FORMAÇÃO DA REDE URBANA NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS

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Transcrição:

FORMAÇÃO DA REDE URBANA NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS Weslley Vendramin de Oliveira Faculdade de Geografia CEATEC weslley.vo@puccamp.edu.br Renata Baesso Pereira Pós Graduação em Urbanismo CEATEC renata.baesso@puc-campinas.edu.br Resumo: Este trabalho apresenta o processo histórico de formação e configuração espacial das cidades que constituem a Região Metropolitana de Campinas - SP (RMC) 1 e cuja origem parte de desmembramentos do termo originário do município sede, bem como do termo de outros municípios. Partindo do pressuposto de que a urbanização é um fenômeno que se produz em diversos níveis, a pesquisa se desenvolveu em escalas distintas: desde a investigação histórica da formação do território da RMC e sua rede de cidades, até a análise de elementos materiais de dimensão local dos núcleos urbanos em questão. O trabalho tem caráter interdisciplinar pois relaciona os saberes da História da Urbanização com os da Geografia, especificamente a cartografia histórica e os Sistemas de Informação Geográfica (SIG). A partir do levantamento e da análise da cartografia referente à Capitania, depois Província e por fim Estado de São Paulo, produzidas nos séculos XVIII, XIX e XX e disponíveis nos acervos da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no Arquivo Público do Estado de São Paulo e na série cartográfica do IGC, estabeleceu-se a interseção entre os dados espaciais atuais e a cartografia histórica da área que hoje correspondente a RMC. A análise do Quadro do Desmembramento Territorial- Administrativo dos Municípios Paulistas, organizado pelo IGC-SP, permite observar a cronologia dos desmembramentos que deram origem às cidades da nossa região de estudo. A informação retrospectiva e georreferenciada, forneceu dados para a elaboração de novas cartas temáticas e contribui para os estudos que elucidam a formação histórica da RMC. Palavras-chave: Região Metropolitana de Campinas, cartografia histórica, desmembramentos territoriais. 1 Região Metropolitana de Campinas, exceto o Município de Morungaba que foi incluído a região após a aprovação do Plano de Pesquisa Área do Conhecimento: Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo História do Urbanismo. 1. O USO DA CARTOGRAFIA HISTÓRICA NA ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DO TERRITÓRIO. Segundo Mauricio de Almeida Abreu (1998) a fé no país do futuro tornou-se no Brasil uma ideologia avassaladora a partir da Primeira República, fato que causou no século XX as grandes reformas urbanísticas que transformaram a face de diversas cidades brasileiras, apoiada pelas elites. Lemas como São Paulo não pode parar ou Brasil para Frente ilustram esse movimento e justificam as intervenções realizadas sobre as paisagens geográficas herdadas do passado. Porém, ainda segundo Mauricio de Almeida Abreu (1998) no mundo contemporâneo a realidade foi modificada, as cidades brasileiras estão revalorizando a preservação e a recuperação das paisagens urbanas que ainda restaram do passado. Independente do que estaria por trás deste movimento de preservação da herança histórica percebida no espaço, a valorização dos patrimônios físicos nos afigura como essencial: a chamada memória urbana, que é fundamental para a constituição da identidade do lugar. Sabendo disso, estudar e analisar o passado das cidades torna-se imprescindível na construção desta identidade social e para tanto, existem diversos métodos e formas de análises para a interpretação do pretérito das cidades. A valorização da memória urbana é contudo um paradigma relativamente recente e não é consenso entre todos os agentes que interferem no território e no espaço urbano. Muito do patrimônio arquitetônico, urbano e paisagístico já se perdeu no passado, o que torna fundamental a pesquisa documental e de fontes secundarias, além de ser imprescindível a contribuição da cartografia histórica, para a análise espacial-temporal do território (ANDRADE, 2013). O levantamento de dados históricos e relatos, a localização dos principais monumentos nas cidades, são alguns dos instrumentos para a análise da organiza-

