Entrevista. Gary B. Carr

Documentos relacionados
Estudo de Caso. Cliente: Rafael Marques. Coach: Rodrigo Santiago. Duração do processo: 12 meses

Manutenção de Ambientes de Saúde

SORRISO BONITO E SAUDÁVEL PARA TODA A VIDA!

COMO FAZER A TRANSIÇÃO

Projeto Você pede, eu registro.

3 Dicas MATADORAS Para Escrever s Que VENDEM Imóveis

Iluminação pública. Capítulo VIII. Iluminação pública e urbana. O mundo digital


Apesar de colocar-se no campo das Engenharias, profissional destaca-se, também, pelo aprimoramento das relações pessoais

NOKIA. Em destaque LEE FEINBERG

Questionário de Avaliação de Maturidade Setorial: Modelo PRADO-MMGP

Diminua seu tempo total de treino e queime mais gordura

GARANTIA DA QUALIDADE DE SOFTWARE

ilupas da informação e comunicação na área de Saúde entrevista

Rekreum Bilbao, Vizcaya, Espanha,

Anelise de Brito Turela Ferrão Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Edição de um filme a partir de fotografias

SOFTWARE LIVRE NO SETOR PÚBLICO

HISTÓRIAREAL. Como o Rodrigo passou do estresse total para uma vida mais balanceada. Rodrigo Pinto. Microsoft

Compreendendo a dimensão de seu negócio digital

A Tecnologia e Seus Benefícios Para a Educação Infantil

Empresário. Você curte moda? Gosta de cozinhar? Não existe sorte nos negócios. Há apenas esforço, determinação, e mais esforço.

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

ENTREVISTA. Clara Araújo

"O MEC não pretende abraçar todo o sistema"

Freelapro. Título: Como o Freelancer pode transformar a sua especialidade em um produto digital ganhando assim escala e ganhando mais tempo

ACOMPANHAMENTO GERENCIAL SANKHYA

Redes Sociais. Engajamento do Cliente Porque devo investir um tempo do meu dia em minhas redes sociais. Redes Sociais 2015.

O que é Administração

Tomada de Decisão uma arte a ser estudada Por: Arthur Diniz

Por que o financiamento coletivo está se tornando um fenômeno social?

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Você é comprometido?

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 3 Planejando a Ação Voluntária

Os desafios do Bradesco nas redes sociais

Linha 1: Resposta biológica nas terapias em Odontologia.

Itinerários de Ônibus Relatório Final

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

MANUAL DO ASSOCIADO. Plano Empresarial. A solução definitiva em odontologia

NUNCA DEIXEM DE APRENDER. NUNCA! revista de informação especializada e profissional. João Caramês e Stephen Chu. médicos dentistas.

A EVOLUÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE TI PARA ATENDER AS NECESSIDADES EMPRESARIAIS

Estruturando o modelo de RH: da criação da estratégia de RH ao diagnóstico de sua efetividade

Sistemas de Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente (Customer Relationship Management CRM)

2 - Sabemos que a educação à distância vem ocupando um importante espaço no mundo educacional. Como podemos identificar o Brasil nesse contexto?

Lógicas de Supervisão Pedagógica em Contexto de Avaliação de Desempenho Docente. ENTREVISTA - Professor Avaliado - E 5

Governança Corporativa. A importância da Governança de TI e Segurança da Informação na estratégia empresarial.

UMA PESQUISA SOBRE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO IFC-CÂMPUS CAMBORIÚ

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT APROVA ENCAMINHAMENTO PARA DEFESA DA PROPOSTA DE NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO, DAS APOSENTADORIAS E DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

Case de Sucesso. Integrando CIOs, gerando conhecimento. FERRAMENTA DE BPM TORNA CONTROLE DE FLUXO HOSPITALAR MAIS EFICAZ NO HCFMUSP

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME Secretaria Nacional de Renda de Cidadania

Mídias sociais como apoio aos negócios B2C

Nós acreditamos. Conheça o seu novo laboratório!

