DIGITALIZAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA DA OFICINA GUAIANASES DE GRAVURA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA



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Transcrição:

1 DIGITALIZAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA DA OFICINA GUAIANASES DE GRAVURA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Maria Mercedes Otero 1, Vildeane Borba 2, Neuman Silva 3 1 Professora Adjunta do Departamento de Ciência da Informação, UFPE, Recife, PE 2 Professora Assistente do Departamento de Ciência da Informação, UFPE, Recife, PE 3 Graduanda em Biblioteconomia, UFPE, Recife, PE RESUMO Este trabalho descreve o relato da experiência de Digitalização dos Documentos Históricos da Oficina Guaianases de Gravura (OGG), apresentando as tecnologias, métodos e os metadados utilizados, visando a preservação do acervo e sua disponibilização em meio digital na internet, colaborando para a iniciativa de acesso livre. A metodologia abordada descreve os padrões adotados para a digitalização dos documentos, sua descrição através da utilização do padrão de metadados Dublin core e a construção de banco de dados em sua maior parte referencial disponibilizado no site www.ufpe.br/guaianases. Os resultados apresentam a digitalização de 2202 imagens distribuídas em 27 tipologias documentais. Cerca de 80% do acervo se encontra disponibilizada em banco de dados referencial e 20% em banco de dados com suas respectivas imagens. Pretende-se com esta iniciativa incentivar projetos replicáveis e comunidades de prática que desenvolvam pesquisas na área da democratização da informação, colaborando para a preservação da memória e ampliação do acesso à informação por meio da web. Palavras-chave: Digitalização; Oficina Guaianases de Gravura; Preservação; Acesso Livre. ABSTRACT This paper describes the experience report digitization of Historical Documents Oficina Guaianases de Gravura (OGG), presenting the technology, methods and metadata used in order to preserve the collection and its availability in digital media on the internet, adding to the initiative open access. The methodology discussed describes the standards adopted for the digitization of documents, their description using the Dublin Core metadata standard and the construction of database for the most part references on the website www.ufpe.br/guaianases. The results show a scan of 2202 images divided into 27 types documentary. About 80% of the collection is available in database referential and 20% in databases with their respective images. It is intended to encourage this initiative replicable projects and communities of practice to develop research in the democratization of information, helping to preserve the memory and increase access to information through the web. Keywords: Digitization; Oficina Guaianases de Gravura; Preservation; Open Access.

2 1 Introdução Este relato de experiência refere-se ao Projeto de Extensão Digitalização da documentação histórica da Oficina Guaianases de Gravura que é o desdobramento de um Projeto de maior amplitude denominado Arte e Tecnologia: cuidando da memória, financiado pela Petrobrás e concluído em 2008. O projeto Arte e tecnologia: cuidando da memória teve como objetivo preservar, conservar e divulgar a coleção de litogravuras da Oficina Guaianases, organizando o arquivo de gravuras e dando tratamento digital ao acervo, para disponibilizá-lo à comunidade acadêmica e ao público em geral. (CARVALHO; OTERO; BARBOSA, 2006, p. 134) A Oficina Guaianases de Gravura (OGG) foi uma casa-editora dedicada à prática de gravura artística, especialmente a litogravura que consolidou-se como uma entidade produtora de reconhecimento nacional. Dentro da história das artes plásticas pernambucana, tornou-se um movimento de expressão nacional que durou vinte anos (1974-1995). Em 1995 a Oficina encerrou suas atividades e seus sócios fundadores doaram à UFPE 2.030 litogravuras produzidas de 1975 a 1995, formando a Coleção Histórica da Oficina Guaianases de Gravura disponibilizadas na Biblioteca Joaquim Cardoso (BJC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e no site www.ufpe.br/guaianases. Acompanhava a doação um arquivo com toda documentação burocrática produzida pela OGG entre 1979 e 1995. Esta documentação, gerada durante 15 anos e transferida para a Biblioteca Joaquim Cardozo, agregou mais informações à referida Coleção. São aproximadamente 2.202 documentos, divididos em 27 tipologias documentais, distribuídos em 727 títulos. Esses documentos são frágeis, boa parte se encontra impressa em papel jornal, o que compromete a conservação e inviabiliza a consulta ao documento original. Partindo do princípio de que a responsabilidade das bibliotecas é preservar e divulgar seus acervos, o projeto atendeu a duas preocupações básicas: preservação e difusão. Estas nortearam tanto os princípios de preservação quanto à escolha das tecnologias digitais e outras mídias, para divulgar eficientemente os documentos.

