influências externas, as quais nós agora percebemos, incluem TLVs e PELs. Nós estaremos praticando higiene industrial sem limites.
Referências 1. New Jersey State department of Health : Testimony at the Informal Hearings on OSHA's Proposal to Update Permisible Exposure Limits By R.T. Zagraniski. Trenton, N.J : New Jersey State Department of Health, 1.988. 2. United States Department of Environmental Protection, Environmental Criteira and Assessment Office : Cincinnati, Ohio. 3. Castleman,B,I and G.E. Ziem : Corporate Influence on Thereshold Limit Values. Am. J. Ind. Med. 13:531-559 ( 1.988 ). 4. American Conference of Governamental Industrial and Procedures, Threshold Limit values ( TLVs ) Comitee for Chemical Substances in the Work Environment. App. Ind. Hyg. 4(9) : F10-F15 ( 1.989 ). 5. New Jersey State Department of Health : A Guide to Workplace Evaluation for Occupational Disease by G.A. Ziem, Trenton, N.J.: New Jersey State Department of Health, 1.989. Eileen Senn Tarlau Member, AIHA January 1.990 Tarlau, Eileen Senn ( 1.990 ). " Industrial Hygiene with No Limits - Guest Editorial ". Am. Ind. Hyg. Assoc. J. 51: A-9 e A-10 ; Tradução Feita por Sônia Maria José Bombardi, Arline Sidnéia Abel Arcuri e Gilmar da Cunha Trivelato - ( Pesquisadores da Divisão de HIgiene do trabalho da FUNDACENTRO.)