INOVAÇÃO NA ADVOCACIA A ESTRATÉGIA DO OCEANO AZUL NOS ESCRITÓRIOS JURÍDICOS

COMO ENGAJAR UM FUNCIONÁRIO NO PRIMEIRO DIA DE TRABALHO?

USO DE REDES SOCIAIS EM AMBIENTES CORPORATIVOS.

Amanda Oliveira. E-book prático AJUSTE SEU FOCO. Viabilize seus projetos de vida.

OS 14 PONTOS DA FILOSOFIA DE DEMING

O papel da gerência em um ambiente de manufatura lean. Gary Convis, Presidente, Toyota Motor Manufacturing de Kentucky

Entrevista n.º Quais são as suas responsabilidades em termos de higiene e segurança?

LANXESS AG. Rainier van Roessel Membro da Diretoria. Sustentabilidade em Borrachas: Hoje e Amanhã. Painel 1 Discurso de Abertura

O modelo inovador do CorretorVIP tem como base duas plataformas tecnológicas complementares, explicadas a seguir:

Mídias sociais como apoio aos negócios B2B

EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO

Inquérito de Satisfação 2014

A experiência da Engenharia Clínica no Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ODONTOLOGIA LIGA DE ODONTOLOGIA ONCOLÓGICA - LOO EDITAL 01/2015 LOO UFU

Como acelerar o Fluxo de Caixa da empresa?

Resultado da Avaliação das Disciplinas

difusão de idéias AS ESCOLAS TÉCNICAS SE SALVARAM


FORMAÇÃO DE JOGADORES NO FUTEBOL BRASILEIRO PRECISAMOS MELHORAR O PROCESSO? OUTUBRO / 2013

Importância da normalização para as Micro e Pequenas Empresas 1. Normas só são importantes para as grandes empresas...

Parabéns a você que burlou a realidade para se tornar a PEÇA que FALTAVA na sua advocacia.

SocialDB Social Digital Library

PEDAGOGIA HOSPITALAR: as politícas públicas que norteiam à implementação das classes hospitalares.

Implantação do Padrão TISS

Como fazer contato com pessoas importantes para sua carreira?

A escola para todos: uma reflexão necessária

Transformando serviços automotivos: o caso de pneus

NEGÓCIOS CATÁLOGO DE PRODUTOS. Take a Tip Consultoria de Inovação e Negócios

Universidade Federal de Goiás UFG Campus Catalão CAC Departamento de Engenharia de Produção. Sistemas ERP. PCP 3 - Professor Muris Lage Junior

Quando era menor de idade ficava pedindo aos meus pais para trabalhar, porém menor na época não tinha nada e precisei esperar mais alguns anos.

5 Considerações finais

5 Experiência de implantação do software de roteirização em diferentes mercados

SEJA BEM-VINDO! AGORA VOCÊ É UM DENTISTA DO BEM

Lentes de contato dental: construindo um protocolo previsível

ADMINISTRAÇÃO I. Família Pai, mãe, filhos. Criar condições para a perpetuação da espécie

COMO CRIAR UMA ESTRATÉGIA DE MARKETING

BSC Balance Score Card

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

Distribuidor de Mobilidade GUIA OUTSOURCING

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

Instalações Máquinas Equipamentos Pessoal de produção

engenharia de embalagens UMA ABORDAGEM TÉCNICA DO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE EMBALAGEM Maria Aparecida Carvalho Novatec

PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO APLICADOS ÀS PRÁTICAS ODONTOLÓGICAS

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

Ana Beatriz Bronzoni

Artigo Lean Seis Sigma e Benchmarking

Apresentação Institucional

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

Transcrição:

Entrevista Gary B. Carr Diz o ditado popular que quando você quer que algo seja feito com rapidez e eficiência você deve pedir para uma pessoa muito ocupada. Assim fizemos e o Dr. Gary Carr nos concedeu esta entrevista sobre sua visão da microscopia operatória na Odontologia, em meio a tantos compromissos como a mudança de sua clínica, construção de um laboratório de pesquisas com as mais modernas tecnologias disponíveis (MEV, MET, cultura de células, microbiologia etc), desenvolvimento e coordenação de uma pesquisa clínica em Endodontia com multicentros espalhados pelos quatro cantos do mundo, dentre tantos outros trabalhos. Veja porque ele é considerado uma das maiores autoridades mundiais em desenvolvimento e aplicações de novas tecnologias e o pai da microscopia operatória na Odontologia. O Sr. poderia falar sobre como ocorreu a idéia de utilização da microscopia operatória na Odontologia? Quando realizava meus trabalhos de pesquisas em anatomia da musculatura da cabeça e pescoço em cadáveres, notei que existia uma grande dificuldade em realizar com precisão estas dissecações, mesmo utilizando as lupas convencionais, estando sem o auxílio de um poderoso equipamento de magnificação e iluminação. Iniciei então a utilização do microscópio operatório no laboratório, que logo se mostrou indispensável para minhas dissecações. Em seguida iniciei a utilização desta tecnologia em meu consultório. Então a implantação do microscópio operatório em seu consultório foi feita rapidamente e sem grandes dificuldades? No início eu tentei implantar esta nova tecnologia em meu consultório apenas comprando o equipamento e colocando-o em uso, porém logo percebi que não estava funcionando como imaginava. Isto inicialmente me trouxe muitas frustrações e dificuldades operacionais, uma vez que eu estava trabalhando com os conceitos de uma Odontologia baseada na iluminação do refletor e com o design do consultório baseado em paradigmas de uma outra época. Como o Sr. fez, então, para utilizar o microscópio operatório de uma maneira definitiva e eficiente no cotidiano do seu consultório? Durante minhas pesquisas, observei que no laboratório não podia manipular o microscópio operatório para realizar pequenos ajustes de foco e de posicionamento, devido à presença de substâncias químicas nas luvas que, certamente, danificariam o equipamento. Esta simples observação, no laboratório, me permitiu desenvolver, no consultório, o conceito de movimentar o paciente para 14 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006

Gary B. Carr Tive que reinventar os conceitos de ergonomia, pois os existentes eram inadequados para esta nova tecnologia. R Dental Press Estét, Maringá, v. v. v. 3, 3, 3, n. n. n. 2, 4, 3, p. p. p. 10-15 14-23, 16-20,, abr./maio/jun. out./nov./dez. jul./ago./set. 2006 15

Entrevista realizar pequenos ajustes através dos movimentos da cadeira odontológica, que passou a ser giratória. Depois percebi que o design do consultório necessitava de uma reformulação completa e até mesmo radical, com conceitos inovadores, que nunca tinham sido aplicados antes à Odontologia. Por último, precisei desenvolver novos equipamentos e técnicas para podermos nos beneficiar da magnificação. Após todas estas modificações necessárias para incorporar o microscópio operatório em seu consultório, como ficou o conceito de ergonomia tradicional em relação ao profissional e pessoal auxiliar? Figura 1 Tive que reinventar os conceitos de ergonomia, pois os existentes eram inadequados para esta nova tecnologia. Desenvolvi uma série de conceitos inovadores, em que tanto o operador como a auxiliar se integram completamente e se beneficiam enormemente. Este sistema que criei se chama TDO System e possibilita trabalharmos de forma ergonômica com alta produtividade, preservando a saúde e a integridade da postura, mantendo constantemente o foco no campo operatório (Fig. 1). Nesta foto podemos ver meu consultório de 20 anos atrás com todos os elementos do meu TDO System: microscópio operatório na posição adequada com microscópio auxiliar (carona); cart com monitor para comunicação com o paciente; back wall para tecnologia; cadeira giratória; mesa auxiliar e mochos com apoio de braço. Durante todo o seu desenvolvimento para a incorporação do microscópio operatório na Odontologia, como as indústrias responderam às necessidades dos cirurgiões-dentistas? No início utilizávamos os microscópios advindos da Medicina, fato este que não nos favorecia. Estes equipamentos possuíam e, infelizmente, muitos ainda possuem grandes aumentos e limitados campos iluminados. Atualmente apenas alguns fabricantes entenderam as nossas reais necessidades e desenvolveram equipamentos específicos para nossa profissão. Isto é um grande fator limitante para a disseminação desta tecnologia, uma vez que com microscópios não tão adequados nada Figura 2 podemos fazer, além de usá-los intermitentemente, apenas em algumas etapas dos trabalhos clínicos. Como o Sr., que trabalha há tantos anos com a microscopia operatória, vê o interesse crescente dos colegas de outras áreas como Periodontia, Dentística e Prótese pela aquisição do microscópio, com a finalidade de aperfeiçoar os resultados clínicos? Realmente vejo isto com muita alegria, pois apesar de ser um endodontista sempre procurei estimular a 16 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006