3 A preservação, primeira preocupação, foi condição necessária para deter as alterações e danos em função do tempo, do clima e do manuseio. Tornou-se imperativo a preservação para aumentar a expectativa de duração do acervo. A difusão, segunda preocupação do projeto, orientada pela política da democratização da cultura e universalização do acesso, priorizou, sem desprezar outras mídias, a disponibilização na Internet de parte da documentação que, divulgada virtualmente, torna-se um instrumento para a pesquisa, estudo e ensino das artes plásticas. Sendo assim dentro da política do Departamento de Ciência da Informação (DCI) da UFPE, que consiste na preservação da memória através da utilização de procedimentos tecnológicos, a solução encontrada foi a digitalização para preservação e a construção de um banco de dados referencial de todos os documentos, para maior divulgação. Este artigo tem o propósito de descrever a experiência de digitalização e divulgação online da documentação produzida pela OGG, com a finalidade de criar um instrumento facilitador de pesquisa e produção de trabalhos sobre artes plásticas em Pernambuco, área carente de estudos, análises e publicações, principalmente no que diz respeito aos movimentos das artes plásticas do século XX. 2 Revisão de Literatura O ambiente global reconfigurou-se no pós-guerra centrando as preocupações no ambiente da informação, da comunicação e do conhecimento. Uma das marcas deste período é o fenômeno da explosão documentária que teve como efeito mais evidente a expansão da produção científica e tecnológica, e conseqüentemente, da elevação do volume dos registros desta produção. Surge então uma nova ordem mundial centrada nos processos de produção, controle, organização, transformação, disseminação, preservação e uso da informação. Neste contexto, a tecnologia cumpriu um papel de grande envergadura. A capacidade viabilizada pela informática de se representar os produtos do conhecimento em meio digital e ainda, as possibilidades de transmissão e recepção de dados, voz,

4 imagens e uma variedade dos novos conteúdos como livros, imagens em movimento, música neste novo ambiente, são talvez a marca mais forte deixada pela tecnologia do século XX. Estas inovações acarretaram profundas mudanças que condicionam desde a forma de se produzir bens e recursos intelectuais, até o modo como os indivíduos e a sociedade se relacionam. Neste contexto, é visível o crescimento de bibliotecas e acervos em meio digital com o propósito de facilitar o acesso, gestão e disseminação de informações. O desenvolvimento de bancos de dados, bibliotecas digitais ou virtuais e repositórios possibilita maior agilidade de comunicação, reduzindo esforços, acarretando a precisão dos resultados obtidos e, sobretudo, ampliando fronteiras nas possibilidades de acesso e disseminação de informação em todo o mundo. Os avanços tecnológicos trazem benefícios incalculáveis para o acesso, a disseminação e a preservação da informação, com o propósito de atender as exigências atuais de acesso e intercâmbio da informação. Neste sentido, o movimento mundial pelo acesso livre à informação, é decorrente das dificuldades de acesso encontradas pela comunidade científica no modelo tradicional de publicação, no qual, editores científicos comerciais com os direitos autorais patrimoniais, atribuem altos preços, além de impor barreiras de permissão sobre publicações de resultados de pesquisas financiadas com recursos públicos, o que limita a visibilidade e a circulação do conhecimento científico. Dessa forma, o sistema de comunicação tradicional limita, mais do que expande, a disponibilidade e legibilidade da maior parte da pesquisa científica (JOHNSON, 2002). Com o advento da Internet e das novas tecnologias de informação e comunicação tornou-se possível a implantação de repositórios e bibliotecas digitais, resultando numa queda nos preços de equipamentos de processamento de dados e num interesse crescente por softwares livre e pelo modelo Open Archives. O advento da Web, entretanto, trouxe uma solução ao seu alcance. É agora possível divulgar os resultados de investigadores do mundo livremente, sem custos, a todos os outros pesquisadores - Open Access. (SWAN, 2008, p. 160).