ção temporal e territorial no meio urbano. Além desses instrumentos, também é fundamental a consulta dos documentos cartográficos históricos, que apesar de serem subjetivos na sua construção, posto que estão vinculados a interesses ali impostos, são fontes relevantes de interpretação do pretérito. (ARAÚJO, 2000, p.468 apud ANDRADE,2013). Baseado nessa premissa, procurar identificar pistas e fazer análises acerca do território constituído atualmente como Região Metropolitana de Campinas faz parte do que hoje se considera como conhecimento da cartografia histórica. Cintra (2010) apresentou uma metodologia de avaliação de mapas antigos, para análises históricas do espaço, e segundo ele o computador poderia prestar uma grande ajuda na tarefa de sobrepor mapas antigos e modernos, verificando suas distorções e erros cartográficos e os impactos gerados por estas questões técnicas. Recentemente, tal método vem se difundindo cada vez mais no meio cientifico, pois, o trabalho em meio digital, além de facilitar a análise visual do documento cartográfico e sua comparação com mapas modernos, apresenta uma séria de benefícios e novas possibilidades. 2. FORMAÇÃO HISTÓRICA DA REDE URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS O território que hoje corresponde a Região Metropolitana de Campinas SP (RMC) começa a se configurar no século XVIII, a partir da estratégia de ocupação e definição das fronteiras do eixo centro-sul da colônia, inscrita na política mercantilista ilustrada do Marquês de Pombal, então primeiro ministro de Portugal. No que diz respeito à Capitania de São Paulo, as diretrizes da política colonizadora pretendiam romper com o quadro de despovoamento do território paulista, consequência das migrações para a região das minas no final do século XVII e primeira metade do XVIII. As instruções de governo enviadas ao Morgado de Mateus, capitão-general e governador da capitania entre 1765 e 1775, ordenavam a construção de uma estratégia de consolidação territorial, animação econômica e o fortalecimento do poder central da Coroa na colônia que, efetivamente, se deu através da inauguração da produção de açúcar voltada para o comércio metropolitano, articulada à produção de subsistência de uma rede de povoados, freguesias e vilas. (SALGADO; PEREIRA, 2012) Segundo Petrone (1968), na segunda metade do século XVIII, o modo paulista de fabricar açúcar, estabeleceu um novo desenho fundiário para a capitania, baseado no estabelecimento de fazendas em terras obtidas por posse ou sesmaria, instalações modestas e pequeno número de escravos. Tal forma de organização, possibilitou o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar e o acúmulo de capitais que permitiriam a expansão da atividade. A partir dessa estratégia, constitui-se o território definido por Petrone (1968) como quadrilátero paulista do açúcar, formado pelas vilas de Sorocaba, Piracicaba, Mogi- Guaçu e Jundiaí perímetro no qual estava inscrito o futuro termo da vila de São Carlos (atual Campinas SP) que se articulavam através de uma rede de caminhos secundários ligados às estradas do Viamão e das Minas dos Goyazes. A cidade de São Paulo interligava os centros produtores do açúcar do oeste da capitania ao Porto de Santos, através do Velho Caminho do Mar. Segundo Bueno (2009), no final do século XVIII, a Capitania de São Paulo, englobando os atuais estados do Paraná, parte de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, apresentava um conjunto de 34 núcleos urbanos elevados à categoria de vila, e uma cidade São Paulo. Na formação destes núcleos, é possível observar que a maioria passou por estágios anteriores, como capela e freguesia antes de ser elevado à categoria de vila. Tal lógica de desmembramento municipal esteve vigente em todo o Brasil, implicando na perda de território (i.e. do termo) por parte da celula mater, certamente envolvendo conflitos de interesses nesses momentos. (BUENO, 2009: 259) A análise do Quadro do Desmembramento Territorial-Administrativo dos Municípios Paulistas, organizado pelo Instituto de Geográfico e Cartográfico de São Paulo em 1995, permite observar a cronologia destes desmembramentos na região em estudo. A formação do primeiro oeste Paulista, se deu a partir do desmembramento do território de São Paulo, nos territórios pertencentes no século XVII às vilas de Itu (1654), Jundiaí (1665) e Sorocaba (1661). O estudo detalhado do processo de desmembramento territorial dos municípios da Região Metropolitana de Campinas permitiu detectar que a origem dos núcleos urbanos em questão é muito distinta: enquanto Campinas nasceu como pouso ao longo de um caminho, ainda no ciclo das bandeiras e do ouro no século XVIII, outras cidades se formaram a partir da doação do patrimônio religioso, durante o ciclo do açúcar e outras ainda tem sua origem ligada ao binômio café-ferrovia, a partir da formação do patrimônio leigo ou da constituição de núcleos colônias de imigrantes. A partir de 1732, em uma sesmaria delimitada ao longo do Caminho das Minas dos Goyazes, desen-