Gary B. Carr Figura 3 Figura 4 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006 17

Entrevista Figura 5 Figura 6 Odontologia como um todo a utilizar o microscópio operatório. Ministrei e ministro, constantemente, cursos para todas as especialidades e vejo que o interesse está crescendo muito. Acho que os colegas não devem pensar no microscópio operatório apenas como um novo equipamento, mas sim como o início da implementação de uma grande mudança nos seus paradigmas profissionais. fotográficas, inclusive as do tipo reflex, com perfeita integração e excelente ergonomia. Nas figuras 3 e 4 temos dois exemplos clássicos de fotos feitas através do microscópio operatório, que certamente são de grande interesse para a Odontologia Estética. Como é a ergonomia da fotografia através do microscópio operatório quando comparada à tradicional que fazemos? Hoje dispomos de câmeras digitais de altíssima qualidade, flashs potentes, filmadoras, com os quais podemos documentar os casos clínicos, tanto com a finalidade legal como para a educação e orientação dos nossos próprios pacientes. De que maneira esses recursos podem ser utilizados juntamente com o microscópio operatório? É possível obter imagens com boa qualidade? Esta é uma pergunta muito pertinente, pois o microscópio operatório é o equipamento ideal para obtermos imagens digitais de altíssima qualidade, com ergonomia perfeita, sem que haja necessidade de interrupção do ato operatório, ou mesmo que se destine uma assistente para executar especificamente a função de tirar as fotografias. Desenvolvi uma linha de espelhos altamente reflexivos (Fig. 2) e um adaptador fotográfico para todos os microscópios existentes que possibilita a utilização de inúmeras câmeras A ergonomia para fotografarmos através do microscópio operatório e produzirmos imagens digitais de ótima qualidade é excelente, uma vez que o profissional fica em sua posição de trabalho original e não tem seu trabalho interrompido (Fig. 5). Sabemos que quando documentamos, tradicionalmente, durante um procedimento clínico necessitamos de inúmeras interrupções ou ainda contarmos com uma segunda auxiliar somente para realizar a tarefa de registrar os casos (Fig. 6). Em média, durante a execução de um caso clínico, em meu consultório, tiro de 40 a 50 fotografias para documentar todas as etapas operatórias e não gasto um minuto a mais para fazê-lo (Fig. 7, 8). A aquisição do M.O. permite ao profissional enxergar melhor os detalhes das estruturas bucais, devido à magnificação e à excelente qualidade de luz, sem sombras, mas para adquirí-lo parece-me que são 18 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006

Gary B. Carr Figura 7 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006 19