5 O movimento em favor do acesso livre à informação científica possibilitou mudanças de paradigmas na comunicação científica. O termo Open Acess segundo Ferreira et al (2008) significa o acesso digital livre para materiais acadêmicos, principalmente artigos revisados entre os pares, mas também outros tipos de conteúdo digital que os autores pretendem fazer livremente, disponível para todos os usuários online. Este novo modelo não contesta os periódicos impressos e assinados, mas defende que cópias dos resultados de pesquisas científicas financiadas com recursos públicos possam estar disponíveis para qualquer interessado, sem nenhum custo. Juntamente com o Movimento do acesso aberto, outras vertentes defendem a democratização da informação como é visualizada na iniciativa dos open archives, arquivos abertos, que surgiu na Convenção de Santa Fé, Novo México, em outubro de 1999. A convenção estabeleceu aspectos objetivando chegar à interoperabilidade, foram eles a definição de um conjunto mínimo de metadados, a concordância no uso de uma sintaxe comum XML, para transportar e representar dados e a definição de um protocolo comum para extrair dados. Além da Convenção de Santa Fé, houve outros movimentos importantes em favor do livre acesso à informação científica. As duas principais declarações sobre o acesso livre são a Iniciativa do Acesso Livre de Budapeste e a Declaração de Berlim. A primeira surgiu a partir de uma reunião convocada em Budapeste pelo Open Society Institute (OSI), em 2001 com o propósito de acelerar o progresso do esforço internacional para fazer com que os artigos de investigação em toda área acadêmica estivessem disponíveis de forma gratuita na internet. A Declaração de Berlim, em 2005, defende a idéia de que a difusão do conhecimento: não [se dá] apenas através do método clássico, mas também, e cada vez mais, através do paradigma do acesso livre via Internet. Nós definimos o acesso livre como uma fonte universal do conhecimento humano e do patrimônio cultural que foi aprovada pela comunidade científica. No Brasil, podemos citar o Manifesto Brasileiro de Apoio ao Acesso Livre à Informação Científica que foi lançado pelo IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), em 2005, promovendo a produção e disseminação da produção

6 científica brasileira em consonância com o paradigma do livre acesso à informação, no estabelecimento de uma política nacional de acesso livre à informação científica buscando apoio da comunidade científica. O conceito da Iniciativa de Arquivos Abertos representa o anseio da comunidade científica em formar um fórum aberto para aprimorar o desempenho do atual modelo de comunicação científica. Ele visa também formar um repositório de informações que disponibilize na web, de forma pública e gratuita, as contribuições submetidas diretamente para os autores. (CUNHA; MACCARTHY, 2005, p.34). A base da iniciativa é o protocolo OAI-PMH (Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting) que permite compartilhar seus metadados, ou seja, informações que descrevem o conteúdo dos registros. Os metadados do protocolo seguem o padrão Dublin Core, um conjunto de quinze elementos essenciais e vinte e sete de refinamento. Os participantes da iniciativa são divididos em Provedores de Dados, que mantêm repositórios de documentos digitais que implementam o protocolo como forma de expor os metadados de seus documentos, e Provedores de Serviços, que oferecem buscas a estes metadados ou outros serviços que visam agregar valor à iniciativa. A iniciativa OAI (http://www.openarchives.org/) desenvolve e promove padrões de interoperabilidade entre repositórios digitais que visam facilitar a difusão eficiente de conteúdos. A OAI constitui, portanto, um marco na área do tratamento e disseminação da informação em geral e, principalmente, na área da comunicação científica. Essa iniciativa proporcionou a construção, implantação e manutenção de diversos repositórios de acesso livre, assim como o surgimento de diversas ferramentas de software para a construção e manutenção de repositórios. 3 Materiais e Métodos O projeto foi desenvolvido na BJC da UFPE, e contempla toda a documentação da OGG que possui 2.202 documentos. Os procedimentos metodológicos utilizados foram a análise documental; digitalização dos documentos, utilizando-se de técnicas de digitalização como resolução, compressão, tamanho do arquivo, cores, e mídias de