volveu-se o Pouso das Campinas Velhas e o Pouso de Santa Cruz. A partir destas formas primárias de ocupação e da política dos agentes da Coroa portuguesa de promoverem a fixação da população em torno de pequenos núcleos urbanos, ligados a produção de açúcar, empreendida sobretudo após 1765, a região se desenvolveu. Na última década do século XVIII, a relevância da então freguesia de Campinas do Mato Grosso de Jundiaí - instituída em 1774 - no contexto da produção de açúcar é tal que as demandas por sua emancipação da vila de Jundiaí obtêm êxito (1797). Durante a primeira metade do século XIX, a então Villa de São Carlos (1797) aumenta significativamente a produção de açúcar assumindo a liderança entre as vilas do Quadrilátero do Açúcar. Na segunda metade do século, a produção de açúcar é gradativamente substituída pelo café em ambiente de crescimento econômico e com mudanças na estrutura fundiária rural através da subdivisão das antigas sesmarias. A base econômica acumulada com a cana-deaçúcar e o café durante o século XIX constrói ampla infraestrutura produtiva de base rural em torno da vila que em 1842 foi elevada a cidade. Na década de 1870, o antigo pouso localizado no entroncamento dos caminhos para o sertão, destacava-se como maior produtor de café da Província de São Paulo e passaria a se articular com o comércio internacional através da ferrovia. (SALGADO, PEREIRA: 2012). Além de demonstrar a evolução no conhecimento do território, a cartografia histórica é a base de dados necessária à elaboração dos mapas temáticos sobre a evolução da organização territorial e da rede urbana da RMC. A cartografia histórica disponível permite algumas investigações sobre as etapas da constituição da rede de caminhos e sobretudo, na segunda metade do século XIX, a rede formada pelas ferrovias. As trocas e os fluxos comerciais entre as diversas povoações são um dos elementos definidores de uma rede urbana. 4. METODOLOGIA Partindo do pressuposto de que a urbanização é um fenômeno que se produz em diversos níveis, a pesquisa se desenvolveu em escalas distintas: uma primeira escala de análise é a investigação da conversão do sertão em território a partir da instalação das estruturas do poder eclesiástico e do poder civil, bem como da análise dos desmembramentos territoriais, entendendo que a formação dos municípios constitui um parâmetro válido para avaliar o processo de urbanização, pois quanto mais vasto é o território sob a jurisdição do município, menor é o estado de desenvolvimento urbano do território, e vice-versa. Uma outra dimensão da pesquisa é a análise de elementos materiais do espaço intraurbano de alguns estudos de caso que são representativos do papel que estes núcleos urbanos desempenham nesta rede de cidades. No nível local, a iconografia e a cartografia urbana permitem visualizar as diferentes escalas e certos aspectos morfológicos das povoações. CINTRA (2010) defende a ideia de que trabalhar com mapas antigos em meio digital, além de facilitar a visibilidade da obra, apresenta uma serie de benefícios e novas possibilidades de analises sobre os mapas, no entanto, há necessidade de aplicar métodos específicos a fim de garantir a qualidade e exatidão na produção de novos mapas. Nesse aspecto foram pesquisados diferentes métodos de trabalho, sendo que o método utilizado por CINTRA (2010) demonstrou maior coerência as necessidades da pesquisa proposta e que mostraram melhores resultados na produção de novos mapas. Assim, seguindo o método utilizado por este autor dividimos o processo de produção mapas antigos nas seguintes etapas: 4.1 Obtenção da cópia do mapa em meio digital: Foram obtidos mapas históricos através das bibliotecas digitais (acervos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, do Arquivo Público do Estado de São Paulo, IBGE, etc.) e mapas que não foram disponibilizados na forma digital, mas, fundamentais para o levantamento documental primário, como foi o caso de mapas e plantas cartográficas encontradas nos acervos do Centro de Memória da Unicamp, e do laboratório de geoprocessamento da PUC-Campinas foram digitalizados em escâneres, para melhor resolução da imagem. Um aspecto importante que CINTRA (2010) destaca, é a necessidade que considerar dados como escala, projeção e meridiano de origem que são fundamentais para realizar a análise do território, uma vez que um mapa significa a redução da realidade e portanto contem distorções da realidade. Assim, uma tabela contendo estes dados foi criada com o objetivo de organizar e sistematizar a formulação de base de dados, possibilitando o acúmulo de mais informações sobre os dados a serem utilizados. 4.2 Escolha do programa para Cartografia digital: Neste trabalho, foi escolhido o programa ArcGis 10.1 em função da familiaridade do pesquisador com esse programa e por conter as ferramentas fundamentais

Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica ISSN 1982-0178 para execução do trabalho de pesquisa, que são: conter as projeções a serem utilizadas no trabalho, a possibilidade de criar tabelas em planilhas eletrônicas, a possibilidade de importar tabelas para criação de pontos, a aceitação de mapas digitais em diversos formatos (dxf, tif, jpg, bmp, gif, esri, shape, sid, etc.) e recursos de edição de mapa, além do acesso da universidade a este software, isentando o investimento de capital para este fim especifico. (CINTRA, 2010). 3.3 Georreferenciamento: Foi definida a unidade de trabalho cartográfica em graus, a projeção escolhida para trabalho foi UTM wgs84, sendo que os pontos coletados escolhidos para o georreferenciamento foram pontos físicos que existiam na época em que o mapeamento da carta histórica foi produzida e que ainda existem na atualidade sem que tenha ocorrido uma alteração significativa na localidade deste ponto, exemplo desses pontos são travessias de ruas, edifícios, localidade de cemitérios e hospitais, divisores de água, entroncamento de estradas de ferro ou rodovias, etc. em todos os casos foram coletados mais de quatro pontos e com Máximo Erro Residual (RMS) permitido, seguindo o critério utilizado por CARVALHO e ROSSI (2007) que considera que a variação máxima aceitável deve estar abaixo de 1/5 do valor da escala do mapa, por exemplo, se a escala da folha é de 1:50.000, então o desvio máximo aceitável deve ser inferior a 10. Isto significa trabalhar com o padrão de exatidão cartográfica (0,2 mm na escala do mapa); exemplo: na escala 1:50.000, 1 mm no mapa significa 50 metros da realidade, de modo que 0,2 mm no mapa significa 10 metros da realidade. Pontos que ultrapassaram o RMS ou que ficaram com valores superiores a média do erro residual, foram descartados no objetivo de melhorar a precisão do georreferenciamento. Após o término da coleta de pontos para efetuar o georreferenciamento, foi comparado o mapa com outra base já georreferenciada, como imagens de satélite e vetores já existentes, para garantir o mínimo de distorções gráficas quando comparadas com a realidade do espaço e do território mapeado.as ilustrações a seguir mostram o processo de análise da qualidade dos dados trabalhados na nossa pesquisa: Fig. 3. Planta de Agua e esgotos de Indaiatuba. Rede de esgotos, 1:2.000, Indaiatuba, 1951. Disponível no Arquivo Publico do Estado de São Paulo <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/>. Acesso: 29/10/2013 Fig. 4. Imagem aproximada da planta de Indaiatuba de 1951 para visualização do ponto de referencia coletado para efetuar o georreferenciamento. Fig. 5. Imagem de satélite GeoEye, 2012 georreferenciada utilizada como base de coordenadas. Fig. 6. Pontos coletados na planta de Indaiatuba de 1951 com os valores do Erro Residual.

Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica ISSN 1982-0178 4.4 Criação de camadas e trabalho com os recursos do software: Esta etapa consiste na vetorização dos dados cartográficos em pontos, linhas e polígonos, ou seja, na formulação de um novo mapa, porém numa base cartográfica atual, sendo que estes dados servirão para analisar o desenvolvimento urbano das cidades. Para efetuar a digitalização dos mapas assim como seu devido georreferenciamento para tirar o máximo proveito da ferramenta digital e assim realizar análises como: estudo do meridiano de origem, da escala, da precisão do mapa, para efetuar a comparação com outros mapas e detectar as relações de semelhança ou cópia, da localização de caminhos ou edifícios antigos, de alterações e expansão de cidades, para efetuar análises sobre as transformações do território e o desenvolvimento das cidades no decorrer do tempo. Como foi proposto inicialmente no plano de pesquisa, os primeiros mapas produzidos consistem na observação da formação em rede do território pertencente a Região Metropolitana de Campinas no aspecto religioso e político e a partir do Caminho dos Goyases que foi fundamental para a ocupação deste território e na implantação das ferrovias que a partir do final do século XIX vão rearticular a rede de fluxos de produtos e pessoas na região. 