Entrevista Figura 8 20 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006

Gary B. Carr necessárias outras mudanças na forma de trabalhar. É necessário incorporar uma nova filosofia de trabalho. O que o Sr. pensa em relação a isso? Este é o ponto central da minha filosofia de utilização do microscópio operatório na Odontologia. Precisamos nos adequar, planejar nosso consultório, rever nossos conceitos para podermos implementar, plenamente, esta nova tecnologia. Entendo que não seja o mais adequado utilizar o microscópio operatório de forma parcial, sem treinamento, sem ergonomia, pois isso prejudica e muito o aproveitamento clínico e faz com que a eficiência seja muito reduzida. Há quase 30 anos a Odontologia utiliza o microscópio operatório e sabemos que o Sr. foi um dos grandes responsáveis por essa mudança de paradigma. Gostaria que comentasse como essa necessidade de incorporar o microscópio nos trabalhos da clínica foi sentida inicialmente e como o Sr. expôs esse novo conceito para a comunidade odontológica? Foi fácil propor essa nova condição de trabalho? Inicialmente eu fui questionado sobre a validade deste conceito e encontrei certa resistência por parte de alguns colegas, porém isto é muito normal devido à nossa resistência frente a novos conceitos. Atualmente já temos um entendimento maior quanto ao uso do microscópio operatório na Odontologia e seus desdobramentos. Por exemplo, atualmente ele é obrigatório em todos os cursos de especialização em Endodontia nos Estados Unidos e em diversos outros países. Atualmente temos uma clara expansão de sua utilização na Odontologia e isso é um ótimo sinal. Recentemente a SBOE determinou que a microscopia operatória terá espaço em seus congressos e será difundida entre seus membros. Como o Sr. vê esta iniciativa, bem como este espaço na revista Dental Press de Estética? Vejo da melhor forma possível, pois a Odontologia Estética pelo seu nível de excelência e pelo alto grau de exigência técnica só terá benefícios com a microscopia operatória. Certamente esta é uma iniciativa pioneira no mundo da Odontologia Estética e um exemplo a ser seguido por outras entidades de prestígio, como a SBOE. O Brasil tem forte tradição na área de Odontologia Estética e seguramente irá influenciar outros países. A iniciativa pioneira da revista Dental Press de Estética, através de seu editor chefe Dr. Sidney Kina, em abrir espaço para um tema tão importante como este, certamente demonstra o quanto ele está sintonizado com a Odontologia mundial, procurando trazer temas que possam complementar a Odontologia Estética brasileira. O Sr. poderia citar alguns dos benefícios que os membros da SBOE e os demais dentistas teriam ao utilizar o microscópio operatório? Pela primeira vez na Odontologia temos um equipamento que nos possibilita a nítida visão, através da magnificação e da excelente fonte de luz, e a realização dos nossos trabalhos clínicos, durante o ato operatório. Talvez um dos principais benefícios seja a capacidade de diagnosticar precocemente patologias tanto de tecido duro como de tecido mole. Nada é mais desejável para nós, promotores de saúde bucal, do que o diagnóstico precoce, quando temos a chance de oferecer tratamentos mais conservadores aos nossos pacientes. A remoção de lesões de cárie é feita de maneira muito mais precisa e conservadora sem remoção de estrutura sadia. Também, podemos verificar presença de trincas, fraturas, adaptações de próteses, restaurações e etc. Do lado técnico podemos realizar colocação de núcleos diretos, execução de preparos cavitários ultra conservadores, escultura mais precisa, acabamento das restaurações com maior precisão, caracterização e polimento das restaurações de resina composta, ajustes oclusais, cimentação de peças protéticas e remoção dos resíduos desta cimentação, etc. Poderia enumerar mais de uma centena de itens dos quais vocês poderiam se beneficiar, pois acredito que vendo com mais detalhes podemos sempre fazer melhor. Como o Sr. vê a utilização do microscópio operatório nos dias de hoje? Quais as perspectivas futuras nos Estados Unidos e no mundo? Atualmente, existem dois grandes desafios a serem R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006 21