7 gravação; tratamento das imagens, através do software de edição de imagens Adobe Photoshop CS2; indexação dos trabalhos, utilizando-se o padrão de metadados Dublin Core e a alimentação dos dados através do CLIO, software livre desenvolvido pelo Laboratório de Tecnologia do Conhecimento (LIBER) para gestão de acervos, de uso público e gratuito. A análise documental foi realizada através da intervenção fundamental onde foram analisados e agrupados todos os documentos de acordo com suas características e dimensões. As características foram analisadas de acordo com sua tipologia documental: apostila; atas; autorizações e contratos; balancetes; certificados; convites; catálogos; currículos; documentos funcionais; declarações; lista de endereços, ficha de identificação e gravuras; fichas de inscrição; fotografias; lista de jornalistas; lista de museus; lista de materiais; ordem de serviço; pautas de exposição; normas de exposição; propostas de sócio; recorte de jornal; relação de gravuras; recibos; solicitações; tabelas de impressão, e a dimensão dos documentos definiu o equipamento indicado para digitalização dos dados que foi o Scanner. Segundo o Conselho Nacional de Arquivos (2010, p. 6) a digitalização [...] é dirigida ao acesso, difusão e preservação do acervo documental e pode ser definida como: [...] um processo de conversão dos documentos arquivísticos em formato digital, que consiste em unidades de dados binários, denominadas de bits - que são 0 (zero) e 1 (um), agrupadas em conjuntos de 8 bits (binary digit) formando um byte, e com os quais os computadores criam, recebem, processam, transmitem e armazenam dados. (2010, p.5) Em cada projeto de digitalização de acervos é necessário que se definam os requisitos e diretrizes básicas de qualidade de imagem antes de sua execução. O intuito principal desta pesquisa se vincula a importância da democratização da informação, com o propósito de prover subsídios para o acesso. Neste sentido foram determinados requisitos de digitalização de imagens quanto a sua resolução, profundidade de bits, compressão de formato de imagem, conversão, armazenamento, descrição dos dados e alimentação em banco de dados. Todo o processo de digitalização foi realizado em Scanners semi profissionais, com resolução de 300 d.p.i dots per inch, ou (pontos por polegada), colorido.

8 O processo de descrição dos dados foi realizado através da utilização do metadados Dublin Core no Sistema CLIO. O padrão de metadados Dublin Core é um padrão capaz de descrever diversificadas coleções documentais que vão de acervos arquivísticos e bibliográficos até objetos tridimensionais e eventos. O Dublin Core é um padrão de metadados mantido pela Dublin Core Metadata Initiative e suas especificações são autorizadas pelos padrões ISO 15836-2003 e NISO Z39.85-2001, que autorizam a descrição documental com qualidade. O nome "Dublin" se refere a Dublin, Ohio, U.S., onde o trabalho se originou de um workshop sediado em 1995 pela Online Computer Library Center (OCLC) e o termo "Core" se refere ao fato de que o conjunto de elementos de metadados é uma lista básica, mas expansível. Uma de suas características é a simplicidade na descrição dos recursos, permitindo seu uso por não especialistas, o entendimento semântico universal dos elementos e seu escopo internacional e extensível, com o intuito de atender as especificidades de diferentes contextos e a customização de elementos. Criado sob o amparo da Universidade Federal de Pernambuco e vinculado e formado por pesquisadores do seu Departamento de Ciência da Informação, o Laboratório LIBER Tecnologia do Conhecimento vem desenvolvendo, em ambiente controlado, ferramentas que permitem o gerenciamento e disponibilização de conteúdos em formato digital. Seu objetivo é realizar o resgate, a restauração e a digitalização de documentos, e sua posterior disponibilização através da Internet, tornando cada computador conectado à rede uma porta sem fronteiras para a memória nacional. Dentre seus projetos, o LIBER criou e vem aperfeiçoando um software de gestão de informação denominado CLIO. Este sistema surgiu a partir de um convênio entre a Fundação Joaquim Nabuco e a Universidade Federal de Pernambuco, através do LIBER. A primeira versão do CLIO foi lançada em 2005 reunindo recursos de recuperação da informação, descrição em Metadados, e protocolo OAI - Open Archives Initiative. Tratase de um software livre desenvolvido com recursos públicos para uso público e gratuito, com capacidade para gerenciamento de documentos multimídia (texto, imagem, vídeo e áudio).