5. CRIAÇÃO E PRODUÇÃO DE NOVOS MAPAS No caso dos documentos cartográficos levantados para formação da base de dados, foi realizada a separação dos documentos em dois grandes grupos. No primeiro grupo estão os mapas que foram georreferenciados e considerados com exatidão satisfatória se comparados com um plano cartográfico atual. O segundo grupo foi formado por documentos cartográficos que foram utilizados apenas como consulta na interpretação do passado, sendo que os documentos desta ultima classe, não foram georreferenciados em função das distorções e dos erros espaciais exagerados contidos no mapa em função da técnica utilizada ou dos interesses da época na sua confecção, sendo inviável a sua utilização como referência espacial, porém fundamental para observar os interesses políticos e econômicos sobre o território do período histórico, além da percepção dos autores sobre o espaço em seu contexto. Cabe salientar que na formação da base de dados, com o objetivo de viabilizar a produção de mapas, nem todos os vetores foram produzidos pelo organizador deste trabalho. Alguns dados cartográficos digitais foram coletados de órgãos públicos como foi o caso da hidrografia na região a fim de acrescentar informações nos mapas que foram produzidos. Sendo assim, os dados cartográficos digitais vetoriais utilizados ou produzidos nesta pesquisa podem ser classificados como, dados coletados em instituições públicas e dados produzidos pelo organizador a partir dos documentos cartográficos históricos, imagens de satélites e outras referências secundárias. Fig.7. Mapa produzido na primeira etapa de estudo Em uma segunda etapa, a pesquisa procedeu a observação do crescimento urbano de alguns municípios pertencentes a RMC, resultando na produção de mapas com relevância temporal e focado na distribuição da população urbana e o crescimento das cidades. Fig.8. Mapa Produzido na segunda etapa a partir do georreferenciamento dos mapas históricos

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise histórica da urbanização do território que hoje constitui a RMC visa contribuir para subsidiar intervenções contemporâneas e ações de preservação do patrimônio arquitetônico e urbano das cidades em questão. No âmbito de uma pesquisa de iniciação científica, não seria possível analisar todos os núcleos urbanos da RMC com o mesmo nível de aprofundamento. A partir de um levantamento de dados preliminar, optou-se então pela escolha de três cidades - Campinas, Indaiatuba e Itatiba que poderiam ser estudadas de forma mais detalhada em função da quantidade e qualidade dos dados encontrados. Estas cidades também eram objeto de estudo de outros pesquisadores do grupo, a partir de diferentes recortes temáticos, o que possibilitou a colaboração nas vistas de campo e discussão de parte da bibliografia consultada e de resultados. Também foram levantados dados sobre os municípios de Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Hortolândia, Monte Mor, Arthur Nogueira e Pedreira, porém em função da exiguidade do tempo para coletar mais dados cartográficos e realizar vistas de campo não foram produzidos mapas do espaço intra urbano nesses casos. Estes e os demais municípios da RMC foram estudados na escala de uma rede de cidades formada a partir de desmembramentos territoriais. Este trabalho também contribuiu para aprimorar os métodos e aplicações da cartografia histórica no plano digital, algo ainda recente no Brasil, mas que vem se aprimorando a medida que novos pesquisadores se predispõem a estudar e aplicar este ramo do conhecimento cientifico que dialoga com a geografia, e a história da cidade e do urbanismo. Sendo assim, este trabalho contribuiu para a interpretação espaçotemporal do interior paulista, mas principalmente para novas aplicações das análises históricas sob o olhar da cartografia. No complexo do entroncamento produtivo e tecnológico, estudar estes legados culturais se faz urgente. Zelar e desvendar os sentidos de formação e transformação das paisagens geográficas no território transcende uma única visão de mundo que é somado a partir da perspectiva que a união dos diferentes conhecimentos científicos se intersecta como foi o caso da união dos saberes geográficos e urbanísticos. REFERÊNCIAS [1] ABREU, Mauricio de Almeida. Sobre a memória das cidades. Revista TERRITÓRIO, ano III, nº 4, jan./jun. 1998. [2] ANDRADE, Adriano Bittencourt. A cartografia histórica como instrumento para análises de configurações espaciais pretéritas. O uso de mapas conjecturais. V Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica. Petrópolis, Rio de Janeiro, 2013. [3] BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Dilatação dos confins: caminhos, vilas e cidades na formação da Capitania de São Paulo (1532-1822). Anais do Museu Paulista, São Paulo.N. Sér. Vol 17 n. 2 p. 251-294, jul-dez 2009. [4] CINTRA, Jorge Pimentel. A Cartografia digital como ferramenta para a Cartografia histórica. Anais do 3o Simpósio Ibero Americano de História da Cartografia. Agendas para a História da Cartografia Ibero Americana. São Paulo, 2010. [5] PETRONE, Maria Thereza Schorer. A lavoura canavieira em São Paulo expansão e declínio. São Paulo: Difusão europeia do livro, 1968. [6] SALGADO, Ivone; PEREIRA, Renata. Solução de continuidade no processo de formação de núcleos urbanos da região de Campinas, SP. Anais do II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Natal: 2012.