Entrevista vencidos, tanto nos EUA bem como no restante do mundo. O primeiro é o de motivar e educar os profissionais que já possuem o microscópio operatório a maximizarem sua utilização nos diversos procedimentos clínicos existentes e, também, como ferramenta de documentação e comunicação, fundamentais na atualidade. O segundo desafio consiste em incorporar a microscopia operatória na graduação para que os futuros cirurgiões-dentistas possam usufruir dos benefícios da magnificação, desde o início de sua vida profissional. O futuro certamente está intimamente ligado à formação de novos profissionais com uma mentalidade diferente quanto à necessidade de se realizar uma Odontologia baseada na visão e não no tato. Quando vemos com mais detalhes temos a capacidade de transformar a Odontologia em uma profissão verdadeiramente de precisão e excelência, em que tradicionais paradigmas educacionais serão paulatinamente substituídos para avançarmos em direção ao futuro. Isto foi um grande erro que me trouxe muitas frustrações e dificuldades operacionais, uma vez eu estava trabalhando com os conceitos antigos e paradigmas inadequados a esta nova realidade. Gary B. Carr O Dr. Gary B. Carr é reconhecido como o pai da Microscopia Operatória na Odontologia e na Endodontia mundial devido às suas constantes inovações e invenções. Atualmente ele se dedica à sua clínica privada de Endodontia na cidade de San Diego, Califórnia, onde reside com sua esposa e filho e tem praticado Endodontia por mais de 20 anos. Teve uma formação eclética, em 1969 obteve seu bacharelado em artes na Cornell University, serviu na Marinha Americana no Vietnam de 1970 a 1972, graduou-se em Odontologia em 1976 na State University of New York em Buffalo e se especializou em Endodontia na University of Illinois em Chicago em 1982 e é também diplomado pela American Board of Endodontics da American Association of Endodontists (AAE-USA). Publicou diversos artigos científicos nos mais prestigiados periódicos mundiais, capítulos de livros e ministrou cursos e workshops em dezenas de universidades nos EUA e em diversos outros países. Treinou gratuitamente a maioria dos atuais chefes dos cursos de especialização e pós-graduação de Endodontia no EUA, Canadá e México na década de 90. Fundou a Pacific Endodontic Research Foundation (PERF) onde ele e sua equipe de colaboradores treinaram mais de 1.000 endodontistas do mundo inteiro em técnicas de Endodontia convencional e cirúrgica. Paralelamente às suas atividades educacionais ele desenvolveu e patenteou inúmeros equipamentos e instrumentos que revolucionaram a Endodontia. Atualmente o Dr. Carr e sua equipe devotam grande parte de sua energia e tempo para o desenvolvimento do TDO software e TDO system (TDO software é o gold standart da Endodontia mundial), um software revolucionário que promove a eliminação completa do uso de papel em consultórios odontológicos e um sistema de uso e integração das mais modernas tecnologias de comunicação disponíveis e que conta com mais de 450 usuários em dezenas de países pelo mundo afora. 22 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006

Gary B. Carr Entrevistadores Carlos A. F. Murgel Formado em Odontologia na FORP-USP. Residência em Endodontia pela University of Iowa. Doutor em Endodontia pela FOP- UNICAMP. Idealizador e Implementador do Primeiro Centro de Ensino de Microscopia Operatória do Brasil e da América Latina em 1995 na FOP- UNICAMP. Professor de Endodontia e Microscopia Operatória da EAP-APCD central. Professor de Endodontia e Microscopia Operatória da EAP-ACDC. Membro do Editorial Board do Journal of Endodontics. Professor de Microscopia Operatória e Endodontia da Pacific Endodontic Research Foundation San Diego, CA, USA. Clínica particular em tempo integral. Claudia Cia Worschech Diretora Científica da SBOE. Especialista, Mestre e Doutora em Clínica Odontológica - Área de Dentística pela FOP-UNICAMP. Coordenadora dos Cursos de Dentística e Diretora Científica da APCD/Americana. Clínica particular em tempo integral. R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 4, p. 14-23, out./nov./dez. 2006 23