9 4 Resultados Parciais/Finais O Acervo da Oficina Guaianases de Gravura está constituído de 27 tipologias documentais realizado através da análise documental e suas respectivas descrições (Ver Tabela 1). O quantitativo total de folhas digitalizadas foi de 2202 imagens, com um espaço de aproximadamente 68GB para armazenamento de dados (Ver tabela 2). A documentação foi descrita na sua totalidade, complementando o bando de dados da OGG, através do site www.liber.ufpe.br/guaianases. Apenas 20% do acervo está disponibilizado com suas respectivas imagens, e 80% está descrito referencialmente no banco de dados em razão dos direitos autorais, ficando sua consulta digital e impressa disponibilizada na Biblioteca Joaquim Cardoso no Centro de Artes de Comunicação da UFPE. Os metadados utilizados foram descritos de acordo o padrão Dublin Core e abrangeram Titulo, Criador (Autor), Assunto, Resumo, Palavras-chave, lugar, data, descrição, extensão, formato e proveniência. (Ver Tabela 3). 1 2 3 4 5 6 TIPOLOGIA Apostilas Atas Autorizações e Contratos Balancetes Catálogos Tabela 1: Tipologia Documental X Descrição da Documentação da OGG DESCRIÇÃO Apostila com normas e práticas da Litogravura dando exemplo de técnicas aplicadas e como executar o processo de polimento, e materiais utilizados neste procedimento. Atas de freqüência de alunos nos cursos de Pintura oferecidos pela OGG. Autorizações de diversas naturezas, desde a dispensa de funcionários, doação de alguma gravura pela OGG, retirada de dinheiro por funcionário não pertencente a tesouraria para fins de compra de material à contratos com artistas na participação no desenvolvimento de exposições. Balancete das contas pertencentes a OGG, com título da conta, saldo atual e anterior, débito, depósito e crédito. Catálogos de exposições realizadas pela OGG, com imagens e escritos sobre cada exposição. Alguns convites foram encontrados. Certificados Certificados de cursos realizados por pessoas na OGG, em iniciações e práticas da Litogravura. 7 Currículos Currículos de artistas pertencentes a OGG, com descrição de todas as obras, exposições e pinturas realizados por eles. 8 Declarações e Comunicados Sobre retirada, posse de material de litogravura, participação no quadro de sócio da OGG, como também comunicados de estágios realizados pela OGG. 9 Documentação de Funcionários Documentação de admissão e demissão dos funcionários da OGG, contendo, cadastro, exames, raio x, depósito em contas do INSS. 10 Endereços Relação de todos os artistas participantes da OGG, em ordem alfabética. 11 Fichas de Identificação da Gravuras Fichas cadastrais das gravuras pertencentes ao acervo da OGG, com os campos de autor, título, data, dimensão e papel de cada gravura.

10 12 13 Fichas de Inscrição Fotografias 14 Licença do Funcionamento 15 Listas de Jornalistas e Museus 16 Lista de Materiais Diversos 17 18 19 Ofícios e Correspondências Ordens de Serviços Fichas com: nome,endereço, profissão, experiência e como o participante tomou conhecimento dos cursos oferecidos pela OGG. Fotografias de exposições, de artistas em atuação, de pessoas ligadas aos mesmos, algumas com dedicatórias, outras apenas com data e local, ou como foram feitas as peças reproduzidas nas fotografias. Vário boletos de pagamento de licença de funcionamento da OGG. Todos datados, carimbados e com valores referentes a cada mês. Listagem de jornalistas do estado de Pernambuco e outros estados com nome, endereço e telefones de cada e dos museus de Pernambuco em ordem alfabética por municípios. Lista com nome de artistas tendo ao lado materiais utilizados por ele e listas com nomes e valores manuscritas. Correspondências de variada natureza desde o nascimento do filho de um artista participante da OGG, à acontecimentos ocorridos nas oficinas da OGG, ofícios com regulamentos de exposições e notificando o envio de algo, como catálogos para algum artista ou funcionário da OGG. Serviços realizados nas oficinas e sede da OGG, pela Celpe, Compesa e outros órgãos. Pautas de Exposições Pautas com a relação de artistas, obras e o que se realizaria durante cada exposição. 20 Planilhas de Edição, Editais e Normas de Exposição Várias ordem de serviços com o nome de cada artista, formato da obra, cópias, cor e valor de cada processo realizado. 21 Proposta de se associar a OGG, assinada e datada pelo respectivo artista, com dados e endereço do mesmo. Seguindo a Propostas de Sócios indicação de cada. 22 Recibos Vários recibos datados e carimbados, Relação anual de informação sociais (RAIS). Todos ordenados por datas. 23 Recortes de Jornais Recortes em sua maioria de exposições realizadas pela OGG, de artistas participantes, e artigos citando a OGG e suas funções. 24 Relação de Gravuras doadas e Brindes Relação de gravuras doadas ou dadas como brindes em exposições a OGG, por artistas participantes. Sendo conferidas e assinadas pelo conferente. 25 Solicitações e Declarações Solicitações, termos de responsabilidades, de algum órgão a OGG, referente a diversos assuntos desde o requerimento de extrato de FGTS à responsabilidade por perdas e roubo ou danos a obras transportadas para exposições. 26 Tabelas de Impressão e Normas de Edição Documentos com regras e normas de tiragens avulsas realizadas pela OGG, com preços estipulados por cada tiragem. Também consta documentos com normas e regras para tiragens feitas por artistas participantes da OGG. 27 Movimento de Caixa Pasta contém depósitos de banco, movimentação de contas referentes a OGG, e relações manuscritas sobre os mesmos movimentos seguindo uma ordem mensal. Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2010. Tabela 2: Quantitativo de documentos x espaço de armazenamento da OGG TIPOLOGIA QUANTIDADE ESPAÇO ARMAZENADO 1 Apostilas 43 1,21 GB 2 Atas 4 120 MB 3 Autorizações e Contratos 43 1,44 GB 4 Balancetes 99 2,50 GB 5 Catálogos 318 8,67 GB 6 Certificados 22 443 MB 7 Currículos 252 7,04 GB 8 Declarações e Comunicados 36 1,00 GB 9 Documentação de Funcionários 26 404 MB 10 Endereços 101 2,24 GB 11 Fichas de Identificação da Gravuras 152 3,99 GB 12 Fichas de Inscrição 38 1,06 GB 13 Fotografias 183 1,75 GB 14 Licença do Funcionamento 16 167 MB 15 Listas de Jornalistas e Museus 63 1,68 GB 16 Lista de Materiais Diversos 57 1,57 GB 17 Ofícios e Correspondências 145 5,57 GB 18 Ordens de Serviços 62 3,18 GB 19 Pautas de Exposições 5 141 MB 20 Planilhas de Edição, Editais e Normas de Exposição 75 3,85 GB

11 21 Propostas de Sócios 116 5,67 GB 22 Recibos 65 3,63 GB 23 Recortes de Jornais 83 4,06 GB 24 Relação de Gravuras doadas e Brindes 8 354 MB 25 Solicitações e Declarações 8 425 MB 26 Tabelas de Impressão e Normas de Edição 51 2,69 GB 27 Movimento de Caixa 131 3,13 GB TOTAL 2.202 68,47GB Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2010. Tabela 3: Metadados utilizados na descrição do acervo da OGG METADADOS TIPO DEFINIÇÃO Título Básico Título dado documento. Criador (Autor) Básico Responsável pela produção do conteúdo do recurso. Assunto Básico Assunto do conteúdo do objeto digital. Resumo Refinamento Resumo do conteúdo do trabalho. Palavras-chave - Termos indexadores sobre o conteúdo do trabalho. Lugar Básico Lugar onde o recurso foi editado. Data Básico Data associada com a criação ou disponibilização do objeto digital. Descrição Básico Descrição do trabalho, que deve incluir informações adicionais ao documento, como estado físico. Extensão Refinamento Tamanho do arquivo como o número de páginas, duração. Formato Básico Formato do arquivo, da mídia física. (PDF, CD, DVD, 300KB, 20MB). Proveniência Refinamento Informação sobre modificações na posse ou custódia do trabalho desde sua criação. Estas informações são significantes para sua autenticidade, integridade e interpretação. Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2010. 5 Considerações Parciais/Finais Devido ao desenvolvimento das tecnologias de informação, o sistema de comunicação foi se transformando. Cada vez mais sente-se a necessidade do acesso à informação de forma rápida e segura. O surgimento do periódico científico eletrônico foi o início das transformações no sistema formal de comunicação científica. Atualmente, o movimento do livre acesso ao conhecimento tem sido foco de grande interesse de diversas áreas do conhecimento, principalmente da Ciência da Informação. A Iniciativa do Acesso Livre de Budapeste, a Declaração de Berlim e o Manifesto Brasileiro de Apoio ao Acesso Livre à Informação Científica, são exemplos desse interesse mundial. Essas iniciativas, baseadas no protocolo OAI-PMH, proporcionaram a construção, implantação e manutenção de diversos repositórios de acesso livre, assim como o surgimento de diversas ferramentas de software para a construção e manutenção de repositórios. Considera-se que a digitalização é uma ferramenta tecnológica que contribui e

12 facilita o acesso e a divulgação de documentos, contribuindo para o acesso aberto e a democratização da informação em meio digital. Neste sentido, deve-se levar em consideração a preservação digital através da formulação de diretrizes, modelos conceituais e práticos, a fim de minimizar os efeitos da obsolescência tecnológica e a vida útil de suportes físicos digitais garantindo a perenidade de informações e tornado-as acessíveis para futuras gerações. 6 Referências CARVALHO, M. A.; OTERO, M. M. D. F.; BARBOSA, J. P. Acesso e preservação da Coleção Oficina Guaianases de Gravura. Inf. & Soc.:Est., v.16, n.2, p.133-137, jul./dez. 2006. CONARQ. Recomendações para digitalização de documentos arquivísticos permanentes. 2010. Disponível em: < http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/media/publicacoes/recomendaes_para_a_digitalizao.pdf >. Acesso em: 10 maio 2010. CUNHA, Murilo Bastos da; McCarthy, Cavan. Estado atual das bibliotecas digitais no Brasil. In: MARCONDES, Carlos H. (Org.) et al. Bibliotecas Digitais: saberes e práticas. Salvador, Brasília: UFBA; IBICT, 2005. p. 25-53. FERREIRA, M. et al. Carrots and Sticks: Some Ideas on How to Create a Successful Institutional Repository. D-Lib Magazine, v. 14, n.1/2, Jan./Fev. 2008. Disponível em: < http://www.dlib.org/dlib/january08/ferreira/01ferreira.html>. Acesso em: 05 mar. 2010. JOHNSON, Richard K. Partnering with faculty to enhance scholarly communication. D-Lib Magazine, v. 8, n. 11, nov. 2002. Disponível em: http://www.dlib.org/dlib/november02/johnson/11johnson.html. Acesso em: 23 mar. 2010. SWAN, A. Why Open Access for Brazil? Liins em Revista, v. 4, n. 2, 2008. Disponível em: <http://revista.ibict.br/liinc/index.php/liinc/article/viewfile/279/166>. Acesso em: 20 abr. 2010.